Retorno ao Partido?

Leon Trotsky

1929


Escrito: no Outono de 1929.

Fonte: C.E.I.P. León Trotsky.

HTML: Fernando Araújo, fevereiro de 2008.

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Estimados amigos,

Recebi sua carta de 3 de outubro. As queixas a mim não são de todo justificadas. É certo que tenho que escrever e o faço, mas, por favor, não é muito fácil. Tem que ter em conta que me chega muito pouco material.

A rimbombante verborragia sobre a necessidade que temos de voltar ao partido não é mais que hipocrisia ou o cúmulo da ingenuidade. “Que início!”, pensaram vocês. Se traz, junto, um argumento profundo: a direita se fortalece; no aparato centrista há muitas forças direitistas; temos que colaborar na luta contra a direita. É o que realmente devemos fazer?

Pelo feito de nossa existência como oposição intransigente, ajudamos mil vezes mais na luta contra a direita que todos os capituladores passados e futuros.

Os que capitularam no meio do caminho e os candidatos à capitulação alegam o seguinte:

“Entretanto, os centristas, unidos às forças de direita, aplicaram uma política direitista, não podíamos estar no partido. Mas, agora que os centristas, em grande parte graças à nossa intransigência, começaram a combater à direita, temos que nos unir rapidamente ao partido e, ademais, em termos favoráveis."

Isto é insensatez, auto-engano ou duplicidade covarde. É certo que devemos participar na luta pela Revolução de Outubro. Mas, nossa intransigência ideológica implica por si mesma uma luta contra a direita, mil vezes mais efetiva que a “ajuda” de Radek, Preobrazhensky ou Smilga, a quem ninguém crê e necessita. O que refletem eles? A quem podem ajudar com suas espinhas quebradas? A quem podem convencer?

É certo que nos aparatos centristas estão se maturando tendências que resistem ao um giro à esquerda. Como reagirá frente elas os estrato superior formado pelos Kalinis, os Voroshilovs, etc? O mais provável é que desertem até essas tendências quando estas se fortalecerem. Se encaminha Stalin até uma nova luta com círculos mais amplos do seu aparato ou até a conciliação? Quem pode prevê-lo? E o que se pode construir se embasando em adivinhações? A única linha que podem seguir os revolucionários é preservar sua honra, trair a si mesmo, não mentir ao partido e recordar continuamente o acordo tático com os centristas, embora seja total (aparentemente não é este o caso) e prolongado, não garante a unidade estratégica. E, precisamente, o mais importante é a estratégia.

A declaração de Rakovsky, que eu também assinei, já é uma etapa superada. Considere essa declaração como uma aplicação da “frente única” com os distintos grupos opositores. Assim o expliquei na imprensa. Mas, a política da frente única exige absoluta claridade sobre o momento em que é necessário romper abruptamente com os aliados circunstanciais (recordemos o Comitê Anglo-Russo!). Para alguns dos assinantes, a declaração era uma ponte até o próximo documento capitulador ou semi-capitulador. Para nós era a máxima concessão que poderíamos fazer aos pacifistas.

Iaroslavsky já pronunciou sua profética opinião. A declaração já está obsoleta. À todos que derem um passo à direita desta declaração se acelerará a viagem com um pontapé.

Minhas afetuosas saudações. Lhes desejo coragem e força.

Seu,

L.T


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Inclusão 24/02/2008