Contra o nacional-comunismo
(as lições do plebiscito ''vermelho'')

Leon Trotsky


«Revolução popular» em vez de revolução proletária


O zig-zag, à primeira vista «inesperada», do 21 de Julho não surgiu como um relâmpago num céu azul, mas foi preparado pelo curso do último período. Que o Partido comunista alemão seja conduzido pela vontade sincera e apaixonada de vencer o fascismo, de lhe arrancar as massas, de derrubar o fascismo e de o esmagar – não pode haver qualquer dúvida nisso. Mas a infelicidade é que a burocracia estalinista tende cada vez mais a agir contra o fascismo utilizando as armas deste último: ela pede-lhe emprestado as cores da sua paleta política e esforça-se em ultrapassá-lo no leilão do patriotismo. Não são os métodos e os princípios de uma política de classe, mas procedimentos de concorrência pequeno-burguesa.

É difícil de imaginar uma capitulação de princípio mais vergonhoso que a da burocracia estalinista que substituiu a palavra de ordem da revolução proletária pela palavra de ordem da revolução popular. Nenhuma astúcia, nenhum jogo de citações, nenhuma falsificação histórica não mudarão o facto que o marxismo foi traído nos seus princípios para atingir uma melhor falsificação do charlatanismo fascista. Sou obrigado a repetir o que já escrevi sobre isso, há alguns meses:

«Bem entendido, cada grande revolução é uma revolução popular ou revolução nacional, no sentido que ela reúne a classe revolucionária todas as forças vivas e criadoras da nação e que ela reconstrói a nação à volta de un novo pivot. Mas isso não é uma palavra de ordem, é uma descrição sociológica da revolução que pede explicações precisas e concretas. Como palavra de ordem, é uma fanfarronice e um charlatanismo, uma concorrência de bazar aos fascistas, feita ao preço de uma confusão que se semeia na cabeça do operários».

«Evolução espantosa das palavras de ordem da Internacional Comunista, sobretudo nesta questão. Após o terceiro Congresso da Internacional Comunista, a palavra de ordem «classe contra classe» tornou-se a expressão popular da política da ´frente única proletária '. Isso foi muito justo: todos os operários devem se unir contra a burguesia, a seguir, transformou-se em aliança com os burocratas reformistas contra os operários (experiência da greve geral inglesa). Depois passou-se ao outro extremo nenhum acordo com os reformistas, 'classe contra classe'. A mesma palavra de ordem que devia servir a aproximar os operários sociais democratas e os operários comunistas começou a significar durante o terceiro período, a luta contra os operários sociais democratas, como classe adversa. Hoje, uma nova reviravolta: a revolução popular em vez da revolução proletária. O fascista Strasser diz: 95% do povo está interessado na revolução, por consequência, é uma revolução popular e não de classe. Thaelmann acompanha-o nessa canção. Mas na realidade o operário comunista deveria dizer ao operário fascista: evidentemente 95%, senão 98% do povo são explorados pelo capital financeiro. Mas esta exploração é organizada de maneira hierárquica: há exploradores. Há sob-exploradores, etc. É somente graças a esta hierarquia que os super-exploradores dominam a maioria da nação. Para que a nação possa efectivamente se reconstruir à volta de um novo pivot de classe, ela deve se reconstruir ideologicamente, e isto não é realizável senão no caso onde o proletariado, sem se dissolver no ''povo'', na ''nação'', mas ao contrários em desenvolvendo o ''seu'' programa da revolução ''proletária'', obrigará a pequena burguesia a escolher entre dois regimes.»

« A palavra de ordem da revolução popular adormece os pequeno burgueses assim que as largas massas operárias, ela concilia-os com a estrutura hierárquica burguesa de ''povo'', ela retarda a sua libertação. Nas condições actuais da Alemanha, a palavra de ordem da revolução ''popular'' apaga as fronteiras ideológicas entre o marxismo e o fascismo, concilia uma parte dos operários e da pequena burguesia com a ideologia do fascismo permitindo-lhe acreditar que não há necessidade de escolher pois, aqui e acolá, trata-se da revolução popular»(1)


Notas de rodapé:

(1) Cf. L. Trotsky: «A Revolução espanhola no dia a dia», Escritos Volume III. (retornar ao texto)

Inclusão 14/05/2017