A Missão das Juventudes Operárias

Neno Vasco

Março de 1916


Primeira Edição: revista A Sementeira, N.º3 da 2.ª série, Março de 1916.

Fonte: https://ultimabarricada.wordpress.com/neno-vasco/obras-de-neno-vasco/a-missao-das-juventudes-operarias/

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


Tenho diante de mim uma interessante folha de propaganda da «Juventude Sindicalista da Indústria Hoteleira. Cafés, Restaurantes», de Paris, a qual admite e convida todos os jovens trabalhadores da sua indústria, sem distinção de sexo nem de nacionalidade, com a condição única de aderirem ao sindicato profissional dentro de três meses, se ao mesmo não pertencem já.

O fim da Juventude é claramente indicado: «consiste em trazer a nós todos os jovens que se afastam para ir procurar noutra parte a alegria; e esperamos que proporcionando-lhes sãs distrações no nosso meio, fortaleceremos as ideias gerais e os laços de boa fraternidade, que devem fazer de nós bons militantes sindicalistas.»

A Juventude tem uma biblioteca, onde se encontram obras sociais, revistas científicas, tratados profissionais, revistas e jornais corporativos, jornais estrangeiros, que são traduzidos em comum; promove na sua sede palestras educativas; realiza visitas de estudo e passeios campestres, assim como uma excursão anual ao Havre, visitando o porto, as docas, um transatlântico, etc. – ida de combóio, regresso de barco; organiza cursos profissionais, pois que as reivindicações do bom operário pesam sempre mais do que as do trabalhador medíocre, não só por ser um elemento mais útil da produção, mas ainda pela influência moral que exerce entre os seus companheiros.

Eis, com efeito, brevemente definida a missão das Juventudes Sindicalistas, ou, se preferem, operárias independentes. São como que escolas operárias de sociologia prática, que, acompanhando aliás os progressos da pedagogia moderna, aliam o recreio ao estudo, com aproveitamento das necessidades, das tendências, das paixões justas e naturais da adolescência e com exclusão do ensino demasiadamente confessional e partidista.

A Juventude Sindicalista não é o sindicato operário, nem o grupo de partido ou escola, e não pretende fazer concorrência a qualquer deles, não aspira a ser núcleo de reconstrução social ou fábrica duma nova marca ideológica.

O grupo partidário, embora igualmente necessário e com função própria, não pode desempenhar aquela missão específica de escola recreativa aberta a todos. Um centro anarquista, por exemplo, só pode e só deve agrupar indivíduos conscientes do anarquismo – sob pena de não ser senão uma força fictícia, um organismo imperfeito de elementos contraditórios, ou mais ou menos subordinado a chefes…

Do seu lado, o sindicato, demasiadamente preocupado com as graves questões de interesse proletário, em grande número composto de adultos que a idade, os cuidados quotidianos e a reflexão desprenderam das ruidosas expansões juvenis, não é feito para atrair, por si só, não é feito para atrair, por si só, a mocidade descuidosa e alegre, que nele se não sente inteiramente à vontade.

Só a juventude operária, pela sua constituição e pelo seu fim, pode chamar e reunir os adolescentes ainda sem opinião formada sobre a solução dos magnos problemas sociais. E para que eles venham a estar connosco, após um confronto e um embate de ideias que não podemos recear, nós devemos trabalhar afincadamente nos sindicatos, nas Juventudes sindicalistas ou operárias e em todas as organizações cujos fins não estejam em contradição com os nossos e que não sejam, por vício orgânico e pelos seus elementos constitutivos, instrumento irremediável das classes dominantes.


Inclusão: 28/03/2021