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Manuel Sertório de Carvalho Marques da Silva
foto de Manuel Sertório de Carvalho Marques da Silva

Destacado dirigente da resistência antifascista. Nasceu em Lisboa, onde iniciou a carreira de advogado. Desde a Juventude foi animador de organizações de luta pelo socialismo, que não chegaram a alcançar influência nem a ter continuidade. Defendeu vários presos políticos no Tribunal Plenário e tornou-se uma das figuras centrais da revista Seara Nova.

Exerceu considerável influência no processo conducente à campanha eleitoral de Humberto Delgado em 1958. Aliado quase permanente que era do PCP, empenhou-se a princípio na candidatura de Arlindo Vicente. Mas rapidamente se apercebeu de que a campanha de Delgado se estava tornando um factor potencial de derrubamento do salazarismo. A tomada de posição pública de Manuel Sertório contribuiu de forma relevante para a viragem que em pouco tempo havia de levar à desistência de Arlindo Vicente e à unificação das oposições. Consumada em 1958 a fraude eleitoral salazarista, iniciou-se uma vaga de repressão que forçou ao exílio numerosas personalidades oposicionistas.

Manuel Sertório refugiou-se em São Paulo no ano seguinte, onde viveu até 1965. Data desse tempo a sua acidentada colaboração com Delgado, com quem chegou a estar de relações cortadas devido a profundas divergências políticas, mas de quem foi noutras ocasiões o mais respeitado mentor. Acompanhou o general a Praga pouco antes do assassínio deste pela PIDE, para uma reunião de ambos com Álvaro Cunhal, destinada a restabelecer uma colaboração do delgadismo com o PCP. Sob o título Humberto Delgado 70 Cartas Inéditas, publicaria mais tarde a copiosa correspondência que nesses anos trocou com o general e um balanço crítico da sua própria orientação. Entretanto começava a guerra de libertação nas colónias e Manuel Sertório passava a ser na oposição metropolitana, exilada ou não, um símbolo da solidariedade com os povos africanos.

Em atenção a esse prestígio de anticolonialista, esteve como convidado português na conferência de Nova Deli e Bombaim, em Outubro de 1961. O golpe brasileiro de 1964 levou-o a fixar-se na Argélia, que proporcionava as melhores condições para a colaboração das várias correntes antifascistas entre si e com os movimentos de libertação das colónias. Aí viveu o golpe de Boumediene é a invasão da Checoslováquia, que acabou de afastá-lo do PCP. Depois dessa ruptura, viria a ser duramente atacado em escritos polémicos de Álvaro Cunhal. Com o 25 de Abril regressou a Lisboa, tendo recusado diversos cargos públicos que lhe oferecia o novo regime e mantido, durante vários anos, uma colaboração informal com as organizações da área do trotskismo.

Publicista fértil colaborou, entre outros, no Estado de S. Paulo, Portugal Democrático (fase do exílio brasileiro); Afrique-Asie, Revolution Africaine, Rádio Portugal Livre (fase do exílio argelino), Diário Popular; República, O Jornal, Combate Operário, Combate Socialisa, Militante Socialista (após o regresso). Na última fase foi um dos animadores da revista de investigação Estudos do Comunismo e da revista política Versus.

Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril