Após Dois Anos

J. V. Stálin

9 de Março de 1919


Primeira Edição: "Jizn Natzionálnostei"("A Vida das Nacionalidades"), n.° 8, 9 de março de 1919.
Fonte: J.V. Stálin - Obras - 4º vol., Editorial Vitória, 1954 - traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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capa

Fevereiro-Março de 1917

Revolução burguesa na Rússia. Governo de Miliukov-Kerenski. Partidos dominantes nos soviets: mencheviques e social-revolucionários. Dos 400 a 500 membros do Soviet de Petrogrado, apenas 40 a 50 são bolcheviques. Na primeira Conferência dos Soviets dos Deputados da Rússia[N66] os bolcheviques recolhem com dificuldade de 15 a 20 por cento dos votos. O Partido Bolchevique é naquele período o mais fraco de todos os partidos socialistas da Rússia. O seu órgão, a Pravda[N67], é por toda a parte tachado de "anarquista". Seus oradores, que convidam à luta contra a guerra imperialista, são arrancados das tribunas pelos soldados e pelos operários. As célebres teses do camarada Lênin sobre o Poder dos Soviets[N68] não são aceitas pelos Soviets dos Deputados. Os partidos defensistas de tendência social-patriótica, os mencheviques e os social-revolucionários, atravessam um período de pleno triunfo.

Entrementes, a guerra imperialista, que não terminou, continua a sua obra funesta, desagregando a indúsria, destruindo a economia agrícola, desorganizando os aprovisionamentos e os transportes, engolindo novas dezenas e centenas de milhares de vítimas.

Fevereiro-março de 1918

Revolução proletária na Rússia. Derrubada do governo burguês de Kerenski-Konoválov. Poder dos soviets no Centro e nas várias localidades. Liquidação da guerra imperialista. Passagem da terra para propriedade do povo. Organização do controle operário. Organização da Guarda Vermelha. Tentativa malograda dos mencheviques e dos social-revolucionários no sentido de entregar "todo o poder" à Assembléia Constituinte em Petrogrado. Dissolução da Assembléia Constituinte e malogro da restauração burguesa. Êxitos da Guarda Vermelha no Sul, nos Urais, na Sibéria. Os mencheviques e os social-revolucionários derrotados se refugiam nas regiões periféricas, onde se unem aos contra-revolucionários, concluem uma aliança com os imperialistas e declaram guerra à Rússia Soviética.

Nesse período o Partido Bolchevique é o mais forte e o mais coeso de todos os partidos da Rússia. Já no II Congresso dos Soviets de Toda a Rússia, em outubro de 1917, tem ele a maioria absoluta dos votos (65-70%). À medida que os soviets se desenvolvem, os bolcheviques não cessam de ganhar terreno. Referimo-nos não só aos soviets operários, onde os bolcheviques representam ao todo 90 por cento, e não só aos soviets dos soldados, onde eles são representados na proporção de 60 a 70 por cento, mas também aos soviets dos camponeses, onde os bolcheviques conquistaram a maioria.

Mas o Partido Bolchevique nesse período não é somente o mais forte, é também o único partido socialista da Rússia. Os mencheviques e os social-revolucionários, que então namoravam os tchecoslovacos e Dútov, Krasnov e Alexéiev, os imperialistas austro-alemães e anglo-franceses, perderam de fato e definitivamente todo o seu prestígio entre as camadas proletárias da Rússia.

Todavia, essa situação excepcionalmente vantajosa no interior do país, é enfraquecida e paralisada pelo fato de a Rússia não possuir ainda aliados externos; a Rússia socialista é uma ilha cercada pelo mar do imperialismo belicista. Os operários da Europa estão alquebrados, atormentados . . . mas são presa da guerra e não têm tempo de pensar na ordem socialista existente na Rússia, no modo de salvar-se da guerra, etc. Quanto aos partidos "socialistas" da Europa, estes, tendo passado para o campo dos imperialistas, não podem por certo deixar de difamar os bolcheviques, esses homens "irrequietos", que "perturbam" os operários com suas "perigosas experiências" que são pagas "por preço caro".

Não há nada de estranho, portanto, se nesse período se reforça no Partido Bolchevique a tendência de ampliar a base da revolução proletária, de atrair para o movimento revolucionário contra o imperialismo os operários do Ocidente (e também os do Oriente), de estabelecer ligações constantes com os operários revolucionários de todos os países.

Fevereiro-março de 1919

Ulterior fortalecimento do Poder Soviético na Rússia. Ampliação do seu território. Organização do Exército Vermelho. Seus êxitos no sul e no norte, no ocidente e no oriente. Constituição de repúblicas soviéticas na Estônia, Letônia, Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia. Derrota do imperialismo austro-alemão e revolução proletária na Alemanha, na Áustria, na Hungria. Governo de ScheidemannEbert e Assembléia Constituinte alemã. República Soviética na Baviera. Greves políticas em toda a Alemanha com as palavras de ordem "Todo o poder aos soviets!", "Abaixo EbertScheidemann!" Greves e soviets de operários na Inglaterra, França, Itália. Desagregação do velho exército nos países da Entente e nascimento dos soviets de soldados e marinheiros. Transformação do sistema soviético na forma universal da ditadura do proletariado. Reforçamento dos elementos comunistas de esquerda nos países da Europa e surgimento de partidos comunistas na Alemanha, Áustria, Hungria, Suíça. Ligação entre eles e coordenação de suas ações. Desagregação da II Internacional. Conferência internacional dos partidos socialistas revolucionários em Moscou[N69] e fundação do órgão comum de luta dos operários combatentes de todos os países, a III Internacional Comunista. Fim do isolamento da revolução proletária na Rússia: a Rússia agora possui aliados. A imperialista "Sociedade das Nações" em Paris e a conferência social-patriótica em Berna, que lhe dá mão forte, tentam salvaguardar os operários europeus do "contágio bolchevique", mas não atingem seu objetivo: a Rússia Soviética devia necessariamente tornar-se e de fato se tornou a porta-estandarte da revolução proletária mundial, o centro de atração das forças progressistas revolucionárias do Ocidente e do Oriente. O bolchevismo, de "produto puramente russo", transforma-se numa ameaçadora força internacional, que abala as próprias bases do imperialismo mundial.

Isso é agora reconhecido até pelos mencheviques, os quais, "tendo abandonado toda esperança" na Assembléia Constituinte e tendo perdido seu "exército", passam pouco a pouco para o campo da República dos Soviets.

Isso agora não é negado nem sequer pelos social-revolucionários de direita, os quais, após haverem-se aliado aos Koltchak e aos Dútov para salvar a Constituinte, foram obrigados a salvar a si mesmos no país dos soviets.

Conclusões

A experiência da luta de dois anos do proletariado confirmou plenamente as previsões dos bolcheviques sobre o malogro do imperialismo e a inelutabilidade da revolução proletária mundial, sobre a decomposição dos partidos "socialistas" de direita e a desagregação da II Internacional, sobre a importância internacional do sistema soviético e o caráter contra-revolucionário da palavra de ordem da Assembléia Constituinte, sobre a importância mundial do bolchevismo e a necessidade de fundar uma III Internacional combativa.

Assinado: J. Stálin.


Notas de fim de tomo:

[N66] A Conferência dos Soviets dos Deputados Operários e Soldados de Toda a Rússia, convocada pelo Comitê Executivo do Soviet de Petrogrado, realizou-se de 29 de março a 3 de abril de 1917. (retornar ao texto)

[N67] A Pravda (A Verdade), diário bolchevique, foi fundada em 1912 por indicação de Lênin e iniciativa de Stálin. Entre 1912 e 1914 o jornal foi suprimido oito vezes, mas reapareceu sob outros nomes. Reiniciou a sua publicação em 5 de março de 1917 como órgão central do Partido Bolchevique. Stálin passou a fazer parte da redação em conseqüência da decisão tomada na reunião ampliada do Bureau do C.C. do P.O.S.D.R. (b) a 15 de março de 1917. Em abril, após seu regresso à Rússia, assumiu-lhe a direção o próprio Lênin. Colaboradores íntimos do jornal foram: Mólotov, Svérdlov, Olminski, Samóilova, etc. Em 5 de julho a redação foi empastelada pelos alunos da escola militar e pelos cossacos. Depois que Lênin foi obrigado a passar para a ilegalidade, Stálin tornou-se o redator-chefe do jornal. De junho a outubro a Pravda, perseguida pelo governo provisório, mudou de nome várias vezes. Depois de 23 de julho a organização mi'itar do C.C. do P.O.S.D.R. (b) conseguiu publicar, como órgão central do Partido, o Rabótchi i soldat (O Operário e o Soldado), que desenvolveu considerável atividade no sentido de unir os operários e os soldados em torno do Partido Bolchevique e de preparar a insurreição armada. Suprimido em 5 de agosto, o jornal reapareceu sob o nome de Rabótchi Put (O Caminho Operário), que foi publicado até 26 de outubro. Em 27 de outubro de 1917 a Pravda, órgão central do Partido Bolchevique, reiniciou regularmente a sua publicação. (retornar ao texto)

[N68] Vide Sobre as tarefas do proletariado na revolução atual (Teses de Abril) no livro de Lênin La Rivoluzione d'Ottobre (A Revolução de Outubro), Edições Einascita, Boma, 1947, págs. 28 a 32.(retornar ao texto)

[N69] A Conferência internacional dos partidos socialistas interacionalistas realizou-se em Moscou de 2 a 6 de março de 1919. Nela tomaram parte 52 delegados dos mais importantes partidos da Europa e da América. Delegados do Partido Comunista da Rússia foram Lênin, Stálin, Vorovski e outros. A Conferência proclamou-se I Congresso da Internacional Comunista e nomeou o próprio Comitê Executivo, órgão executivo da III Internacional. A discussão mais importante girou em torno do informe de Lênin sobre a democracia burguesa e a ditadura do proletariado. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 16/10/2007
Última alteração 23/12/2012