Cerrai Fileiras

J. V. Stálin

15 de julho de 1917


Primeira publicação: “Proletárskoie Dielo” (“A Causa Proletária”). (Kronstadt), n.° 2. 15 de julho de 1917. Assinado: K. Stálin, membro do C.C. do P.O.S.D.R.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 108-111.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Os acontecimentos de 3 e 4 de julho foram provocados pela crise geral do país. A guerra que se arrasta e a exaustão geral, o inaudito aumento dos preços e a desnutrição, a contrarrevolução que se reforça e o esfacelamento econômico, a dissolução dos regimentos na frente e o adiamento da questão da terra, o esfacelamento geral do país e a incapacidade do governo provisório no sentido de subtrair o país à crise: estes são os fatos que impeliram as massas a fazer manifestações nas ruas a 3 e 4 de julho.

Dizer que o motivo dessa demonstração foi a pérfida agitação de um determinado partido, significa adotar o ponto de vista dos esbirros da polícia tzarista, para os quais todos os movimentos de massa aconteceriam por inspiração de “fomentadores” e de “insufladores”.

Nenhum partido, nem sequer o bolchevique, lançou um apelo que convidasse a efetuar a ação de 3 de julho. Pelo contrário. O Partido Bolchevique, que é o partido mais influente em Petrogrado, ainda a 3 de julho havia convidado os operários e os soldados a absterem-se da ação. E quando o movimento apesar disso deflagrou, nosso Partido, julgando não ter o direito de lavar as mãos a respeito, fez todo o possível para dar ao movimento um caráter pacífico e organizado.

Mas a contrarrevolução não dormia: organizou tiroteios com o objetivo de fazer provocação, empanou os dias da demonstração com derramamento de sangue e, apoiando-se em alguns destacamentos provenientes da frente, passou ao ataque contra a revolução. O partido dos cadetes, esteio da contrarrevolução, como se previsse tudo isso, saíra anteriormente do governo para ter as mãos livres. Os membros mencheviques e social-revolucionários do Comitê Executivo, desejando conservar suas posições vacilantes, declararam perfidamente que a demonstração para a passagem de todo o poder aos soviets era uma insurreição contra os soviets e lançaram contra Petrogrado revolucionária as camadas atrasadas dos destacamentos militares mandados vir da frente. Enceguecidos pelo fanatismo faccioso, não se aperceberam de que infligindo golpes aos operários e aos soldados revolucionários, debilitavam com isso mesmo toda a frente da revolução e davam asas às esperanças da contrarrevolução.

Resultado: contrarrevolução desenfreada e ditadura militar.

O empastelamento das sedes da Pravda e da Soldátskaia Pravda,(1) o empastelamento da tipografia Trud(2) e dos nossos organismos distritais, os espancamentos e os assassinatos, as prisões arbitrárias e toda uma série de repressões “ilegais”, as baixas calúnias de desprezíveis espiões contra os líderes do nosso Partido e o desenfreado alarido dos bandidos da pena nos jornais vendidos à burguesia, o desarmamento dos operários revolucionários, a dissolução dos regimentos, o restabelecimento da pena de morte: eis a “obra” da ditadura militar.

Tudo isso é feito sob a divisa da “salvação da revolução”, “por ordem” do “ministério” Kerenski-Tsereteli, apoiado pelo Comitê Executivo de toda a Rússia. Além disso, os partidos social-revolucionário e menchevique, partidos do governo, apavorados com a ditadura militar, entregam de ânimo leve os líderes do Partido proletário aos inimigos da revolução, mantêm ocultos os empastelamentos e as violências, não reagem às repressões “ilegais”.

Entendimento tácito entre o governo provisório e o estado-maior da contrarrevolução, constituído pelo partido cadete, com a manifesta conivência do Comitê Executivo, contra os operários e os soldados revolucionários de Petrogrado: eis a situação atual.

Quanto mais os partidos no governo são condescendentes, tanto maior é a insolência dos contrarrevolucionários. Após haverem atacado os bolcheviques, já passam ao ataque contra todos os partidos que têm os seus representantes nos soviets e contra os próprios soviets. Saqueiam as organizações mencheviques do lado de Petrogrado e Okhta. Assaltam a seção do sindicato dos metalúrgicos na barreira do Neva. Atacam a bala a reunião do Soviet de Petrogrado e prendem os seus membros (o deputado Sákharov). Organizam na Perspectiva Nevski grupos selecionados para dar caça aos membros do Comitê Executivo. Falam com segurança da dissolução do Comitê Executivo. Nem falemos sequer do “complô” contra alguns membros do governo provisório e contra alguns líderes do Comitê Executivo.

A insolência e o caráter provocativo das ações dos contrarrevolucionários aumentam de hora em hora. E o governo provisório continua a desarmar os operários e os soldados revolucionários no interesse da “salvação da revolução”...

Tudo isso, conjugado com a crise que se estende pelo país, com a fome e o esfacelamento, com a guerra e com as surpresas que a acompanham, agrava ainda mais a situação tornando inevitáveis novas crises políticas.

A tarefa atual é a seguinte: estarmos preparados para as próximas batalhas, enfrentá-las dignamente e de maneira organizada.

Segue-se daí que:

A primeira recomendação é no sentido de não se cair nas provocações dos contrarrevolucionários, de armar-se de sangue frio e de autodomínio, de reunir as forças para a luta iminente, de não se permitir nenhuma ação prematura.

A segunda recomendação é no sentido de nos agruparmos mais compactamente em torno de nosso Partido, de cerrarmos fileiras contra os inúmeros inimigos que se armam contra nós, de mantermos erguida a bandeira, incitando os débeis, não abandonando os retardatários, tornando conscientes os que ainda não o são.

Nenhuma conciliação com a contrarrevolução!

Nenhuma unidade com os “social”-carcereiros.

Nossa palavra de ordem é: união dos elementos revolucionários contra a contrarrevolução e contra seus protetores.


Notas de fim de tomo:

(1) A Soldátskaia Pravda (A Pravda do Soldado) iniciou a sua publicação a 15 de abril de 1917; a partir de 19 de maio tornou-se o órgão da organização militar junto ao Comitê Central do P.O.S.D.R. (b). A Soldátskaia Pravda gozava de grande popularidade entre os operários e soldados de Petrogrado. Os operários participaram amplamente da campanha de assinaturas, com o fim de assegurar-lhe a publicação e a difusão gratuita entre os soldados na frente. A tiragem do jornal atingiu 50.000 exemplares, dos quais a metade ia para a frente. Durante as jornadas de julho de 1917 a sede da Soldátskaia Pravda foi empastelada e o jornal foi suprimido pelo governo provisório, juntamente com a Pravda. Reiniciou a sua publicação após a Revolução de Outubro. Saiu até março de 1918. (retornar ao texto)

(2) A tipografia Trud (O Trabalho), na qual se imprimiam os jornais e livros bolcheviques, foi adquirida pelo Comitê Central do P.O.S.D.R.(b) a 22 de abril de 1917. Em seguida a um apelo da Pravda, os próprios operários e soldados juntaram o dinheiro necessário para a aquisição da tipografia. Em 6 de julho de 1917 a tipografia foi destruída por destacamentos de alunos da escola militar e de cossacos. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024