O Império de Havana

Enrique Cirules


XIV. Era Demasiado Tarde


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O presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, nos diz em suas memórias que:

Durante 1958 e de acordo com a carta da OAS, os Estados Unidos seguiram cuidadosamente uma política de intervenção em Cuba, ainda que fosse muito amplo o apoio sentimental a Castro. Repetidamente embargamos carregamentos de armas destinadas a Castro e no mês de março suspendemos a entrega de armas a Batista.(1)

Essa afirmação não resiste à mais leve confrontação com os acontecimentos históricos. Depois de março de 1958 e nos dias finais da guerra, por diversos canais. Batista continuou recebendo armas, munições, recursos materiais e apoio de políticos e agências especiais americanas. Continuaram os treinamentos das tropas da tirania, assessoradas pela missão militar dos Estados Unidos radicada em Havana e, sobretudo, foram intensificadas as operações de seus serviços de inteligência, que também se tornaram mais audazes. Nos dias em que a aviação de Batista bombardeava de maneira sistemática vastas zonas camponesas da antiga província de Oriente, a força aérea do ditador abastecia-se nos próprios arsenais que possuíam os Estados Unidos na base naval de Guantánamo.

Em setembro de 1958, deu-se a última viagem a Havana do inspetor- geral da CIA, Lyman Kirkpatrick, que se reuniu com o chefe da estação da CIA em Havana, assessores e adidos militares, representantes do Bureau Federal de Investigações (FBI), funcionários, agentes secretos, financistas, executivos de empresas norte-americanas, com a direção política da embaixada americana, com outros agentes e personalidades privadas e oficiais e chegou à conclusão (segundo afirmou dez anos mais tarde em um livro) de que Batista havia perdido o controle do país e que toda a esperança só dependia de um milagre.(2)

Na realidade, tudo parece indicar que até outubro de 1958, graças aos extraordinários lucros que Batista proporcionava, os grupos financeiros, a Máfia e os serviços especiais norte-americanos mantiveram uma política coerente, sem fissuras, exceto as que se originavam nas características particulares de cada uma dessas forças ou manobras hipócritas realizadas por John Foster Dulles, do Departamento de Estado, em relação a manter Batista dirigindo o poder aparente.

E justamente nos primeiros dias de novembro de 1958 que essa coerência explode em pedaços e cada uma das três forças assume uma posição de acordo com seus interesses particulares.

Tal situação entra em sua crise mais aguda porque a Ilha se encontrava sublevada, de uma ponta à outra, e mais nada podia deter o movimento revolucionário dirigido por Fidel Castro.

Sem dúvida, a essas conclusões haviam chegado muito antes os especialistas da inteligência norte-americana, sobretudo a partir do final de julho de 1958, quando os trezentos fuzis guerrilheiros na Sierra Maestra derrotaram os 10 mil soldados do tirano na Grande Ofensiva. Mas eram tais os entrelaçamentos dos grupos financeiros-Máfia-serviços especiais norte-americanos que estavam fazendo ainda um esforço conjunto para dar continuidade a esse esquema de domínio sobre Cuba.

Nos primeiros dias de novembro, iniciam-se os combates nos arredores de Guisa. Fidel, pessoalmente, no próprio terreno da luta, dirige essa batalha de fuzis contra tanques e aviões, a nove quilômetros do posto de mando das tropas de elite da tirania.

Não é que as tropas de Batista estivessem desmoralizadas, mas foram derrotadas militarmente pelo Exército Rebelde. A guerra da Sierra Maestra foi de um heroísmo sem limites. No processo de formação do Exército Rebelde, depois de ser aniquilado em Alegria de Pio, Fidel conseguiu reagrupar sete fuzis e doze homens (incluindo ele próprio) e, depois, várias dezenas de jovens patriotas. Esse agrupamento tornou-se uma vanguarda de integridade e valor só comparáveis às hostes que em outro momento dirigiram Agramonte, Gómez ou Maceo.

Nessa situação, nos primeiros dias de novembro de 1958, a Agência Central de Inteligência vê-se obrigada a informar o presidente Eisenhower do perigo que corria o esquema de domínio sobre Cuba.(3) Tudo parece indicar que é naquele momento que a CIA coloca pela primeira vez a necessidade de desvencilhar-se de Batista.

Essa primeira medida proposta em novembro torna-se um verdadeiro tabu para o governo dos Estados Unidos. Nunca se imaginava que, cumprindo ordens expressas das famílias da Máfia radicadas em Cuba, Batista iria resistir aos planos implementados pelo governo de Washington para obrigar o governo norte-americano a buscar uma opção na qual (inclusive através da via militar) se mantivesse o velho esquema, ainda que fosse com a variante da farsa eleitoral de novembro de 1958.

A razão da resistência dos grupos mafiosos norte-americanos instalados em Havana é que sem Batista ou sem sua cúpula político-militar não podiam impedir a entrada em Cuba das poderosas famílias de Nova York, com as quais haviam guerreado em 1957, para impedir a repartição dos negócios em Havana. Somente isso explica por que Batista rejeitou a extraordinária proposta que lhe fez o governo norte-americano no início de dezembro de 1958.

Eles lhe sugerem que abandone urgentemente o país (ele e sua família). Podiam instalar-se de novo em Daytona Beach, com o compromisso de que os seus interesses e os de seus amigos não seriam molestados.

Batista tinha 300 milhões de dólares em bancos fora de Cuba; como não aceitar aquele maravilhoso oferecimento de Washington, quando era questão de umas poucas semanas, talvez dias, as tropas revolucionárias começarem a avançar para o ocidente do país? No entanto, contra todos os prognósticos, ele resistiu à proposta de Washington.

Tudo parece indicar também que as famílias de Havana não confiavam naquele oferecimento, em um compromisso dessa natureza, e começaram a pressionar suas relações à procura de uma solução negociada ou de tipo militar, intervencionista.

Hoje sabe-se que em 9 de dezembro de 1958, chegou ao aeroporto internacional de Rancho Boyeros, em voo especial (um quadrimotor DC-6B da National Airline), um emissário secreto do governo dos Estados Unidos que já era conhecido em Cuba: William D. Pawley.

Pawley tinha sido um importante funcionário do Departamento de Estado, com grande experiência. Fora embaixador no Peru e no Brasil, além de ter múltiplas participações em negócios, política e crime organizado.

A norte-americana Penny Lernoux, em uma de suas pesquisas sobre a Máfia de seu país, vincula Pawley com esse mundo:

Como no Sudeste asiático, os políticos direitistas forjaram uma aliança entre a CIA e o crime organizado no sul da Flórida. Em 1960, quando a CIA traçava planos para eliminar Castro, se valeu de um grande contratado, Robert Maheu, para estabelecer contato com o gângster John Roselli (nos Estados Unidos, continua-se acreditando que a Máfia foi contratada para assassinar Fidel Castro etc. Essa afirmação está dirigida a encobrir a verdadeira dimensão da Máfia na sociedade norte-americana. A Máfia nos Estados Unidos, ao contrário de Cuba, não é um grupo marginal, mas um agrupamento de poder real; portanto, não havia que acioná-la, principalmente quando, no caso de Cuba, perdeu o esplendoroso Império de Havana)(4) que, por sua vez, apresentou Matheu a Trafficante e a Sam Giancana, o capo de Chicago. Durante uma reunião celebrada em 1961, no Hotel Fontainebleau de Miami, Maheu deu a Trafficante e a Roselli umas cápsulas de veneno que deviam ser introduzidas em Cuba para matar Castro. Mas a tentativa fracassou. Dois anos mais tarde, Trafficante esteve de novo comprometido com a CIA em uma estranha expedição em botes contra Cuba, patrocinada também por William Pawley, ex-secretário de Estado e frio financista, que havia sido colega de Paul Helliwell na China e cofundador da Flying Tigers, que mais tarde se tornou uma linha aérea da CIA conhecida pelo nome de Civil Air Transport e que interveio no contrabando de armas no Extremo Oriente. Pawley participou também do golpe da CIA contra o governo de Arbenz, na Guatemala, em 1954, junto com outro associado de Helliwell.(5)

O colega de Pawley, Helliwell, era um advogado e banqueiro de Miami, chefe de informação especial na China, durante a II Guerra Mundial, para a Oficina de Serviços Estratégicos (OSS), antecessora da CIA, e realizou incontáveis atividades para a CIA e a Máfia. Além disso, Helliwell foi o pagador da CIA na Flórida para os assuntos da invasão de Playa Girón e administrou, no Sul dos Estados Unidos, a área do Caribe e das Bahamas, com numerosos bancos-pontes entre operações da CIA e a lavagem de dólares, a cargo da Máfia norte-americana. Helliwell era o chefe do prestigioso escritório Helliwell, Melrose and DeWolf.(6)

Mas sigamos com William D. Pawley, que no final de 1958 chegou a Havana para cumprir a missão secreta de entrevistar-se com o general Batista e transmitir-lhe aquela proposta de Washington, que, segundo se imaginava, de forma nenhuma o general podia rejeitar.

Pawley foi também um dos artífices do desmantelamento da rede rodoviária de Havana. O transporte urbano em todas as cidades importantes de Cuba passou a ser dependente da grande indústria automobilística dos Estados Unidos, em cuja distribuição e controle a Máfia norte-americana possuía interesses não só em nosso país, mas também nos Estados Unidos.

Para a construção da rede rodoviária em Havana foi necessário investir dezenas de anos; além disso, esse serviço era mais econômico. No entanto, a partir de 1950, o transporte na Ilha se tornou completamente dependente da constante importação de veículos e do cada vez mais crescente gasto com lubrificantes, óleo, peças de reposição, pneus etc.

Pawley chegou a possuir substanciais interesses na antiga Havana Electric Railway e, depois de liquidar a rede rodoviária de Havana, transferiu esses negócios à chamada Compania Cubana de Autobuses S. A. As manobras implicaram um grupo de gangsteres do autenticismo, que controlavam o sindicato.

O escândalo que produziu o desmantelamento da rede rodoviária da capital (fez-se crer que era ineficiente e caro) criou um estado de opinião em torno do que estava sendo realizado, “cessando naturalmente as obscuras negociações realizadas na operação entre William Pawley e as altas autoridades, tão escandalosas que promoveram memoráveis debates no Congresso”.(7)

A seleção feita por Washington de Pawley era realmente um acerto. Amigo de Batista, conheciam-se pessoalmente havia mais de vinte anos. Em 1958, Pawley era também proprietário de uma das duas mais importantes empresas de ônibus urbanos da capital cubana.

Segundo se pode reconstituir, Pawley viajou a Havana não apenas para propor a Batista que abandonasse rapidamente o país, mas para constituir um novo governo capaz de impedir o avanço da Revolução, com manobras montadas pelos serviços especiais norte-americanos.

A ideia era utilizar um grupo importante de altos militares vinculados à inteligência americana e a certas personalidades da política tradicional que se tinham mantido, propositadamente, à margem dos acontecimentos.

As missões que, nesse sentido, Smith, o embaixador norte-americano, realizara haviam fracassado. Portanto, era necessário agora que interviesse alguém considerado pelas famílias de Havana (e em especial por Lansky) como elo de ligação entre os grupos econômicos, a Máfia e a inteligência americana.

Alguns detalhes da missão secreta que cumpriu William D. Pawley são conhecidos por uma audiência que realizou o Subcomitê Judicial do Senado dos Estados Unidos, em 2 de setembro de 1960.

PAWLEY: Fui escolhido para viajar a Cuba e conversar com Batista, para ver se eu conseguia convencê-lo a capitular. Estive reunido com ele durante três horas, na noite de 9 de dezembro de 1958. Não tive sucesso em minha missão, embora Rubottom (Roy) tivesse me dado permissão para dizer que “o que ofereço tem um caráter tácito e está suficientemente respaldado pelo governo”. Creio que Batista podia tê-lo aceito.

Eu lhe ofereci a oportunidade de viver em Daytona Beach com sua família, com a garantia de que seus amigos e familiares não seriam molestados; disse-lhe que nós faríamos um esforço para evitar que Fidel Castro tomasse o poder e formasse um governo comunista, mas que o governo encarregado disso devia estar formado por homens que fossem inimigos de Batista, pois de outro modo não teria sucesso; que assim Fidel Castro teria de baixar as armas ou admitir que era um revolucionário que lutava só pelo poder, não porque se opusesse a Batista.

SENADOR KEATING: E o novo governo seria também inimigo de Castro?

PAWLEY: Sim.(8)

A suposta discrepância entre a CIA e o Departamento de Estado, sobretudo nos últimos meses de 1958, contribuiu para encobrir a pérfida política norte-americana contra a nação cubana. A política norte-americana em relação a Cuba durante os anos da tirania de Batista (1952-1958) foi controlada pelas mais altas instâncias de Washington. Para entender esse longo e tortuoso processo, o melhor será deter-nos em uma reflexão que realizaram Wise e Ross, em seu livro El gobierno invisible, em torno da política implementada pela CIA e pelo Departamento de Estado durante os anos 50:

Nisto Foster Dulles refletia a ética norte-americana: o mundo como queríamos que ele fosse. Enquanto assumia essa posição pública, seu irmão estava em liberdade para tratar de realidades mais sórdidas e impuras, para derrubar governos e realizar manobras políticas nos bastidores em todo o globo, com os fundos quase ilimitados da CIA. Era, como Allen Dulles disse uma vez, capaz de “combater o fogo com o fogo”, em um mundo muito distante da perfeição. Devido a estar inteiramente dedicado ao seu próprio mundo particular, foi sob a direção de Allen Dulles que a CIA teve sua maior expansão, particularmente no campo das operações secretas para a derrubada de governos em Ultramar.

Ao seguir essa política externa dual, tais operações se mantinham em sua maior parte em segredo para o povo norte-americano. A exceção, claro, era quando algo saía mal, como no caso da Baía dos Porcos. Isso não quer dizer que essa mesma política externa de duas caras não teria se desenvolvido se o diretor da CIA e o secretário de Estado não fossem irmãos. É muito provável que sim. Mas o atrito natural entre os objetivos, os métodos diplomáticos e os fantasmas, entre o Departamento de Estado e a CIA, reduziu-se até certo ponto devido à estreita interligação de trabalho dos irmãos Dulles. Em consequência, houve menos necessidade de contenção e equilíbrio. Em certo sentido, poder-se-ia dizer que os irmãos Dulles estavam predestinados a tomar em suas mãos as alavancas do poder na direção dos assuntos externos dos Estados Unidos.(9)

Enquanto aparecia em Havana o homem polivalente, William D. Pawley, para persuadir Batista, o Departamento de Estado retirava seu embaixador S. T. Smith, alegando que devia viajar a Washington para consultas. Mas, quando ficou evidente que Batista não aceitaria a proposta, Smith regressou imediatamente, com a outra cara da política: o ultimato para que o general Batista abandonasse o país.

O certo é que, a partir de novembro, o restante das forças imperialistas, exceto as poderosas famílias que controlavam o Império de Havana, tinha chegado à conclusão de que o esquema de domínio norte-americano sobre Cuba exigia, além da partida urgente de Batista, um conjunto de operações sigilosas para neutralizar, diluir ou impedir que o povo cubano chegasse ao poder com uma revolução triunfante.

A entrevista de Batista com o embaixador Smith foi realizada na fazenda Kuquine. Havia sido pedida pelo embaixador Smith em 14 de dezembro, através do ministro de Estado da tirania, mas Batista, em um processo dilatório que durou três dias, reuniu-se com o embaixador norte-americano na noite de 17 de dezembro, um dia depois da explosão da ponte de Falcón, na província central de Las Villas, que aliás deixou a Ilha dividida em duas.

Smith era portador do comunicado oficial de Washington: Batista devia abandonar o país imediatamente. Mas este expressou novamente a sua recusa, não só para ganhar tempo, mas também para condicionar outra vez o velho esquema de domínio imposto pelos Estados Unidos desde o primeiro terço do século. É preciso dizer que, além das múltiplas operações que estavam montadas pela inteligência norte-americana em Cuba, as agências especiais americanas continuavam com a assessoria e o contínuo fluxo de recursos para a ditadura.

Essas agências especiais estiveram organizando diversas provocações, destinadas a criar um conflito de envergadura entre o Exército Rebelde e o governo dos Estados Unidos, que permitisse a Washington legalizar uma intervenção. Essas operações organizadas pela CIA (às quais o embaixador Smith não era alheio) realizaram-se principalmente nas zonas de guerra da província de Oriente. Houve manobras como a retirada das tropas de Batista que cuidavam do aqueduto de Yateras, responsável pelo abastecimento de água na base naval de Guantánamo, para que as instalações fossem ocupadas pelas tropas norte-americanas. Também foram retiradas as tropas de elite que resguardavam os interesses extrativistas do grupo financeiro Rockefeller, para que as colunas da II Frente Oriental Frank Pais ocupassem as instalações ou povoados próximos a Nicaro e deixassem naquela região um cenário de guerra, com bombardeios brutais. A aviação de Batista participou dessa operação, colocando em perigo a vida de norte-americanos e de seus familiares; foram acionados até barcos de guerra dos Estados Unidos, incluindo o gigantesco porta-aviões Franklin Delano Roosevelt, que permaneceu a umas poucas milhas da costa cubana. Além disso, aconteceram conflitos com a base naval de Guantánamo, desde onde se abastecia a aviação batistiana para os constantes bombardeios sobre as zonas camponesas. Para essas operações existiu uma precisa coordenação entre o governo de Batista e a embaixada norte-americana em Havana. Mas estas manipulações ou manobras encobertas fracassaram todas as vezes graças à perícia e à firmeza com que o mando rebelde enfrentou a crescente hostilidade dos Estados Unidos.

Smith não era de forma alguma um diplomata profissional, mas um influente corretor da bolsa de Nova York, que residia em Palm Beach e possuía importantes relações na Flórida. Afirmou-se que a presença de Smith em Cuba deveu-se não a um interesse de representar o governo dos Estados Unidos, mas sim aos estritos vínculos ou interesses afins que possuía com os grupos financeiros dominantes em Cuba, em especial os que tinham a ver com os assuntos mineiros na provínciade Oriente.

O embaixador norte-americano (T. S. Smith) era um importante acionista da Moa Bay Mining Company, companhia encarregada de explorar as minas de níquel cubano.(10) Os grupos financeiros temiam que a guerra revolucionária em Cuba afetasse seus grandes negócios. Tinham então 75 milhões de dólares investidos em Moa, 100 milhões na Nicaro, mas sobretudo estava pela metade uma operação substancial entre Batista e Washington, arranjos que permitiriam a esses grupos financeiros explorar as minas do Oriente e embarcar os minerais com isenção total de impostos. Segundo cálculos de especialistas, produziria perdas para Cuba num montante de quase 40 milhões de dólares. E Smith, evidentemente, estava envolvido nessas manobras.

A opção militar contra Cuba sempre foi uma possível variante para o imperialismo norte-americano, em sua vontade de impedir que o povo cubano assumisse o poder.

Voltemos à entrevista do embaixador Smith com o general Batista, na noite de 17 de dezembro de 1958. Enquanto as forças rebeldes dirigidas por seu comandante-em-chefe Fidel Castro e as colunas de Raúl Castro e Juan Almeida se dispunham a estreitar o círculo de ferro sobre Santiago de Cuba, Che e Camilo Cienfuegos desencadeavam uma ofensiva de grande magnitude contra as tropas que ocupavam as principais cidades conectadas pela rodovia central, desde Santo Domingo até os limites da província de Camaguey.

Smith escreveu:

Em seguida às usuais e diplomáticas saudações (era 14 de dezembrode 1958), eu pedi a Guell, um ministro de Estado, uma entrevista com o presidente. Disse-lhe que, lamentavelmente, eu devia informar ao presidente da República que os Estados Unidos não apoiariam mais aquele governo de Cuba e que meu governo achava que o presidente tinha perdido o controle da situação. . . Ainda que (Guell) empalidecesse diante de minha declaração, manteve-se sereno.(11)

Smith, sem preâmbulos, expressou a Batista a decisão de Washington, mas aquilo não seria uma surpresa para o general; advertido que estava por seus múltiplos contatos, não deu ouvidos ao ultimato. É de supor que Batista esteve submetido a grandes pressões. Por sua parte, o embaixador, conhecendo seguramente o que estava em jogo, definiu sua participação da seguinte forma:

De acordo com minhas instruções, expus ao presidente que o Stade Department encarava com ceticismo qualquer plano de sua parte para permanecer indefinidamente em Cuba. O presidente perguntou se podia ir à Flórida com sua família para visitar sua casa de Daytona Beach. Eu sugeri a Batista que passasse um ano ou mais na Flórida ou em qualquer outro país e que não atrasasse sua saída de Cuba mais tempo do que exigiria uma ordenada transmissão de poderes.

Os Estados Unidos, de forma clara e diplomática, haviam dito ao presidente da República que devia ir embora de seu próprio país.(12)

Batista resistiu até a última hora às ordens de Washington, não por valentia nem por convicção. Absolutamente. Não é necessário argumentar. Na realidade, a entrevista do embaixador Smith com Batista acabou sendo patética: enquanto Smith exigia a saída urgente do ditador, que até aquele momento os Estados Unidos tinham mantido. Batista conservava-se numa posição extremamente rígida.

Foi uma entrevista, como bem se disse, entre surdos. Smith falava de instaurar um novo governo de transição, que fosse inimigo aparente de Batista e inimigo verdadeiro de Fidel Castro, para escamotear do povo de Cuba a vitória revolucionária. E Batista, por sua vez, falava de constitucionalidade e do suposto direito que Rivero Aguero possuía de assumir a presidência, como resultado das fraudulentas eleições de novembro de 1958. Finalmente, sem colocar-se de acordo, Smith abandonou a fazenda Kuquine já perto da meia-noite.

Essa resistência de Batista a uma decisão que Washington havia tomado desde a segunda quinzena de novembro revela como eram poderosas as famílias que controlavam o Império de Havana (a Máfia, em Havana, não era um simples elemento marginal), sobretudo por suas relações com importantes grupos financeiros e políticos dos Estados Unidos e com as agências especiais. Do contrário, uma ordem de Washington em Cuba, até 1958, não podia demorar um dia sem ser cumprida.

A origem dessa resistência esteve condicionada porque as poderosas famílias de Havana, ainda nos últimos dias de 1958, consideravam a possibilidade de manipular novas variantes sem ser invadidos por seus tradicionais inimigos: o resto da Máfia norte-americana, com o qual de uma ou outra maneira vinham guerreando desde 1956, pela repartição de Cuba.

Diante da negativa de Batista e dos grupos mafiosos de Havana, o governo norte-americano se viu em uma situação extremamente embaraçosa: não podia se rebelar contra a Máfia, não podia tirar Batista da Ilha e, sobretudo, não podia impedir o impetuoso avanço do Exército Rebelde.

Assim, desde 17 de dezembro de 1958 Batista foi abandonado definitivamente pela diplomacia norte-americana. Isso explica o castigo que recebeu por sua desobediência. O fato de que a partir daquela data não o deixassem entrar nos Estados Unidos, como lhe haviam proposto poucos dias antes, revela a manobra da corrupta política norte-americana.

Havia desobedecido e, com o Ano Novo (com sua fuga, umas horas antes deque o Exército Rebelde iniciasse seu avanço para Havana), nem sequer pôde refugiar-se na Espanha. Os grupos mafiosos tiveram de montar-lhe um asilo na República Dominicana, onde os interesses do Império de Havana mantinham substanciais negócios. Eram antigos vínculos, além do que, quando se faça um estudo profundo das contradições e disputas que manteve Trujillo com os governos cubanos, se verá que se tratava de uma verdadeira farsa que permitiu ao ditador dominicano, desde os anos 40, usar Havana como um centro de inteligência, para neutralizar ou destruir diversas atividades e planos do movimento revolucionário dominicano.

Nos últimos dez ou doze dias de 1958, sem tirar ainda Batista de Cuba, os serviços especiais americanos desataram um conjunto de operações audaciosas para paralisar, diluir ou neutralizar o incontido avanço da Revolução. Essas operações apareceram como acontecimentos normais de um regime que se desfez diante da ofensiva do movimento revolucionário, mas foram na realidade desesperadas operações montadas pela inteligência norte-americana.

  1. A primeira operação montada teve relação com as gestões realizadas pelo general Cantillo na própria área de combates. Cantillo requer uma entrevista com o comandante-em-chefe do Exército Rebelde e lhe informa da existência de um complô antibatistiano nas filas do exército da tirania. O plano era muito simples: conseguir que a Revolução chegasse ao poder com as forças que até aquele momento haviam servido à tirania.
    Como Fidel Castro enfrentou essa manobra da inteligêncianorte-americana? Enfrentou-a com uma absoluta negativa? Não. Era necessário, até onde fosse possível, deter um inútil derramamento de sangue, e Fidel respondeu de maneira positiva, para que cessasse a guerra civil entre cubanos, mas levando em conta uma condição essencial para qualquer aliança com tropas do governo contrárias naquele momento a Batista. O povo exigia justiça: o acordo devia ser feito de forma que não escapassem os grandes culpados pelos seis anos de crimes, latrocínios, arbitrariedades e sofrimentos que a nação cubana fora obrigada a suportar.
    Logicamente, quando o general Cantillo regressou a Havana e se reuniu com o centro operativo da inteligência norte-americana, as condições de Fidel não foram aceitas e Cantillo não regressou a Oriente, dando por terminada a operação.
  1. A segunda manobra que montou a inteligência norte-americana foi a saída de Batista na madrugada de 1º de janeiro de 1959. O típico golpe de Estado, utilizando o mais velho magistrado de Cuba como presidente e o próprio Cantillo como chefe das Forças Armadas.
    Naquele momento a inteligência havia perdido toda a iniciativa, que não voltaria a recuperar. Tinham ficado para trás as manipulações da Revolução de 30. Agora era todo um povo, em volta de seu líder, com um valoroso Exército Rebelde armado, arrebatado, capaz do mais alto grau de heroísmo.
    Como Fidel Castro enfrentou essa segunda operação? Da própria zona de combate, através da Rádio Rebelde, dirigiu-se a todo o povo, para que se iniciasse a greve geral revolucionária, incitando as colunas do Exército Rebelde a continuar as operações militares contra todas as posições inimigas que pretendessem fazer resistência armada à Revolução.
  1. Em uma tentativa desesperada, a CIA tentou que o coronel Barquín, preso na Ilha de Pinos, com o suposto prestígio de haver sido um militar rebelado contra Batista nos primeiros meses de 1956, ocupasse o despacho do Estado Maior do Exército, no Acampamento Militar de Columbia, para conter a fúria do movimento revolucionário.

Barquínera um coronel que havia sido adido naval, aéreo e militar do general Batista em Washington e representante diante da Junta Interamericana de Defesa. Ainda que Batista não outorgasse importância a Barquín, sem dúvida o coronel gozava de extraordinárias prerrogativas, que lhe permitiam ocupar tais cargos.

Não é possível que, sendo um militar com tal representatividade, não mantivesse naquela época vínculos com a inteligência norte-americana. Entretanto, ele organizou nos primeiros meses de 1956 uma conspiração que foi descoberta, e seus encarregados acabaram detidos e aprisionados até o triunfo da Revolução.

Nessa conspiração de março de 1956, Barquín conseguiu formar um pequeno grupo de militares cujos pensamentos eram bastante heterogêneos. Havia ressentidos e ambiciosos, mas também elementos contrários a Batista, entre os quais se encontravam alguns com verdadeiros sentimentos patrióticos.

Possivelmente a própria inteligência norte-americana, através do serviço secreto do país (SIM), ofereceu-lhe as coordenadas para que pudesse administrar este pequeno grupo com tantas motivações.

É necessário sublinhar que, no momento histórico em que Barquín organizou a conspiração de março de 1956, o regime de Batista e ele próprio, pessoalmente, não enfrentaram qualquer tipo de problema, nem com os grupos financeiros nem com as famílias da Máfia norte-americana. Ou seja, não enfrentaram nenhum problema com o esquema de domínio imposto em Cuba e, claro, muito menos como governo de Washington, em particular com os irmãos Dulles, cujos interesses estavam sendo maravilhosamente correspondidos.

Não se havia produzido ainda o desembarque de Fidel Castro no sul da província de Oriente, nem sequer, na ótica de Batista ou da própria inteligência norte-americana, o movimento clandestino de 26 de julho, que meses depois organizaria a expedição do Granma, constituía um perigo imediato. Batista dominava o país com mão de ferro, para júbilo dos interesses norte-americanos e dos projetos de relações entre os grupos financeiros-Máfia-comunidade secreta dos Estados Unidos.

O único conflito que existia em março de 1956 eram as contradições entre as famílias do Império de Havana e as pretensões dos poderosos grupos mafiosos de Nova York, encabeçados por dom Vito Genovese, exigindo uma participação nos negócios que propiciava o Estado de caráter criminoso em Cuba, na medida em que, nos Estados Unidos, desde 1955 haviam começado as investigações do Comitê Daniel, a cargo dos assuntos relativos ao tráfico de narcóticos, que conduziriam a novos processos ou inquietações com os assuntos da Máfia.

Não creio que em 1956 os irmãos Foster e Allen Dulles fossem comprometer-se com uma aventura desestabilizadora contra Batista. Para os interesses de Dulles, tudo marchava demasiadamente bem. Mas o certo é que, quando a situação revolucionária imperante na Ilha pôs em crise o domínio imperialista sobre a nação cubana, o próprio diretor da CIA sugeriu ao presidente dos Estados Unidos, general Dwight D. Eisenhower, que para evitar que Fidel Castro tomasse o poder, além de tirar urgentemente Batista do país, seria preciso instalar em Cuba uma junta de civis e militares, como governo de transição ou de emergência. E o homem proposto por Allen Dulles para que encabeçasse essa complexa operação foi o coronel Barquín.

Nos últimos dias de dezembro, a inteligência norte-americana desenvolveu o projeto de situar Barquín no regimento Leoncio Vidal de Santa Clara para que, junto com o coronel Pedraza, tomasse conhecimento da situação na província e resistisse à pressão das forças que comandava Che.

O helicóptero chegou a ficar pronto na pista de pouso de Columbia, a fim de transferir Barquín da Ilha de Pinos para a província de Santa Clara, mas na última hora, diante do arrebatamento de Che, descartou-se essa opção e decidiu-se que Barquín devia resistir ou manobrar desde o Acampamento de Columbia.

Ainda está por se fazer um estudo que nos permita avaliar em toda a sua dimensão as complexas e variadas operações da comunidade de inteligência dos Estados Unidos em Cuba durante 1958, com oobjetivo de estabilizar o Estado de caráter criminoso e dar continuidade ao esquema de domínio sobre os interesses da nação cubana.

Os agentes secretos da CIA e o Pentágono chegaram a instalar um centro operativo na região central de Cuba, utilizando a II Frente Nacional do Escambray com a pretensão de contrapor a figura de Eloy Gutierrez Menoyo ao movimento revolucionário cubano.(13)

Foram tantos matizes que esse estudo poderia incluir as malucas aspirações de personagens como Errol Flynn, vagando bêbado pelos bordéis de Manzanillo, numa vã tentativa de subir as montanhas da Sierra Maestra. Essas e outras atitudes, que mais tarde teriam ressonância nas traições de Sorí Marín, Miró Cardona (advogado de Grau na defesa pelo roubo de 74 milhões), Díaz Lanz ou Hubert Matos.

Desde antes, certas pessoas haviam começado a fazer contas na deslumbrante Havana, embora o Night and Day ainda fosse capaz de enriquecer sua clientela. A esse lugar de intensa vida noturna acudiam personagens mais ávidos, desejosos de encontrar emoções cada vez mais fortes, e ali o abastecimento era claro e simples, sem nenhuma outra complicação: qualquer um podia satisfazer o mais exigente dos caprichos. Leo Marine gravava seus discos com a Sonora Matancera, e o pó e os ambientes de jogos de azar eram cada vez mais alucinantes, com suas roletas e tapetes; o voo para a zona franca da Ilha dos Papagaios era coberto em apenas meia hora. Enquanto o Rainbow (outro lugar de encantamento) se encontrava na margem direita do rio Canimar, com um excelente cassino, bar, restaurante de especialidades e uma sala para os espetáculos. Estava no caminho da praia de Varadero, entre o prazer e a felicidade, e permaneciam as recordações das estelares atuações de Kary Russi e Susan Love, enquanto Pepito Garcés dirigia a orquestra e o mágico Nico Gelpi conduzia as produções.

A presença de Liberace era anunciada de novo. Chegaria daquela vez acompanhado por seu irmão George e pelo cubano Rogelio Darias, o preferido de então, que havia introduzido nas apresentações os ritmos de percussão.

Xiomara Alfaro, Lucho Gatica, René Cavei, Olga Guillot e Celia Cruz ocupavam os espaços deixados pelas estrelas estrangeiras; não havia um único bairro de Havana onde as vitrolas não difundissem desamparos, traições e desesperanças, em um clima que se tornava cada vez mais incomparáveis às gratas melodias do extraordinário Beny Moré.

Com artistas de televisão, o movimento revolucionário em Havana estava organizando um show em 1º de janeiro, dentro do próprio Castillo del Príncipe, para propiciar a fuga de alguns presos políticos que estavam jurados de morte.

Em 29 de dezembro, o avião do ex-senador e ex-primeiro ministro de Carlos Prío, Antonio (Tony) de Varona,(14) realizava uma aterrissagem no aeroporto da praia de Santa Lucía, na zona norte de Camaguey, acompanhado por dois norte-americanos.

Esse aeroporto havia sido construído por elementos vinculados à Máfia, que também construíram um motel naquele lugar de prodigiosas praias. Varona havia ficado de aterrissar no sul de Camaguey, com o compromisso de trazer um carregamento de armas, mas acabara por fazê-lo no extremo norte da província, com a pretensão de que, com a iminente derrubada da tirania batistiana, tropas rebeldes que durante longos meses estavam sublevadas fizessem parte do grupo fantasma OA (Organização Autêntica), coisa que lhe permitiria entrar na cidade de Camaguey exigindo poder político.

Era demasiado tarde. Todo o país insurgia; na capital tomaram as ruas, parques e avenidas, toda a cidade. A multidão começou a quebrar as máquinas e as salas de jogo. Destruiu as mesas, os tapetes, as roletas. As máquinas foram lançadas para a rua, e os baluartes do regime militar foram cercados pelo povo, enquanto Santiago de Cuba era ocupada pelas forças guerrilheiras e as colunas de Camilo e Che avançavam para a capital.

Foi grande a explosão. Inclusive Thomas Duffin, John Jenkis, Irving Levitts, Mike Dade, Milton Warshaw, Robert E. Wtsel, Carl Layman, San Grace, Jack Walter Malone, Morris Segal, Duque Nolan e Frank Cutis fizeram rapidamente suas malas e apareceram no aeroporto de Boyeros com passaportes norte-americanos na mão, tratando de pegar o primeiro avião.

O que aconteceu com Armando Feo foi ainda mais surpreendente: achou que todos tinham se esquecido de suas relações com Lucky Luciano e que sua pomposa presença nos principais cassinos da capital não tinha importância e, com vários amigos, ocupou uma delegacia de polícia e colocou-se os galões de comandante.

O governo norte-americano realizou um grande esforço para manter sua máquina de poder em Cuba. Mas as operações de guerra do Exército Rebelde tinham posto em crise total o esquema de domínio imperial.

A única coisa que restava aos grupos financeiros-Máfia-serviços especiais (desde os Estados Unidos) era iniciar imediatamente todo um processo de secretas exigências para que os governantes de Washington tratassem de recuperar de qualquer jeito o Império constituído na sempre fabulosa Havana.


Notas de rodapé:

(1) Eisenhower, Dwight D. The white house years. Tomo II (1956-1960) Editorial Brugueras S. A., Barcelona, 1966. p. 501. (retornar ao texto)

(2) Sergueev, F. La guerra secreta contra Cuba. Editoral Progresso. Moscou, 1982. pp. 28-29. Tomado do livro The Real CIA, Nova Iorque, 1968, pp. 167, 174 e 187. (retornar ao texto)

(3) Eisenhower, Dwight D. Ob. cit. p. 501. (retornar ao texto)

(4) Nota do autor. (retornar ao texto)

(5) Lernoux, Penny. Esos bancos en los que confiamos. Editorial Plaza & Janes. Barcelona, 1965. pp. 118-119. (retornar ao texto)

(6) Ibid. pp. 91 e 93. (retornar ao texto)

(7) Revista Bohemia. “Autobuses”. Seção “Em Cuba”. Havana, 30 de setembro de 1951. p. 73. (retornar ao texto)

(8) Tomado da audiência que realizou o Subcomitê Judicial do Senado dos Estados Unidos, em 2 de setembro de 1960. (retornar ao texto)

(9) Wisse, D. Ross T. B. El gobierno invisible. Ediciones Venceremos. Havana, 1965. pp. 113-114. (retornar ao texto)

(10) Sergueev, E Ob. cit. p. 28. (retornar ao texto)

(11) Smith, Earlt T. El cuarto piso. p. 65. (retornar ao texto)

(12) Ibid. p. 170. (retornar ao texto)

(13) Orihuela, Roberto. Nunca fui um traidor. Havana, 1991. pp. 131-132, 152-153. (retornar ao texto)

(14) Frente Camaguey. Editora Política. Havana, 1988. (retornar ao texto)

Inclusão: 25/10/2023