Os Espiritualistas Perante a Paz e o Marxismo
ou A Perfectibilidade do Espírito, pelo Socialismo

Eusínio Gaston Lavigne


X - Carta de um Espirita a um Pregador de Espiritismo


capa

Rio, 26/6/54
Meu caro José Fuzeira:
Saúde e Paz.

Estou com sua carta, que agradeço, e a que respondo.

Diz V.: — “O meu antigo anseio de atrair prosélitos, apagou-se. Na época atual, ou seja, no pequeno intervalo que falta para o terceiro milênio, essa tarefa já não pertence aos homens”.

Permita-me que discorde, pois entendo que, isso que afirma, é “cruzamento de braços”; é fatalismo comodista,.. principalmente quando acredita “nas hecatombes morais e materiais que se aproximam para afundamento desta civilização...” Essa opinião do grande Emmanuel, ou que lhe atribuem, parece estar errada em muita coisa.

Ainda diz o prezado Amigo “A campanha desta hora undécima é a de que nos amemos e nos unamos em fraternidade cristã; pois, Deus é Deus da Paz, do perdão, da tolerância e não de brigas, quaisquer que elas sejam”.

Portanto, deixemos que esmaguem a Humanidade...

Não creio que ficar indiferente, apático, e não participar das lutas cívicas ou políticas, seja servir ao Espiritismo. Tal atitude não se justifica, e só os que se deixam impregnar de misticismo ficarão à margem das vanguardas do Espiritismo científico, e da marcha progressista para uma nova civilização SOCIALISTA — que terá por lema: “A cada qual segundo suas necessidades, e de cada qual segundo sua capacidade de trabalho”. Não permitindo a MISÉRIA, o desemprego, a fome, a prostituição, as guerras e as injustiças que tanto infelicitam a Humanidade.

No momento, o que mais deverá interessar aos espíritas esclarecidos, é o estudo e propaganda do Espiritismo em seu aspecto social e cristão, mais do que o fenomenal e religioso. O Espiritismo deverá contribuir para o grande “Movimento Mundial da Paz”, e contra a Guerra com que o imperialismo e obscurantistas de todos os matizes ameaçam envolver novamente a Humanidade na mais feroz das carnificinas. A maioria dos espíritas por desconhecerem os fundamentos do Socialismo Científico, do Marxismo, etc. deixam-se intoxicar pela propaganda facciosa e interesseira dos neofascistas heróis da bomba atômica, do “napalm” (gasolina gelatinosa) e da guerra bacteriológica — massacradores de povos para quem as guerras se tornaram uma necessidade, sendo “subversivo” o Movimento da Paz, e lícitas as propagandas guerreiras. É triste dizê-lo, mas até confrades nossos, dirigentes e doutrinadores espíritas, se aliam aos que buscam entravar a marcha do progresso, difamando e deformando a grande realidade da Democracia Socialista em ascensão já em quase metade da Terra, e a caminho da realização da maravilhosa utopia da Sociedade de Bellamy. Já leu o Amigo José Fuzeira aquela excelente obra “Daqui a Cem anos”? O grande clarividente americano, escreveu linda utopia — mas já em ensaios, para a desejada realização, nos países do Socialismo. O “Movimento Mundial da Paz” também bastante contribuirá para o surgimento daquela maravilhosa civilização! Entraremos então no ciclo crístico. O preceito do Decálogo que ordena: NÃO MATARAS, será cumprido — extinguindo-se definitivamente o mais monstruoso dos crimes: a GUERRA. Os Exércitos e Marinhas de Guerra, Exércitos fratricidas, estarão então substituídos pelos Exércitos da Paz: Exércitos Agrícolas, Exércitos Industriais, Exércitos Científicos! É possível que até lá, assistamos às tais hecatombes morais e materiais de que V. fala — mas não deveremos ser fatalistas. O que se passa, são as dores do parto de uma nova Civilização que surge. A maioria dos espíritas ainda não se apercebeu da grande reforma político-social já em ascensão na metade do mundo, e que arrastará, em muito breve, a outra metade.

Espíritas reacionários, encafuados no seu misticismo e alheamento aos grandes problemas sociais, políticos e humanos, precisam de se esclarecer e saber, como dizo Dr. Eusínio Lavigne, “que se não deve desligar a sociologia espírita — que Kardec, afirmou, precisar de acompanhar as verdades descobertas”. Pois não se podem conceber espíritas reacionários! “É mil vezes preferível o materialista evolucionário”, porque este, segundo a expressão de Sousa do Prado, “pratica o Evangelho sem o pregar, enquanto que aquele o prega sem o praticar...

Espíritas que vão no cordão a fazer coro com os que sempre se empenharam em manter a Humanidade no atraso, na escravidão e na miséria, alheando-se ao estudo da Sociologia — do assunto mais palpitante da atualidade — estão errados. Cristo também se bateu, até ao sacrifício, pelo Comunismo daquela época, bem como seus seguidores, que foram perseguidos, presos e lançados às feras, como hoje lançam ainda os comunistas às feras dos carrascos policiais — mais ferozes que os de então, porque torturam... antes de matar. Diz bem o Amigo José Fuzeira:

Ai do Cristianismo em espírito e verdade — o Comunismo daquela época — (parêntese meu), se a causa, logo, desde o início, não houvesse sido iluminada ou santificada com as perseguições e com o sangue dos mártires e dos justos, a começar pelo próprio Jesus”.

Sim, Jesus foi quem primeiro clamou a favor dos humildes e dos que sofrem, e contra os ricos e exploradores das massas espoliadas. Por assim ter pregado, foi o primeiro homem a ser condenado à morte como revolucionário, inimigo do governo, e agitador do povo.

Corroborando essa verdade, diz Renzo Castaldi, em primoroso artigo, em “Jornal de Debates”

As primeiras associações cristãs chamavam-se COMUNIDADES (e o nome diz tudo). O primeiro grupo cristão formado pelo Cristo e pelos apóstolos, era um grupo comunista, um grupo onde tudo era comum, onde ninguém possuía nada de seu. Isto está dito claramente nos EVANGELHOS e nos ATOS DOS APÓSTOLOS. As epístolas de São Paulo são nitidamente comunistas. Os cristãos dos primeiros séculos da nossa era foram perseguidos porque eram comunistas, não por motivos religiosos. O império Romano estava cheio de deuses, das mais variadas procedências: um, a mais ou a menos, não fazia diferença. Havia dezenas de deuses que sabidamente significavam um deus “VERDADEIRO e ÚNICO”, só os nomes variavam, conforme o país donde eram originários. O CRISTIANISMO FOI PERSEGUIDO COMO MOVIMENTO POLÍTICO DE LIBERTAÇÃO DA CLASSE OPRIMIDA. Foi perseguido só por isso não por motivos religiosos.

A perseguição terminou quando os dirigentes da Igreja se bandearam da classe oprimida para a classe opressora. A Igreja — todo o mundo sabe — não foi mais perseguida a partir do momento em que renegou o Comunismo, em que deixou de defender a classe explorada, para aliar-se à classe exploradora, em que deixou de ser — no verdadeiro sentido da palavra — CRISTÃ. O Cristianismo, porém, continuou existindo, manifestando-se, através daquilo que a Igreja — transformada em esteio do Capitalismo — chamou “HERESIAS”.

Todas as heresias, que foram exterminadas a ferro e fogo pela Igreja, eram comunistas, de acordo com os ensinamentos do Cristo, de Paulo e dos primeiros cristãos. Foram exterminados por ser comunistas, isto é, por motivo políticos, por motivos resultantes da luta de classes, não por dissenções teológicas a respeito de ninharias. Assim aconteceu com os Maniqueus. (Prisciliano, austero bispo espanhol, foi queimado vivo no ano 385, por combater a aprovação da propriedade pela Igreja. Santo Agostinho, maniqueu disfarçado, só se salvou devido aos seus excepcionais dotes intelectuais e às altas amizades de que desfrutava. Santo Ambrósio tem páginas de veemente repulsa à instituição da propriedade, aceita pela Igreja, páginas essas citadas, com todas as minúcias, na “CIDADE DO SOL” de Tommaso Campanella).

Assim aconteceu com os Milenários, com os Cátaros com os Albigenses, com os Valdenses, com Wycliffe, com João Huss e com Tomás More. Com os Anabaptistas e com os Puritanos.

Uma prova de que o Cristianismo era comunista é que, ainda hoje, os conventos são propriedades coletiva das ordens, não havendo neles propriedade privada dos frades e monges. A própria Igreja, na sua organização atual, é um órgão de estrutura comunista, onde tudo é propriedade coletiva da Igreja, e não do Papa, dos Cardeais, ou dos bispos. (Pelo menos é o que consta).

Todas as ordens religiosas do mundo antigo, todos os Templos, tinham organização comunista. Santos cristãos, tais como São Lucas, São Clemente, São Marcos, São Jerônimo e Santo Ambrósio, foram nitidamente comunistas.

“A CIDADE DE DEUS”, de Santo Agostinho, é uma utopia de fundo comunista. Todas as Maçonarias antigas, igualmente, desde as do Egito remoto (pedreiros livres) até as que promoveram a Revolução de Cromwell, a Revolução Americana e a Revolução Francesa, eram de fundo comunista.

Entre os precursores do Socialismo figuram nomes tais, como os de Thales, Anaxágoras, Platão, Tomás de Aquino, Tomás More, Tomás CamPanelLa, Francis Bacon , Abade Mably, Barrington, Varaisse, Holberg, Morelly, Adam Smith, os Enciclopedistas (com Diderot e Voltaire à frente), Babeuf, Saint Simon, Hegel, David Ricardo, Fourier, Owen, Stuart Mill, Proudhon, Blanqui, Eduardo Bellamy.

O Socialismo desses precursores generoso e nobre, era, porém, utópico. Não chegaria nunca a ser realizado. Desconhecia as leis científicas da História. Perdia-se na Metafísica, ou em ideias erradas a respeito das verdadeiras causas do progresso. Ignorava, ou só suspeitava muito vaga- mente, o papel fundamental do fenômeno econômico (das maneiras de produção) nas transformações da sociedade humana. O Socialismo Científico — REALIZÁVEL — só podia surgir depois do Método Dialético Marxista e do Materialismo Histórico.

E surgiu brilhantemente, no histórico Manifesto de 1848, assinado por Marx e Engels.

Falar sobre o Manifesto de 1848 é tarefa ociosa. (será possível que ainda exista quem o desconheça?).

Marx e Engels lançaram as bases científicas. Lênin e Stálin desenvolveram-nas, investigaram, e demonstraram as leis científicas da transição do Capitalismo para o Socialismo. E REALIZARAM AS TEORIAS, DEMONSTRARAM EXPERIMENTALMENTE AS LEIS CIENTÍFICAS QUE SÃO O ALICERCE INABALÁVEL DO SOCIALISMO CIENTÍFICO, DO MARXISMO.

As obras completas de Lênin e Stálin também estão catalogadas, e foram publicadas na íntegra pelo Instituto M.E.L. O que ainda não há em português, existe em espanhol, italiano, francês, inglês, alemão, etc. Só as obras de Stálin (que compreendem toda a teoria e prática da Construção do Socialismo, e o PENSAMENTO CRIADOR mais alto da nossa época) são mais de trinta volumes.

Assim como para conhecer Newton é preciso ler Newton, para conhecer Darwin é preciso ler Darwin, para conhecer Marx é preciso ler Marx — para conhecer Stálin é preciso ler Stálin. (E sentir vergonha, depois, de ter demorado tanto para travar conhecimento com a obra científica DO MAIS PODEROSO ESPÍRITO CRIADOR DA NOSSA ÉPOCA).

A transição direta do Capitalismo ao Comunismo, tão temida pelos ignorantes (às vezes letrados), É IMPOSSÍVEL. Quem sonha com ela é utopista incorrigível, que nada de concreto fará pela evolução da Sociedade. Entre o Capitalismo e o Comunismo há uma etapa intermediária indispensável, que é o Socialismo.

Distinga-se bem: Comunismo é a socialização de todos os bens, NUMA SOCIEDADE SUPERIOR, COMPLETAMENTE DIFERENTE DESTA NOSSA DE HOJE. Socialismo ou Coletivismo (que é o que vigora na URSS, na China e nas Democracias Populares) é a socialização, dos MEIOS DE PRODUÇÃO NUMA SOCIEDADE SEM CLASSES.

Nenhum país pode passar diretamente do Capitalismo ao Comunismo. O COMUNISMO SÓ É POSSÍVEL APÓS O DESENVOLVIMENTO E PLANIFICAÇÃO DE TODA A PRODUÇÃO E DESFRUTE, E DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL CULTURAL (MORAL E INTELECTUAL) DE TODA A SOCIEDADE — transição que apenas sob o regime socialista pode ser realizada.

Todas as imbecilidades que têm sido ditas pelos reacionários e obscurantistas a respeito do Comunismo ficam reduzidas ao seu verdadeiro porte, com esta simples constatação, tão óbvia que nem uma criança analfabeta a poderia ignorar.

(É o caso de dizer: Porque é que esses gratuitos detratores do Marxismo não estudam, antes de dizer bobagens?).

Nenhum deles se atreverá a dizer uma palavra a respeito dos outros assuntos que desconheça: televisão, motores, teoria atômica, ou relatividade.

Tratando-se de Marxismo, porém que é infinitamente mais difícil e mais complexo (a Sociologia é a ciência mais complexa, em todas as classificações) soltam candidamente as suas batatadas, com a mais absoluta inconsciência.

É de fazer pena! O SOCIALISMO É O RESULTADO INEVITÁVEL DA EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE, DENTRO DAS LEIS CIENTÍFICAS FATAIS QUE REGEM ESSA EVOLUÇÃO.

Ele é a REALIZAÇÃO MATERIAL do sonho de todos os utopistas de todos os reformadores, de todos os idealistas dos últimos milênios (místicos, maçons, cristãos sinceros, positivistas, espíritas, espiritualistas, materialistas, evangelistas e todos os mais que lutam pela evolução).

O SOCIALISMO É A BASE: O ALICERCE DA EVOLUÇÃO POR TODOS ESPERADA. Ele virá, em todos os paises aconteça o que acontecer, façam o que fizerem os reacionários, os retrógrados. Só os imbecis, loucos ou tarados podem cometer a asnidade de tentar entravar-lhe a marcha. Será dado o passo DECISIVO e gigantesco para a frente, que a Humanidade aguarda há tantos séculos: EXTINÇÃO DE CLASSES. DEMOCRATIZAÇÃO REAL DA SOCIEDADE, FRATERNIZAÇÃO MUNDIAL DOS POVOS.” (Jornal de Debates, 1/8/52)

Não termina aqui este belo artigo de Renzo Castaldi. Mas o que aqui transcrevo seria suficiente para esclarecer muitos confrades distintos, bem-intencionados, mas errados em suas concepções sociológicas e no Bem-postulado do Cristianismo.

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A sua ação em prol da Campanha contra o Suicídio, é meritória. Mas, incomensuravelmente mais bela, oportuna, necessária — e a que todos os espíritas se deveriam associar — é o “Movimento Mundial da Paz” que visa acabar com o maior e mais estúpido flagelo — a GUERRA! Se este grande movimento de todos os povos da Terra, não triunfar, então, ai de nós — as trombetas do Apocalipse soarão aos ouvidos desta Humanidade infeliz, incrédula e incauta. Como espíritas, devemos compreender o significado do “Movimento Mundial da Paz” e colaborar nele. Combater o suicídio é nosso dever. Mas, repito, incomensuravelmente mais importante, é o dever de combater a monstruosidade da Guerra — onde morrem milhões e milhões de criaturas que não querem morrer, enquanto que quem se suicida, morre porque quer, e fazendo uso de seu livre arbítrio. O seu objetivo, pretendendo fundar uma instituição idêntica à National Save-a-Life League, de Nova York, é plausível, e merece simpatia. Mas a ação em prol do Movimento da Paz, conforme conclama o Dr. Eusínio Lavigne no seu trabalho: “Natureza Sociológica da Paz”, que V. leu, deverá ter prioridade. O seu movimento pretende salvar aqueles que preferem desertar da vida, indo voluntàriamente para o outro mundo; enquanto que o da Paz, de que é Presidente Joliot Curie, é mundial, e salvará os que, pela Guerra, seriam, a contra gosto, atirados violentamente para lá.

Foi pensando assim, que eu lhe telefonei para a Televisão Tupi, quando V. ali expunha o seu empreendimento, perguntando-lhe, de público, porque não defendia também o “Movimento Mundial da Paz”, que visa acabar definitivamente com as guerras que fazem muito maior número de vítimas, Arnaldo Nogueira, que dirigia esse programa de “Ideias e Imagens”, frisou-lhe bem o recado, mas V. não aproveitou a oportunidade para dizer algo. sobre tão importante assunto, aos milhares de telespectadores que o observavam e escutavam. Poderia ter prestado relevante serviço a uma da Causas mais nobres da atualidade.

A Campanha contra o Suicídio, talvez estivesse bem entregue ao “Exército da Salvação” — que ainda aí “salvando” toda a gente..., militarmente, à norte-americana.

Convenhamos que, a melhor forma de acabar com o suicídio, é modificar o regime social, de maneira a que não haja ricos e pobres, mas que todos tenham o conforto de que necessitam dignamente. E isso só o pode dar, conforme já vimos, o Socialismo Científico. Sabemos que há sofrimentos e provações inevitáveis, provenientes do “Karma”, mas, já basta o que não podemos modificar nem evitar, como os desastres, as doenças, os desgostos, etc. A miséria material, porém, embora condicionada ao “Karma”, não provém dele, mas do procedimento criminoso dos exploradores, e da ingenuidade dos explorados, que a isso se sujeitam. São sofrimentos que os homens podem evitar, e não evitam porque não querem. O religiosismo é, em parte, responsável pela apatia e conformismo ante os aparentes fatalismosque tolhem as iniciativas mais nobres, e que removeriam muitos dos obstáculos à conquista dos bens sociais e da felicidade, embora relativa, a que todos aspiram e a que todos têem direito.

Em mensagens espíritas, captadas pelo médium José Maria Macedo dos Santos, e assinadas por José do Patrocínio, foi-nos dito o seguinte:

Meu amigo Poderá parecer descabido, despropositado, que um “morto” volte ao cenário dos “vivos”, e troque ideias contigo, fraternalmente e com suavidade. É que o vosso mundo, que eu já conheci, através de variadas experiências humanas, vive um momento decisivo para a sua evolução. De um lado, estão homens com almas de escravos, que teimam em não progredir, em espremer, em esfomear, pela sua avareza, a maioria da Humanidade; e do outro lado dessa barricada —, constituída de ódio, de vaidade e de ambição sem limites —, acham-se aqueles que solucionaram o problema do homem, dando a cada um segundo suas necessidades, sem a ignóbil exploração de uns pelos outros. O maior acontecimento mundial, que a Terra já teve, após a vinda do Messias, foi esse, onde se nivelaram interesses, se extinguiu a vaidade, e se liquidou a ambição. É algo de grandioso, pelo ineditismo da judiciosa solução, que fez, de escravos, homens livres, libertando-os de pelas que os jugulem a coisas materiais.

A propaganda insidiosa, paga, sem escrúpulos, mente deturpa os fatos e a consequente verdade, por quê? É que são duas faces da Humanidade que se enfrentam, tendo uma, fatalmente, que desaparecer sem deixar quaisquer saudades.

Os homens, no seu todo, têm necessidades semelhantes, distinguindo-os somente o respectivo grau de cultura ou de sensibilidade. Se Jesus nos concitava a nos amarmos, fraternalmente, uns aos outros, Isaías profetizava que “Algures viria o tempo da paz e da felicidade para todos”.

É que o ódio vai ser banido da face da Terra. Deus assim o quer.

Shakespeare, no seu famoso Hamlet, afirmava, com toda a propriedade: “ser ou não ser, eis a questão”. Por que há de uma pequena minoria insultar os demais, exibindo suas faustosas riquezas e suas bacanais, se, no mundo, há de mais para todos, sem os gastos astronômicos com armas e engenhos de guerra?

O precioso livro de Bellamy,(1) que tanto te encantou, porque demonstra, na verdade, como viver em paz e com alegria, traz aquela imagem do coche, que tanto era de então, como de agora.

A maioria dos homens, de tirante ao ombro, a puxar a privilegiada carruagem não poderia ser bem da atualidade?

Paz e um abraço fraternal do Irmão

José do Patrocínio

E noutras mensagens, que não transcrevo aqui na íntegra porque um tanto longas, continua o mesmo esclarecido espírito:

“Quem, enfim, mais cristão, mais consequente com o “fazei aos outros o que desejais que vos façam””? Os que usam tal etiqueta, mas perseguem, fraudam e matam, ou aqueles, que se dizem ateus, mas são fraternos, ao extremo de todos serem iguais perante a Lei, extinguindo assim, a fome, o meretrício e a vagabundagem, pois “quem não trabalha que não come”, e todos são compelidos a trabalhar, porque, ali não existe a falsa caridade que determinadas casas pretendem fazer? Num mundo fraternal, a Caridade não subsistirá para que, em seu lugar e com eficiência, se faça justiça. A Caridade vexa a quem a recebe. Os únicos seres que a podem praticar, porque para tal têem tudo, são Deus ou os seus enviados, como o divino Jesus.

Esses homens, que, embora cristãos pelo procedimento, irreverentemente se afirmam ateus, para que um abismo os distinga, estão mais próximos dos sublimes ideais de Cristo, do que - esse mundo que prega a piedade, a renúncia, o sofrer agora para fruir uma hipotética bem-aventurança no futuro. Aqueles são sinceros, porque são fraternos, e extirparam o cancro social que todos veem, mas sem pieguices, sem rótulos piedosos, e sem religiosismos, que eles, definitivamente não aceitam. O “amai-vos uns aos outros”, este com eles, porque embelezaram, no seu setor, a fisionomia da vida. Isto é uma verdade irrefutável, porque comprovada.

O pavor apossou-se desse mundo farisaico, que são esses lideres retrógrados, que não querem acompanhar a Humanidade na sua arrancada ascensional. Mas o Mundo evolverá, mesmo sem eles, porquanto ficarão à margem dos acontecimentos como coisas inúteis”.

E noutra comunicação:

“Meu amigo: é bem conhecido que os ladrões, para que os deixem agir, abrem os pulmões, clamando: Pega ladrão! É o que atualmente acontece com aqueles que anseiam por uma nova guerra, para que se empreguem os muitos milhões de desempregados que essa supercivilizada atirou à fome e ao consequente desespero. E, assim, bradam que a sua civilização, que se apregoa cristã, e se diz ocidental, está em perigo..., pelos russos.

Mascaram assim seus criminosos preparativos bélicos, com o fim único e exclusivo de mais encher seus cofres, à custa dos inconscientes, que pegarem em armas, e se deixarem massacrar por tão repelentes objetivos. A célebre esquadra invencível, que a Espanha de Isabel, a Católica, enviou à Inglaterra para a escravizar, perdeu-se, sem que houvesse necessidade de disparar um só tiro, na Mancha, que a amortalhou. Napoleão, tanto quis, que tudo perdeu, e mais tarde, em Santa Helena, no seu desterro, fez um balanço de sua vida, e verificou que, de definitivo, nada conseguira. Hitler, e antes dele, Mussolini, sonharam escravizar os povos, e, mais tarde, tiveram o fim de todos os ambiciosos sem escrúpulo. Aos herdeiros, dessa avassaladora ambição, que tanto enchem a boca de “democracia”, que futuro os aguarda? De certo que será idêntico.

Porque perpassam pelo mundo, uma infinidade de insânias?

É que os homens se deixam contagiar pela ambição crescente e ininterrupta, no vasto campo dos lucros criminosos; e isso findará dolorosamente para eles.

Os tempos cada vez mais exigem que se viva e propague a Verdade. Demais, esta é como a Luz, irradia continuamente, aromatizando as almas, e impondo-lhes a era nova da socialização do mundo.

É visível que os grandes argentários a temem, e por isso se apegam à batina é à farda... para que os padres mintam e a farda mate.

Os perversos negociantes de armas conseguiram mais um meio de impingir seu vil comércio. Porque o fazem, esses que vivem no país onde as bíblias se vendem aos milhões, e conhecendo o “NÃO MATARÁS” e o “NÃO LEVANTES FALSO TESTEMUNHO”?

É que, para eles, comércio é comércio, negócio é negócio, e, DA LEI, só dois dias por semana se ouve falar, quando das suas reuniões culturais. Razão de sobra teve Vitor Hugo, quando disse, que a Guerra, devia ser profundamente desmoralizada, pois ela só atesta o grau de bestialidade, porque de incompreensão dos homens.

Se lembrarmos César, bem como o Senado Romano, veremos que eles não queriam aceitar o Cristianismo, porque o denominavam de “doutrina estrangeira”. Naqueles tempos, os cristãos eram tidos como sem Deus, sem pátria, nem família, e fanáticos bebedores de sangue. Então, vezes sem conta, Nero ou seus íntimos, chamavam cristãos a quantos, sob qualquer motivo, lhes caíssem em desagrado — mesmo que o não fossem!

Lá ou agora, uma vida humana, não possuía o menor valor de respeito.

Uma Ideia não se destrói com torturas, só se substitui, eficientemente, quando outra a sobrepuja. Demais, as ideias são bem como os pregos, que quanto mais se lhes bate, mais profundo penetram. Separar o homem do homem é não só um absurdo, como um crime. E, se temos contas a ajustar, uns com os outros, pretender isolar o homem, é algo de monstruoso.

Não devemos odiar, mas o que se vê nesses países piratas, que querem passar por democratas e civilizados, e se dizem cristãos como ninguém, é o incitamento à loucura do ódio; e, assim, entoam hosanas ao assassínio a frio e premeditado, que é a guerra.

Nietszche, esse filósofo que se não deixou envenenar pela brutalidade da guerra, exclamou: “Quem sentir valores acima, cem vezes superiores ao bem estar da pátria, da sociedade ou do parentesco do sangue, ou de raças, portanto valores internacionais — tornar-se-ia hipócrita se procurasse desempenhar o papel de patriota. É o aviltamento de homens perante homens, que alimenta, admira ou enaltece o ódio nacional”.

Demais, há somente dois grupos na Terra: os sofredores e os que causam sofrimento. E, na eterna luta entre o bem e o mal, são desiguais as perspectivas, sendo por vezes necessário um século para edificar o que um só dia destruiu. Já que nos não é dado criar, nada destruamos.

Recear a verdade, ser escravo de convenções, é um crime.

A Verdade não se impõe, porque a Natureza em si a revela.

Já Goethe dizia que sempre fôssemos sinceros, repetindo a verdade tantas vezes quantas se fizesse necessário.

A verdade é igual em todos os povos, mas cada povo arquiteta uma verdade só para si, a que chama de seu idealismo ou de seu nacionalismo.

Ninguém será livre, se se não libertar de todo o preconceito e é um fato que existe uma ciência dos povos e, assim, dos homens, representada pelo coração, além da dos livros.

Precisais de libertar-vos da ilusão da pátria, bem como da crença ou do predomínio desta ou daquela raça. A pátria, é bem o mundo no qual estais, e a crença deve ser a da tolerância e a do perdão contínuo, visto que as raças se confundem, para vermos nelas um todo homogêneo.

Devemos ser Samaritanos das almas, e dar mensagens vivas de fraternidade aos homens, que são todos nossos Irmãos.

Schiller, já há 150 anos, dizia que havia trocado a sua pátria provisória, pela comum, que é a da Humanidade no seu todo. Aceitemos os homens como são, mas não nos associemos às suas fantasias ou loucuras. Apesar de saber que os conselhos não se devem dar a ninguém, pois quem tem senso deles não precisa, e quem o não tem não reconhece sua utilidade, eu, limito-me a transmitir-vos o que pude aprender aí, ou, depois, por aqui.

No mundo que aí vem, a caridade material desaparecerá, porquanto é um dever que se vos impõe assistir, dividir eficientemente, de forma a que o mendigo esfarrapado e fétido, não mais exista. Se tudo é de Deus e se todos somos irmãos, é um crime reter aquilo de que o semelhante precisa.

Reparai ainda em que a vida não é mais que uma certa soma de acontecimentos. O mais humilde, de qualquer de nós, tem no seu íntimo, um infinito. E esse infinito, nos lembra o Todo!...

Procuremos demonstrar o parentesco divino, que em todos os tempos, liga um homem a outro homem. Que os homens do mundo deem as mãos, fraternalmente, uns aos outros, a despeito de todas as mentiras e de todos os ódios, e que se não separem mais, almejando o bem comum.

Tempo virá e como que já é chegado, em que se chocarão convicções e dever, cidadania e humanidade — o homem convencional e o homem livre!”

E, continuando em sua série de brilhantes comunicações, ainda nos deu mais esta o grande espírito de José do Patrocínio.

“Amigos: Ainda é da mais premente oportunidade, que continuemos apreciando o vosso tormentoso dia que passa.

Como vedes, cada vez mais se extremam as posições de cada um dos grupos, que representam o capitalismo sem Deus nem Lei — pois Jesus já a ele se referiu mordazmente — ou quantos aspiram a que haja, para toda a coletividade, indistintamente, um novo dia sobre a face da Terra, sem a torpe quão vergonhosa exploração do homem pelo homem.

A luta afinal, ferir-se-á entre explorados e exploradores, que se arvoram em donos de tudo quanto aí existe.

Jesus nunca mendigou, como afirmam determinados fariseus da atualidade, visando a contentar os esfaimados e oprimidos. Ele veio dar e não receber. Não veio solicitar dos homens aquilo que lhes não pertence, mas que momentaneamente lhes é concedido, para que melhor sejam postos à prova.

O progresso é bem aquele carro sem travão, da frase de Junqueiro, e a avalanche vem descendo a serra, impetuosamente, não havendo forças humanas que a detenham.

O mundo exige que a verdade se revele em tudo e em todos. Como folhas sopradas por violento tufão, as mentiras ou as convenções, caem estrepitosamente.

O mundo inteiro pertence ao homem livre. Notai que as forças mais poderosas, arrasadoras de cidades ou de remos, são impotentes contra o homem que possua a vontade e a intrepidez de ser livre.

Os grandes banqueiros, industriais ou negocistas, querem uma nova guerra, para assim obter mais lucros; mas quem haverá de empunhar armas não serão eles, nem seus filhos ou netos. Para o fazer, contam com a escória, a plebe, que forma os degraus por onde eles sobem, visto que são esses quem lhes faz a fortuna.

Estejamos ao lado dos oprimidos, porque há deles por toda a parte, Jesus os amou, e lhes dedicou o melhor de seu precioso tempo.

O choque, mais hoje, mais amanhã, virá, porquanto a atmosfera terrena como que se encontra irrespirável. Na mão de um insignificante número, está aquilo que Deus deixou no mundo, para todos os seus filhos.

Já Tibério, afirmava, que os soldados derramavam o seu sangue e morriam, unicamente para defender a riqueza dos poderosos. Enquanto que estes tudo têm, os que se sacrificam, não possuem um só palmo de terra, onde possam ser amortalhados.

Tudo indica, que esta geração, tem um encontro marcado com o Destino. Estamos às portas do grande dia de Juízo de uma época, que se caracteriza pela maldade e pelo terror. Vem ai, pois, o dia do Deve ou do Haver, do prêmio ou do castigo.

Veneno e remédio parecem-se terrivelmente, mas seus efeitos são diametralmente opostos.

Na atualidade, a mocidade caminha às cegas, sem desejar saber para onde a empurram, e vive artificialmente a vida sem mérito, porque sem horizontes morais, do futebol, que os governos do mundo habilmente exploram, para, com isso, a cocainar.

Profeticamente, Vitor Hugo, disse que este século seria grande e forte. E, será, pois os homens instintivamente caminham, a passos apressados, para a sua definitiva carta de alforria, porquanto, a que existe, é quimérica. Este final de século, vai dar aos homens possibilidades tais, que em poucos anos, eles evolverão mais que até agora em alguns séculos.

A luta trava-se entre quantos almejam o status-quo passado e atual, cujas raízes provêm do feudalismo, e aqueles que acham, com razão, que o mundo é por demais suficiente para a todos fazer felizes. O dia da felicidade e da justiça para todos, profetizada por Isaias, vai ter plena confirmação, a princípio, imperfeita, até que todos se adaptem ao “fazei sempre o que desejais que vos façam”.

Todos os povos são devedores uns aos outros. Pagai vossa dívida comum, cumprindo vosso dever todos juntos.

Urge que caminheis do homem nacional, para o de cidadão do mundo! E refletindo, como é necessário, como é vosso dever, chegareis à conclusão de que só tendes duas pátrias, que são a terrestre e a espiritual.”

Outras comunicações, inclusive de Emmanuel, captadas por Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, e trazidas por Macedo, vêm corroborar as mesmas ideias e convicções dos espíritas progressistas que bem sabem encarar o Espiritismo em seu aspecto social e moral. Ao amigo José Fuzeira, como pregador de grande valia, deseja-lhe as maiores luzes e assistência do Alto — para que melhor ensine e oriente os que escutam seu verbo — procurando seguir no rastro luminoso do Cristo.

Um abraço do velho confrade e amigo de sempre
ANTÔNIO JOSÉ ALVES


Notas de rodapé:

(1) Eduardo Bellamy, “Daqui a cem anos” (retornar ao texto)

Inclusão 15/08/2018