Chamado ao campesinato albanês

Enver Hoxha

Julho de 1942


Primeira publicação: Dokumente kryesore të PPSH, volume I, 1960, a partir do panfleto de julho de 1942.

Fonte: Enver Hoxha: Selected Works, volume I, 1974, págs. 31-38.

Tradução e HTML: L. C. Friederich.


CAMPONESES ALBANESES!

As chamas da guerra incendiaram o mundo inteiro. Milhões de pessoas ergueram-se em armas e tomaram parte em uma luta gigantesca.

De um lado, as forças obscuras, as forças fascistas predatórias e sanguinárias, estão tentando escravizar o mundo e sugar todo o sangue dos povos. Do outro lado, as forças progressistas, as forças da liberdade, lideradas pelo heroico povo da União Soviética, com o apoio dos povos democráticos dos Estados Unidos e da Inglaterra e de todos os povos escravizados, estão contendo o avanço e cavando as covas das hordas fascistas sanguinárias.

No momento do maior derramamento de sangue da história da humanidade, o grande fardo deste massacre, planejado e cometido pelos criminosos fascistas, recai sobre os camponeses e as vilas do campo. O preço de toda guerra é sempre pago pelo povo trabalhador. Todos os anos, milhares de famílias camponesas sofrem com a falta de comida e das necessidades mais básicas. A miséria, o sofrimento e a fome reinam em seus lares destruídos.

Por acaso vocês, irmãos camponeses albaneses, já buscaram saber qual é a razão da pobreza, miséria, fome e obscurantismo que os tem acometido por séculos e que se torna pior ano após ano e dia após dia?

Camponeses da Albânia, vocês que trabalham até a exaustão durante o ano inteiro, que vivem toda a sua vida presos à terra regada pelo seu suor, que lutam com todas as suas forças, ainda que maltrapilhos e famintos, debaixo de neve e de chuva; após os séculos de opressão e escravidão, o fascismo sanguinário e os traidores do nosso povo, inimigos confessos dos trabalhadores e camponeses, estão tentando lançá-los para sempre às mais terríveis condições, à mais sombria escuridão e à escravidão perpétua.

Os invasores fascistas italianos(1) se lançaram sobre nosso país como uma fera faminta, prontos para nos escravizarem, nos saquearem, sugarem todo o nosso sangue e nos exterminarem. Eles invadiram nossos campos e montanhas, nossas colinas e vales. Já não cresce mais a grama onde pisaram as suas botas imundas. O espectro da guerra assombra todo o nosso lindo país. Os fascistas desprezíveis converteram nosso país em um campo de batalha, destruíram nossas cidades e vilas e semearam o terror e a miséria. Suas bombas mataram nossa gente e destruíram nossas vilas do campo, que se tornaram alvos para seus ataques aéreos. Pilharam nosso gado e nossas propriedades para alimentar os carrascos do povo albanês.

IRMÃOS CAMPONESES ALBANESES!

O fascismo vil, invasor do nosso país, e os traidores da laia de Mustafa Kruja(2) e companhia querem tomar nossas terras e torná-las propriedade dos ladrões fascistas. Mustafa Kruja, o maior parceiro das companhias espoliadoras italianas, está dando seu melhor para pôr as mãos nas riquezas do nosso país; os bancos fascistas querem roubar as terras que são suas de direito, porque são vocês que suam para cultivá-las. Eles estão tentando reduzir nossos camponeses a escravos famintos. Estão tentando tomar tudo que temos, sugar todo o nosso sangue e deixar-nos para morrer de fome, tudo isso para nos oprimir com mais facilidade. Eles estão saqueando as nossas riquezas naturais e nossos recursos minerais para alimentar sua máquina de guerra, para alimentar suas hordas sanguinárias de opressores do nosso país. Saquearam o petróleo de Kuçova e Patos e agora saqueiam nossas minas, tomam nosso milho e trigo, roubam nosso gado, destroem nossas florestas e roubam nossa lã.

O fascismo sanguinário e os traidores do nosso povo estão tentando nos privar de nossa identidade nacional e destruir nossa língua nativa. Estão fazendo o possível para corromper os nossos filhos e eliminar as tradições admiráveis do nosso heróico povo: no lugar da hospitalidade e da lealdade, eles buscam impor os vícios mais baixos do fascismo. Com sua imoralidade, tentam humilhar-nos e desonrar nossas mães e nossas irmãs.

O fascismo sanguinário, invasor do nosso país, e seus agentes, comandados pelo traidor Mustafa Kruja, estão ferindo e sangrando o nosso povo. Eles alistam à força os filhos do campesinato e do povo para que morram em nome dos carrascos Hitler e Mussolini. Recrutam à sua polícia e às suas milícias os albaneses mais desprezíveis e covardes para levar-nos à mais terrível das guerras: a guerra fratricida.

O inimigo e os seus agentes desprezíveis, com a ajuda do governo traidor de Mustafa Kruja, estão prendendo e executando os filhos mais leais do nosso povo. Eles querem sujar nossas mãos com o sangue dos povos vizinhos que estão lutando por liberdade. Eles estão tentando dividir-nos entre ortodoxos, muçulmanos e católicos.

IRMÃOS CAMPONESES DA ALBÂNIA!

Nesta guerra sagrada, levada a cabo pelo povo albanês para conquistar definitivamente a sua liberdade, vocês são o fator mais importante para a nossa vitória. O inimigo sabe bem que vocês são a força viva da nação, ele sabe que a união das suas forças com todo o povo albanês significará uma morte rápida e terrível para o fascismo. É precisamente por isso que o inimigo e os traidores têm se esforçado ao máximo para explorá-los, roubá-los e matá-los de fome. O fascismo busca tomar tudo o que vocês possuem, ele já os deixou sem petróleo e agora está tentando tomar o seu trigo, milho, óleo, lã e gado. O traidor Mustafa Kruja está ocupado organizando o saque ao campesinato, cujo futuro depende profundamente da terra da nossa pátria. Ele quer o seu sangue e suor para manter vivos os ladrões de Mussolini e Hitler, para manter seu orçamento militar, e nesse ano o traidor Mustafa Kruja quer tomar a última parte que lhes resta. O inimigo quer comprar uma segunda vez os seus cereais com dinheiro que não valerá coisa alguma. Ele aumentou em dez vezes os impostos, aumentou as tarifas sobre o gado e segue aumentando todos os dias. Agora, Mustafa Kruja tirou sua máscara e baixou um decreto que determina a entrega dos cereais, ameaçando enforcar qualquer camponês que tentar guardá-los para alimentar a si mesmo e a seus filhos.

O traidor Mustafa Kruja está tentando enganar o povo com suas mentiras e sua demagogia, criando ilusões de uma “Grande Albânia”(3) e de uma “Kosova livre”(4).

Devemos responder à perversidade e à opressão do inimigo com armas. Devemos intensificar mais e mais a nossa luta, sem permitir que o inimigo tenha um só minuto de liberdade para agir contra o nosso povo. Todo albanês de verdade deve tomar consciência do seu dever para com o nosso povo e trabalhar com orgulho e altruísmo para avançar a libertação da nossa pátria.

Uma terrível fome ameaça o nosso campesinato, portanto guardem seus cereais para vocês e suas famílias, ajudem seus familiares e não entreguem um grão sequer ao governo que os saqueia para que, mais tarde, com a especulação, eles os vendam a vocês por um preço dez vezes mais caro. Unam-se, camponeses de cada vila, e unam as vilas entre si para defender com armas os cereais e produtos que o governo tenta roubar. Os cereais que vocês cultivaram com tanto suor pertencem apenas a vocês e a mais ninguém. Não os entreguem a ninguém, escondam-nos, escondam a sua produção, porque ela pertence apenas a vocês e suas famílias. Escondam, ou no próximo inverno a fome assolará as suas casas.

Segurando os cereais e recusando-se a pagar os impostos e tarifas sobre o gado, vocês estarão cumprindo parte do seu dever para com a sua pátria e, ao mesmo tempo, para com suas famílias, ameaçadas pela fome. Dessa maneira, ajudaremos a luta do povo albanês. Dessa maneira, aceleraremos a chegada do dia da libertação, porque confiamos na nossa vitória, nas nossas forças unidas, porque, como diz o ditado, onde há união, há vitória.

CAMPONESES DA ALBÂNIA!

Nesta guerra terrível, na qual o destino de toda a humanidade está em jogo, o povo albanês, com suas tradições de séculos e seu espírito militante de amante da liberdade, está seguindo os passos de seus antepassados que lutaram pela liberdade de sua pátria contra os invasores e os traidores.

O povo albanês declarou guerra implacável ao inimigo confesso do nosso país.

No campo e na cidade, os filhos do nosso povo estão lutando bravamente contra os odiosos invasores e traidores. O sangue puro dos nossos filhos inunda as ruas das vilas e cidades da Albânia. Eles tombam heroicamente pela liberdade do nosso país, são levados à forca com um sorriso no rosto, porque cumpriram seu dever para com o seu povo, porque não eram capazes viver sem liberdade, porque não eram capazes de ver o seu povo sofrer sob o jugo mais sórdido já visto no nosso país. O espírito insurrecionário do nosso povo aumenta a cada dia que passa e o nosso povo está se unindo e se fortalecendo para derrubar sem piedade o inimigo e os traidores. O povo albanês está formando uma frente comum para conquistar sua liberdade, está unindo suas forças com as do povo da União Soviética, pátria dos operários e camponeses, com a dos povos democráticos da Inglaterra e dos Estados Unidos. O povo albanês está lutando ombro a ombro com os outros povos subjugados pelo fascismo e tomando parte na luta para salvar a humanidade dos bárbaros fascistas. Como nos velhos tempos, quando nossos antepassados, sob a bandeira de Skënderbeu(5), lutaram incessantemente contra os invasores do nosso país, agora nós, seus filhos dignos, sob a bandeira de Skënderbeu, vamos à luta contra os sórdidos traidores e invasores fascistas, pela verdadeira libertação do povo albanês.

CAMPONESES, NÃO DEEM AS DÍZIMAS, NÃO ENTREGUEM UM GRÃO DE TRIGO OU UM FIO DE LÃ SEQUER!

NÃO PAGUEM OS IMPOSTOS E AS TARIFAS SOBRE O GADO!

AJUDEM A LUTA DO POVO ALBANÊS CONTRA O INVASOR COMO GUERRILHEIROS E COMO SABOTADORES!

ABAIXO O FASCISMO EXPLORADOR, O LACAIO MUSTAFA KRUJA E SUAS MILÍCIAS!

ABAIXO O FRATRICÍDIO E OS AGENTES CEGOS DA GUERRA FRATRICIDA!

VIVA A UNIÃO DO POVO ALBANÊS!

VIVA A LUTA DO POVO ALBANÊS CONTRA O INVASOR!

VIVA A ALBÂNIA LIVRE!

VIVA O PARTIDO COMUNISTA DA ALBÂNIA, PORTA-BANDEIRA DA LUTA PELA LIBERDADE!

Comitê Central do Partido Comunista da Albânia