"Muitos novilhos bem apascentados rodearam-me"

J. V. Stálin

20 de outubro de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 41. 20 de outubro de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 374-377.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Os bolcheviques lançaram a palavra de ordem: estai prontos! Essa palavra de ordem surgiu em seguida ao agravamento da situação e à mobilização das forças contrarrevolucionárias que desejam atacar a revolução, que tentam decapitar a revolução cedendo a capital a Guilherme, e têm a intenção de dessangrar a capital afastando dela o exército revolucionário.

Mas a palavra de ordem revolucionária lançada pelo nosso Partido não foi compreendida da mesma maneira por todos.

Os operários compreenderam-na “a seu modo” e começaram a armar-se. Eles, os operários, são muito mais perspicazes que muitíssimos intelectuais “inteligentes” e “instruídos”.

Os soldados não ficaram atrás dos operários. Ontem na assembleia dos comitês de regimento e de companhia da guarnição da capital os soldados decidiram por imensa maioria defender com seu peito a revolução e o seu chefe, o Soviet de Petrogrado, a cujo primeiro, apelo eles se obrigam a pegar em armas.

Assim se portam os operários e os soldados.

Não assim as outras camadas sociais.

A burguesia sabe onde está o busílis. Imediatamente, “sem palavras supérfluas”, postou os canhões diante do Palácio de Inverno porque ela possui os seus “alferes” e os seus “alunos da escola militar”, que, esperamos, a história não olvidará.

Os agentes da burguesia do Dién e da Vólia Naroda desencadearam uma campanha contra o nosso Partido, “colocando em um só feixe” os bolcheviques e os reacionários e perguntando-lhes insistentemente a “data da insurreição”.

Seus caudatários, as ordenanças de Kerenski, os Binassik e os Dan, lançaram um apelo firmado pelo “Comitê Executivo Central” no qual convidam a abster-se da ação perguntando, como o Dién e a Vólia Naroda, a “data da insurreição” e convidando os operários e os soldados a prosternarem-se diante de Kíchkin e de Konoválov.

E os neurastênicos da Nóvaia Jizn , apavorados, não aguentam mais, “não podem mais calar-se” e suplicam-nos que lhes digamos de uma vez: quando se insurgirão os bolcheviques?

Em uma palavra, se não se levar em conta os operários e os soldados, pode-se efetivamente dizer que “estamos rodeados de muitos novilhos bem apascentados”, os quais caluniam e denunciam, ameaçam e suplicam, indagam e interrogam.

Nossa resposta:

No que se refere à burguesia e ao seu “aparato”: com eles teremos uma conversa à parte.

No que se refere aos agentes e aos mercenários da burguesia: endereçamo-los à polícia secreta, onde podem “informar-se”, e por sua vez “informar” quem de direito, sobre o “dia” e a “hora” da “insurreição”, cujo itinerário já foi traçado pelos provocadores do Dién.

No que se refere aos Binassik, aos Dan e aos outros serviçais de Kerenski, membros do Comitê Executivo Central: não estamos obrigados a prestar contas de nossa ação aos “heróis” que se colocaram do lado do governo de Kíchkin-Kerenski contra os operários, os soldados e os camponeses. Mas faremos tudo quanto pudermos para que esses heróis que furam greves respondam perante o Congresso dos Soviets que até ontem tentaram torpedear, porém que hoje, obrigados à retirada pela pressão dos soviets, são compelidos a convocar.

No que se refere aos neurastênicos da Nóvaia Jizn não conseguimos compreender bem o que eles querem precisamente de nós.

Se querem saber o “dia” da insurreição para mobilizar de antemão as forças dos intelectuais espavoridos para uma fuga... tempestiva para a Finlândia, por exemplo, então não podemos senão... elogiá-los, uma vez que nós “em geral” somos pela mobilização das forças.

Se eles perguntam o “dia” da insurreição para acalmar seus nervos “de aço”, asseguramos-lhes que, mesmo que o “dia” da insurreição já tivesse sido fixado e mesmo que os bolcheviques o cochichassem “ao ouvido” deles, nem por isso os nossos neurastênicos sentir-se-iam no mais mínimo “aliviados”: seguir-se-iam novas “questões”, novo histerismo, etc.

Se querem simplesmente organizar uma demonstração contra nós para se distinguirem bem do nosso Partido, não poderemos senão elogiá-los mais uma vez: uma vez que em primeiro lugar esse passo sensato será indubitavelmente colocado no seu ativo por aqueles que, no caso de possíveis “insucessos” e “complicações”, estarão em condições de fazê-lo; em segundo lugar esclarecerá as ideias dos operários e dos soldados, os quais compreenderão finalmente que a Nóvaia Jizn, pela segunda vez (jornadas de julho!) deserta das fileiras da revolução para ingressar no exército reacionário dos Búrtsev e dos Suvórin. E é sabido por todos, sem dúvida, que nós de um modo geral somos pela clareza.

Mas talvez eles não possam “calar-se” porque, mais ou menos, agora todos coaxam no pântano pátrio da confusão própria dos intelectuais? Não se explica assim o “não se pode silenciar” de Gorki? É inverossímil, mas e fato. Eles não moviam um dedo e calavam-se quando os latifundiários e seus lacaios reduziam os camponeses ao desespero e às “sedições” pela fome. Não moviam um dedo e calavam-se quando os capitalistas e seus caudatários preparavam para os operários, em toda a Rússia, “lockouts” e desemprego. Conseguiam calar-se quando a contrarrevolução tentava entregar a capital e afastar dela o exército. Mas esses indivíduos, ao que parece, “não podem calar-se” quando o Soviet de Petrogrado, vanguarda da revolução, levantou-se em defesa dos operários e dos camponeses ludibriados! E a primeira palavra que eles disseram é uma palavra de censura dirigida não à contrarrevolução, mas à mesma revolução de que falam com transporte nos salões, mas da qual fogem como da peste nos momentos mais decisivos! Não será isso talvez “estranho”?

A revolução russa derrubou mais de uma autoridade, e entre outras coisas sua força exprimiu-se no fato de que ela não se dobrou diante dos “grandes nomes”: ou tomou-os a seu serviço ou ignorou-os, se não quiseram aprender com ela. Desses “grandes nomes” repudiados depois pela revolução há-os a granel: Plekhánov, Kropótkin, Brechkóvskaia, Zasulich e em geral todos os velhos revolucionários, notáveis somente pelo fato de serem velhos. Tememos que os louros dessas “colunas” perturbem o sono de Gorki. Tememos que Gorki tenda “irresistivelmente” em direção a eles, em direção ao arquivo.

Pois bem, cada qual é livre... para fazer o que lhe aprouver. A revolução não sabe nem prantear nem enterrar os que para ela já estão mortos...


Inclusão: 18/02/2024