Na luta e na revolução, os marxistas-leninistas se tornam fortes e invencíveis(1)

Enver Hoxha

18 de agosto de 1967


Primeira edição: Rruga e Partisë, número 2, 1977, a partir dos registros do Arquivo Central do Partido da reunião com Pedro Pomar, membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.

Fonte: Albania Today, número 2 (33), março-abril de 1977, págs. 2-8.

Tradução e HTML: L. C. Friederich.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Pedro Pomar e Enver Hoxha

Enver Hoxha: Como vai, camarada Pomar? Como está o camarada Amazonas?

Pedro Pomar: Estamos todos bem, obrigado.

Enver Hoxha: É um grande prazer encontrá-los outra vez, camaradas do heroico Partido Comunista do Brasil.

Temos ótimas memórias do encontro que tivemos com o camarada Amazonas quando ele esteve na Albânia. O camarada Amazonas é um decidido combatente pelo marxismo-leninismo, um homem capaz, de mente e espírito fortes, com uma interpretação correta do conhecimento marxista-leninista. Todos os nossos camaradas ficaram extremamente alegres e consideraram uma grande honra que o camarada Amazonas veio participar do 5º Congresso do nosso partido. Naquela ocasião, ele e outros camaradas nos repassaram um panorama claro da situação no Brasil e na América Latina. Isso foi de grande ajuda para nós.

Sabemos que os dois lados, tanto vocês quanto nós, precisam trocar ideias entre si, portanto sua visita à Albânia é uma ajuda para nós.

Pedro Pomar: Suas palavras, camarada Enver, nos causam profunda emoção. Elas são muito calorosas e cordiais.

Sempre que viemos aqui, estivemos muito felizes e prontos para trocar ideias com os camaradas albaneses.

O camarada Amazonas voltou do vosso país muito satisfeito e com ótimas impressões sobre os camaradas do Partido do Trabalho da Albânia e ainda mais convencido da justeza da linha do vosso partido.

Posicionando-se na linha de frente da luta contra o imperialismo e o revisionismo, o Partido do Trabalho da Albânia nos deu um grande exemplo de que, apoiando-se no marxismo-leninismo, pode-se enfrentar qualquer inimigo, não importa o quão poderoso seja. Unidos e profundamente conectados um com o outro, ninguém pode nos derrotar. Portanto, em nome de todos os nossos camaradas, nós vos saudamos calorosamente e garantimos que seremos seus irmãos verdadeiros para sempre.

Enver Hoxha: Suas palavras, camarada Pomar, são de grande apreço pelo nosso partido, elas fortalecem nossa confiança na nossa luta comum e aumentam o senso de responsabilidade que o nosso partido tem em relação ao movimento internacional marxista-leninista.

É claro, nossa experiência não é nem a única e nem a maior. Não dizemos isso por modéstia, e sim partindo da verdade de que a luta e a revolução são a grande luta comum de todos os povos, da qual imensa experiência se acumulou e ainda é acumulada, demonstrando que apenas os partidos que implementam o marxismo-leninismo de maneira consistente são capazes de promover e fazer triunfar a revolução. Porém, onde reside a força dos partidos marxistas-leninistas? Reside no fato de que eles sempre enxergam a vida como ela é, com suas contradições e reviravoltas, sua tendência ao avanço perpétuo e seu progresso inevitável através da revolução. Essa confiança no futuro permite aos partidos marxistas-leninistas se orientarem corretamente em sua luta, tira-lhes o medo das dificuldades e faz com que eles não se desesperem diante de retrocessos temporários, porque o marxismo-leninismo nos ensina que o caminho da revolução não é um mar de rosas. Assim sendo, os marxistas-leninistas devem avançar com coragem e determinação invencíveis, vencer todas as dificuldades através da luta e do esforço e, no progresso dessa luta, reunir toda a experiência que os permitirá avançar ainda mais. Durante os seus 25 anos, nosso partido aprendeu muitas coisas, mas sabemos que temos muito a aprender.

Agora estamos implementando as decisões do 5º Congresso do nosso partido, e eu posso te adiantar que tivemos êxitos ao implementar a linha do partido. Isso não quer dizer que não encontramos dificuldades, porém a questão é que essas dificuldades, não importa o quão grande sejam, estão sendo rapidamente superadas pelas situações criadas pelo nosso partido, porque o nosso partido, assim como o vosso, está intimamente conectado com o povo e a sua linha representa a vontade e as aspirações dos trabalhadores. Por outro lado, ele trabalha incansavelmente para que o povo entenda e promova a linha do partido, o marxismo-leninismo, e interprete todos os fenômenos e diretivas do partido com um espírito marxista-leninista.

Vemos que a implementação das diretivas do congresso do Partido trouxe resultados. O principal resultado é o alto nível de consciência política dos comunistas e do povo, que se expressa na realização inédita dos nossos planos econômicos, seja na indústria, na agricultura, na educação, na cultura ou na defesa da pátria.

Após explicar ao camarada Pomar alguns dos êxitos obtidos em nosso país na luta pela completa e contínua revolucionarização(2) do partido e da vida da pátria, o camarada Enver Hoxha prosseguiu:

Enver Hoxha: Em relação à grande luta comum contra o imperialismo e o revisionismo moderno, consideramos que nunca devemos ficar satisfeitos com os sucessos alcançados, porque ainda temos uma grande luta diante de nós. Ainda que alguns resultados tenham sido alcançados na Albânia, e o principal deles é o estabelecimento e fortalecimento da ditadura do proletariado, nunca devemos nos esquecer que nossos camaradas e os outros povos estão lutando e derramando seu sangue, estão fazendo sacrifícios colossais e passando por inúmeras dificuldades sob circunstâncias internas e externas extremamente duras. Assim sendo, devemos não apenas ajudá-los, mas também compreendê-los e ter grande confiança em nossos camaradas, em seu heroísmo, luta e maturidade marxista-leninista, e jamais chegar a conclusões errôneas e afirmar que se está em posição de mostrar e exportar receitas prontas para que os outros ajam desse ou daquele jeito. Isso não é marxista-leninista de modo algum. Os camaradas conhecem muito bem as situações dos seus próprios países. Eles conhecem melhor a situação e a mentalidade do seu próprio povo. Apoiando-se nesse conhecimento e guiando-se pelos princípios do marxismo-leninismo, são eles que estão em posição de educar e mobilizar o partido, de lançá-lo à luta e avançar. Essa questão está ligada com a compreensão e implementação da teoria marxista-leninista com base na situação concreta do país.

Alguém poderia dizer que vocês podem cometer erros. Porém, qual é o partido, grande ou pequeno, velho ou novo, que não teve falhas e não cometeu erros em seu trabalho? O importante aqui é não escondê-los, e sim reconhecê-los, analisá-los e corrigi-los com base no marxismo-leninismo. Essa é a dialética marxista. Logo, aprendemos com a nossa luta e com os nossos erros. Se um povo ou um partido não lutam, eles não têm história. A História não é feita sem luta. Como vocês sabem, enfrentamos vários inimigos — o imperialismo, com os americanos à frente, e o revisionismo moderno, com os soviéticos à frente — que são muito ardilosos e possuem grande experiência. Porém, não importa o quão grande sejam a astúcia e os meios dos nossos inimigos, eles não têm a nossa força, porque a nossa força está na ideologia marxista-leninista, na nossa confiança na vitória e na nossa fé no povo. O povo está do nosso lado porque o futuro e a verdade estão do nosso lado, porém devemos saber como educar o povo para esse futuro, como organizá-lo e animá-lo, e aí sim certamente triunfaremos sobre os inimigos.

Agora que a China está promovendo sua Grande Revolução Cultural Proletária, devemos apoiá-la, porque tal revolução tem grande importância não apenas para a China, mas para toda a revolução mundial. Essa revolução é uma das formas que o Partido Comunista da China e o camarada Mao Zedong encontraram para esmagar o grupo revisionista de Liu Shaoqi, que havia infiltrado a sua linha no partido e no estado socialista.

Como vocês sabem, os revisionistas soviéticos lançaram um ataque feroz contra o marxismo-leninismo e a revolução em geral, pois suas posições estão cada vez mais fracas, enquanto que as nossas estão cada vez mais fortes. Não afirmamos isso sem base, e sim julgando a partir da situação concreta. Os revisionistas soviéticos se tornaram os aliados mais desavergonhados do imperialismo americano. Por que isso chegou a esse ponto? Porque eles estão na posição de traidores e não poderiam fazer diferente. Por que estamos mais fortes? Porque os marxistas-leninistas de todo o mundo não permitiram que os revisionistas soviéticos se disfarçassem; do contrário, jogaram-nos contra a parede e os denunciaram abertamente como agentes de burguesia, coisa que os comunistas e as massas de trabalhadores de todo o mundo enxergam mais claramente a cada dia que passa. Sua exposição também levou à exposição dos revisionistas dos antigos países de democracia popular. As contradições entre os revisionistas soviéticos e os revisionistas dos antigos países de democracia popular na Europa se aprofundaram.

Tal é a situação geral. Porém, apesar dos êxitos alcançados pelos marxistas-leninistas, ainda temos muito a fazer.

Nossa ajuda, a qual você mencionou, camarada Pomar, é modesta, porém, enquanto marxistas-leninistas, devemos ajudar-nos uns aos outros com toda a nossa força. Temos grande admiração pelo Partido Comunista do Brasil, pelo Comitê Central do vosso partido e pelo camarada Amazonas. O fato de o vosso partido estar numa posição revolucionária correta é de grande importância, também, para todo o movimento marxista-leninista e para a revolução na América Latina.

Temos contato com outros partidos marxistas-leninistas da América Latina e temos certeza que, apesar das dificuldades que encontram, os marxistas-leninistas superarão todas elas em sua luta. O importante é que os partidos marxistas-leninistas do Chile, da Colômbia, da Bolívia, etc., tenham sucesso na tomada de controle da situação dos seus próprios países.

Pedro Pomar: Muito obrigado por tudo o que você disse, camarada Enver. Estou profundamente comovido pelas suas palavras muito cordiais e calorosas e pela oportunidade que você me deu de te ouvir pessoalmente outra vez.

Hoje você nos deu um panorama da situação na Albânia. Eu estive no vosso país quatro anos atrás. Durante esse período, vocês passaram por circunstâncias difíceis. Com isso não quero dizer que não há dificuldades hoje, e sim que vocês fizeram um progresso evidente desde então. Os sucessos que vocês alcançaram são excepcionais. Os resultados que vocês obtiveram do ponto de vista político e ideológico não poderiam ser alcançados em séculos nos países capitalistas do mundo. Muitos países capitalistas podem ser mais avançados economicamente, mas isso não é o principal, porque os povos desses países são oprimidos e explorados e esse desenvolvimento econômico em si não está nas mãos do povo, e sim nas mãos da burguesia. Enquanto isso, a situação política e o moral do vosso povo no vosso país são extremamente animadores. Não há dúvida de que todas essas vitórias se devem à liderança correta do vosso partido, ao marxismo-leninismo, à lealdade do partido ao marxismo-leninismo e à grande unidade do povo com o partido. Tudo isso é, indiscutivelmente, uma grande motivação para que avancemos ainda mais em nossa luta. Portanto, lutaremos ainda mais duramente contra nossos inimigos, que são ao mesmo tempo os inimigos do partido e do povo albanês.

A contínua revolucionarização do país que o povo albanês está promovendo sob liderança do Partido do Trabalho da Albânia tem grande importância internacional. Posso te dizer que isso se reflete em nosso país também. Alguns anos atrás, nosso povo nunca havia ouvido falar e não sabia nada sobre a Albânia; agora, eles a conhecem e mostram interesse contínuo pela Albânia, aprendendo com os sucessos do povo albanês e se alegrando com seus sucessos. O povo brasileiro sabe que na Albânia a revolução está avançando ininterruptamente e com passos seguros. Tanto que, nesse ano, alguns jornais burgueses se viram forçados a escrever sobre a Albânia e publicar notícias e artigos informativos sobre a posição valente e independente dos camaradas albaneses. São esses fatos que dão renome à Albânia ao redor do mundo inteiro. Pensamos que a Albânia está avançando com sucesso.

Estamos de pleno acordo com os problemas apontados no 5º Congresso do vosso partido. Não é de modo algum por acidente que todos os marxistas-leninistas respeitam e visitam a Albânia. Os povos revolucionários consideram a Albânia um bastião e uma fortaleza de sua luta de libertação, a vanguarda do marxismo-leninismo. A mensagem do camarada Mao Zedong enviada ao 5º Congresso do Partido do Trabalho da Albânia deveria ser aplaudida por todos ao dizer que “a Albânia é o grande farol do socialismo na Europa”.

Nesta ocasião, gostaríamos de reforçar que a sua assistência para nós tem sido excepcional. Somos extremamente gratos por ela e faremos o possível para dar nossa contribuição também.

Atualmente, a propaganda burguesa fala muito da América Latina como se fosse um só país, quando na realidade os seus Estados são muito divididos entre si não apenas por seus interesses como Estados capitalistas separados, mas também por seus interesses nacionais. Porém, os partidos marxistas-leninistas da América Latina têm um trabalho comum, em especial, na luta contra o imperialismo americano e o revisionismo. Agora surgiu uma situação que exige a coordenação de todas as nossas forças. Devemos lidar por completo com essa situação, pois as dificuldades que o movimento marxista-leninista está passando na América Latina são enormes porque, além do imperialismo americano, da burguesia e de toda a reação, os revisionistas também estão lutando contra nós.

O movimento democrático e anti-imperialista na América Latina sofreu duros golpes nos últimos anos. Nessas condições, temos que lidar com os ataques do imperialismo americano, dos revisionistas, da colaboração soviético-americana e da reação local. Tudo isso cria uma situação difícil para nós.

Após o golpe de 1964, os imperialistas americanos tomaram todas as posições-chave do Brasil. Um governo totalmente subserviente ao imperialismo americano tomou o poder no Brasil porque o governo anterior defendia alguns interesses nacionais, apesar de pertencer à burguesia e aos latifundiários. Agora, contudo, o problema é bem diferente. O povo compreende que uma nova situação grave se instalou no Brasil, porém os partidos burgueses e revisionistas têm trabalhado para criar ilusões no povo dizendo que “os marxistas-leninistas exageram o problema quando acusam o imperialismo de neocolonialismo, pois não há risco de isso acontecer” e coisas do gênero. Devemos lidar com esses problemas, porque eles estão iludindo e enganando as massas do povo para que não sejam capazes de entender rápida e corretamente a grave situação que resultou da chegada ao poder do governo reacionário pró-americano. Diante de nós está a grande tarefa de esclarecer as coisas para o nosso povo, de abrir os seus olhos para a verdade e erguê-lo na luta armada para garantir a liberdade nacional.

Nem mesmo os representantes da burguesia entenderam a nova situação que estava sendo criada no Brasil. Por causa disso, Brizola, cunhado do ex-presidente do Brasil, Goulart, embora seja um homem de grande prestígio, não se posicionou no momento do golpe e fugiu para o estrangeiro para, supostamente, planejar uma volta. Na verdade, ele não entendeu a situação que foi criada no Brasil.

Os americanos viram que esses políticos da burguesia nacionalista não eram mais úteis a eles, então os jogaram fora e trouxeram ao poder os agentes que eles haviam treinado por anos nos EUA. Isso mostra que eles querem manter a ditadura fascista no Brasil por força de armas para tê-la como um apoio sólido para utilizá-la na execução dos seus planos neocolonialistas de outros países. Com efeito, o Brasil enviou forças armadas para participar na ocupação de Santo Domingo. Essa foi a primeira vez que o exército do nosso país foi enviado para lutar em outro país.

Nós denunciamos esses acontecimentos e trabalhamos para convencer as massas de que devem lutar contra o imperialismo americano; estamos expondo o papel traidor dos revisionistas soviéticos, porque eles não só reconheceram o governo reacionário no poder, mas também firmaram vários acordos comerciais com ele.

Quanto aos revisionistas brasileiros, sua situação está pior do que antes. Eles sofreram uma grande derrota. Antes do golpe de 1964, eles estavam em uma situação favorável porque o governo burguês de Goulart apoiava a política dos revisionistas, mas o tempo mostrou que essa política, aceitável para a burguesia, era uma farsa completa. Depois do golpe, fortalecemos as nossas posições consideravelmente porque mostramos ao povo que apenas o marxismo-leninismo defende os seus interesses. Nosso partido tornou-se muito influente. Os revisionistas, porém, meramente depositam suas esperanças em ilusões, achando que a democracia pode ser restabelecida sem luta armada, e, como resultado, sua atividade política é muito fraca. Agora eles se dividiram em vários grupos. Um deles está tomando um rumo que o aproxima de nós, porque defende a luta armada, porém, ao mesmo tempo, mantém uma posição centrista e oportunista. Outro grupo é um grupo de aventureiros e liquidacionistas. Depois vem o grupo de Prestes, que está muito enfraquecido e com todas as características de um grupo a pleno serviço da burguesia.

Atualmente, a posição da camarilha reacionária do Brasil é frágil e instável. A soberania do país está nas mãos dos americanos. As principais forças do país — a classe trabalhadora, o campesinato e a pequena-burguesia — querem o progresso e o desenvolvimento econômico do país, porque as condições de vida do povo são miseráveis e todos os bens, minas e terras estão nas mãos dos americanos. Os camponeses não apenas não tem terra, como também estão ainda mais pobres. O regime ditatorial liquidou completamente todas as poucas vitórias conquistadas anteriormente pela classe trabalhadora, que se torna mais pobre a cada dia que passa. Os desejos do povo de educação e cultura foram frustrados, o terror cultural foi estabelecido e os programas universitários se adaptaram aos interesses dos americanos, etc.

Todas essas coisas agravaram as contradições e, se um bom trabalho for feito na prática, haverá excelentes previsões para o desenvolvimento da luta armada. Como disse Stálin, nas condições de hoje, o dever do partido comunista é levantar a bandeira da independência nacional e das liberdades democráticas e preparar-se para a luta armada aproveitando todas as profundas contradições que foram criadas.

Enver Hoxha: A sua exposição, camarada Pomar, somou ao nosso conhecimento da situação na América Latina e no Brasil em particular. Consideramos que o vosso partido fez uma análise muito correta da situação no Brasil e na América Latina em geral. Estamos convencidos que uma análise tão séria é uma grande garantia do desenvolvimento correto da revolução.

A revolução é algo muito sério e, uma vez iniciada, deve ser levada até o fim. Um marxista-leninista não pode lidar com ela do mesmo jeito que os burgueses, os anarquistas e os putschistas lidam, porque a revolução tem a ver com a vida e o futuro do povo. Com base na análise marxista-leninista do vosso partido, vocês saberão como determinar as medidas que devem tomar para desenvolver a revolução, levando em conta os prós e os contras. Uma boa compreensão da situação também permite tomar medidas políticas e organizativas apropriadas e criar alianças e interpretá-las à luz do marxismo-leninismo, sem deixar se criarem ideias pequeno-burguesas ou sectárias.

O fato de vocês estarem lutando para consolidar o partido é de suma importância. Isso é vital para os marxistas-leninistas. Na nossa opinião, não pode haver revolução e verdadeira libertação para o povo sem um partido marxista-leninista. Nós, albaneses, dizemos que o partido tem que ser um partido de tipo leninista. A situação exige isso porque o inimigo tem grandes forças e é muito astuto e cheio de experiência reacionária e, portanto, só um partido construído sobre princípios políticos, ideológicos e organizativos marxistas-leninistas firmes pode lidar com ele. O objetivo do capitalismo e dos revisionistas modernos é precisamente desintegrar e degenerar os partidos marxistas-leninistas, de modo a torná-los incapazes de lidar com os seus vários inimigos, e destruí-los eventualmente. Por essas e muitas outras razões, os revisionistas se ergueram contra Stálin e sujaram seu nome, inventando todo tipo de calúnias que nós, comunistas albaneses, rejeitamos completamente.

Por essa razão, revestir o partido em aço é de suma importância para o vosso, o nosso, os novos e quaisquer partidos que estejam determinados a levar a revolução até o fim.

Concordamos plenamente com a visão e a análise do vosso partido do desenrolar dos acontecimentos. Alguém que não fizesse uma avaliação apropriada do desenrolar dos acontecimentos e das alianças poderia perguntar: “Por quê os camaradas desse ou daquele partido avançam tão lentamente?”

Digo isso porque isso já aconteceu conosco. Porém, tudo vem no tempo certo quando se observa objetivamente a situação e se tomam as medidas necessárias para alcançar o objetivo desejado. É claro, uma vez iniciada, a revolução deve ser levada até o fim sem falhar. Falta juízo marxista-leninista correto àqueles que querem acelerar o desenvolvimento dos acontecimentos artificialmente, pois a revolução não é organizada e realizada em um dia só. A revolução não é uma festa de casamento, e sim uma grande guerra popular, e na guerra os inimigos atacam com toda a sua fúria. Contudo, os marxistas-leninistas não têm medo de lutar, ainda que possam sofrer reveses temporários; muito pelo contrário, é na luta e na revolução que eles se tornam mais fortes e invencíveis. Portanto, a linha do vosso partido é correta.

Pensamos que a luta correta dos partidos marxistas-leninistas da América Latina, como o vosso, é de grande importância para a criação de um modelo correto de revolução aí. Se não me engano, a América Latina tem tradições putschistas. Deve-se, entretanto, quebrar essas tradições, porque todos os aventureiros anarquistas que posam de revolucionários marxistas se baseiam nelas. Achamos que, se os partidos marxistas-leninistas não esclarecerem essa questão, os anarquistas que usam lemas “ultramarxistas” causarão enormes danos à causa da revolução, porque há quem iguale putsch(3) à revolução e se lance em aventuras, chamando o povo às armas em um momento onde as condições para isso ainda não foram criadas. O vosso partido, que possui uma linha marxista-leninista correta, está educando o povo para compreender o que é a revolução, quem deve participar dela e quem deve liderá-la.

Um partido marxista-leninista novo não deve preocupar-se com o fato de não possuir inicialmente a força e a autoridade necessárias; muito pelo contrário, deve pensar em como fortalecerá o seu trabalho e ganhará aliados. Talvez ele seja fraco, mal organizado e tenha pouca influência entre as massas, mas isso não deve torná-lo sectário e afastá-lo daqueles a quem ele pode explicar as coisas, ganhar para a causa e lançar à luta. Ao mesmo tempo, esse partido não deve abandonar sua individualidade e entrar em qualquer tipo de frente e se autodestruir. Pelo contrário, ele deve sempre preservar sua independência, seus princípios e suas normas. Ele deve, sem falhar, garantir seu papel hegemônico na revolução através da luta e da sua política correta. Para ser vitoriosa, a revolução deve ser liderada pelo seu partido marxista-leninista, porém a hegemonia não lhe será dada: ela deve ser conquistada.

Nossa opinião é que os partidos marxistas-leninistas da América Latina, como o vosso, o do Chile, o da Bolívia, etc., são fatores muito importantes para a revolução.

Depois de falar da luta dos partidos marxistas-leninistas contra o imperialismo e o revisionismo moderno, o camarada Enver Hoxha concluiu:

Enver Hoxha: No geral era isso, camarada Pomar. Nossa opinião é que a luta revolucionária está progredindo e tendo sucesso. Todos nós temos tido sucessos. A guerra, as pressões, as intrigas e os bloqueios que os imperialistas e revisionistas têm perpetrado não assustam os revolucionários. A justiça está do nosso lado, os povos estão conosco e a nossa causa certamente triunfará.

Quanto ao contato e as relações entre nossos partidos, te asseguro mais uma vez que o Partido do Trabalho da Albânia estará sempre ao lado das forças e partidos marxistas-leninistas, sempre os ajudará na sua luta justa e sempre lutará ombro a ombro ao seu lado pela grande causa do marxismo-leninismo, da revolução e do socialismo de maneira consistente e inabalável.

Entregue nossas mais calorosas saudações aos camaradas do Partido Comunista do Brasil! Que vocês sempre sejam bem sucedidos em sua luta!


Notas:

(1) Título dado aos registros da conversa de Enver Hoxha com Pedro Pomar, publicados pela primeira vez em 1977 na revista Rruga e Partisë, em forma de respeito à memória de Pedro Pomar, que, nas palavras dos editores albaneses, caiu heroicamente lutando contra a ditadura fascista do Brasil junto com seus bravos camaradas Ângelo Arroyo e João Batista Drummond. Posteriormente, em 1982, uma versão editada da conversa apareceu no volume 36 da edição albanesa das Obras de Enver Hoxha, suprimindo os trechos que mencionavam Mao Zedong, a Revolução Cultural e a China em virtude da cisão sino-albanesa. (Nota do tradutor) (retornar ao texto)

(2) Trata-se de Revolução Cultural e Ideológica, revolução cultural promovida na Albânia a partir da segunda metade da década de 1960. (Nota do tradutor) (retornar ao texto)

(3) Golpe, do alemão. (Nota do tradutor) (retornar ao texto)

 

Inclusão: 09/11/2021
Última modificação: 01/04/2022