Polônia 1939


Capítulo IV. O povo não estava cego e lutava


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Nosso país, sem nenhuma preparação, estava à beira de um período crítico.

A Polônia era fraca, não industrializada, atrasada sob todos os pontos de vista, esfacelada por uma série de contradições sociais e nacionais que a fascistização do país não fizera senão tornar mais agudas ainda. Sua política exterior, reacionária e antissoviética, isolara o país no momento em que se aproximava a prova suprema. E o pior sobrevinha quando o aparelho do Estado já se encontrava, em sua quase totalidade, enlaçado pelos fios da espionagem alemã.

Nada disso acontecia sem motivo e de improviso. A fascistização da Polônia processou-se durante anos. Durante anos em que se repisava aos ouvidos do povo o exemplo fascista, revestido do manto da “luta contra o bolchevismo”, apresentada como indispensável às necessidades polonesas. Durante anos a burguesia procurava demonstrar que não havia para a Polônia, outra saída, face às dificuldades e preocupações, existentes senão a edificação de um Estado forte, traçada por Mussolini e “aperfeiçoada” por Hitler.

Para um punhado de proprietários de terras e de magnatas da indústria e das finanças não havia outro meio de manutenção do poder. No entanto, para a Polônia, para o povo, havia outros meios de construção da vida nacional e social.

Atrasado, semifeudal, o país não podia tornar-se poderoso a não ser resolvendo problemas sociais cada vez mais agudos. Somente associando o problema da salvaguarda da independência nacional ao da emancipação das classes trabalhadoras ter-se-ia a certeza de mobilizar as únicas forças que poderiam fazer da Polônia uma potência, não explorando o operário e o camponês, não ocupando e dominando territórios estrangeiros, mas através do trabalho criador da nação em seu conjunto e de alianças externas efetivas e não fictícias. Hoje, avaliando o caminho percorrido e as realizações da Polônia popular, podemos medir a importância das forças criadoras populares que haviam sido sufocadas.

Não habitando no vale do Amazonas ou às margens do Nilo e sim às bordas do Vístula, devíamos procurar aliados entre os países próximos e tanto quanto nós ameaçados pela agressão hitlerista. Qualquer pessoa, sem ser grande sábio, olhando o mapa, poderia compreender que tais aliados estavam em primeiro lugar, na U.R.S.S. e na Tchecoslováquia. Isso era muito claro, perfeitamente visível a qualquer pessoa que desejasse ver e compreender as coisas. A guerra trouxe uma confirmação trágica ao fundamento desses princípios tão simples.

Evidentemente a Sanatzia, a Nacional-Democracia e suas diversas filiais não podiam resolver o problema de maneira satisfatória para o país. As forças de que dispunham repousavam na exploração do operário e do camponês, não edificariam uma Polônia internamente forte. Como renunciariam aqueles partidos à exploração do trabalho do povo? Também não podiam, aquelas forças políticas, orientar o país no caminho da aliança com a União Soviética e a Tchecoslováquia, porque justamente contra esses dois países estava dirigido o apetite voraz da reação polonesa.

A Nacional-Democracia, a Sanatzia e suas filiais não podiam senão vender o país ao capital estrangeiro, apertar ainda mais as tenazes que torturavam o povo, pôr-se às ordens da espionagem estrangeira, exatamente da espionagem hitlerista. E foi o que fizeram a Sanatzia e a Social-Democracia.

Era uma política ignóbil, mas de modo nenhum original. Não há na História um só exemplo de classes dominantes que em face da maré montante revolucionária não tenha sacrificado os interesses nacionais em benefício dos interesses de classe estrangeiros, mesmo tratando-se dos piores inimigos da pátria.

Agiu de maneira diferente a aristocracia francesa depois de 1789? Para combater os sans-culottes lançou contra a pátria os exércitos prussianos, tzaristas, austríacos, ingleses e tudo o que logrou mobilizar. No Estado-Maior de Koblenz não se encontrava somente a coalizão, mas todos os reacionários expulsos pela Revolução Francesa. A independência da França era defendida unicamente pelo povo.

Em 1871, no dia seguinte ao da derrota, Thiers, chefe da burguesia francesa, ia pedir ao inimigo, aos prussianos, ajuda armada contra o povo de Paris que, nas barricadas imortais da Comuna, defendia ao mesmo tempo suas conquistas de classe e a independência nacional. Em Versalhes não se encontrava apenas o Estado-Maior prussiano. Ali também estava o general Galliffet, lacaio da burguesia francesa e carrasco do povo no massacre dos comunardos.

Em 1917, no dia seguinte ao da Revolução de Outubro, eram vistos, no campo do inimigo, ao lado dos quatorze Estados intervencionistas, inclusive os intervencionistas alemães, os Denikin, os Wrangel, os Koltchak, os Kerenski e tantos outros. O povo russo, esse, defendia não apenas suas conquistas recentes de classe como também a independência nacional de todos os países que até então haviam feito parte do Império dos tzares.

E em nosso país, aconteceu coisa diversa quando, pela primeira vez, nossa independência nacional soçobrou? Não foram os Branicki os Potocki(1) e seus comensais que se dirigiram ao tzar implorando ajuda contra a “populaça revoltada” que, defendendo a Constituição de 3 de maio, igualmente defendia a independência do país? A mesma coisa não sucedeu durante as sublevações antitzaristas e os combates revolucionários de 1905?

Eis por que, baseando-nos em experiências muitas vezes seculares e através da análise das forças sociais estamos no direito de concluir que a luta pela independência da Polônia, por sua existência, estava indissoluvelmente ligada à luta pela conquista do poder pela classe operária, aliada aos camponeses. Só os que, por seu trabalho e somente por seu trabalho, criam o conjunto do que constitui o patrimônio nacional, só estes são dotados do vigoroso sentimento que é o patriotismo e sem o qual não se poderia cogitar de uma verdadeira luta pela defesa da independência nacional.

Somente para os trabalhadores a independência nacional é um bem precioso, pois sem ela os trabalhadores não poderiam ter uma vida feliz e possibilidade de desenvolvimento. As classes opressoras são cosmopolitas; na verdade, elas não têm pátria; em lugar da pátria, possuem riquezas que defendem por todos os meios, inclusive pelas alianças com os inimigos mortais de seus países.

Assim, consideremos como forças consequentemente patrióticas as que lutaram pela tomada do poder pela classe operária, aliada aos trabalhadores do campo. Essa luta, dirigia-a o Partido Comunista, ilegal, perseguido pela polícia, cujos militantes eram caçados, massacrados e cujas fileiras, no entanto, jamais cessaram de aumentar. Nessa luta, o Partido Comunista teve como aliados os militantes da ala esquerda do Partido Socialista Polonês, os militantes camponeses radicais e os intelectuais progressistas,

Essa luta visava essencialmente a melhorar as condições de vida da classe operária e esclarecer o povo sobre o significado de uma aliança com a União Soviética, diante da premente ameaça de agressão hitlerista. Suas principais palavras de ordem eram: pão, liberdade, paz. Sua arma essencial: a greve. O Partido Comunista Polonês mostrara o caminho da vitória, através da criação de uma frente única com o Partido Socialista Polonês e da frente popular com os elementos combativos do movimento camponês.

O movimento grevista assumia na Polônia uma extensão ininterrupta. Enquanto em todo o país foram registradas em 1934 apenas 946 greves, em 1935 houve 1.165, em 1936 houve 2.056 e, em 1937, nada menos de 2.100. O número de estabelecimentos atingido pelas greves, no mesmo período, passava de 9.000 a 25.000.

Por si sós as cifras não dão uma ideia exata da intensidade crescente da luta. De ano para ano o caráter político e antifascista do movimento grevista se acentuava. Enquanto as primeiras greves tinham por motivos essenciais as questões econômicas e a luta pela melhoria das condições de existência, as greves seguintes englobavam, cada vez mais, problemas variados que não se relacionavam apenas com os estabelecimentos afetados por elas. No curso dos últimos anos do regime da Sanatzia não houve uma só greve importante na qual não figurassem palavra de ordem de liquidação do campo de concentração de Bereza, afastamento de Beck do Ministério do Exterior, abandono das manobras polono-alemãs contra a União Soviética e a libertação dos presos políticos.

Certas greves constituíram verdadeiramente poderosas manifestações políticas. Mencionemos, entre outras, a que foi desencadeada em 1935 por 90.000 trabalhadores da indústria de tecidos e 15.000 trabalhadores do subsolo contra a tentativa de “unificação” fascista dos sindicatos profissionais, greve à qual se deve a derrota dessa tentativa sanatzio-hitlerista. Durante o verão do mesmo ano, uma greve estritamente política, englobando 200.000 pessoas, foi desencadeada contra o regime eleitoral fascista da constituição de Slawkowski. Em março de 1936 houve um vasto movimento de greve com ocupação da fábrica “Semperit”, de Cracóvia. Por ordem do Governador Switalski a polícia atacou os grevistas e provocou um massacre, ao qual os operários cracovianos responderam com lutas de rua. Houve dez mortos e vinte feridos. Mais de 30.000 pessoas assistiram aos funerais das vítimas e em todo o país verificaram-se greves de solidariedade, atingindo até sindicatos de tipo fascista (Z.Z.Z.) e os influenciados pela Sanatzia (Z.P.U.) .

Não há dúvida que esses fatos testemunham a amplitude e maturidade de um movimento de massas. O jornal conservador Czas, submetido à Sanatzia, era então obrigado a constatar:

“Os trágicos incidentes de Cracóvia foram a expressão dramática do estado de espírito que reina entre as massas. Não se pode duvidar da agravação do descontentamento no país.”

Składkowski, policial cínico e de inteligência limitada, Ministro do Interior, respondia a uma interpelação na Dieta com estas palavras:

“A polícia atirou e continuará atirando.”

O proletariado de Lvov, dentro de pouco tempo (abril de 1936) deveria participar de incidentes bem mais trágicos, dando prova de uma determinação ainda mais forte. O episódio começou com o assassinato do operário desempregado Wladyslaw Kozak. Querendo evitar manifestações públicas, o governador deu ordem para que se fizesse o sepultamento nas proximidades do local onde havia tombado a vítima, no cemitério dos ricos, em Lyczakowski. Os camaradas de Kozak decidiram enterrá-lo no cemitério de Janow, reservado à população pobre. O enterro assumiu o caráter de uma vasta manifestação. Por ordem do governador a polícia barrou a passagem do cortejo e tentou dissolvê-lo. A multidão não cedeu. A polícia empregou metralhadoras de mão. Apesar das dezenas de mortos e centenas de feridos, novos braços se entendiam, sem fim, para retirar o féretro crivado de balas em meio aos que tombavam sob o fogo da polícia, e um cortejo imenso, sustentando o féretro-estandarte, conseguiu chegar ao cemitério de Janow, onde se fez o enterro. O combate contra a polícia estendeu-se por toda a cidade e esse dia foi descrito, em relatório especial enviado ao governo, como o de uma “pequena revolução”.

É claro que, depois de tais acontecimentos, o campo de concentração de Bereza-Kartuska enchia-se de novos elementos.

Entretanto a maré revolucionária crescia incessantemente. Sua amplitude é demonstrada pelo fato de que em 1935 o boicote das eleições legislativas segundo o novo método reacionário de escrutínio — boicote apoiado por todas as forças antifascistas polonesas — foi seguido pela maioria absoluta no conjunto do país. O comparecimento de eleitores atingiu apenas a 23% em Varsóvia e 13% em Lodz. Na maior parte, os eleitores que votaram eram funcionários públicos.

Dessa luta nasceu uma frente unida. As consequências catastróficas da divisão da classe operária alemã, que deu a vitória a Hitler, provocaram uma crise ideológica no Partido Socialista Polonês. A ala esquerda, com Norbert Barliki e Stanislaw Dubois, destacava-se nitidamente no seio do P.S.P.. Apesar da oposição formulada pela direção, apesar das manobras de traição dos Zaremba e Arciszewski, apesar dos novos perigos a que se expunham, os socialistas de esquerda cooperavam com os comunistas. Numerosos socialistas de esquerda nessa época mantinham amizade fraternal com os militantes comunistas, que muitas vezes eram não apenas seus companheiros de luta, mas também vizinhos de prisão.

A tomada do poder por Hitler foi também um choque sério para os comunistas, que diante disso rapidamente se desembaraçaram do sectarismo, seguindo o caminho do entendimento com os elementos socialistas proletários e combativos. A profunda análise das tarefas que cumpria ao proletariado, ante a aproximação da luta contra o fascismo, — análise feita no VII Congresso da Internacional Comunista — ajudou consideravelmente a classe operária de todo o mundo a compreender a questão da unidade da classe operária como decisiva.

Assim, não se deixando desencorajar pelas frequentes recusas dos socialistas de direita, os comunistas não cessaram de lhes dirigir propostas de luta comum e frente única. Os dirigentes socialistas de direita comprometiam-se aos olhos das massas por suas recusas contínuas e facilitavam a realização da frente única pela base. Dezenas de greves foram vitoriosas na Polônia, durante os anos do maior terror reacionário, graças à unidade de ação em plano local, entre organizações comunistas e socialistas.

Dessa luta pela frente única nasceram as magníficas manifestações de 1.º de maio de 1936, de envergadura sem precedentes na Polônia. Centenas de milhares de manifestantes enchiam as ruas de todas as cidades polonesas, aclamando a União Soviética, conduzindo imensos retratos de Lênin e Stálin, exigindo a demissão de Beck e de Składkowski e a libertação dos presos políticos. Em seus cortejos não encontraram um só policial. Eles haviam desaparecido, ante a amplitude da manifestação.

Dessa luta pela frente única nasceu também o diário de combate Dziennik Populary (“O Jornal Popular”), no qual realizavam tarefa comum comunistas, socialistas de esquerda e camponeses radicais, jornal que não teve senão quatro meses de existência, alcançou uma tiragem não ultrapassada na Polônia senão em 1945.

Era na época o único jornal da Polônia que jamais publicava um artigo antioperário ou textos antissoviéticos e anticomunistas. E o fato desse jornal de luta, exclusivamente teórico e revolucionário, ter alcançado tiragem tão elevada, é altamente significativo.

Esse período corresponde a vastas lutas de classe conduzidas pelos camponeses radicais poloneses. As grandes greves políticas e as poderosas manifestações camponesas (abarcando até centenas de milhares de pessoas) mobilizadas sob as mesmas palavras de ordem antifascistas das manifestações operárias, a atitude combativa dos camponeses e sua abnegação na luta, atestavam que o camponês da Polônia compreendera qual a posição a assumir e que cada vez mais ele se aproximava do operário. Os anos de 1932 e 1933 distinguiram-se por insurreições camponesas na Galícia central, o ano de 1936 foi o da manifestação de Raclawice e Nowosielce, com a participação de um milhão de camponeses.

Enfim, em agosto de 1937 assistiu-se a uma greve política camponesa de dez dias; greve que demonstrou a maturidade política dos camponeses, não somente porque eles compreendiam a razão de sua miséria, mas também as ameaças externas que pesavam sobre o país, exigindo a substituição dos métodos fascistas da Sanatzia por um regime democrático. Essa greve igualmente demonstrava as altas qualidades combativas do camponês da Polônia. Quando a polícia tentou pôr fim ao movimento, verificaram-se conflitos em vários pontos. O comunicado oficial sobre esse fato refere-se a 42 mortos e 34 feridos, números que estão muito longe de corresponder à realidade.

A luta pela libertação social englobava também uma parte importante dos trabalhadores intelectuais. Limitamo-nos a mencionar a greve, com ocupação dos locais de trabalho, da União dos Professores Poloneses, verificada em 1937, quando se tomou conhecimento da tentativa de Składkowski de nomear uma comissão para fascistizar a União. Essa greve, dirigida por Wanda Wasilewska, foi apoiada pelo conjunto do corpo de professores. Houve também em Lvov, em 1936, uma grande reunião, para a defesa da cultura polonesa contra a fascistização.

A força dirigente e animadora, se bem que sempre clandestina, de todos esses combates de classe, era o Partido Comunista Polonês. Contava então 200.000 membros em liberdade, mas obrigados a se ocultarem da polícia, o que faziam sem interromper a luta. Número aproximado de membros encontrava-se na prisão, onde não interrompiam por um só instante seu trabalho ideológico, formando-se a si próprios ou formando companheiros.

Quais eram as palavras de ordem do Partido Comunista Polonês, durante esse período de luta pela realização da frente única, período que corresponde ao avanço fascista no interior e à ameaça de agressão hitlerista?

No plano interno, o Partido Comunista Polonês exigia a dissolução imediata da Dieta e do Senado, eleições democráticas, supressão da censura, volta do Partido Comunista à legalidade, liberdade de palavra, de imprensa, de reunião e de associação, anistia para os presos e emigrados políticos, liquidação do campo de concentração de Bereza-Kartuska, etc.

No plano econômico, o Partido Comunista Polonês batia-se pela extinção das dívidas fiscais e supressão das penhoras, moratória para as dívidas e juros, baixa dos preços dos produtos fabricados pelos monopólios e cartéis, um fundo de desemprego (pensões para os desempregados) e redução de 50 por cento nos aluguéis.

Em matéria de política exterior o Partido Comunista Polonês exigia a cessação imediata da colaboração com a Alemanha hitlerista e a conclusão de pactos de aliança mútua com a U.R.S.S., a França e a Tchecoslováquia.

Declarando-se resolutamente pela luta em defesa da independência nacional, o Partido Comunista não cessava de afirmar sua atitude em documentos. Lê-se na resolução adotada no curso da IV Sessão do Comitê Central do Partido Comunista Polonês, em 1935.

“Nós, comunistas, discípulos de Lênin e Stálin, reconhecemos o direito de cada povo dispor de si mesmo e de escolher o regime de sua preferência. Nós, comunistas, somos pela independência da nação polonesa, reconhecida sem restrições pela Grande Revolução de Outubro, que aboliu o imperialismo russo, principal invasor da Polônia. Nós, comunistas, conduzimos o combate contra os magnatas capitalistas e proprietários latifundiários, que venderam a Polônia aos tzares e kaiseres e que são hoje aliados do inimigo mortal de nosso país: Hitler.

Nós, comunistas, somos os herdeiros das mais belas tradições democráticas e libertadoras do povo polonês, de sua luta heróica contra os invasores e os magnatas; nós somos os herdeiros das heroicas insurreições camponesas, das revoluções democráticas e da Comuna de Paris.

Nós, comunistas, ligamos indissoluvelmente a questão da independência nacional às da liberdade do povo polonês, da abolição do jugo fascista e da libertação dos povos oprimidos pelo imperialismo polonês.

Lutando contra as intrigas belicistas tramadas por Beck e Hitler, nosso Partido defende a paz e a independência nacional, pois a política aventureira da camarilha da Sanatzia condena a Polônia a um avassalamento completo em relação à Alemanha hitlerista.

Nós, comunistas, não permitiremos que nosso país se torne uma base de ataque ou um lugar de passagem para os generais hitleristas que desejam escravizar tanto o povo polonês quanto os povos da União Soviética.”

Em 1938, a proclamação do Comitê Central do Partido Comunista dava claramente o alarma:

“Cada dia a mais de poder desse bando de aventureiros e traidores da Sanatzia coloca nosso país, nossas terras ocidentais e nossa independência sob os golpes de inimigos seculares da Polônia, a camarilha hitlerista dos junkers imperialistas.

Cada novo dia de domínio do bando de ditadores e usurpadores da Sanatzia, cada hora que prolongue a servidão fascista imposta ao nosso país, enfraquece a união e a resistência da nação contra todas as ameaças que fazem pesar sobre a Polônia os agressores imperialistas.”

É fácil ver que todas essas palavras de ordem, de A a Z, estavam em oposição ao programa da burguesia polonesa, posto em aplicação pela Sanatzia. E é por esse motivo, precisamente, que o grosso das repressões, das perseguições e das torturas caía em primeiro lugar sobre os membros do Partido Comunista Polonês e os que colaboravam com ele.

Mas a luta dirigida pelo Partido Comunista deu seus frutos.

Sob influência da ação conduzida durante vinte anos pelo Partido Comunista, o povo polonês tomava consciência do papel da União Soviética e a popularidade do Estado operário e camponês crescia sempre. A ameaça hitlerista precipitou consideravelmente esse processo. Houve uma coincidência do sentimento nacional com a consciência de classe; o operário e o camponês poloneses sentiam que só a aliança com o operário e o camponês da U.R.S.S., que lhe são próximos, podia salvá-los do hitlerismo, aliado da burguesia polonesa.

Embora o Partido Comunista não fosse numericamente muito forte, convém não esquecer que nas condições de terror político generalizado, a influência de um partido perseguido não se mede apenas pelo número de seus aderentes. A popularidade de suas palavras de ordem e de seu programa político constituíam índice muito mais significativo. Um milhão de votos para o Partido Comunista Polonês ilegal, expressos nas eleições da Dieta de 1938, constituem a prova de uma influência considerável. O poderoso e progressivo impulso das lutas de classe prova que a popularidade do Partido Comunista Polonês ia em crescimento.

A onda de repressão e terror policial desencadeada pelos êmulos de Himmler e de Składkowski quebrou a frente única e afogou em sangue a frente popular em formação. Essa tarefa, de resto, tornou-se fácil devido à atitude equívoca e sempre recheada de traição dos líderes de direita do Partido Socialista Polonês, que não ignoravam que em caso de vitória do movimento antifascista da Polônia, seu papel estaria irremediavelmente findo. A repressão foi apoiada pela arma da provocação. E assim, em 1938, ano decisivo para a paz, ano de Munique, o Partido Comunista Polonês teve que se dissolver, encontrando-se a Polônia privada de uma força organizativa experiente, que poderia ter cimentado as massas polonesas, guiando-as, no momento crítico, em defesa do país, com a derrubada do governo fascista da Sanatzia, concluindo uma aliança com a União Soviética.

Vinte anos de lutas de classe sob a direção do Partido Comunista Polonês, entretanto, deixaram vivamente gravada entre as classes trabalhadoras polonesas a convicção de que o Partido Comunista Polonês encarnava da melhor e mais consequente maneara seus ideais e aspirações. Ele foi o arado que preparou a fecundação da terra. O Partido exerceu o papel de uma escola de verdadeiro internacionalismo, de uma vasta universidade, formando combatentes pela independência nacional e pela libertação social. O grão semeado no outono não deveria brotar e elevar-se senão depois de um terrível inverno.


Notas de rodapé:

(1) Grandes famílias da nobreza latifundiária. Os condes Branicki e Potocki pediram a Catarina, a Grande, que interviesse na Polônia, dando-lhe assim um pretexto para a anexação de uma parte do país. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/03/2024