Polônia 1939


Capítulo VI. Os mensageiros de nosso futuro


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Durante os dois períodos anteriores de vida nacional independente que a Polônia conheceu, o país foi governado por classes possuidoras. Os dois períodos terminaram, igualmente, com a perda da soberania nacional. Assim, no fim do século XVIII, da mesma forma em 1939. No primeiro caso, a Polônia era governada pela oligarquia da nobreza, hostil ao povo; no segundo caso, pela burguesia, também hostil ao povo e aliada à aristocracia dos senhores latifundiários. Pode-se então chegar à conclusão de que a oligarquia e a burguesia polonesas não só não foram capazes de assegurar o bem-estar do povo, como ainda se mostraram incapazes de preservar a independência nacional.

Depois de dois períodos de servidão fomos levados a reconstruir a vida nacional independente. A primeira vez, em 1918, graças à vitória da Grande Revolução Socialista na Rússia, graças à vitória da política leninista de direitos iguais para todos os povos, de condenação e abolição de todas as conquistas e opressões de povos mais fracos. A segunda vez, em 1944-1945, após a vitória sobre o fascismo, alcançada pelo Exército Soviético. Pode-se então tirar a conclusão de que as forças externas que favorecem a manutenção da soberania polonesa são as forças democráticas e populares de todos os países e em primeiro lugar a grande potência socialista: a União Soviética.

Essas duas conclusões fundamentais caracterizam nossa história milenar. Os acontecimentos de setembro de 1939, a ocupação e os cinco anos que se seguiram à Libertação, constituem uma sequência de acontecimentos que confirmam invariavelmente as verdades profundas de nossa história. A liberdade e o bem-estar de nosso povo repousam na união indissolúvel da independência nacional e da libertação social do povo polonês.

No exterior e no interior, a salvação da Polônia, a salvação de todo o país — e não apenas de um punhado de proprietários — repousa nas forças democráticas, nas forças populares.

Nosso povo demonstrou unidade e coragem nos combates de setembro de 1939. Unidade e coragem provadas não devido aos dirigentes reacionários, mas contra a vontade deles. Não foi devido aos Rydz-Smigly, aos Beck e aos Bielecki, mas contra sua vontade e sem eles que nossos homens, desarmados, atacaram os tanques hitleristas. O soldado polonês, privado de comando, combateu sem comandantes. Foi sem comando que, entrincheirada em defesas primitivas, a heróica Varsóvia lutou. Sem comando, constituíram-se batalhões operários em cujas fileiras o patriotismo se resumia numa única palavra de ordem: defender Varsóvia, cidade querida do proletariado.

Sem os senhores da Sanatzia e apesar deles, os comunistas poloneses, perseguidos durante vinte anos, conseguiam fugir das prisões para correr, muitas vezes sem tempo de mudar os uniformes de presidiários, às barricadas, chamando todo o povo à luta e combatendo nas primeiras linhas. São inumeráveis os exemplos. Citaremos apenas um. Marian Buczek foi durante muitos anos preso político. Passou dezesseis anos de sua juventude nas prisões. A criminosa injustiça dos dirigentes poloneses, em seu caso, era incalculável. Grabowski, Ministro da Justiça, não o libertou até às vésperas da guerra, mantendo-o debaixo de chave na prisão de Rawicz. Com recursos próprios e seguido de outros prisioneiros comunistas, Marian conseguiu fugir no momento em que os hitleristas já haviam atravessado a fronteira. Partiu para o Leste, incorporou-se à primeira unidade combatente e tombou, com heroísmo, perto de Ozarow, defendendo Varsóvia.

Eles — os dirigentes reacionários da Polônia — tinham coisa bem diversa em mente. O Ministro Grabowski preparava sua partida para Zaleszczyki; mas, três dias antes da declaração de guerra, quando todo mundo esperava a promulgação da anistia em favor dos prisioneiros políticos, Grabowski teve tempo de fazer transferir, sob escolta especial, da prisão de Mokotow à de Rawicz, perto da fronteira alemã, o conhecido comunista Witold Kolski. Sabemos hoje, através de declarações de testemunhas do processo Doboszynski, como deve ser interpretado esse fato. Não se tratava somente do cúmulo da baixeza contra um adversário político que, no entanto, na luta contra os invasores hitleristas, seria um combatente de primeira ordem. Era simplesmente a continuação da atividade do clube 11 de Novembro, atuando a serviço da espionagem no seio do governo polonês. Tratava-se evidentemente de entregar Witold Kolski aos hitleristas.

Nosso povo também demonstrou unidade e firmeza na luta contra a ocupação hitlerista depois de setembro de 1939. Não devido aos dirigentes burgueses reacionários e fascistas, aos Sosnkowski, aos Bor-Komorowski ou aos Doboszynski, mas, apesar deles e sem eles é que os patriotas dinamitavam os trens militares hitleristas. Os senhores da Sanatzia não somente haviam fugido ao combate, mas ainda se esforçavam para frear a luta, através de palavras de ordem criminosas, como “guardar as armas ao alcance da mão”. O povo não esperava. O povo lutava e marchava ao combate com os que se punham à sua frente.

Nosso povo demonstrou sua força e sua união na luta final pela libertação, quando o Exército Soviético e as divisões do 1.º Exército Polonês entraram em nosso território, empurrando o inimigo para o Oeste, expulsando-o até a fronteira alemã. Desta vez ainda, o povo lutou, não devido aos dirigentes da burguesia fascista e reacionária, mas contra eles. Não foi pelos Sosnkowski, Raczkiewicz, Bielecki e Mikolajczyk que tomamos parte na fase final da guerra com forças armadas consideráveis em relação à nossa situação. Os reacionários, eles, davam ordem aos oficiais do “Exército do Interior” de dissolução de suas unidades, de assassinato dos oficiais patriotas e de organização da deserção; eles, os reacionários, apunhalavam pelas costas o povo em luta contra o invasor estrangeiro. O povo era consequente consigo mesmo; marchava ao lado dos que, saídos de seu seio, uniam-se na luta pela independência nacional e pela libertação social dos trabalhadores. Eis por que nosso grito “a Berlim” não constituía uma palavra ao vento, mas permitiu que plantássemos nossa bandeira, ao lado da bandeira soviética, na capital alemã em ruínas.

Nosso povo demonstrou sua força e sua união na luta pela mudança definitiva do regime de exploração de classe por um regime de democracia popular. Nosso povo demonstrou sua força e sua união na luta implacável contra os serviços de espionagem da burguesia polonesa e anglo-saxã e, em primeiro lugar, na luta contra o primeiro dos agentes anglo-americanos na Polônia, Mikolajczyk e seu “maquis” negros. O operário e o camponês de hoje compreendem que se não tivéssemos aniquilado na Polônia o campo da reação, o operário continuaria a trabalhar para o capitalista — estrangeiro ou polonês — e o camponês continuaria a trabalhar para os grandes proprietários de terras. E então não seria possível o nosso magnífico ritmo de desenvolvimento industrial nem os nossos sucessos em matéria de reconstrução.

Nosso povo demonstrou sua força e sua união na luta para que fossem restituídos à Polônia seus antigos territórios sobre o Oder e o Neisse, não graças aos Mikolajczyk e seus amos anglo-americanos, mas apesar deles e contra eles. Restituímos aos territórios recuperados seu caráter polonês, apesar dos ataques dos Byrnes e dos Marshall, que contrariavam direitos incontestáveis confirmados pelos acordos de Yalta e Potsdam, referentes a nossa nova fronteira. Realizamos essa tarefa à custa de um esforço sem precedentes, do qual só poderia ser capaz um povo verdadeiramente livre. Pedindo que lhe fosse feita justiça, fazendo valer seu direito de recuperar antigos territórios, nosso povo respeitou essa mesma justiça em relação aos povos das fronteiras da Ucrânia e da Bielorrússia, aprovando a justa fronteira que constitui hoje fronteira de amizade e de fraternidade e não mais uma porta aberta à conquista e à rapina de territórios estrangeiros. Isto formou a base de nossa política estrangeira soberana, apoiada numa aliança durável e sincera com a União Soviética.

Nosso povo demonstrou sua força e sua união como jamais em toda a sua História. Tal sucedeu porque, graças a transformações sociais profundas e revolucionárias, a Polônia pela primeira vez tornou-se verdadeiramente a pátria do povo polonês. Outra razão de nossa poderosa união e de nosso poder é que, em nossas alianças, apoiamo-nos hoje em forças internacionais que têm os mesmos objetivos que nós: a manutenção da paz e a vitória da democracia. Nosso principal aliado é a União Soviética, poderoso Estado da revolução socialista vitoriosa, primeiro Estado socialista operário e camponês do mundo. São nossos aliados todos os países de democracia popular, que tendem como nós ao socialismo. São nossos aliados, como sempre aconteceu em toda a nossa história, as centenas de milhões de pessoas simples do mundo inteiro que aspiram à paz e à democracia e que combatem por elas.

Por todas essas razões não é exagerado afirmar que hoje somos mais fortes do que nunca. Nossa produção industrial já é mais de vez e meia superior à de antes da guerra.(1) Nossas colheitas de cereais por hectares já ultrapassam em vez e meia as de antes da guerra. A tiragem de nossos jornais e livros é muito superior à de antes da guerra. O número de nossos estudantes supera consideravelmente o nível de antes da guerra. Nossa indústria e nossa cultura pertencem hoje a seus próprios criadores, isto é, ao conjunto do povo trabalhador.

Pela primeira vez soubemos tirar os ensinamentos de uma história milenar. O caminho do reforçamento e da aprofundamento da democracia no país, o caminho do reforçamento de nossa aliança fraternal com todas as forças da democracia e da paz e em primeiro lugar com a União Soviética, bastião do socialismo e da paz, abre-nos a possibilidade de edificar uma Polônia verdadeiramente independente, livre, próspera e feliz.

Nesse rumo somos invencíveis.

O operário e o camponês, o intelectual e todos os trabalhadores que, pela primeira vez em nossa história, são os verdadeiros construtores da nova vida de nosso país e que pela primeira vez se sentem verdadeiramente senhores em sua casa — essas pessoas simples não amam a fanfarronada. Essas pessoas simples não se envaidecem diante de suas realizações, embora num período de cinco anos de existência a Polônia Popular tenha realizado um progresso muito maior do que a Polônia burguesa em vinte e um anos. As pessoas simples observam com um sentido de crítica suas atuais conquistas e constantemente se traçam novas tarefas, tarefas ainda mais belas e mais grandiosas.

As pessoas simples, na verdade, são os condutores de nosso futuro.

De um futuro sem miséria, sem desemprego, sem ignorância e sem guerras.

Varsóvia, setembro de 1949.


Notas de rodapé:

(1) Esse texto é de 1949. Em fins do 1950 o montante da produção per capita na grande e na média indústria elevava-se a 315% do nível de 1938. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/03/2024