Impermeabilizemo-nos Contra as Manobras Subversivas, Intensificando a Ofensiva Ideológica e Organizacional no Seio dos Combatentes e Massas

Samora Moisés Machel

1973


Primeira Edição: ....

Fonte: Mozambique History Net

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Prefácio

capa
Baixe o arquivo em PDF

Ao relermos hoje este texto do Camarada Presidente Samora Machel, elaborado em 1973, não pode deixar de surpreender-nos a actualidade que ele conserva, apesar de se terem modificado muito, desde então, as circunstâncias históricas e políticas no nosso País.

Produzida em resposta a uma situação concreta — a ofensiva de subversão desencadeada pelo inimigo contra a FRELIMO, após a derrota da “Operação Nó Górdio" — a análise profunda que aqui é feita pelo Camarada Presidente aos objectivos e métodos de acção do inimigo, tem, no entanto, um valor e uma acuidade permanentes. Porque, no fundamental, não se alteraram esses objectivos nem esses métodos; apenas foram adaptados pelo imperialismo e seus agentes às circunstâncias actuais.

Tal como em 1973, o inimigo procura hoje enfraquecer-nos ideologicamente, minar a nossa organização, a nossa disciplina, infiltrar as nossas estruturas — pois sabe que só assim poderá destruir-nos. Tal como então, o inimigo utiliza hoje as nossas fraquezas e insuficiências como brechas por onde tenta introduzir os seus valores, os seus hábitos de vida, as suas concepções, os seus agentes físicos e morais. Tal como então, o racismo, o tribalismo, o regionalismo, a ambição, os vícios herdados da sociedade colonial-capitalista constituem a força de choque da ofensiva dirigida contra as nossas estruturas, contra o nosso poder.

É por isso que encontramos, neste texto produzido em 1973, o o retrato da acção inimiga no nosso seio em 1980. Só algumas formas de actuação se tomaram mais subtis ou mais sofisticadas pois, tal como nós, também o inimigo aprende das derrotas sofridas. Neste texto podemos encontrar também os antídotos essenciais contra a acção subversiva do inimigo: o reforço da unidade ideológica, da vigilância, da disciplina, da organização, o combate permanente e implacável contra tudo aquilo que pertence à zona do inimigo, contra tudo aquilo que nos pode dividir ou enfraquecer.

No momento em que, sob a direcção pessoal do Camarada Presidente, desencadeamos, em todo o País, uma ampla ofensiva organizacional, no momento em que lançamos as bases para a liquidação do subdesenvolvimento, no momento em que também o- imperialismo intensifica e aperfeiçoa a sua acção contra o nosso Partido e o nosso Estado Popular; neste momento, em particular, o presente texto constitui para nós matéria preciosa de estudo e reflexão. Ele vem reforçar, de forma significativa, o armamento ideológico de que dispomos para a presente fase do combate.

Departamento do Trabalho Ideológico do Partido — FRELIMO Maputo, Janeiro de 1980

Introdução

Ao comentar a derrota da grande ofensiva «Nó Górdio» em 1970, o General Sá Viana Rebelo, então Ministro da Defesa Nacional do Governo colonial-fascista, declarou que o único método para destruir a FRELIMO era a subversão.

Já em 1967, quando as nossas forças tinham passado a uma fase superior da luta, implantando as bases do poder popular e desencadeando operações de grande envergadura, o inimigo recorrera à subversão para deter o avanço impetuoso do nosso combate.

Foi derrotado, mas sofremos reveses. De novo, hoje ele intensifica a subversão, esperando que tenhamos relaxado a nossa vigilância por causa dos grandes sucessos que alcançamos.

Em particular, de 1972 para cá têm-se sucedido vagas contínuas de subversão. Nos agentes inimigos encontramos velhos e jovens, homens e mulheres, antigos membros da FRELIMO e falsos desertores das fileiras inimigas.

As massas organizadas e armadas pela nossa linha têm desmascarado e destruído as ofensivas subversivas.

Mas não basta: devemos sintetizar a experiência adquirida, devemos rever as insuficiências que ainda temos e que constituem sempre as brechas por onde o inimigo tenta penetrar.

O presente texto resulta de numerosas reuniões com as massas e combatentes onde, em conjunto, sintetizámos as nossas experiências.

Trata-se, pois, de um texto de estudo que deve ser enriquecido pela nossa, prática e análise.

Presidência Novembro de 1973.

1. As grandes derrotas político-militares sofridas pelos colonialistas portugueses obrigaram o inimigo a intensificar a acção subversiva, o terrorismo e o crime, como únicos meios para salvar os seus interesses.

2. O nosso Exército Popular, que tem a missão de ser uma força de vanguarda na defesa dos interesses populares e que, pelo combate armado contra o inimigo, libertando a terra e os homens, cria as condições materiais para a aplicação da nossa linha, é um alvo central para a subversão e crimes do inimigo.

3. Os nossos centros, onde transformamos o homem, onde educamos este na mentalidade nova que revolucionariza Moçambique, são o objectivo que o inimigo mais procura destruir. Compreende-se: a guerra é um conflito armado entre duas linhas políticas opostas que reflectem interesses antagónicos. A destruição dum centro, em que se educa o Homem na consciência dos seus interesses de explorado e se lhe inculca os princípios da nossa linha, só pode resultar na neutralização da acção de transformação do homem e, por isso, traduz-se em vitória para o inimigo.

4. Os fracassos sofridos pelo inimigo tomam-no mais cruel e mais pérfido, mais refinado e criminoso. Velhos e novos métodos subversivos e criminosos são introduzidos e combinados.

Para levar a cabo a sua acção subversiva, o inimigo conta com dois elementos principais:

  1. Os agentes infiltrados e traidores.
  2. As nossas insuficiências.

Modo de Actuação e Objectivos dos Agentes

5. Os agentes actuam das mais diversas maneiras: uns camuflam-se de combatentes da FRELIMO e vão cometendo crimes e provocações contra as populações, incluindo europeias, para criar confusão sobre os objectivos e métodos da FRELIMO; outros procuram passar despercebidos, de maneira a viverem no nosso seio para nos desagregar politicamente, espionar e cometer crimes contra o Povo, a Organização e a sua direcção.

Mas, sejam quais forem os métodos e objectivos imediatos, na sua essência a acção inimiga visa três alvos políticos essenciais:

6. Na maneira de agir dos agentes, nós encontramos sempre alguns destes objectivos que se manifestam pelas acções de:

  1. Dividir as massas, utilizando para isso o tribalismo, o regionalismo, o racismo, a superstição, a religião. O inimigo que nos massacra pretende ensinar-nos quem são os nossos amigos e inimigos.
  2. Desmobilizar e desorganizar as massas, e levá-las a desistir da luta armada contra o colonialismo.

Para isso, procura-se explorar as dificuldades criadas pela acção inimiga e fazem-se promessas fantásticas e ridículas de vida confortável e agradável no arame farpado.

O inimigo que nos explora e oprime pretende ensinar-nos onde viveremos melhor.

  1. Criar contradições entre as massas e o Exército Popular, a fim de isolar e aniquilar este, deixando as massas sem o seu braço armado.

Para isso, o inimigo ou comete provocações e crimes contra o Povo, camuflando-os de acções nossas, ou tenta fazer confundir os erros de indivíduos com a linha da Organização.

O inimigo, que está a ser destruído pelas forças armadas criadas pelo Povo, pretende levar-nos a destruirmos a nossa própria força.

  1. Desmobilizar e desorganizar o Exército, a fim de que este cesse de cumprir as tarefas da Organização.

Para isso, o inimigo tenta umas vezes fomentar o espírito de vitória que, através da subestimação táctica do inimigo, conduz ao relaxamento do estudo e vigilância. Outras vezes fomenta o espírito de derrota, o receio do inimigo no ponto de vista estratégico, a destruição da visão de progresso da nossa luta e a destruição do espírito de superar dificuldades.

O inimigo, explorando o regionalismo e o espírito de conforto, procura ainda provocar deserções das zonas de avanço para a retaguarda, duma região para outra.

O inimigo que é derrotado pelas nossas forças pretende ensinar-nos que espírito devemos possuir, onde devemos combater e como devemos viver.

  1. Criar contradições no seio da Direcção para a dividir, semeando a desconfiança e paralisando-a assim.

Para isso, o inimigo fomenta o espírito de ambição que leva a classificar as tarefas revolucionárias em pequenas e grandes. Nesta acção ele mobiliza ainda o tribalismo e o regionalismo, a fim de que as pessoas comecem a ver nos membros da Direcção representantes de grupos linguísticos e regiões, em vez de verem na Direcção a expressão do poder popular e os representantes da linha.

  1. Criar contradições entre a Direcção e a base para isolar a Direcção e assim ser fácil a sua liquidação.

Para isso, o inimigo lança campanhas para demonstrar que a Direcção vive muito bem e a base muito mal. Campanhas de boatos para denegrirem a integridade e honestidade revolucionárias de certos camaradas são desencadeadas. Invenções absurdas e calúnias baixas são lançadas. As dificuldades e sacrifícios criados pela acção criminosa do inimigo são imputados a elementos da Direcção. Assim se procura criar a desconfiança entre nós para se desagregar a unidade no seio da Direcção e a unidade entre esta e a base.

O inimigo, que é derrotado pela orientação correcta dada pela Direcção, pretende vir dizer-nos quem deve estar na Direcção e com que tarefas, o que representa a nossa Direcção e como deve ela agir.

  1. Fomentar e estimular ideias e comportamentos reaccionários, para esbater a demarcação entre as zonas, corromper as massas e particularmente a juventude, a fim de destruir ou bloquear o processo da Revolução.

Para isso, o inimigo utiliza métodos insidiosos na nossa zona, como na zona que ele ocupa, tentando transformar esta última num bastião de ideias e gostos reaccionários, impenetrável à Revolução.

Assim, entre a juventude escolar é fomentado o desprezo pelo trabalho manual e pelas massas, classificadas de brutas e incapazes, a fim de se criar uma elite nos centros de ensino, totalmente integrada nas ideias burguesas. A esta juventude é-lhe inculcada ainda a ideia que deve dirigir a Nação e o Poder conquistado pelo combate das massas ditas ignorantes. Esta ofensiva, que entre nós atingiu o ponto culminante no período 1967-1968, é hoje intensificada nos estabelecimentos escolares das zonas ocupadas.

O princípio de combate contra o individualismo e de valorização do espírito colectivo é classificado como destruição da personalidade. O combate de transformação da mentalidade pela combinação da educação política com a prática dá produção, da luta política e armada com a experimentação científica, é tratada como lavagem do cérebro. A destruição de vícios e defeitos pela combinação do combate interno com a crítica das massas e autocrítica é exposta como uma humilhação degradante. A abolição dos castigos físicos em favor da reeducação da mentalidade é denunciada como destruidora da dignidade. O combate pela emancipação da mulher e instauração de um novo clima e tipo de relações entre o homem e a mulher, fundadas na igualdade e respeito mútuo, é concebido como antinatural e contrário às tendências e instintos humanos, opostos às nossas tradições. À preocupação em liquidarmos os gostos e vícios degradantes introduzidos pelos exploradores — tais como o consumo de drogas, a embriaguez e a prostituição — é difamada como restritiva das liberdades individuais e preocupação por coisas pequenas e secundárias.

O inimigo que corrompe, degrada e humilha, que explora e oprime, pretende vir-nos ensinar como devemos viver, quais devem ser os nossos gostos e moralidade.

  1. Provocar pequenas e numerosas violações da nossa disciplina e criar desordens no nosso seio, para nos desviar a atenção do nosso combate contra o inimigo principal.

Assim, fomentam-se saídas ilegais dos nossos centros e zonas, estimula-se o consumo de bebidas alcoólicas e de drogas, incentiva-se a prostituição. Outras vezes, para combater a formação científica do homem, lançam-se campanhas para' disseminar a superstição nas mais diversas formas. Procura-se ainda introduzir a preguiça que é um germe do espírito capitalista e explorador. Tenta-se criar a atitude de recusa de cumprimento de tarefas, ou de cumprimento indiferente das tarefas, sem preocupação pelo tempo e modo de as cumprir.

O inimigo, que assumiu que à nossa disciplina é o reflexo da nossa linha e a sentinela desta, pretende levar-nos, a nós mesmos, a agredirmos e destruirmos a nossa sentinela, para melhor nos poder assaltar.

As Nossas Insuficiências

7. Os agentes inimigos, ao virem actuar no nosso seio, contam com as nossas insuficiências e limitações, com os nossos vícios e defeitos, que constituem para eles como que acampamentos morais reaccionários instalados nas nossas cabeças.

Reconhecermos esses acampamentos morais reaccionários e combatê-los é liquidar as fraquezas que o inimigo explora e considera como seus verdadeiros aliados. A destruição desses acampamentos morais reaccionários limita o campo do inimigo e deixa-o isolado: com efeito, ao fazermos isso, aprofundamos a demarcação entre o comportamento das duas zonas e, assim, detecta-se imediatamente qualquer acção ou ideia estranha.

8. As principais insuficiências que detectamos na fase presente são as seguintes:

a. O tribalismo, o regionalismo e o racismo: estes são os comandantes-em-chefe das forças morais inimigas. Eles fazem-nos perder o sentido de quem é amigo e quem é inimigo, criam-nos confusão sobre o alvo para as nossas armas, dividem-nos, enfraquecem-nos, criam as condições para sermos devorados e aniquilados bocado por bocado. O tribalismo, o regionalismo e o racismo impedem-nos de assumir a grandeza do nosso país e da nossa luta, fazem-nos perder o sentido do nosso combate. Com eles deixamos de saber por que combatemos, contra quem combatemos, quem são as forças que combatem connosco, quem são os nossos aliados naturais.

Tribalismo

O tribalismo semeia o princípio de que há grupos étnicos superiores e inferiores, corajosos e não corajosos, inimigos do opressor e submissos ao opressor, com mais direitos e menos direitos, com mais representantes na Direcção e menos representantes.

Esta e a velha arma do colonialismo, que ele nunca abandonará. Arma que já provou os seus méritos infames na liquidação da resistência nacional à conquista colonialista.

O inimigo considera com razão o tribalismo o seu melhor amigo.

O General Kaúlza de Arriaga, no curso que deu em 1966-1967 aos Altos Comandos Portugueses, apreciava o tribalismo da seguinte maneira:

“No que respeita à qualidade da população, há um outro factor que perturbou, segundo me parece, alguns dos senhores e talvez mesmo tenha escandalizado alguns, que é este: o factor positivo estratégico resultante de a grande massa da população negra estar ainda em estado tribal. Com perturbação ou sem perturbação, com escândalo ou sem escândalo, esse factor é altamente positivo.”

O tribalismo é a arma estratégica do colonialismo, o factor altamente positivo com que ele conta para nos derrotar.

Hoje estamos a vencer a guerra porque estamos unidos. Estamos a construir uma Nação porque liquidámos a tribo. Ganhámos a nossa personalidade e respeito mundial porque do Rovuma ao Maputo e do Oceano Indico aos confins de Tete, aparecemos como um só Povo, suportando todos os sacrifícios e superando dificuldades, para conquistar a independência nacional e instalar o poder popular.

Regionalismo

O regionalismo insidiosamente pretende que certas regiões combatem mais do que outras e que, por isso, devem ser privilegiadas, que existem no nosso País regiões que se querem libertar e outras que não querem.

Esta é uma variante rejuvenescida do tribalismo, uma camuflagem da velha arma da divisão.

Todas as regiões do nosso país combatem e odeiam o colonialismo, o imperialismo e a exploração. Nenhuma região poderia combater sozinha e a luta que se desenvolve em cada sítio é o resultado da luta que se desenvolve em toda a parte. Um braço que pretendesse viver fora do corpo logo apodreceria.

Os regionalistas não sabem assumir a visão do conjunto e por isso são incapazes de compreender a causa da existência de fases diferentes da luta no nosso País. Combatentes de todo o Moçambique sacrificaram-se para libertar cada uma das regiões do nosso país. Nas zonas ocupadas pelo inimigo, em condições muito difíceis e no meio da repressão mais cruel, clandestinamente as massas preparam-se para desencadear a luta armada. Enormes efectivos inimigos estão concentrados e paralisados nas zonas em que ainda não se desencadeou a luta armada, porque o inimigo compreende precisamente que as zonas dominadas são um campo de minas que pode rebentar a qualquer momento.

Racismo

O racismo classifica os Povos e as pessoas em função da cor da pele. Assim, ser-se inteligente ou não, ser-se trabalhador ou preguiçoso, ser-se patriota ou lacaio, ser-se revolucionário ou não, não dependeria do comportamento pessoal mas da cor da pele.

O racismo divide as forças revolucionárias tanto no plano interno como internacional e conduz-nos a unirmo-nos com reaccionários.

O colonialismo, o imperialismo e o capitalismo não têm cor nem raça e nem têm Pátria.

O renegado e traidor é de todas as raças. A nossa luta tem provado que os agentes mais perigosos, os que vêm minar os caminhos das populações e os que se infiltram no nosso seio são sobretudo pretos como a maioria do nosso Povo.

O racismo desvirtua o sentido da nossa luta e leva-a a transformar-se numa luta reaccionária e fascista entre raças. A nossa luta é uma luta revolucionária dos explorados contra os exploradores. É uma luta política, ideológica, económica, cultural e social, fundada nos interesses das largas massas trabalhadoras oprimidas.

O racismo impede-nos de integrar a nossa luta no combate geral da Humanidade contra o colonialismo, o imperialismo e a exploração do Homem, opõe-se abertamente ao internacionalismo que é um ponto fundamental da nossa linha.

O racismo combate a solidariedade internacional e nega a nossa experiência. A prática da nossa Revolução demonstra largamente que todos os Povos, incluindo o Povo português, todas as raças, incluindo a branca, apoiam a nossa luta.

Ambição

b. A experiência demonstrou-nos já que não é no seio das massas que se encontram os defensores do tribalismo e regionalismo, assim como do racismo.

Os verdadeiros altifalantes destas teorias reaccionárias do inimigo são os ambiciosos.

Os ambiciosos classificam as tarefas em grandes e pequenas, recusando o nosso princípio justo de que todas as nossas tarefas são grandes porque servem a Revolução e o Povo.

Os ambiciosos não reconhecem as suas incapacidades e limitações, exageram a sua contribuição à luta e desprezam a dos outros. Continuamente exigem privilégios para si e não se preocupam com a situação das massas.

Em cada camarada dedicado à Revolução e competente no seu trabalho veem um concorrente que é preciso destruir. Praticam a política de fechar as portas à promoção de novos quadros e, quando veem novas forças aderirem à luta, sentem-se contrariados e ameaçados nas suas posições.

Para atingirem os seus fins mesquinhos e egoístas fomentam campanhas de boatos para denegrir e destruir

os que consideram como rivais e criam um clima de desconfiança e opressão contra as novas forças para as isolar e desmobilizar.

Os ambiciosos disseminam ideias tribais, regionais e racistas para tentarem constituir uma força que os apoie nos seus objectivos. Dividem-nos, querem dividir as massas para consolidarem o seu poder. Destroem, na prática, a demarcação entre amigo e inimigo, a fim de, na confusão, defenderem as suas posições. Recorrem à corrupção e suborno de camaradas para os utilizarem nas suas manobras pérfidas.

Os ambiciosos são criminosos em potência: para satisfazerem a sua ambição, estão prontos a recorrer ao crime. Nuns casos, podem organizar a liquidação física de camaradas definidos como concorrentes. Noutros casos, aliam-se com o inimigo principal para conquistarem o poder. Quando descobertos ou quando veem que já não têm campo para as suas manobras, desertam.

Vícios Herdados

c. A falta de combate interno, a falta dum ambiente de crítica e autocrítica, permitem que os gostos, vícios e defeitos herdados da outra zona e que constituem verdadeiros acampamentos inimigos instalados nas nossas próprias cabeças, se desenvolvam e controlem o nosso pensamento e comportamento.

Uma vez dominados por esses gostos, vícios e defeitos, o inimigo que nos estuda estará pronto a tudo fazer para os alimentar.

Escravizados que nos encontramos, estamos prontos a trair a Pátria e a vender o Povo, a conduzir camaradas à morte, para, em troca, recebermos o dinheiro, a bebida, a prostituta que nos satisfaça na nossa podridão.

A guerra e o conforto, a revolução e a corrupção são incompatíveis, não coexistem.

O gosto pelo conforto e corrupção leva-nos a violar a nossa linha e agredir a nossa disciplina. Obrigatoriamente, cedo ou tarde, o nosso comportamento será conhecido por alguns e, para mantermos o comportamento relaxado que acarinhamos, faremos compromissos com esses alguns que conhecem os nossos pontos fracos.

O compromisso significa tolerarmos violações da linha e da disciplina, para que as nossas próprias violações não sejam denunciadas. O compromisso é uma aliança na base de gostos decadentes.

O compromisso é uma expressão do liberalismo, uma tentativa de reconciliação e coexistência de linhas e comportamentos que são opostos.

A coexistência com a linha e a vida da zona inimiga significa, na prática, combate contra a nossa linha e a nossa vida. Com efeito, o principal meio para educarmos os combatentes e as massas é o nosso exemplo; ora, desde que o nosso exemplo seja o da outra zona, estamos a educar as massas e combatentes para seguirem a velha vida.

O relaxamento moral, os compromissos e o liberalismo destroem a demarcação entre nós e o inimigo. Quando a demarcação é destruída, os agentes físicos do inimigo podem pulular sem ser reconhecidos, pois, que nada distingue a sua vida da nossa, as suas acções das nossas.

A prática tem demonstrado sistematicamente que os destacamentos, distritos ou centros, em que o inimigo se infiltra mais facilmente, são aqueles em que precisamente o relaxamento moral domina.

O combate interno e a luta aberta contra os gostos da outra zona, vícios e defeitos, são uma condição indispensável para nos tornarmos impermeáveis ao inimigo.

Militarismo

d) O espírito militarista — o conceber-se todos os problemas em termos puramente militares, o transformar-se a disciplina numa obediência cega às ordens do escalão superior, o querer fazer-se dos militantes e combatentes autómatos executores do comando — é uma insuficiência muito grave.

O militarismo é a linha dos fascistas. O militarismo exprime a linha política de dominação terrorista das massas pelas classes exploradoras. O militarismo é a disciplina do medo e a punição, da supressão da liberdade de pensamento e discussão.

As tendências militaristas manifestam-se de duas maneiras no nosso seio:

  1. O desprezo pelo trabalho político, pela instrução política e pelo estudo político. A valorização única das operações e da instrução militar, a separação das operações e da instrução da linha política.
  2. O desprezo pelo trabalho organizacional no seio das massas. Estas são concebidas apenas como carregadores de material e fornecedores de comida.

Estas manifestações, quando não exprimem uma ignorância crassa, manifestam uma concepção reaccionária.

É o trabalho político que nos dá alicerces sólidos para a nossa unidade, que nos faz compreender e assumir a grandeza do nosso País, a razão de ser da nossa luta e a sua dimensão. É este trabalho que aguça e sensibiliza a nossa consciência contra qualquer desvio ou agressão contra a linha, por mínimos que sejam. É o trabalho político que cria as condições ideológicas para a transformação da mentalidade e da sociedade. É o trabalho e estudo políticos que nos definem os alvos das nossas armas e nos explicam com quem devemos unir e contra quem devemos combater.

O trabalho organizacional toma operativa a unidade, leva as ideias à prática, conduz a linha a materializar-se no detalhe do quotidiano.

Sem o trabalho político privamos as massas da arma fundamental da nossa ideologia, desarmamos o Povo. Sem o trabalho organizativo, embora possuindo a arma, condenamo-la a enferrujar-se pelo não uso.

Quando as massas estão organizadas e armadas da nossa linha política, elas são sensíveis à mais pequena ofensiva ideológica reaccionária e detectam no embrião qualquer tentativa de infiltração inimiga. Além disso as massas organizadas e armadas da nossa ideologia impedem-nos de desviarmos a linha e de cairmos vítimas dos nossos vícios e defeitos, protegendo assim a Direcção física e politicamente.

Espírito de "Sabe-Tudo"

e) O espírito de “sabe-tudo”, de “dono” da política e da guerra, que não tem nada para aprender, além de reflectir a mentalidade capitalista, um orgulho desmesurado, ridículo, e uma tacanhez enorme de espírito, é o caminho rápido e seguro para a estagnação mental.

O desprezo pelo estudo político, que é uma recusa da Revolução, não permite elevar o nível da nossa consciência e responder às exigências crescentes da Revolução, conduz-nos a sermos ultrapassados.

Sem o estudo político constante, perdemos a noção da fase em que nos encontramos do processo revolucionário e da guerra. Ficamos desorientados sem conhecer as exigências, a estratégia e táctica a serem seguidas. Encontramo-nos perdidos perante a complexidade da fase presente caracterizada, por um lado, pela transformação da guerra colonial em guerra imperialista de agressão, e por outro, pela intensificação de manobras políticas destinadas a camuflar a agressão. Não saberemos como orientar os combatentes e as massas nas tarefas da implantação do poder popular e democrático e reconstrução da Pátria.

O desprezo pelo estudo científico, que reflecte a preguiça mental e complexo de superioridade, impede-nos de desenvolvermos a luta em todos os sentidos e tirarmos a melhor utilização dos nossos efectivos e armas, de melhorarmos e diversificarmos a nossa produção, de elevarmos o nível dos nossos serviços educacionais e sociais.

Nós combatemos um inimigo bem armado, instruído, com uma experiência secular de guerras de agressão e opressão, habituado aos métodos mais cruéis e às manobras mais pérfidas. O inimigo beneficia ainda dos conselhos e instruções dos seus aliados imperialistas, todos eles experimentados em guerras de agressão.

Neste quadro, subestimar o estudo político que nos esclarece sobre as intenções do inimigo e subestimar o estudo científico que nos torna mais aptos a dominar a natureza e as armas, é cegamente convidarmos derrotas ou sacrifícios inúteis.

Espírito de Vitória

f) O espírito de vitória leva-nos a conceber a Revolução e a guerra como um processo linear em que caminhamos de vitória para vitória. O espírito de vitória impede-nos de estudarmos e tirarmos lições dos fracassos e erros, que são vistos como casos isolados, e assim leva-nos a repetirmos os mesmos erros. O espírito de vitória conduz ao desprezo táctico do inimigo e por isso deixamos de estudar o inimigo e ficamos surpreendidos pelas suas novas manobras e crimes. O espírito de vitória é uma manifestação de subjectivismo, de superficialidade de análise.

Uma expressão particularmente perigosa do espírito de vitória é a de considerar como revolucionários, automaticamente, todos os que vivem connosco ou crescem nas nossas zonas e centros.

Não se considerar que onde há revolução é obrigatório surgir a contra-revolução, ignorar que onde há linha correcta que defende os interesses das largas massas devem surgir forças que, identificando-se às classes exploradoras, procuram destruir a linha correcta, é criar as condições para que o inimigo fraco se consolide e se tome forte.

O princípio de não combater o jacaré quando, pequeno, vive nas margens do rio, esperando destruí-lo quando, grande, penetra nas águas profundas, conduz a sacrifícios inúteis.

À medida que a revolução progride e ganha assim novas forças conquistadas pela clareza dos nossos princípios e prática, aparecem traidores e renegados. A revolução progride destruindo os privilégios das minorias opressoras e exploradoras, impedindo que surjam novas forças exploradoras e opressoras que substituam as antigas. Por isso, os que não têm campo para satisfazer as suas ambições mesquinhas erguém-se contra nós. A revolução progride transformando os nossos gostos decadentes, herdados da velha sociedade, destruindo os nossos vícios e defeitos. A nova vida ganha as largas massas, mas o punhado de corruptos renitentes ergue-se contra nós.

Pensar-se que ser antigo nas nossas fileiras, viver e crescer nas nossas zonas transforma automaticamente as pessoas em revolucionárias, é ignorar o peso das ideias, gostos e comportamentos reaccionários, é permitir, que cresçam e proliferem, em toda a liberdade, pequenos e médios reaccionários, que um dia se tomarão grandes reaccionários.

O combate entre as duas linhas, entre a revolução e a reacção, é um combate permanente e diário que nunca pode ser relaxado.

A prática demonstrou na História da nossa Revolução, como na História de todas as revoluções, que o progresso é acompanhado de oposição e que é entre veteranos e antigos que o inimigo recruta os melhores agentes, traidores e renegados. A cobra escondida no capim é mais perigosa do que a cobra exposta no quintal nú.

9. A luta contra as manobras subversivas do inimigo não é nova para nós. É tão antiga como a Revolução e durará enquanto houver Revolução, quer dizer, sempre.

O principio da contradição é universal e permanente, a Revolução cria os seus inimigos.

O Povo - Defensor da Revolução

10. A base da defesa da Revolução encontra-se nas largas massas. A Revolução pertence-lhes, é o resultado dos seus sacrifícios inúmeros, é a sua esperança de uma vida digna e melhor.

É pois às massas que deve ser confiada a tarefa de destruição das manobras subversivas.

São as massas organizadas e armadas da nossa ideologia quem pode criar um muro impenetrável a todas as infiltrações inimigas, defendendo assim a Revolução e a vida dos seus dirigentes.

A vigilância e a segurança não são actividades secretas dum grupinho especializado.

A vigilância faz-se em toda a parte e em todo o momento e só as largas massas estão em toda a parte em todo o momento.

11. É no círculo e é no grupo e secção, é sob a orientação dos Comités do Partido em cada sector de trabalho e em cada destacamento, que a vigilância deve viver.

É a este nível que deve ser desencadeado o combate contra as nossas insuficiências, gostos corruptos, vícios e defeitos, que são as brechas por onde o inimigo penetra.

É a este nível que devemos desalojar todos os comportamentos e ideias que não se coadunam com a nova vida.

É a este nível que se opera a demarcação com o inimigo, se cria o fosso intransponível para os seus agentes físicos e morais.

12. Na luta contra as manobras pérfidas do inimigo devemos pôr em aplicação a palavra de ordem:

“IMPERMEABILIZEMO-NOS CONTRA AS MANOBRAS SUBVERSIVAS, INTENSIFICANDO A OFENSIVA IDEOLÓGICA E ORGANIZACIONAL NO SEIO DOS COMBATENTES E MASSAS”


A acção subversiva do inimigo visa três alvos políticos essenciais: a) a nossa unidade, que é a nossa força motriz; b) a nossa linha, que define as bases da unidade, o inimigo, os nossos objectivos e métodos; c) a nossa disciplina, que é a sentinela da nossa linha política.

★★★

Os agentes inimigos, ao virem actuar no nosso seio, contam com as nossas insuficiências e limitações, com os nossos vícios e defeitos, que constituem para eles como que acampamentos morais reaccionários instalados nas nossas cabeças.

★★★

As principais insuficiências que detectamos entre nós na fase presente são as seguintes: a) O tribalismo, o regionalismo e o racismo: estes são os comandantes-em-chefe das forças morais inimigas. b) A ambição: os ambiciosos são os altifalantes das teorias reaccionárias. c) Os gostos, vícios e defeitos herdados da outra zona e que constituem verdadeiros acampamentos inimigos instalados nas nossas cabeças. d) O espírito militarista, o transformar-se a disciplina numa obediência cega às ordens do escalão superior, o desprezo pelo trabalho político e organizacional. e) O espírito de «sabe-tudo», de «dono» da política e da guerra que não tem nada para aprender. f) O espírito de vitória, que nos impede de estudarmos e tirarmos lições dos fracassos e erros, e assim nos leva a repetirmos sempre os erros.

★★★

A vigilância e a segurança não são actividades secretas dum grupinho especializado. A vigilância faz-se em toda a parte e em todo o momento e só as largas massas estão em toda a parte em todo o momento. São as massas organizadas e armadas da nossa ideologia quem pode criar um muro impenetrável a todas as infiltrações inimigas, defendendo assim a Revolução e a vida dos seus dirigentes.

Inclusão 27/09/2018