A Revolução Alemã e a Burocracia Estalinista
(Problemas Vitais do Proletariado Alemão)

Léon Trotsky


9. O S.A.P (Partido Socialista Operário)(1)


Só os funcionários enraivecidos que acreditam que tudo lhes é permitido ou papagaios estúpidos que repetem injúrias, sem compreender o sentido, podem qualificar o SAP de partido ''social-fascista'' ou ''contra-revolucionário''. Mas seria dar prova de ligeireza imperdoável e dum optimismo barato confiar à priori numa organização que, ainda que tenha rompido com a social-democracia, se encontra sempre a meio caminho entre o reformismo e o comunismo, com uma direcção mais próxima do reformismo que do comunismo. Sobre esse ponto igualmente a oposição de esquerda não é de forma alguma responsável pela política de Urbahns.

O SAP não tem programa. Não compreendemos por aí um documento formal: um programa é sólido se o seu texto está ligado à experiência revolucionária do partido, aos ensinamentos das lutas, que se tornaram a carne e o sangue dos seus quadros. O SAP não é nada disso. A Revolução russa, suas diferentes etapas, suas lutas de fracções; a crise alemã de 1923; a guerra civil na Bulgária; os acontecimentos da Revolução chinesa; o combate do proletariado inglês (1926); a crise revolucionária espanhola – todos esses acontecimentos que deveriam estar na consciência do revolucionário como estacas no caminho político, não são para os quadros do SAP senão lembranças jornalísticas confusas e não uma experiência revolucionária profundamente assimilada. É indiscutível que um partido operário deve ter uma política de frente única. Mas a política de frente única apresenta perigos. Só um partido revolucionário, temperado na luta, pode levar a cabo essa política com sucesso. De qualquer modo, politica de frente única não pode constituir o programa de um partido revolucionário. Portanto, é a isso que se resume hoje toda a actividade do SAP. A política da frente única é assim levada para o interior do partido, quer dizer serve para apagar as contradições entre as diferentes tendências. Tal é a função fundamental do centrismo.

O dia-à-dia do SAP oscila entre esses dois polos. Apesar de Strobel ter-se retirado, o jornal continua meio pacifista e não marxista. Artigos revolucionários isolados não modificam nada a sua fisionomia, pelo contrários, eles só lhe dão relevo. O jornal se entusiasma pela carta de Kuster a Bruning a propósito do militarismo, carta aborrecida, de espírito profundamente pequeno-burguês. Ela aplaude o ''socialista'' dinamarquês, antigo ministro do rei, pelo sua recusa em tomar parte da delegação governamental em condições demasiado humilhantes. O centrismo se contenta com pouco. Mas a revolução pede muito, a revolução pede tudo.

O SAP condena a política do Partido comunista alemão: cisão dos sindicatos e formação do RGO (oposição sindical vermelha). A política sindical do Partido comunista alemão é, sem dúvida, profundamente errada: a direcção de Lozovsky custa caro à vanguarda proletária internacional. Mas a crítica do SAP não é menos errada. O problema essencial não é que o Partido comunista ''divide'' as fileiras do proletariado e ''enfraquece'' as uniões sociais-democratas. Não é um critério revolucionário, porque com a direcção actual, os sindicatos estão ao serviço dos capitalistas e não dos operários. O crime do Partido comunista não é que ele ''enfraqueceu'' a organização de Leipart, mas que ele se enfraqueceu a si próprio. A participação dos comunistas nas uniões reaccionárias é ditada não por princípio abstracto de unidade, mas pela necessidade de lutar para limpar as organizações dos agentes do capital. O SAP faz passar antes deste aspecto activo, revolucionário, ofensivo da política, o principio abstracto da unidade dos sindicatos, dirigidos por agentes do capital.

O SAP acusa o Partido comunista de tendência ao golpismo. Tal acusação funda-se igualmente em certos factos e certos métodos; mas antes de ter o direito de avançar esta acusação, o SAP deve formular exactamente e mostrar com factos qual é a sua posição sobre as questões fundamentais da revolução proletária. Os mencheviques acusavam sempre os bolcheviques de blanquismo e de aventureirismo, quer dizer de golpismo. Todavia, a estratégia leninista estava tão afastada do golpismo como o céu da terra. Mas Lénine compreendia e sabia explicar aos outros a importância da ''arte do levantamento'' na luta proletária. Sobre esse ponto a crítica do SAP tem um carácter tanto mais duvidoso que ela se apoia sobre Paul Levi, que se assusta com as doenças infantis do Partido comunista e preferiu o marasmo senil da social-democracia. Durante as conferências limitadas sobre os acontecimentos de Março de 1921 na Alemanha, Lénine dizia de Levi: ''Este homem perdeu a cabeça definitivamente''. É verdade que Lénine logo acrescentava com malícia: ''Ele tinha pelo menos qualquer coisa a perder, mas não se pode dizer o mesmo dos outros.'' Entre ''os outros'' figuravam: Bela Kun, Thalheimer, etc. Não se pode negar que Paul Levi tivesse uma cabeça sobre os ombros. Mas é pouco provável que este homem que perdeu a cabeça e que, sob esta forma, saltou das fileiras do comunismo para as fileiras do reformismo, seja um professor competente para um partido proletário. O fim trágico de Levi – deu salto pela janela durante um acesso de loucura – simboliza de qualquer modo a sua trajectória política. Para as massas, o centrismo não é senão a transição de uma etapa para outra, mas por certos homens políticos, pode se tornar uma segunda natureza. À cabeça do SAP se encontra um grupo de sociais-democratas desesperados, funcionários, advogados, jornalistas, que atingiram a idade onde a educação política deve ser considerada como terminada. social-democrata desesperado na significa ainda revolucionário.

Georg Ledebour é um representante deste tipo, o seu melhor representante. Só recentemente que tive ocasião de ler o relatório do seu processo em 1919. E mais de uma vez no decurso da minha leitura, aplaudi mentalmente o velho combatente, a sua sinceridade, o seu temperamento, a sua nobreza. Mas Lebedour nem sempre franqueou os limites do centrismo. Onde se tratou de acções de massa, formas superiores da luta das classes, da sua preparação, onde se tratou para o partido de tomar a responsabilidade da direcção dos combates de massa Ledebour é somente o melhor representante do centrismo. É isso que o separou de Liebknecht e de Rosa Luxemburgo. É isso que o separa hoje de nós.

Indignando-se do facto que Estaline acusa a ala radical da velha social-democracia alemã de passividade em relação à luta das nações oprimidas, Ledebour lembra que, precisamente na questão nacional, ele sempre deu prova de grande iniciativa. É absolutamente indiscutível. Ledebour, pessoalmente, ergueu-se com muita paixão contra as tendências chauvinistas na velha social-democracia alemã, sem de forma alguma dissimular o sentimento nacional alemão, muito desenvolvido nele. Ledebour sempre foi o melhor amigo dos imigrantes revolucionários russos, polacos ou outros, e muitos entre eles conservaram uma lembrança calorosa do velho revolucionário, que nas fileiras da burocracia social-democrata chamavam com condescendente ironia tanto ''Ledebourov'', como ''Ledibursky''.

Todavia, Estaline que não conhece nem os factos, nem a literatura desta epoca, tem razão nesta questão, na medida pelo menos onde ele retoma a apreciação de Lénine. Tentando responder, Ledebour só confirma esta apreciação. Ele refere-se ao facto que, nos seus artigos, ele exprimiu mais de uma vez a sua indignação para com os partidos da IIª Internacional, que julgavam com uma perfeita serenidade o trabalho de um dos seus membros, Ramsay MacDonald, que resolvia o problema nacional da Índia com ajuda de bombardeamentos aéreos. Esta indignação e este protesto traduzem a diferença indiscutível e honrada que existe entre Ledebour e um qualquer Otto Bauer, sem falar dos Hilferding ou dos Wels: para que esses senhores se possam lançar nos bombardeamentos democráticos, não lhes falta Índias.

Contudo, a posição de Ledebour sobre esse ponto não sai dos limites do centrismo. Ledebour reclama a luta contra a opressão colonial: ele votará no parlamento contra os créditos coloniais; ele tomará a defesa corajosa das vítimas do levantamento esmago pelos colonialistas. Mas Ledebour não tomará parte na preparação do levantamento colonial. Ele considera que tal trabalho depende do golpismo, do aventureirismo, do bolchevismo. Aí está o fundo do problema.

O que caracteriza o bolchevismo na questão nacional, é que ele trata as nações oprimidas, mesmo as mais atrasadas, não somente como objectos, mas também como sujeitos políticos. O bolchevismo não se limita a reconhecer-lhe ''o direito'' à autodeterminação e a protestar no parlamento contra a violação desse direito. O bolchevismo penetra nas nações oprimidas, dirige-as contra seus opressores, liga suas lutas à do proletariado dos países capitalista, ensina aos oprimidos, chineses, hindus ou arabes a arte do levantamento, e assume toda a responsabilidade desse trabalho face aos seus carrascos civilizados. É aí somente que começa o bolchevismo, isto é o marxismo revolucionário agissante. Tudo o que resta abaixo deste limite é centrismo.

Os únicos critérios nacionais não permitem apreciar correctamente a política de um partido proletário. Para um marxista, é um axioma. Quais são então as simpatias e os laços internacionais do SAP? Os centristas noruegueses, suecos, holandeses, organizações, grupos ou pessoas isoladas, a quem o seu carácter passivo e provincial permite de se manter entre o reformismo e o comunismo, tais são os amigos os mais próximos. Angelica Balabanova é o símbolo dos laços internacionais do SAP: ela tenta ainda hoje ligar o novo partido aos cacos da Internacional 2 ½.

Léon Blum, defensor das reparações, compadre socialista do banqueiro Oustric, é tratado nas páginas do jornal de Seydewitz ''camarada''. O que é isso? Delicadeza? Não, é falta de princípios, de carácter, de firmeza. ''Você procura sarilhos?, dirá qualquer douto sempre fechado no seu gabinete. Não, esses detalhes exprimem o fundo político com muito mais verdade e autenticidade que o reconhecimento abstracto dos Sovietes, não fundada sobre a experiência revolucionária. Só se podem ridiculizar, tratando Blum de ''fascista''. Mas quem não despreza nem odeia esta canalha política não é um revolucionário.

O SAP se destaca do ''camarada'' Otto Bauer no limite onde Max Adler o faz. Para Rosenfeld e Seydewitz, Bauer não é um adversário ideológico, talvez mesmo temporário, enquanto que para nós, é um inimigo irredutível, que conduziu o proletariado da Áustria num pântano medonho.

Max Adler é um barómetro centrista bastante sensível. Não se pode negar a utilidade de tal instrumento, mas é preciso se convencer que se ele regista a mudança de tempo, ele é incapaz de influenciá-lo. Do facto da sua situação sem saída do capitalismo, Max Adler está de novo pronto, não sem dor filosófica, em reconhecer que a revolução é inevitável. Mas que confissão! Só reservas e suspiros! A melhor solução teria sido que a IIª Internacional e a IIIª Internacional se unissem. A solução mais vantajosa teria sido introduzir o socialismo pela via democrática. Mas, infelizmente, esse meio é visivelmente irrealizável. É evidente que nos países civilizados, e não somente nos países bárbaros, os operários devem, infelizmente, três vezes infelizmente, fazer a revolução. Mas mesmo este consentimento melancólico da Revolução é só literatura. A história não conheceu e nem nunca conhecerá situação tal que Max Adler possa dizer: ''A hora soou!'' Os homens como Adler são capazes de justificar a revolução no passado, de a reconhecer como inevitável no futuro, mas eles são incapazes de a chamar no presente. Não há nada a esperar de todo esse grupo de velhos sociais-democratas de esquerda, que nem a guerra imperialista, nem a Revolução russa não fizeram evoluir. Como instrumento barométrico, passa ainda. Como chefe revolucionário, nunca!

No fim do mês de Dezembro, o SAP dirigiu a todas as organizações operárias uma chamada para organizar em todo o país reuniões, onde os oradores de todas as tendências teriam o mesmo tempo de palavra. É evidente que não se chegaria a nada em se comprometendo nessa via. Com efeito, que sentido teria para o Partido comunista e o Partido social-democrata partilhar igualmente a tribuna com Brandler, Urbahns e outros representantes de organizações e grupos demasiado insignificantes para pretender ocupar um lugar particular no movimento? A frente única é a unidade das massas operárias comunistas e sociais-democratas e não um mercado entre grupos políticos sem base de massa.

Dir-nos- ão: o bloco de Rosenfeld-Brandler-Urbahns não é um bloco de propaganda para a frente única. Mas é precisamente nesse domínio da propaganda que um tal bloco é inadmissível. A propaganda deve apoiar-se sobre princípios claros, sobre um programa preciso. Caminhar separadamente, bater conjuntamente. O bloco só é criado para acções práticas de massa. As transacções na cimeira sem base de princípio não levam a nada, salvo à confusão.

A ideia de apresentar às eleições presidenciais um candidato da frente única é uma ideia fundamentalmente errada. O partido não tem o direito de renunciar a mobilizar seus partidários e a contar suas forças nas eleições. Uma candidatura do partido que se opõe a todas as outras candidaturas não pode em qualquer caso constituir um obstáculo a um acordo com outras organizações para objectivos imediatos da luta. Os comunistas, que sejam ou não no partido oficial, apoiarão com todas as suas forças a candidatura de Thälmann. Não se trata de Thälmann pessoalmente, mas da bandeira do comunismo. Nós o defenderemos contra os outros partidos. Destruindo os preconceitos, inoculados aos comunistas da base pela burocracia estalinista, a oposição de esquerda abre caminho para a sua consciência.(2)

Qual foi a política dos bolcheviques no que respeita as organizações operárias e os ''partidos'' que se tinham desenvolvidos à esquerda do reformismo ou do centrismo a caminho do comunismo?

Em Petrogrado, em 1917, existia uma organização inter-distritos que contavam quatro mil operários. A organização bolchevique juntava em Petrogrado dezenas de milhares de operários. Contudo, o comité dos bolcheviques de Petrogrado concordou sobre todas as questões com as inter-distritais, mantinha-as ao corrente de seus planos e facilitou assim a fusão completa das duas organizações.

Pode-se responder que as inter-distritos estavam politicamente próximas dos bolcheviques. Mas não se tratava somente das inter-distritos. Quando os mencheviques internacionalistas (o grupo de Martov) se opuseram aos sociais-patriotas, os bolcheviques fizeram tudo para fazer acções comuns com os martovistas; se na maioria dos casos foi um fiasco, a falta não era dos bolchevistas. É preciso acrescentar que os mencheviques-internacionalistas continuaram a ser formalmente membros do mesmo partido que Tseretelli e Dan. A mesma táctica, mas a uma grande escala foi adoptada em relação aos socialistas-revolucionários de esquerda. Os bolcheviques levaram uma parte dos socialistas revolucionários de esquerda até ao Comité militar revolucionário, isto é o órgão da insurreição, mesmo se nessa época os socialistas-revolucionários de esquerda fossem sempre membros do mesmo partido que Kerensky, contra o qual a insurreição foi directamente dirigida. Evidentemente, não era muito lógico da parte dos socialistas revolucionários de esquerda, isso provava que tudo não estava em ordem na cabeça deles. Mas se fosse preciso esperar que tudo estivesse em ordem em todas as cabeças, nunca haveria revolução vitoriosa. Os bolcheviques formaram a seguir com o partido dos socialistas revolucionários de esquerda (''kornilovistas'' de esquerda ou ''fascistas'' de esquerda segundo a terminologia actual) um bloco governamental que se manteve alguns meses e só acabou depois do levantamento dos socialistas revolucionários de esquerda.

Lénine resumiu assim a experiência dos bolcheviques no que diz respeito aos centristas de esquerda:

''A táctica justa dos comunistas deve consistir a utilizar estas hesitações e a não as ignorar; sua utilização exige que se faça concessões aos elementos que se viram para o proletariado, e isso somente na medida e no momento onde eles se voltam paralelamente para ele; paralelamente é preciso lutar contra os que se voltam para a burguesia … Tomando uma decisão demasiado precipitada: ''Nenhum compromisso, nenhum subterfúgio'', só pode prejudicar ao reforço do proletariado revolucionário … ''

A táctica dos bolcheviques nesta questão nunca teve nada em comum com o ultimato burocrático!

Também não há muito tempo que os próprios Thälmann e Remmele estavam no partido independente. Se eles fizerem um esforço de memória, terão talvez a oportunidade de se lembrar o seu estado político nos anos onde, tendo rompido com a social-democracia, aderiram ao partido independente e deram-lhe um impulso à esquerda. Que teriam feito se alguém lhes tivesse dito então, que eles representavam somente ''a ala esquerda da contra-revolução monárquica ''? Eles teriam concluido provavelmente que os seus acusadores estavam bêbados ou loucos. E portanto, é precisamente assim que eles definem o SAP!

Lembremos as conclusões que tirou Lénine do aparecimento do partido independente:

''Porquê na Alemanha o deslocamento dos operários da direita para a esquerda, deslizamento absolutamente idêntico ao que conheceu a Rússia em 1917, conduziu não ao reforço imediato dos comunistas, mas primeiro ao do partido intermediário dos «independentes» … É evidente que uma das causas disso foi a táctica errada dos comunistas alemãs, que devem sem temor e lealmente reconhecer este erro e aprender a corrigir … Este erro é uma das numerosas manifestações da doença infantil, o «esquerdismo», que agora se declarou abertamente; ela será melhor tratada, mais rápido e com maior proveito para o organismo''.

Dir-se-ia que está escrito directamente para a situação actual!

O Partido comunista alemão é hoje muito mais potente que a União spartakista de então. Mas se agora uma segunda versão do partido independente, em parte com a mesma direcção, aparece, a falta do Partido comunista é mais grave.

A aparição do SAP é um fenómeno contraditório. Mais valia, evidentemente, que os operários aderissem directamente ao Partido comunista. Mas para isso, o Partido comunista deveria ter tido outra política e outra direcção. É preciso julgar o SAP não a partir de um Partido comunista ideal, mas do partido tal que ele existe. Na medida onde o Partido comunista ficou em posição de ultimato burocrático e se opunha às forças centrífugas no interior da social-democracia, a aparição do SAP era inevitável e progressista.

Mas a existência de uma direcção centrista limita consideravelmente esse carácter progressista do SAP. Se uma tal direcção se estabiliza, o SAP está perdido. Aceitar o centrismo do SAP em nome do papel globalmente progressista desse partido equivale a liquidar esse papel progressista.

Os elementos conciliadores que se encontram à cabeça do partido e que sabem manobrar, se esforçam por todos os meios de mascar as contradições e de atrasar a crise. Esses meios serão eficazes até ao primeiro empurrão sério dos acontecimentos. A crise do partido arrisca-se a desenvolver-se no momento mais forte da crise revolucionária e de paralizar os elementos proletários.

A tarefa dos comunistas é ajudar os operários do SAP a limpar suficientemente o centrismo das suas fileiras e a se desembaraçar da sua direcção centrista. Para isso, é preciso nada deixar em silêncio, não tomar as boas resoluções por acções e chamar as coisas pelo seu nome. Pelo seu nome e não por um nome inteiramente inventado. Criticar e não caluniar. Procurar a aproximação e não afastar brutalmente. Sobre a ala esquerda do partido independente, Lénine escreveu:

''É absolutamente ridículo ter medo de um «compromisso» com esta ala do partido. Pelo contrário, os comunistas devem procurar e encontrar a forma adequada de compromisso com ela, um compromisso que, por um lado, facilitará e apressará a fusão completa e indispensável com esta ala, e que, por outro lado, não estorvará nada os comunistas na sua luta ideológica e política contra a ala oportunista direitista dos «independentes»."

Hoje, quase não há nada a acrescentar a esta directiva táctica.

Nós dizemos aos elementos de esquerda do SAP:

''Os revolucionários se temperam não somente nas greves e combates de rua, mas também e antes de tudo na luta por uma política justa do seu próprio partido. ''Tomai as «vinte e uma condições», elaboradas no seu tempo para aceitar novos partidos na Internacional Comunista. Tomai os trabalhos da oposição de esquerda, onde as «vinte e uma condições» são utilizadas para analizar a evolução da situação no decurso dos oito últimos anos. À luz dessas ''condições'', lançai um ataque sistemático contra os centrismo nas vossas próprias fileiras e levem-no até ao fim. De outro jeito, não vos restará senão jogar o papel pouco glorioso de caução de esquerda do centrismo''.

E depois? Depois, é preciso voltar-se para o partido comunista alemão. Os revolucionários não se situam de forma nenhuma a meio caminho entre a social-democracia e o Partido comunista, como queriam Rosenfeld e Seydewitz. Não, os chefes sociais-democratas são os agentes do inimigo de classe no proletariado. Os chefes comunistas são revolucionarios ou meio revolucionários confusos, maus, sem talento, extraviados. Não é a mesma coisa. É preciso destruir a social-democracia, mas é preciso corrigir o Partido comunista. Vocês dizem que é impossível? Mas tentaram seriamente meter mãos à obra. Quando os acontecimentos pressionam o Partido comunista, é preciso agora ajudar os acontecimentos pela pressão da nossa crítica. Os operários comunistas nos darão ouvidos se eles se se convencerem dos factos que nós não queremos criar um ''terceiro partido'', mas que nos esforçamos sinceramente de lhes ajudar a fazer do Partido comunista existente o verdadeiro dirigente da classe operária.

— E se isso não resultar?

— Se isso não resultar, significa, seguramente, na situação histórica dada, a vitória do fascismo.

Mas antes dos grandes combates, um revolucionário não pergunta o que se passará em caso de derrota, ele pergunta como fazer para que isso tenha sucesso. Isso é possível, isso é realizável, por consequência isso deve ser feito.

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) SAP: Sozialistisch Arbeiterpartei (Partido Socialista Operários). Organização centrista, nascida de uma cisão da ala esquerda do Partido social-democrata; em 1932, fusionou com a minoria do KPDO (Partido comunista alemão da oposição); membro juntamente com outros grupos sociais-democratas da esquerda da União internacional do trabalho; a seguir membro dirigente do Burô de Londres para a unidade dos socialistas revolucionários; após a guerra, a maioria dos seus membros voltaram para o partido social-democrata. (retornar ao texto)

(2) Infelizmente, a revista Permanente Revolution publicou um artigo que, na verdade, não emana da redacção, pela defesa do candidato único operário. Não pode haver dúvidas que os bolcheviques-leninistas alemãs rejeitarão tal posição. (retornar ao texto)

Inclusão 09/11/2018/