Socialismo e Espiritismo

Léon Denis


Capítulo III


capa Conhece-te a ti mesmo! Dizia a sabedoria antiga; o que o homem conhece de menos é ele mesmo, e dessa ignorância decorre a maior parte de seus erros, de suas faltas, de seus males. O homem moderno não se interessa senão por seu envoltório material, isto é, o que há de menos essencial em nós. E pela parte sutil, imponderável de nosso ser, aquela que escapa aos nossos sentidos, que pertencendo a este mundo invisível de onde saímos por ocasião de nosso nascimento ou aonde retornamos quando de nossa morte, e que é o mundo das causas, das sanções, o único permanente e durável.

Essa forma invisível, impalpável, que sustém ainda nosso corpo durante a vigília, que dele se destaca durante o sono e depois da morte, é, em todos os tempos, a sede de nossa alma e de suas faculdades: consciência, razão, julgamento. Por ela, somos ligados à ordem superior e divina e como ela somos imperecíveis.

Ali, está também a força das intuições profundas, das inspirações que iluminam todo o nosso ser, quando sabemos nos abstrair das influências materiais e dar livre curso às forças ocultas em nós. Mas o homem ouve raramente as vozes que falam nele, distraído que está, na maioria das vezes, pelas preocupações exteriores.

Se soubéssemos ler o belo livro da consciência aí encontraríamos o reflexo de todas as leis superiores. Mas as vozes da consciência, as fontes da inspiração sendo abafadas, afogadas sob a onda montante dos interesses e das paixões materiais, o ensinamento dos Espíritos vem restabelecer a lei moral, chamar a todos às regras da vida aqui em baixo e no Além. E, por esse ensinamento, a justiça surge- nos como uma norma do Universo, não mais a justiça humana, sempre defeituosa, mas a justiça divina, infalível, temperada pela misericórdia.

Nada de penas eternas, mas a possibilidade, para todos os culpados, da reparação, da reabilitação pela expiação, pela dor. Nada de paraísos, de infernos, de purgatórios que não se abrem ou se fecham por meio de preces pagas. Tampouco o nada onde se confundem em desordem, sem distinção e sem amanhã, o bem e o mal, o justo é injusto, o assassino e a vítima! E a certeza de que não há separação definitiva para aqueles que se amaram; a perspectiva de tornar a ver, da sanção comum para os destinos, para mundos mais felizes. E, também, a prova de que os seres afetuosos, embora invisíveis, nos assistam, nos protejam, nos inspiram e guiam nossos passos nos sendeiros abruptos da vida, a prova de que nenhum de nós está sozinho, abandonado, mas que uma proteção tutelar se estende sobre todos e nos reúne a nossos amigos do espaço em um sentimento de confiança e de amor.

O Espiritismo bem compreendido, bem praticado, torna-se assim, para os corações sofredores, para as almas desoladas, uma fonte imensa de força moral e de consolações.

Aqui uma questão se coloca: que é a Moral? Em que consiste ela? É apenas uma concepção arbitrária do dever, um conjunto de preceitos estabelecidos pelos homens conforme os tempos e os meios? Não! A Moral é uma das expressões da lei eterna, divina, de evolução e do progresso, lei da qual ela é inseparável, visto que nela encontra seu apoio e sua sanção.

Eis porque a Moral dita positiva, separada da noção da imortalidade e da ideia de Deus, é sempre fria. Ela não impressiona nenhum coração, nenhum espírito e permanece estéril. É a semente atirada sobre a rocha. Foi a moral da escola laica durante uma trintena de anos e dela podemos constatar os frutos ásperos na mentalidade das gerações que dela saíram. Para reagir contra este estado de espírito, sonha-se em certos meios, em dar-se de novo lugar à escola congregacionista, mas isto seria cair de Carybde en Scylla.(1)

O ensino moral deve mostrar a todos a finalidade da vida, que não é à procura da felicidade, como muitos supõem, mas o aperfeiçoamento e a depuração do ser que deve sair da existência melhor do que nela entrou. Os meios de realização são o trabalho, o estudo, o esforço constante para o bem.

Para a observação da lei moral, o homem se eleva; violando-a ele se rebaixa e se torna menor; ele se condena a si mesmo a subir mais penosamente a crista sobre a qual escorregou.

Não temos que atirar senão um olhar em torno de nós para ver os males, as enfermidades, os revezes, a consequência de existências anteriores malbaratadas e perdidas. Mas como as verdades mais evidentes e mais rudes, as lições da adversidade são difíceis de fazer o homem moderno compreender, já que seu espírito foi falseado por tantos séculos de erros dogmáticos!

Destas considerações, resulta que a reforma social, para ser mais segura e mais prática, deveria começar pela reforma do homem em si mesmo. Se cada um se impusesse uma disciplina intelectual, uma regra capaz de asfixiar, de destruir um fundo de egoísmo e brutalidade que nos foram legados pelas idades, toda a bagagem mórbida que trazemos ao nascer, e que é a herança de nossas vidas passadas, e isso de modo a fazer renascer em nós um homem novo, a evolução do meio social seria rápida. Poderíamos aí instaurar o regime, que, com a ordem e a liberdade trouxessem aos homens mais felicidade, pois acabamos de ver a causa de todos os males em nós mesmos, e seria suficiente vencer o que existe de inferior e de mau em nosso ser, para tornarmo-nos mais felizes. A felicidade não está fora de si, mas antes em nossa maneira de julgar as coisas, em nossa mente.

A tarefa mais urgente, mais necessária para cada um de nós, seria a de trabalhar na cultura do “Eu”, na reforma do caráter, de maneira a servir de exemplo àqueles que nos cercam, e, de mais em mais à sociedade toda inteira. Agindo nesse sentido, entraremos plenamente nos caminhos de nossa destinação já que a educação da alma é a finalidade última, o fim supremo de nossa imensa evolução. Recolheremos os frutos imediatos resultantes de nossos esforços, enquanto que disso negligenciando, nos privamos das vantagens que dela decorre e das alegrias que a lei reserva a todos aqueles que muito trabalharam, muito amaram, muito sofreram.

O estado social não sendo, em seu conjunto senão o resultado dos valores individuais, importa antes de tudo de obstinar-nos nessa luta contra nossos defeitos, nossas paixões, nossos interesses egoístas. Enquanto não tivermos vencido o ódio, a inveja, a ignorância, não se poderá estabelecer a paz, a fraternidade, a justiça entre os homens; e a solução dos problemas sociais permanecerá incerta e precária.

O estudo do ser humano nos leva, pois, a reconhecer que as instituições, as leis de um povo são a reprodução, a imagem fiel de seu estado de espírito e de consciência e demonstram o grau de civilização ao qual ele chegou. Em todas as tentativas de reformas sociais é preciso falar ao coração do povo ao mesmo tempo em que à sua inteligência e à sua razão.

A sociedade não é senão um agrupamento de almas. Para melhorar o todo, é preciso melhorar cada célula social, isto é, cada indivíduo. Expusemos alhures as desordens de nossa época, as misérias de nosso século atormentado, e demonstramos as suas principais causas. Falamos do egoísmo de uns, da rapacidade de outros; vimos o cepticismo fluir e reinar mais alto; o alcoolismo, o deboche, desenvolverem-se debaixo e por cima de tudo; a ignorância da finalidade da vida, a incerteza no amanhã, o desconhecimento dos deveres mais imperiosos, em uma palavra, o enfraquecimento dos caracteres e a corrupção dos costumes. Se as mentalidades se encontram falseadas, se o livre arbítrio foi diminuído, se a força radiante do homem diminuiu, é que a fé em um ideal superior, a causa suprema adormeceu. As belas paixões se extinguiram, os atos generosos que alimentavam a chama vivificante se tornaram raros.

Mas, de que serviriam as recriminações, as críticas vãs? Vale melhor procurar remédio, isto é, os meios de criar uma sociedade mais feliz e melhor, uma sociedade onde a Justiça, o Direito, a Moral não seriam mais vãs aparências, porém realidades vividas. Onde encontrar o raio consolador que esclarece e aquece as almas em penúria, detendo os desesperados sobre a crista do suicídio, opondo um Freio às paixões desordenadas que invadem o mundo?

Para isso, o mais essencial seria dar ao povo uma nova educação, baseada sobre uma doutrina espiritualista vasta e racional. É preciso antes de qualquer coisa que os pensadores que guardaram a luz projetem suas radiações sobre seus irmãos mais ensombrecidos a fim de dissipar os maus fluidos que os envolvem; cabe, sobretudo, à escola, inculcar na juventude os princípios regeneradores, pois não se forma uma sociedade sem todas as suas peças e é preciso começar na infância a preparar a obra do século.

É preciso uma concepção simples, nítida, clara da vida e do destino. Para coroar a educação popular é preciso uma alta moral desprendida de preconceitos, de seitas e de castas, impregnada de piedade humana, de piedade para com tudo e com todos, os que sofrem aqui embaixo, homens e animais; estes últimos são muitas vezes vítimas inocentes da brutalidade humana.

A inveja, o ciúme, engendraram o ódio entre as classes pobres. E preciso anular o ódio do coração humano, pois com ele não há paz, harmonia, felicidade possíveis. O ódio não pode ser vencido pelo ódio, diz a sabedoria antiga; ele não pode ser vencido senão pela bondade, a benevolência, a tolerância. É preciso que não se deixe de lembrar aos escritores, aos renovadores, seus deveres e suas responsabilidades, pois pela pena e pela palavra eles detêm grande poder, tanto a serviço do bem como a serviço do mal. Que eles se lembrem em seus artigos, seus discursos que podem ser para cada auditor, uma causa de elevação ou de regressão. O pior dos papéis deste mundo consiste em trabalhar conscientemente para envenenar as almas.

Torna-se mais precisa a tolerância em nossos costumes e não atirar o anátema àqueles que pensam de modo diferente do nosso. Faz-me bem reconhecer, por minha parte, que, entre os contraditores, há pessoas de mérito, dignas de consideração e de estima. A nova educação deverá insistir sobre a noção das vidas sucessivas pois, enquanto essa grande doutrina não vier esclarecer o caminho do homem na Terra, a incerteza persistirá para ele com os tateamentos, os erros, e todos os males que decorrem da ignorância e da finalidade última.

Do mesmo modo que devemos nos destacar, pelo pensamento, de nosso minúsculo planeta e considerar o conjunto dos mundos para entrever a unidade do Universo e a majestade de suas leis, é apenas abraçando com o olhar o panorama de nossas existências que poderemos conhecer o laço que as religa entre si e as prende ao princípio de justiça que rege todas as coisas. Então, compreenderemos que construímos, nós mesmos, nossos destinos e que nossos atos, bons e maus, recaem sobre nós através dos tempos com suas consequências. Nossa maneira de viver e de agir, desta forma, sem dúvida, seria profundamente modificada.

Mas isto é impossível por duas razões: uma moral e outra fisiológica. De acordo com a situação da maioria de nós, sobre os degraus inferiores da escala da evolução, nossas vidas passadas não são, em geral, senão um tecido de erros, de fraquezas, cujo conhecimento, em nos hipnotizando, paralisam nossa iniciativa enfraquecendo nossos esforços.

Do ponto de vista fisiológico, nosso cérebro material é incapaz de reproduzir a lembrança de acontecimentos dos quais ele não participou. Mas nas profundezas de nossa memória, no que está em moda chamar: o subconsciente, todas as aquisições anteriores subsistem e, daí, provêm nossas atitudes, nossas faculdades, os traços de nosso caráter, todos os elementos de nossa personalidade, isto é, o que há de mais essencial para o cumprimento da tarefa de cada nova vida.

Possuímos agora, nas manifestações dos Espíritos, provas inumeráveis da sobrevivência, mas, a despeito destas provas, é preciso que observemos atenciosamente, sem ideia preconcebida, para constatar que nossas necessidades intelectuais desbordam os limites de nossa vida, que nossas aspirações, nossas tendências, ultrapassam o quadro estreito da existência atual.

Em todo o ser pouco evoluído, observa-se como um reflexo um resumo, uma síntese das forças universais. Matéria, força e espírito; e por esses três aspectos nós nos sentimos arrebatados a este Universo imenso e à sua finalidade. As formas apenas passam e se esvaem, as forças se afinam, a alma permanece indestrutível.

É preciso compreender que tudo no Universo: justiça, verdade, moral, tudo se combina e se funde em um princípio único que é a lei viva do universo e se identifica em Deus. Apenas quando o homem gravou essa lei em sua consciência e dela fez o móvel de suas ações é que ele entra em comunhão divina e goza as alegrias espirituais que dela decorrem.

Certamente, este fim, este resultado é longínquo; ele é difícil de ser realizado plenamente na Terra. Entretanto, todas as grandes obras nele se Inspiram, sem que sejam destinadas a perecer. Os socialistas devem pois adotá-la acima de tudo, e dela fazer a regra de seu trabalho, a base de suas organizações.

Com efeito, como poder-se-ia vencer o mal, o erro, a injustiça no mundo se não se começar a vencê-la em cada ser em particular?

Esta luta, entre todas, é meritória e fecunda. A cada passo à frente, isto é, a cada conquista sobre suas paixões, o homem sente se acrescerem suas forças radiantes e a influência benévola que ela exerce em seus semelhantes.

Ele aprende pouco a pouco a unir seus esforços àqueles do mundo invisível para a realização da obra comum: o aperfeiçoamento social.

Deste ponto de vista repetimos que o socialismo teria um grande papel a desempenhar. Este seria o de fazer penetrar na alma do povo, o culto da beleza intelectual e moral, sob formas simples, porém capazes de reagir contra esses prazeres malsãos em que o espírito se corrompe, em que o gosto se perverte. Seria o de elevar o pensamento para o ideal onde converge toda a evolução universal, para as alturas onde irradiam a luz, a verdade, a bondade. Pois não basta assegurar o bem-estar material, é preciso também dar ao homem a força moral que o sustentará nas provas, nos revezes, nas moléstias, como diante da morte daquele que ele amou.

Todas as vantagens materiais, os maiores salários não são suficientes para preservar o homem do desencorajamento, do desespero nas horas dolorosas, por exemplo, quando ele descer à tumba o caixão mortuário daqueles que lhe foram queridos; quando ele se sente atingido em seus sentimentos íntimos, em seus afetos mais profundos.

Não há doutrina que possa nos trazer tanta consolação e reconforto quanto o novo espiritualismo, pois ele nos demonstra que tudo sobrevive para evoluir. As almas que nos antecederam no Além, guardam-nos os tesouros de sua ternura, nos protegem, nos assistem em circunstâncias difíceis e nós as encontraremos um dia para percorrermos juntos novas etapas ascensionais. Podemos mesmo obter provas de sua sobrevivência e do interesse que continuam a ter para conosco.

Muitas vezes notei que o trabalho manual, para a maioria dos operários é puramente maquinal e deixa toda a liberdade ao pensamento. Se este fosse regularizado, disciplinado, orientado para um fim elevado, ele poderia tornar-se um meio poderoso de aperfeiçoamento para o indivíduo e por reflexo sobre todo o meio ambiente, enquanto que o pensamento flutua quase sempre sobre assuntos pueris e vãos, perdendo assim todo seu poder educativo e social.

Assim como o adágio da sabedoria oriental: “Somos o que pensamos”, aquele que fala e age segundo um pensamento puro, a felicidade segue-o como sua sombra. Mas os ocidentais não sabem administrar o jogo de suas faculdades e esta é a razão porque a existência é muitas vezes tão estéril para o seu avanço. Eles vieram a Terra para aqui se engrandecer intelectual e moralmente, e, daqui saem como chegaram sem cuidar de suas recaídas possíveis, renascimentos em meios grosseiros e inferiores, onde as tarefas serão mais penosas e mais rigorosas.

A lei sobre a jornada de oito horas, oferece ao operário mais lazeres para o trabalho intelectual e a cultura do Eu. Que ele saiba disso tirar partido; é preciso não perder de vista que nossas responsabilidades se medem pela extensão de nossa liberdade e de nossos meios de ação. E isto se aplica aos homens de todas as classes e de todas as condições.

É preciso que todos aprendam a desprender, por vezes, seus espíritos dos burburinhos terrestres, a lançar seus olhares para os vastos horizontes onde o destino chama, sem o que arriscariam se reencontrar, para além da tumba, no estado de tantos humanos descuidados da lei moral, isto é, em um estado prolongado de perturbação, de inquietude e de obscuridade.

Pois, não se precisaria tornar a dizer, toda a destinação do ser, às condições de sua vida futura, sua situação no além, tudo é regido por uma lei imanente que traz em si mesma sua sanção. O homem por seus atos, faz nele, em sua alma, a luz ou a treva.

Esta lei imanente, que não é senão a lei moral, não é, pois, o resultado de uma convenção terrestre, porém qualquer coisa de mais alto e maior, o reflexo do pensamento divino, a forma suprema da beleza eterna. Apenas através dela chegaremos a triunfar sobre os baixos instintos e forças inferiores, a orientar nossas forças a uma finalidade sempre mais elevada. Através dela nos sentimos livres e responsáveis, verdadeiramente filhos de Deus, Dele emanados e destinados a ele retornar.


Notas de rodapé:

(1) Fourier, Charles (1772-1837) - Célebre socialista utópico francês, brilhante critico da sociedade burguesa. Pós a nu as ideias e as promessas dos ideólogos da Revolução Francesa sobre a igualdade, fraternidade e justiça por um lado e a miséria da sociedade burguesa pelo outro. O regime burguês está pervertido. A pobreza é criada pela superabundância de outros. Esta ordem social mutila o homem, afoga os seus sentimentos, seus desejos, seus pensamentos. Sobre o regime burguês a felicidade de uns é causa da desgraça de outros. Sob a influência das ideias professadas pelos materialistas franceses acerca do papel decisivo da educação, Fourier elabora a sua teoria das paixões humanas, para provar a necessidade do aparecimento da sociedade socialista. São próprias do homem “Doze Paixões”: o gosto, o tato, a vista, o ouvido, o olfato, a amizade, a ambição, o amor, o familiarismo, o sentimento de fraternidade, a cabala ou paixão pela intriga, a paixão por “mariposar” ou tendência à adversidade. Os moralistas somente haviam denunciado a depravação da natureza humana e exortavam afogar as paixões. Na realidade declara Fourier, é o regime social que está viciado. O homem é substancialmente bom. Trata-se de criar uma sociedade que favoreça a plena satisfação das paixões humanas, seu desenvolvimento e seu florescimento.
A partir destas premissas, Fourier esboça o quadro da ordem social futura, cuja célula fundamental é a falange, composta de “diferentes séries de produção”. Todos os membros da falange têm direito ao trabalho. De bom grado oferecendo as suas paixões, enrolam-se nos diferentes grupos de produção. O trabalho é considerado na falange uma necessidade, uma fonte de gozo. A ausência de especialização estreita, que mutila o homem sob o regime burguês, contribui para isto, No curso da jornada, cada membro da falange muda de ocupação várias vezes. Assim, se satisfaz a necessidade de mariposar, a necessidade de variedade própria do homem. Fourier dizia dos homens do porvir que sua altiva intrepidez venceria todos os obstáculos; que para eles a palavra impossível, não existiria. Na sociedade futura, os interesses do indivíduo coincidirão tom a sociedade. Chegar-se-á a uma abundância de bens materiais, como resultado de um trabalho criador e altamente produtivo. A distribuição na falange se faz, essencialmente, de acordo com o trabalho e o talento: 5/12 das entradas para o trabalho a 3/12 para o talento. Sob uma forma rudimentar, Fourier expressa a ideia da supressão da oposição entre o trabalho intelectual e manual, entre a cidade e o campo.
O socialismo de Fourier tem um caráter utópico, Fourier se opunha à revolução violenta. Desencantado, pensava organizar a sociedade socialista do porvir, graças à propaganda pacifica de suas ideias. Acreditava na possibilidade de criar falanges no capitalismo. Fourier se dirigia aos ricos, a quem confiava seus projetos na esperança de obter subvenções para executá-los. A fim de atrair os capitalistas, Fourier lhes prometia os quatro doze avos restantes das entradas. Igual aos demais socialistas utópicos, ignorava a missão histórica do proletariado. Fourier, Saint-Simon, Owen eram socialistas solitários a quem as massas não seguiam. O socialismo não podia contar com uma saída eficaz para libertar a humanidade da escravidão capitalista.
Fourier exerceu uma grande influência no desenvolvimento das ideias socialistas. Marx o designava como um dos “patriarcas do socialismo”. Junto ao de Saint-Simon e ao de Owen, o de Fourier constitui importante fonte teórica do comunismo científico. Obras principais: “Teoria dos quatro movimentos e dos destinos gerais” (1808), “Teoria da unidade universal” (1822), e “Novo mundo industrial e societário” (1829). (retornar ao texto)

Inclusão 07/08/2018