O Imperialismo e a Revolução
Enver Hoxha

A Estratégia do Social-Imperialismo Chinês


capa

Os fatos mostram cada vez melhor que a China afunda-se dia a dia no revisionismo, no capitalismo e no imperialismo. Nesse sentido, ela trabalha para realizar uma série de tarefas estratégicas, em escala nacional e internacional.

Em escala nacional, o social-imperialismo chinês colocou-se a tarefa de suprimir qualquer medida de caráter socialista que possa ter sido adotada após a libertação e de edificar no país um sistema capitalista na base e na superestrutura, de fazer da China uma grande potência capitalista até o fim deste século, através da aplicação das chamadas "quatro modernizações", da indústria, da agricultura, do exército e da ciência.

Ele combate para criar no interior do país uma organização capaz de assegurar o domínio da velha e nova burguesia capitalista chinesa sobre seu povo. O revisionismo chinês procura instaurar essa organização e esse domínio pela via fascista, a golpes de chibata, pela opressão. Trabalha para criar uma unidade entre o exército e a retaguarda de forma que esta sirva ao exército repressivo.

As formas e métodos titistas, sobretudo o sistema iugoslavo da "autogestão", foram os que mais atraíram a atenção da direção chinesa e podem vir a ser aplicados na China. Muitas comissões e delegações chinesas de todos os setores e especialidades receberam a incumbência de estudar in loco esse sistema e a experiência do "socialismo" capitalista iugoslavo em geral.

Esse sistema e essa experiência já começaram a ser levados à prática na China. Mas por outro lado os dirigentes revisionistas chineses não podem deixar de constatar os fracassos da "autogestão" titista, tampouco podem deixar de levar em conta que as condições de seu país são totalmente diferentes das da Iugoslávia. Além disso, também consideram indispensável tomar de empréstimo muita coisa das formas e métodos capitalistas, que, segundo eles, mostraram sua "eficácia" nos Estados Unidos, na Alemanha Ocidental, no Japão e em outros países burgueses. Ao que parece, o sistema capitalista que está sendo construído e desenvolvido na China será um cruzamento de diferentes formas e métodos revisionista-capitalistas e tradicionais chineses.

Para tornar-se uma grande potência capitalista, o revisionismo chinês precisa de um período de paz. O lema da "grande ordem", lançado pelo XI Congresso do Partido chinês vincula-se a essa necessidade. Para garantir tal "ordem" é preciso, por um lado, manter um regime capitalista de tipo ditatorial fascista e, por outro, salvaguardar a todo custo a paz e o compromisso entre os grupos rivais que sempre existiram no Partido e no Estado chineses. O tempo dirá em que medida essa ordem e essa paz serão asseguradas.

A política dos dirigentes chineses de transformar a China numa superpotência visa a fazer com que ela se beneficie econômica e militarmente tanto do imperialismo norte-americano como dos países capitalistas desenvolvidos aliados dos Estados Unidos.

Essa política da China despertou grande interesse da parte do mundo capitalista, sobretudo do imperialismo norte-americano, que vê nela um forte apoio a sua estratégia de sustentação do capitalismo e do imperialismo, fortalecimento do neocolonialismo, contenção das revoluções e asfixia do socialismo, assim como de enfraquecimento de seu rival, a União Soviética.

O imperialismo norte-americano - conforme declarou Carter - deseja "colaborar estreitamente com os chineses". Carter sublinhou: "Consideramos as relações americano-chinesas como um elemento central de nossa política global e consideramos a China como uma força-chave para a paz". A China advoga uma coexistência pacífica que a aproxime ao máximo dos Estados Unidos.

Com esses pontos de vista e atitudes a China alinha-se com os Estados burguês-capitalistas que apóiam sua existência no imperialismo norte-americano. Essa viragem da China rumo ao imperialismo concretiza-se cada dia mais, tal como ocorreu anteriormente com a União Soviética e outros. Os próprios imperialistas o constatam e, alegres com a "nova realidade", declaram que "os conflitos ideológicos que dividiram os Estados Unidos, a União Soviética e a China na década de 50 são hoje menos evidentes e há uma crescente necessidade de colaboração entre as superpotências.. ."

Os imperialistas norte-americanos e seu presidente Carter dispõem-se a ajudar a China a fortalecer sua economia e seu exército, naturalmente até o ponto que lhes interessar. Louvam os dirigentes revisionistas chineses porque a estratégia da China constitui uma importante ajuda aos planos hegemonistas do imperialismo estadunidense.

A China aplaude os pontos de vista e atos norte-americanos contrários à União Soviética revisionista porque deseja fazer crer que eles servem à revolução, ao debilitamento da mais perigosa das grandes potências, o social-imperialismo soviético. Por sua vez, o imperialismo norte-americano aplaude os pontos de vista e atos da China contrários à União Soviética revisionista porque, como disse um dos mais próximos colaboradores de Carter, "o conflito sino-soviético cria um tipo de estrutura global mais pluralista", que o imperialismo norte-americano prefere, considera compatível com sua noção de "como o mundo deve organizar-se", ou seja, de como atiçar os demais a se entredevorarem para que a seguir os Estados Unidos dominem mais facilmente todo o mundo.

A política pragmática e confusa da China levou-a a tornar-se aliada do imperialismo norte-americano e a proclamar o social-imperialismo soviético como o inimigo e o perigo principal. Amanhã, quando a China verificar que alcançou seus objetivos de debilitar o social-imperialismo soviético, quando constatar que, segundo sua lógica, o imperialismo norte-americano estiver se fortalecendo, então, já que ela se apóia num imperialismo para combater o outro, poderá prosseguir a luta no flanco oposto. Nesse caso o imperialismo norte-americano poderá tornar-se mais perigoso e a China converterá automaticamente a atitude anterior em seu contrário.

Isso é uma possibilidade real. Em seu VIII Congresso, em 1956, os revisionistas chineses consideraram o imperialismo norte-americano como o perigo principal. Mais tarde, no IX Congresso, em abril de 1969, declararam que o perigo principal era constituído pelas duas superpotências, o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético. A seguir, após o X Congresso, em agosto de 1973, e no XI Congresso, apenas o social-imperialismo soviético foi proclamado como inimigo principal. Com tais oscilações, com tal política pragmática, não é impossível que o XII ou o XIII Congresso apóie o social-imperialismo soviético e declare o imperialismo norte-americano inimigo principal, isso até que a China também alcance o objetivo de tornar-se uma grande potência capitalista mundial. Nesse caso, que papel teria a China na arena internacional? Não seria jamais um papal revolucionário, mas retrógrado, contra-revolucionário.

A aliança com o Japão é um importante elemento da política externa chinesa. Essa aliança racista, recentemente selada com o tratado sino-nipônico, visa, como ressaltamos acima, realizar os planos estratégicos da China e do Japão de dominar conjuntamente a Ásia, os países da ASAN e da Oceania. Os revisionistas chineses necessitam desse tratado e dessa amizade com o Japão para, juntamente com os militaristas nipônicos, ameaçar o social-imperialismo soviético e, se possível, liquidar com ele e com sua influência na Ásia.

Mas a China também procura aproveitar seus laços com o Japão para conseguir créditos junto a ele, para importar tecnologia e armamentos, para realizar suas próprias ambições de grande potência. A China atribui tanta importância à sua múltipla colaboração econômica com o Japão que concentra neste país mais da metade de seu comércio externo.

Na realização de sua política expansionista, a China social-imperialista trabalha para ampliar ao máximo sua influência na Ásia. Atualmente ela não tem nenhuma influência na Índia, onde tanto os Estados Unidos como a União Soviética 'têm interesses em particular e em comum no quadro das modificações da situação das alianças que poderão ter lugar no futuro. A China deseja melhorar desde já as relações diplomáticas com a Índia. Mas as pretensões da Índia em relação ao Tibete são grandes. A Índia combaterá inclusive para liquidar a pouca influência que a China possa ter no Paquistão, porque o Paquistão é um país estratégico no flanco do Irã e do Afeganistão. Aqui iniciam-se as rivalidades pela grande área petrolífera do Oriente Médio, dominada pelo imperialismo norte-americano. É muito difícil para a China penetrar ali. Ela fará uma política contrária aos interesses dos povos árabes e favorável aos interesses norte-americanos, até chegar o momento em que ela própria se fortaleça. Ao mesmo tempo, ajudará os Estados Unidos a formar, juntamente com países como o Irã, a Arábia Saudita, etc., uma poderosa barreira contra uma penetração político-econômica e militar soviética nessa zona vital para o imperialismo norte-americano e o imperialismo europeu.

Os social-imperialistas chineses dedicam particular importância à Europa Ocidental na realização de seus planos. Seu objetivo é opô-la ao social-imperialismo soviético. Para tanto, apóiam por todos os meios a OTAN e a aliança dos países europeus com os Estados Unidos, o Mercado Comum Europeu e a "Europa Unida".

Em seu plano estratégico, a China social-imperialista visa estender sua influência e sua hegemonia nos países do "terceiro mundo", como ela o denomina. A teoria do "terceiro mundo" tem grande importância para a China. Mao Tse Tung não a proclamou como um sonhador, mas perseguindo objetivos hegemonistas bem definidos, para que a China domine o mundo. Os sucessores de Mao Tse Tung e Chu En-lai seguem a mesma estratégia.

Os objetivos estratégicos chineses também se estendem ao que se chama de "mundo não-alinhado", apregoado pelo titismo. Não há nenhuma diferença entre todos esses "mundos", um se sobrepõe ao outro. É difícil distinguir quais Estados estão no "terceiro mundo" e o que os diferencia dos "países não-alinhados", quais os Estados que fazem parte dos "não alinhados" e o que os distingue dos do "terceiro mundo", portanto, qualquer que seja a denominação que se lhes dê, trata-se dos mesmos Estados.

Este é um dos motivos por que a direção chinesa dá tanta importância às relações estatais e partidárias muito amistosas com Tito e com a Iugoslávia em todos os campos, ideológico, político, econômico, militar.

A comunidade de pontos de vista dos revisionistas chineses e dos revisionistas iugoslavos não impede cada um deles de explorar em proveito próprio a afetuosa amizade que os une.

Tito procura aproveitar as declarações de Hua Guofeng sobre a fidelidade de sua pessoa e de seu partido ao marxismo-leninismo, sobre o caráter socialista da "autogestão", sobre a política interna e externa "marxista-leninista" que os titistas seguiriam, para mostrar que o desmascaramento de seus desvios antimarxistas, de sua política chauvinista, reacionária, pró-imperialista, de seu revisionismo, não passaria de calúnia dos stalinistas, e, com base nisso, procura elevar seu renome em nível internacional.

Hua Guofeng, por sua vez, aproveita as relações com a Iugoslávia em função da chamada abertura da China para a Europa. Os revisionistas chineses também procuram aproveitar a amizade com os titistas, que se mantêm como campeões do não-alinhamento", como um importante canal de penetração nos "países não-alinhados", para estabelecer ali seu domínio. Não por acaso, durante sua visita à Iugoslávia Hua Guofeng colocou nas nuvens o movimento dos "não-alinhados" como "uma força muito importante na luta dos povos do mundo contra o imperialismo, o colonialismo e o hegemonismo". Teceu elogios a esse movimento e a Tito porque sonha apoderar-se dele e estabelecer sua sede em Pequim.

A política do social-imperialismo chinês é, em todos os sentidos, a política de uma grande potência imperialista, é uma política contra-revolucionária e belicista e, portanto, será cada vez mais odiada, contestada e combatida pelos povos.

As superpotências imperialistas de que falamos acima continuarão a ser imperialistas e belicosas e mais cedo ou mais tarde arrastarão o mundo para uma grande guerra atômica.

O imperialismo norte-americano procura cravar cada vez mais fundo suas garras na economia dos demais povos enquanto o social-imperialismo soviético, que vem de mostrar as unhas, procura fincá-las nos diversos países para criar e para fortalecer também ele suas posições neocolonialistas e imperialistas. Mas existe também a "Europa Unida", ligada por meio da OTAN aos Estados Unidos, que tem tendências imperialistas, não globais, mas ao nível de alguns de seus membros. Por outro lado, entraram na dança a China, que procura transformar-se em superpotência, e o militarismo japonês, que se levantou. Esses dois imperialismos vêm se aliando entre si para formar uma potência imperialista em oposição às demais. Nestas condições, aumenta o já grande perigo de uma guerra mundial. As atuais alianças existem, mas irão se deslocando, no sentido de modificar sua orientação mas não seu conteúdo.

Os belos discursos sobre o desarmamento pronunciados na ONU e em diversas conferências internacionais organizadas pelos imperialistas são demagógicos. Os imperialistas criaram e defendem o monopólio das armas estratégicas, desenvolvem um intenso tráfico de armas, não para garantir a paz e a segurança das nações mas para extrair superlucros e esmagar a revolução e os povos, para desencadear guerras de agressão. Stálin afirmou:

"Os Estados burgueses armam-se e rearmam se furiosamente. Por quê? Seguramente não para tagarelices, mas para a guerra. E os imperialistas precisam da guerra porque ela é o único meio para redividir o mundo, para redividir os mercados, as fontes de matérias primas e as esferas de aplicação de capital." (J. V. Stálin, Obras, ed. albanesa, vol. XII, pgs. 242-243.)

Em sua rivalidade, que as conduz à guerra, as superpotências seguramente provocarão e instigarão muitas guerras locais, entre diferentes Estados do "terceiro mundo", "países não-alinhados" ou "países em desenvolvimento".

O presidente Carter emitiu a opinião de que a guerra só pode ocorrer em dois pontos do globo terrestre, no Oriente Médio ou na África. E compreende-se por que: porque é precisamente nessas duas regiões que os Estados Unidos possuem maiores interesses atualmente. No Oriente Médio está o petróleo e na rica África confrontam-se grandes interesses econômicos e estratégicos neo-colonialistas de divisão de mercados e zonas de influência entre as superpotências que buscam manter e reforçar suas posições e conquistar outras.

Mas além do Oriente Médio e da África há outras zonas onde os interesses das superpotências se confrontam, como por exemplo o Sudeste Asiático. Os Estados Unidos, a União Soviética e mais a China procuram instaurar suas zonas de influência e dividir mercados. Isso cria também conflitos, que periodicamente se convertem em guerras locais, as quais não visam em absoluto libertar os povos e sim instalar ou deslocar camarilhas dominantes do capital local, que ora estão com uma superpotência e ora com outra. O social-imperialismo soviético e o imperialismo norte-americano são dois monstros. Os povos desconfiam deles; e tampouco confiam na China.

Quando as superpotências não conseguem satisfazer seus interesses rapaces por meios econômicos, ideológicos e diplomáticos, quando as contradições se aguçam ao máximo e já não podem ser resolvidas com acordos e "reformas", começa então a guerra entre elas. Portanto, os povos, que verterão seu sangue nessa guerra, devem fazer todos os esforços para não serem colhidos de surpresa, para sabotar a guerra inter-imperialista de pilhagem, para que ela não adquira proporções mundiais e, se não o conseguirem, para convertê-la em guerra de libertação e para vencê-la.


Inclusão 03/11/2005
Última alteração 14/04/2014