Nossa Política: União para Salvar o Brasil da Guerra e da Ruína

Luiz Carlos Prestes

Junho de 1953


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 47 - Julho de 1953.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

desenho Prestes

PERGUNTA — Que acha da atual reforma ministerial?

RESPOSTA — O sr, Vargas muda os homens na esperança de enganar o povo e poder, assim, continuar a sua política de traição nacional, de preparação do país para a guerra, de fome e reação para o povo. A crise, no entanto, é muito mais profunda e traduz a crescente desmoralização e impopularidade do governo do sr. Vargas. Nosso povo não está disposto a morrer de fome nem quer ser arrastado às aventuras guerreiras do imperialismo americano. É o que demonstram suas últimas lutas, especialmente as grandes greves de São Paulo e agora esta magnífica unidade nacional dos trabalhadores marítimos. Mesmo os industriais, comerciantes e agricultores não se sentem tranqüilos e demonstram não confiar na política do atual governo. Não basta, portanto, substituir os homens; é necessário mudar de política, o que significa mudar o próprio Vargas. Ora, o novo ministério do sr. Vargas é ainda mais doméstico que o anterior, seus componentes nada representam politicamente, são meros serviçais ou "amigos", como dizem, do sr. Vargas. O próprio sr. Aranha já declarou para tranqüilizar os patrões ianques que fará a mesma política do sr. Láfer. É fácil imaginar, portanto, que os preços continuarão subindo. Os ricos serão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Da atual situação que já é de calamidade pública, continuaremos marchando para a catástrofe econômica se o povo, com a classe operária à frente, não conseguir unir-se para tomar os destinos da nação em suas próprias mãos e acabar de uma vez com esses governos de negocistas, que vendem o Brasil e escravizam e lançam na miséria milhões de brasileiros.

PERGUNTA — Como encara a vinda da esquadra americana ao Brasil?

RESPOSTA — Não é por acaso que o governo dos Estados Unidos envia agora ao Brasil tão poderosa força naval. A situação interna em nosso país preocupa o Departamento de Estado norte-americano. Nestas condições nada melhor — pensam os magnatas de Wall Street e seu governo — que mostrar ao Povo brasileiro os canhões com que massacram há três anos o heróico povo da Coréia. A ameaça é ridícula e só servirá para aumentar mais ainda o ódio de nosso povo aos incendiários de guerra norte-americanos.

A estadia das forças armadas ianques em nossas águas e em nosso solo constitui um insulto e uma humilhação que exige a repulsa veemente de todos os patriotas. Não queremos saber de guerra nem desejamos receber mercenários e assassinos com as mãos tintas de sangue de velhos, mulheres e crianças. Exigimos a paz na Coréia sem mais delongas. Não podemos deixar também de protestar contra a impertinência insultante destas sucessivas "visitas" de forças armadas ianques ao nosso país. O Parlamento brasileiro discute o problema do petróleo? — Mandam os ianques um porta-aviões e lançam seus aviões a jacto sobre a Capital do país. Os trabalhadores brasileiros lutam contra a miséria? Erguem-se contra o governo de Vargas? — Mandam os imperialistas ianques uma esquadra aos nossos portos... Aonde levará isto? E que significam semelhantes exercícios de uma esquadra estrangeira em nossas águas territoriais e em nossos portos? Os almirantes ianques estão, evidentemente, preparando seus subordinados para o desembarque em nossas costas e para a ocupação de nosso solo. Só não vêem isto os piores cegos, os que não querem ver. Todos estes fatos confirmam o que sempre disseram os comunistas e ajudam a, mais uma vez, caracterizar o governo do sr. Vargas, como um governo de traição nacional contra o qual não podem deixar de se levantar indignados todos os patriotas brasileiros.

PERGUNTA — Terá isto também alguma relação com o Pacto Militar?

RESPOSTA — Sim. O sr. Vargas ainda supõe possível vencer a vigilância patriótica do povo e levar à prática o chamado "acordo militar" que ratificou apesar da manifesta oposição da maioria esmagadora da nação. Neste terreno também, as insistentes denúncias dos comunistas estão mais uma vez confirmadas. A esquadra ianque aí está e junto com ela os aviões americanos fazem manobras de guerra em toda a nossa costa. Que é isto senão a mais aberta preparação para a guerra e a tentativa evidente de começar o quanto antes a aplicação do referido "acordo militar"? Mais do que nunca, o governo dos Estados Unidos quer soldados brasileiros para as suas guerras de agressão e espera que o sr, Vargas, a pretexto de cumprir a palavra empenhada, possa atendê-lo. A ameaça é grande, mas o povo unido tem forças bastantes para reduzir todos os acordos e tratados firmados pelo sr. Vargas a farrapos de papel. É indispensável, porém, que os patriotas mais esclarecidos, que tão vigorosamente lutaram contra a ratificação do "acordo militar", intensifiquem agora, ainda mais, a luta contra a sua aplicação. Assim como Vargas não pôde mandar soldados e navios brasileiros para a Coréia, como tanto desejou, se o povo for mobilizado e unido, não poderá jamais o sr. Vargas levar à prática o acordo de guerra que assinou com os seus patrões de Washington.

PERGUNTA — Que indica ao povo brasileiro em face da situação atual?

RESPOSTA — O momento exige a união de todos os patriotas. Precisamos salvar o Brasil da guerra e da ruína. Apelo por isso a todos os patriotas brasileiros para que se unam. Dirijo-me não apenas aos operários e camponeses e às pessoas das classes médias, mas a todos os brasileiros, mesmo os mais abastados, que não querem a guerra e desejam o progresso do Brasil. Dirijo-me às mães brasileiras para que salvem a vida de seus filhos. Dirijo-me aos moços que são a esperança da nação e que não podem descer à categoria miserável de mercenários para as aventuras sangrentas dos banqueiros ianques na Coréia ou em qualquer outra parte do mundo. Não podemos permitir que o atual governo arraste nosso país à guerra, que venda o sangue do nosso povo aos incendiários de guerra dos Estados Unidos, nem que continue sua atual política de reação policial crescente, de miséria cada dia maior para todos os trabalhadores e de negociatas vergonhosas. Diante desta situação nenhum patriota pode ficar insensível — unamo-nos todos contra o atual governo, por um governo que livre nossa Pátria da guerra, da escravização aos Estados Uniãos, que estabeleça relações comerciais com todos os países, um governo que assegure a liberdade e que seja capaz de resolver os problemas do povo. Para salvar o Brasil da catástrofe, nós, comunistas, estendemos fraternalmente a mão a todos os patriotas.


"A causa de Lênin é imortal. O tempo é impotente diante do gênio de Lênin. A imagem de Lênin vive no coração dos trabalhadores de todo o mundo, inspirando-os a lutar por uma nova vida, pela democracia, pelo Socialismo".
(Do informe de N. A. Mikhailov)

"A força do patriotismo soviético encontra-se no fato de que não tem como base preconceitos raciais ou nacionalistas, mas uma profunda dedicação e fidelidade do povo à sua pátria soviética e na fraternal cooperação dos trabalhadores de todas as nações de nosso país. No Patriotismo soviético combinam-se harmoniosamente as tradições nacionais dos povos e em geral os interesses vitais de todos os trabalhadores da União Soviética. O patriotismo soviético não desassocia, mas pelo contrário, aglutina todas as nações e nacionalidades de nosso país numa única família fraternal. Nisto se vêem as bases de uma amizade indestrutível e que se fortalece dia a dia entre os povos da União Soviética. Ao mesmo tempo, os povos da U.R.S.S. respeitam os direitos e a independência dos povos dos países estrangeiros e sempre manifestaram a sua disposição de viver em paz e amizade com os países vizinhos. Nisto se encontra a base das crescentes ligações que se fortalecem continuamente entre nosso país e os povos livres".
J. Stálin

logomarca problemas
Inclusão 13/04/2011