O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril
Os 580 dias - Depoimentos orais e citações

Edições Dinossauro


Comecei a pensar no que de bom poderia vir
Maria da Glória Rodriges Borges, telefonista, 46 anos


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Na altura do 25 de Abril encontrava-me em casa, desempregada. Quando soube dos acontecimentos, comecei a ouvir as notícias. Na televisão passavam entrevistas com os presos políticos que estavam a ser libertados e os relatos das torturas da PIDE. Foi um choque tremendo. Se dias antes me tivessem vindo dizer que aquilo acontecia, não teria acreditado.

No 1º de Maio não saí de casa. A data não me dizia nada, estava calor e tinha de cuidar da minha filha. Fiquei parva quando pela televisão vi aquele mar enorme de gente. Nos meses que se seguiram fui-me interessando pela política e dei comigo a pensar no que de bom poderia vir. Participei numa ocupação, no Bairro Novo, para alojar dois casais. A casa ocupada já era velha, mas donde eles vinham ainda era pior. Ficou lá um piquete com umas 50 pessoas para impedir qualquer tentativa de despejo. Vieram as tropas e disseram que nos podíamos ir embora descansados. Nessa noite houve uma reunião da Câmara para resolver o problema. A assembleia foi uma “droga” porque os pcs estavam contra a manutenção da ocupação e acabou por não se decidir nada. Só mais tarde a situação foi desbloqueada pela UDP, que conseguiu a cedência de um terreno no Alto da Damaia para os ocupantes construírem as suas casas. Com a ajuda dos camaradas da UDP, que deram mão-de-obra e dinheiro, as casas foram construídas. A Câmara também ofereceu alguns materiais e dinheiro.

Não me passava pela cabeça que, estando as coisas no pé em que estavam, viessem a sofrer o retrocesso que sofreram. Não acreditava que o Vasco Gonçalves pudesse ser posto fora do governo. Quando aconteceu o 25 de Novembro já tinha noções políticas, que no entanto não deram para me aperceber da real dimensão do golpe militar. Percebia que aqueles acontecimentos não anunciavam nada de bom, mas o quê, isso não sabia.

★★★

O ataque que o RAL 1 hoje sofreu demonstra a todos que os fascistas que até aqui têm sido tratados com panos quentes continuam vivos e activos à espera da primeira oportunidade para esmagarem a classe operária.

Porquê um ataque ao RAL 1? Porque os soldados do RAL 1 sabem bem que os seus inimigos são os capitalistas e fascistas que nos têm oprimido e cada vez que vão para a rua sabem que só têm um papel a desempenhar, quer os senhores generais gostem, quer não: defender os operários e combater todos os reaccionários”.

(Comunicado dos militares do RAL 1 vítimas do atentado fascista de 11 de Março de 1975)

continua>>>


Inclusão 23/11/2018