Nossa Política: Prestes Denuncia os Objetivos de Traição Nacional das Provocações Anti-Comunistas

Luiz Carlos Prestes

4 de Março de 1952


Primeira Edição: Texto da entrevista concedida por Luiz Carlos Prestes e publicada jornal «Imprensa Popular» do dia 4-3-1952.
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 40 - Maio-Junho de 1952.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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PERGUNTA: Poderia dizer-nos algumas palavras sobre a atual campanha contra o comunismo no país e, mais especialmente, sobre a falada infiltração comunista nas forças armadas?

RESPOSTA: Com todo o prazer, pois, mais do que nunca é indispensável que o povo brasileiro conheça a verdade e não se deixe levar pelo barulho que fazem os provocadores de guerra com o objetivo de assustar as pessoas de nervos fracos, conseguir ludibriá-las e separá-las de todos aqueles que em nossa pátria lutam pela paz e pela independência nacional.

É um fato que a reação policial aumenta no país. O governo do sr. Vargas já não faz grande questão de salvar as aparências e aparece cada vez mais com a sua verdadeira catadura de inimigo do povo. Mas o que todos precisamos compreender é que isso não significa força, pois, ao contrário, traduz a fraqueza do governo. As tentativas que faz no sentido da implantação do fascismo no país, a onda de reação que procura desencadear, tem explicação no fato de que é cada vez maior a resistência do nosso povo aos planos guerreiros e colonizadores dos imperialistas americanos. Apesar das tentativas feitas, Vargas ainda não pôde enviar tropas brasileiras para a Coréia, nem entregar o petróleo, nem consegue impedir que o proletariado e o povo, lutem contra a fome e a miséria. Nem pôde, também, sufocar a vontade de paz de nosso povo que continua se manifestando com vigor crescente. Nestas condições, para atender às exigências cada vez mais prementes de seus Patrões americanos, procura tomar novas e mais severas medidas de repressão contra o povo na esperança de conseguir assim quebrar essa resistência. Em todo o país lares são assaltados, os patriotas e democratas, sob qualquer pretexto, são arbitrariamente detidos, espancados, torturados pelos carrascos policiais, a imprensa popular é perseguida, e associações populares têm suas sedes invadidas e são diariamente ameaçadas em sua vida e atividade.

E, quanto aos militares, é claro que os patriotas e democratas fardados não poderiam escapar dessa onda reacionária. Eles também sofrem as conseqüências da política de guerra do sr. Vargas. Os militares brasileiros possuem uma velha e gloriosa tradição de patriotismo e de apoio a todos os grandes movimentos populares. Os generais e almirantes americanos já comandam hoje as forças armadas brasileiras mas não conseguiram eliminar suas melhores tradições. Ora, o governo do sr. Vargas, obediente aos seus patrões americanos, faz o possível para transformar as forças armadas nacionais em bandos de mercenários e em policiais, carrascos de nosso próprio povo, quer fazer das forças armadas brasileiras um mero departamento do F.B.I. americano e de cada quartel um local de tortura. Civis e militares, inclusive mulheres, como ainda há pouco ocorreu em Pernambuco, são detidos, espancados e torturados sob ordens diretas de oficiais fascistas e lacaios do imperialismo. Tanto no Exército, como na Marinha e na Aeronáutica, já existem corpos de Polícia que prendem a civis e militares e que se especializam nas brutalidades contra o povo. Mas a maioria dos militares brasileiros — oficiais e soldados — não se presta a tão indigno papel e, daí, a necessidade da intimidação que, como não podia deixar de ser, é feita sob a bandeira do anticomunismo, da luta contra a «infiltração comunista» nas forças armadas.

Tudo isso, porém, não quebra a resistência dos militares dignos e patriotas, como não diminui a vontade de luta de todo o povo. Ao contrário, tais fatos só podem aumentar a indignação das massas que vêem cada dia mais claramente para onde o governo de Vargas quer arrastar a nação, só podem elevar seu desejo de luta em defesa da paz e da pátria, das liberdades e de melhores condições de vida.

PERGUNTA: Pensa, então, que está em ligação com isso a atual agitação feita pela imprensa reacionária em torno do «perigo comunista»?

RESPOSTA: A atual gritaria em torno do velho fantasma do «perigo comunista» não tem nada de original, é a repetição de outras anteriores e, certamente, não será a última. O fenômeno vem se repetindo nos últimos meses, como vagas sucessivas, mas com a característica nova e muito particular de que morrem sem alcançar a repercussão certamente desejada pelo sr. Vargas e demais agentes ianques em nossa terra. E isto é um bom sintoma da situação que atravessamos, é um indício de maior compreensão política das grandes massas.

Vejamos o que se passa: enquanto o sr. Vargas, de um lado, manda assinar o tratado militar com os Estados Unidos — terrível ameaça à vida de nossa juventude — e, logo em seguida, sanciona a nova lei do serviço militar, que permite a convocação imediata de todos os brasileiros de 17 a 45 anos, sejam ou não reservistas, de outro lado mobiliza os mercenários a serviço do imperialismo americano para gritaria do «perigo comunista», das «conspiratas comunistas», dos golpes armados preparados pelos comunistas», etc. e tenta, assim, ocultar da nação os novos crimes cometidos contra a sua segurança e o seu futuro. Ao mesmo tempo que os jornais da «sadia» e as agências telegráficas americanas transformam em «revolução comunista» no Rio Grande do Norte a um simples tiro de uma sentinela assustada, o Sr. Vargas manda apressar no Congresso a votação do seu projeto que entregar o petróleo brasileiro à Standard Oil. O objetivo é claro: assustar com o comunismo para ir completando a venda do país ao imperialismo e dando passos no caminho da preparação para a guerra.

Mas não se trata apenas disso — o sr. Vargas espera também criar no país um ambiente de nervosismo, ou de pânico mesmo, que lhe permita conseguir do Congresso as leis de exceção para implantar «democraticamente» a ditadura aberta e mobilizar a nossa juventude para as guerras de Truman. Nosso povo, porém, assim como não se intimida com a reação policial, já não se deixa enganar por essa gritaria de policiais e generais reacionários, e nem se deixa levar pelas mentiras da imprensa de aluguel. E, isto, certamente, é um sinal dos tempos. O povo brasileiro já aprendeu muito, já amadurece politicamente. Não há dúvida que o esforço feito pelos comunistas nos últimos anos para elevar o nível político das grandes massas operárias e populares começa a produzir seus frutos.

PERGUNTA: Pensa, então, que o nosso povo pode barrar essa marcha para o fascismo e enfrentar vitoriosamente a ameaça de guerra?

RESPOSTA: Sem dúvida alguma, desde que o povo brasileiro tome em suas mãos a causa da paz e a defenda até o fim.

O grande Stálin, chefe do governo soviético e campeão mundial da paz, disse há poucos dias que a guerra não está hoje mais próxima do que há dois ou três anos atrás. Isto se deve fundamentalmente à política de paz da URSS e à resistência crescente dos povos que no mundo inteiro lutam pela paz, muito particularmente ao heroísmo com que o povo coreano, ajudado pelos voluntários chineses, tem resistido à brutalidade da agressão norte-americana. A paz vem sendo imposta pelos povos e isto é um fato também aqui em nosso país. A ameaça de guerra aumentaria, porém, para o nosso povo, na medida em que enfraquecesse a sua resistência. Estou certo, no entanto, de que o povo não deixará de lutar, que há de lutar com redobrado vigor para liquidar os intentes monstruosos de seus piores inimigos. E é neste sentido que desejo aproveitar esta oportunidade para fazer um novo apelo a todo o nosso povo.

É um dever de todos os patriotas não permitir que o povo seja enganado pelas manobras criminosas dos provocadores de guerra. Enquanto o Sr. Vargas procura dividir a nação em comunistas e anti-comunistas a imensa vontade de paz da maioria esmagadora da nação e isolemos o pequeno grupo de traidores e reacionários que desejam uma nova guerra mundial e tudo fazem para arrastar nosso país às aventuras criminosas do governo dos Estados Unidos. Dirijo-me a todos os brasileiros independentemente de posição social, de seus pontos de vista políticos, de suas crenças religiosas, e a todos apelo para que se unam para defender a paz e para libertar o Brasil da crescente escravização pelos monopólios americanos. Nenhuma pessoa honrada pode deixar de lutar contra os crimes que os generais ianques estão cometendo há quase dois anos na Coréia. É indispensável que se levante no país inteiro um vigoroso protesto contra o crime da guerra bacteriológica já iniciada pelo governo de Truman e que constitui ameaça à vida de todos os povos. Nosso povo não pode continuar por mais tempo vítima da fome crescente nem permitir que prossiga venda do país e sua completa submissão à criminosa política dos provocadores de guerra do Departamento de Estado norte-americano. Exijamos a anulação do último acordo militar com os Estados Unidos, lutemos contra o aumento dos efetivos militares do país, não permitamos que o petróleo brasileiro seja entregue à Standard Oil, que seja aprovado no Congresso o projeto entreguista do sr. Vargas, exijamos a liberdade de todos os presos políticos e que cessem as perseguições policiais contra os operários grevistas, contra os partidários da paz e contra os patriotas civis ou militares que lutam em defesa do petróleo e da soberania nacional. Nós, comunistas, não apelamos para golpes militares nem para conspiratas de generais, porque estamos certos de que é a força do povo organizado com a classe operária à frente que há de quebrar a política de guerra do atual governo, de derrotá-lo politicamente, até conseguir substituí-lo por um governo efetivamente democrático e popular, que liberte o país do jugo imperialista, que assegure a entrega gratuita da terra dos latifundiários aos trabalhadora do campo, que desloque nossa pátria do campo da guerra e da reação para o campo da paz, da democracia e do socialismo.


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Inclusão 18/02/2011