Discurso contra uma organização político-econômica unificada do movimento operário

Rosa Luxemburgo

1918/1919


Primeira Edição: Intervenção no Congresso de fundação do Partido Comunista Alemão - 30 de dezembro de 1918 a 12 de janeiro de 1919

Tradução: Isabel Maria Loureiro - Esta tradução foi feita de acordo com a seguinte edição: Rosa Luxemburg, Gesammelte Werke, Vol.4, Berlim, Dietz Verlag, 1987. A terceira parte, a única vertida para o francês, foi cotejada como a tradução de Claudie Weill. In Rosa Luxemburg, Oeuvres II (Ecrits politiques 1917-1918), Paris: Maspero, 1978. Os títulos das várias partes do discurso foram dados pela redação. Agradeço a Oswaldo Giacóia Júnior a leitura atenta e as sugestões dadas no tocante ao primeiro e ao segundo discurso.

Fonte: Editora e ano de edição não identificados

HTML: Fernando Araújo.


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Índice:

Discurso a favor da participação nas eleições para a Assembleia Nacional

Discurso contra uma organização político-econômica unificada do movimento operário

Nosso programa e a situação política

Camaradas! Não só não lamento que no atual debate se desenvolva o assim chamado debate sindical mas, ao contrário, congratulo-me com ele. Compreende-se que, no momento em que enfrentamos a tarefa de tratar dos problemas econômicos, imediatamente tropecemos na enorme trincheira erguida perante nós nos sindicatos. A questão da luta pela emancipação é idêntica a questão da luta contra os sindicatos. Temos dez vezes mais razões para isso na Alemanha do que em outros países. Pois a Alemanha foi o único país em que, durante os quatro anos da guerra, não ocorreu qualquer movimento salarial, e isso em consequência de palavras de ordem dos sindicatos.

Mesmo se os sindicatos não tivessem feito mais nada, só por isso mereceriam perecer. No decorrer da guerra, e na revolução, até os dias de hoje, os sindicatos oficiais revelaram-se uma organização do Estado burguês e da dominação de classe capitalista. Por isso é evidente que a luta pela socialização na Alemanha precisa, em primeiro lugar, tratar de liquidar os obstáculos erguidos pelos sindicatos contra a socialização. De que maneira se poderá levar a cabo essa liquidação? Que estrutura positiva deve ser posta no lugar dos sindicatos?

Devo pronunciar-me decididamente contra a sugestão dos camaradas de Bremen que, na sua moção,(1) propõem uma assim chamada organização unificada. Eles não perceberam uma coisa. É hora de formar os conselhos de operários e de soldados como portadores de todas as necessidades políticas e econômicas e como órgãos de poder da classe operária. Este é, em primeiro lugar, o ponto de vista correto para os órgãos de luta econômica.

Nos princípios,(2) encontra-se exposta uma ideia diretriz: os conselhos de operários são chamados a dirigir e fiscalizar as lutas econômicas a partir das próprias fábricas. Conselhos de fábrica, eleitos por delegados de fábrica, em conexão com os conselhos de operários, saídos igualmente das fábricas, unidos na cúpula dos conselhos econômicos do Reich. Vocês verão que os princípios outro resultado não têm senão um completo esvaziamento de todas as funções dos sindicatos (Aplausos). Expropriamos os sindicatos das funções que lhes foram confiadas pelos operários e das quais se desviaram. Substituímos os sindicatos por um novo sistema sobre bases totalmente novas. Os camaradas que propagandeiam a organização unificada parecem imbuídos da ideia...(3)

Esses eram meios e caminhos que se podiam seguir antes da revolução. Hoje precisamos concentrar-nos no sistema dos conselhos de operários, e não associar as organizações por meio de combinações das velhas formas, sindicato e partido, mas erigi-las sobre uma base totalmente nova. Conselhos de fábrica, conselhos de operários, e numa ascensão contínua, um sistema totalmente novo, que nada tem em comum com as antigas e ultrapassadas tradições.

Não se trata de aceitar, no último momento, a moção de Bremen e Berlim.(4) Igualmente, a palavra de ordem de saída dos sindicatos tem para mim uma pequena dificuldade. Onde ficam os colossais recursos que se encontram nas mãos daqueles senhores? Esta é apenas uma pequena questão prática. Não gostaria que na liquidação dos sindicatos os vários aspectos fossem esquecidos, e não gostaria de uma cisão, na qual talvez uma parte dos recursos do poder ainda ficasse naquelas mãos.

Concluo com a moção: gostaria de pedir-lhes que enviem as moções aqui apresentadas para a mesma comissão de economia que redigiu os princípios. Ela foi eleita pelos conselhos de operários e de soldados, que se encontram no terreno da Liga Spartakus, e trabalha com a participação de membros da central spartakista. Ela não se sente autorizada a elaborar resoluções definitivas, mas, ao contrário, redigiu os princípios para apresentá-los aos camaradas em todo o país. Os membros devem ocupar-se com isso para que tudo seja erigido sobre a base mais larga e democrática, para que cada indivíduo participe. Então estaremos seguros de que aquilo que foi criado é fruto maduro da luta. Peço-lhes que considerem as sugestões apenas como sugestões, que as enviem à comissão econômica e que submetam as diretrizes aos membros.


Notas de rodapé:

(1) Referência à moção de Felix Schmidt (Hannover) e camaradas, pela qual os membros do KPD seriam obrigados a sair dos sindicatos e a construir o KPD como organização político-econômica unificada. Essa moção foi rejeitada. (Nota da edição alemã.) (retornar ao texto)

(2) Referência às “Reivindicações econômicas de transição para os trabalhadores da indústria e do comércio”, publicadas em parte na Freiheit (Berlim) n.º 83, de 31 de dezembro de 1918 e no Deutschen Allgemeinen Zeitung (Berlim), n.º 664, de 31 de dezembro de 1918, e que foram distribuídas no Congresso do partido. (Nota da edição alemã.) (retornar ao texto)

(3) Interrupção no texto. (Nota da edição alemã.). (retornar ao texto)

(4) Referência à moção de Felix Schmidt (Hannover) e camaradas (ver nota 1), assim como à moção de Ernst Rieger (Berlim), na qual a filiação aos sindicatos era rejeitada por ser vista como incompatível com os objetivos e tarefas do KPD; a moção reivindicava a formação de organizações operárias revolucionárias locais, limitadas, as chamadas organizações unificadas, para a realização das lutas econômicas. (Nota da edição alemã.) (retornar ao texto)

Inclusão: 22/01/2022