O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril

Edições Dinossauro


Os 580 dias - Cronologia


1974

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25 Abril

Uma enorme multidão cerca o quartel do Carmo, onde se refugiaram Marcelo Caetano e Américo Tomás.

Confraternização entre a população e os soldados. Os pides cercados na R. António Maria Cardoso disparam, causando 4 mortos e dezenas de feridos. A multidão insiste para que os fuzileiros assaltem o edifício. No Porto a concentração envolve dezenas de milhar de pessoas. A polícia, apedrejada, entrincheira- se no edifício da Câmara e faz fogo sobre os populares.

26 Abril

Uma multidão rodeia e acompanha, descendo a avenida da República, a coluna de militares que assalta a sede da PSP. Da parte da tarde, são libertados os primeiros presos políticos, em Caxias; Em Lisboa, grupos de populares e militantes de esquerda começam a perseguir membros da Pide, que a tropa põe a salvo. Populares atacam as sedes da ANP, do jornal A Época e dos Serviços de Censura. Grupos de jovens andam pelas ruas com bandeiras vermelhas, dando vivas ao socialismo e apelando a um 1º de Maio vermelho. A CDE organiza uma grande manifestação e distribui um comunicado: “A hora é de festa, de acção, de luta e de amplas conquistas”. Generaliza-se a confraternização entre a população e os soldados.

27 Abril

Dirigentes das organizações de esquerda e extrema-esquerda são recebidos por Spínola. Libertação dos últimos presos políticos do forte de Peniche. Continuam as manifestações no Porto. Rendem- se os pides de Coimbra. Reunião da Intersindical Nacional saúda o MFA e apresenta um caderno reivindicativo de 14 pontos.

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28 Abril

Os moradores de barracas da Boavista, em Lisboa, ocupam casas vagas dum bairro social e recusam-se a sair, apesar de intimados pela polícia e pela tropa. É a primeira ocupação colectiva de casas.

29 Abril

Multiplicam-se os grupos de esquerda, que exigem o saneamento dos sindicatos e das juntas de freguesia. Os empregados de escritório ocupam o sindicato e expulsam a direcção. O Sindicato dos Trabalhadores Bancários controla as saídas de capitais nos bancos. No Porto, é saqueada a sede de um movimento estudantil de extrema-direita. Prossegue e alarga-se a confraternização com os soldados. Spínola autoriza a manifestação do 1º de Maio mas previne que, depois, há que pôr termo à agitação.

30 Abril

Sindicatos ocupam o Ministério das Corporações e Segurança Social, que se passa a chamar Ministério do Trabalho. São libertados presos políticos do Tarrafal e da cadeia de Machava, em Moçambique. Plenário de estudantes no IST reúne perto de 10.000 estudantes. Forma-se o MLM (Movimento de Libertação da Mulher), que apresenta como reivindicação imediata a contracepção e o aborto livres e gratuitos. Na Mague, os trabalhadores vêem satisfeitas as suas reivindicações depois de paralisações nos dias 25 e 26. Greve na empresa de transportes Transul.

1 Maio

Manifestação gigantesca em Lisboa, capaconvocada por inúmeras organizações, com serviço de ordem pelos militares; manifestação separada do MRPP. Comício e festejos, que se prolongam pela noite, dominados pela confraternização entre soldados e população e palavras de ordem contra a pide e os fascistas. Retoma as emissões a Rádio Renascença, após uma curta greve contra a censura a uma reportagem; após intervenção de delegados do MFA são nomeados dois administradores pelos trabalhadores. Mário Soares afirma no seu discurso no estádio 1º de Maio: “O núcleo principal da coligação teria de ser formado pelos dois partidos mais representativos da classe operária: o Partido Socialista e o Partido Comunista”. Libertação de 500 presos políticos em Moçambique.

2 Maio

Autorizado o regresso dos exilados, desertores e refractários e decretada a amnistia para os que se apresentem dentro de 15 dias. Demissão ou substituição das direcções de diversos jornais de Lisboa e do Porto. Ocupação em massa das casas vagas do bairro da Fundação Salazar, que passa a chamar-se Bairro 2 de Maio. Na MESSA os operários discutem o caderno reivindicativo e o fundo de greve.

3 Maio

Generaliza-se a ocupação de casas na cintura de Lisboa, com apoio de militantes de extrema- esquerda. Militantes do MRPP impedem o embarque de uma unidade militar para África. Reunião de vários milhares de trabalhadores da Siderurgia Nacional exige: readmissão imediata de todos os despedidos desde 1 de Janeiro, salário igual para todos; se estas reivindicações não forem satisfeitas até dia 6, a produção será paralisada. Trabalhadores do Diário de Notícias ocupam as instalações e impedem entrada de administradores. 3000 trabalhadores dos TLP ocupam instalações administrativas mas são evacuados pela tropa. Trabalhadores da Cidla exigem saneamentos. Libertados em Angola 1200 presos políticos.

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4 Maio

Confrontos entre a tropa e militantes de extrema-esquerda que impedem o embarque de 12 militares para as colónias, no aeroporto militar de Figo Maduro. O major Sanches Osório, homem de confiança do general Spínola, considera inoportuno debater a eventual participação dos comunistas no governo. Exigido o congelamento das contas bancárias dos governantes do antigo regime e a abertura de inquéritos sobre a morte de Humberto Delgado e os massacres em Moçambique.

5 Maio

Trabalhadores reúnem-se para exigir a demissão das administrações nos TLP, Caixa de Previdência de Faro, Hospital do Porto. No distrito de Évora, os trabalhadores transformam as Casas do Povo em Sindicato de Trabalhadores Agrícolas. Libertação dos presos políticos na Guiné-Bissau. Manifestação anticolonialista da Estrela até ao Rossio: “Nem mais um embarque para as colónias”, vivas ao PAIGC, MPLA e FRELIMO. Manifestação em Alcácer do Sal, reclamando a prisão de latifundiários. 10000 funcionários dos CTT reúnem-se sob a presidência de um carteiro para criar o seu sindicato. Trabalhadores da Alfândega do Porto exigem a demissão do director-geral como contra- revolucionário. O general Costa Gomes afirma que a luta contra os guerrilheiros continuará enquanto estes não depuserem as armas. “Os comerciantes fazem parte do povo trabalhador”, declara o Grémio do Comércio. No Brasil, o industrial Champalimaud faz o elogio da Junta de Salvação Nacional e em particular do general Spínola.

6 Maio

Um comunicado da Junta condena as reuniões nas empresas durante as horas de trabalho, a expulsão de pessoas com responsabilidades oficiais e os atentados à hierarquia. O PCP defende em comunicado a sua entrada no Governo Provisório, a par de outras forças democráticas. capaApela à união do povo com o MFA, condena o oportunismo de direita e o aventureirismo esquerdista, e as ocupações das juntas de freguesia e câmaras municipais. Uma manifestação do MRPP junta 500 pessoas em Lisboa. Na TAP, uma assembleia-geral de trabalhadores nomeia três delegados seus para participar na direcção da empresa com outros três nomeados pela Junta e exige a abertura de um processo que conduza à autogestão. Assembleia-geral dos trabalhadores metalúrgicos no Porto e em Matosinhos. Os operários da Siderurgia ameaçam com a greve, a direcção e funcionários oferecem-se como intermediários junto de Champalimaud. Início do processo de luta na Timex e eleição da CT. Assembleias da Carris e Sacor exigem saneamentos. Assembleias gerais de mineiros, trabalhadores dos hospitais de Coimbra, da rádio e televisão do Porto, do gás e electricidade do Porto, dos TLP de Lisboa e de Bragança, etc. Pescadores de Matosinhos voltam ao mar depois de 4 dias de greve. Assembleia de 3000 ferroviários decide destituir a administração e exigir saneamentos.

8 Maio

Manifestação em Belém dos moradores do Bairro da Boavista, de apoio à Junta de Salvação Nacional. Operárias da Timex apresentam ultimato à administração até dia 9.

9 Maio

Ocupação da Timex devido à ausência de resposta por parte da administração. Na Lisnave, os trabalhadores destituem a “comissão interna da empresa” e elegem a comissão de delegados, formada por 42 trabalhadores.

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Na Messa os trabalhadores apresentam o caderno reivindicativo. Greve de 4000 trabalhadores da construção civil da Torralta, em Tróia, por aumentos salariais e semana de 40 horas. Enfermeiros do Hospital do Ultramar denunciam o regime de “terror” que vigorava.

10 Maio

Início da greve na Timex. Os trabalhadores dos supermercados A.C. Santos ocupam as instalações e expulsam a administração para pôr termo aos despedimentos sem justa causa. Até 14 de Maio, a edição do Século é interrompida por desacordo entre a CT e os proprietários do jornal. Paralisação espontânea na Lisnave começa no sector de construção, com o objectivo de sanear a administração. Sem força para paralisar toda a empresa, voltam ao trabalho.

11 Maio

A Junta condena a ocupação de casas vazias pelos habitantes dos bairros de lata. Na Lisnave é apresentado o caderno reivindicativo. Assembleia nacional de ferroviários no Coliseu dos Recreios. Assembleia dos caixeiros reclama semana inglesa, enquanto no Porto reclamam saneamentos. Pessoal das oficinas das Forças Armadas pede aumentos salariais.

12 Maio

Dissolvida a polícia de choque. Greve dos pescadores da Nazaré. Na Covilhã, os operários de lanifícios iniciam greve intermitente em apoio da exigência de um aumento de 1000$00.

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13 Maio

Entram em greve os 1600 trabalhadores das Minas da Panasqueira. Manifestação dos moradores dos bairros pobres no Porto. Libertação dos presos políticos do campo de S. Nicolau em Angola. Operários da Lisnave dão um ultimato à administração para responder ao caderno reinvindicativo até dia 15. Assembleia com 6000 motoristas em Lisboa exige nova tabela salarial, 8 horas diárias, 13a mês e subsídio de férias. Trabalhadores da Firestone ocupam as instalações de Lisboa, Porto, Coimbra e Alcochete, exigindo o saneamento de um director estrangeiro.

14 Maio

Sargentos da Marinha apresentam caderno reivindicativo e elegem uma comissão representativa. Greve de 500 mineiros das minas da Borralha.

15 Maio

Assembleia geral dos trabalhadores da Timex aceita a proposta da Junta de demissão dos dirigentes a sanear, com levantamento de inquérito, e põe termo à greve. Os trabalhadores da Singer expulsam da empresa os dois principais dirigentes, estrangeiros, com o apoio da Junta de Salvação Nacional.

Greve nos lanifícios, transportes públicos (em que os grevistas não cobram bilhete aos passageiros), produtos farmacêuticos e construção civil. Tomada de posse de Spínola como presidente da República. No seu discurso afirma: “Em África, como aqui, evitaremos por todas as formas que a força de minorias, sejam elas quais forem, possa afectar o livre desenvolvimento do processo democrático”. Início da greve da Lisnave, com sequestro da administração. O cerco dura até ao dia seguinte. Trabalhadores da Sociedade Estoril fazem greve à cobrança de bilhetes, exigindo saneamentos. Pessoal da ITT em greve exige saneamentos. Continua a greve nas Minas da Panasqueira e na Firestone.

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16 Maio

Greve nas Refinarias, ITT, indústria vidreira, bancos, indústrias alimentares, Philips, seguros. Prossegue em alguns sectores dos estaleiros da Lisnave a greve para obter 7800 escudos de salário e 40 horas de trabalho. Início da greve com ocupação na Messa, com a participação massiva dos trabalhadoers e que dura 12 dias. Na posse do ls Governo Provisório Spínola afirma: “Atentados à democracia serão reprimidos, venham donde vierem”. O Comandante da Região Militar de Coimbra avisa em comunicado que “actuará com firmeza na repressão aos abusos, reuniões sem autorização legal, decisões ultrapassando as vias hierárquicas”. 20.000 operários dos lanifícios paralisados. Vários laboratórios suspendem a actividade.

20 Maio

Fim da greve nas minas da Panasqueira, sem obtenção das 40 horas. Prossegue a greve da indústria têxtil, que exige o pagamento dos dias de greve. Concentração dos operários têxteis e dos lanifícios junto ao Ministério do Trabalho. Alastra o movimento de ocupação de casas. A população protesta contra a decisão da Junta de Salvação de embarcar Américo Tomás e Marcelo Caetano para o Brasil. Trabalhadores da Companhias das Águas ocupam a sede da empresa.

21 Maio

Protestos de várias organizações de esquerda contra a libertação de Caetano e Tomás. 20000 metalúrgicos manifestam-se no Porto, exigindo assinatura do contrato. Os trabalhadores do Hospital de Santa Maria de Lisboa discutem em assembleia geral uma proposta de salários iguais para todos. Continuam as greves e os movimentos reivindicativos nos seguros, TAP, construção civil, indústria automóvel, produtos farmacêuticos, pescadores, Standard Eléctrica, químicos, hotelaria, ensino secundário. Os assalariados agrícolas reúnem-se para constituírem um sindicato. Empregadas domésticas lançam as bases de um sindicato.

22 Maio

Apresentação de um caderno reivindicativo com 23 pontoscapa pelos trabalhadores da Timex, com um prazo limite de resposta até 27 de Maio. Nos seguros, primeiros alertas dos sindicalistas membros do PCP contra a “anarquia económica”. Início da greve na Renault 6000 operários têxteis prosseguem a luta. Greve no maior supermercado de Lisboa.

23 Maio

Greve na Melka, fábrica de confecções de capitais suecos. A Intersindical chama a atenção dos trabalhadores para as greves inoportunas “encorajadas pela reacção”. Greve dos estudantes do secundário até serem atendidas as suas reivindicações contra os exames. Fim da greve na Lisnave.

24 Maio

Assinatura do acordo trabalho- capital que fixa o salário mínimo em 3300 escudos. Greve de 5 horas no Metro acaba em acordo entre a administração e os trabalhadores.

25 Maio

Os empregados da Rádio Renascença declaram-se “em autogestão”. A tropa é chamada, a pretexto de que os estúdios desta emissora católica estão ocupados pela extrema-esquerda. Descontentamento na base no sindicato metalúrgico, cuja direcção aceita um salário mínimo de 4500 escudos, quando os operários exigem 6000 escudos. Greve com ocupação na Berliet, contra os despedimentos colectivos. Cunhal avisa: “A greve generalizada pode levar ao caos”. Manifestação anticolonial da extrema-esquerda no Largo da Estrela, exigindo a libertação do capitão cubano Pedro Peralta, dispersada pela GNR e PSP, com carros de assalto e gases lacrimogéneos. Manifestação de rua de vários milhares de alunos do secundário exigindo a revogação imediata dos exames.

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26 Maio

Fim da greve nos têxteis com um acordo entre o sindicato, o patronato e o Ministério do Trabalho. Vários milhares de operários manifestam-se diante do edifício do ministério onde se desenrolam as negociações, gritando “viva a classe operária, viva a nossa greve’’ e ameaçam invadir o edifício se não se concluir o acordo. A direcção do sindicato pede calma e é acusada de proceder a “manobras estranhas”. A polícia vem proteger o edifício; duas horas e meia depois o acordo é assinado: 1000$ de aumento para todos. Manifestação de 20.000 metalúrgicos no Porto, diante da sede da associação patronal que negoceia com o sindicato. Greve num estaleiro naval a norte do Porto para salários de 6000$, um mês de férias pagas, 45 horas por semana e 13º mês. Os pequenos empresários reunidos em Lisboa apoiam a Intersindical no seu esforço para moderar os aumentos de salários.

27 Maio

Face ao atraso na resposta da administração, as operárias da Timex iniciam greve de zelo, com ocupação, imposição das 40 horas semanais, retenção de stocks de relógios e piquetes de greve. Manifestação desde o Feijó até Cacilhas, com distribuição de comunicados. Greve de 5000 trabalhadores da Carris em Lisboa, para exigir paridade com o Metro, apesar do parecer desfavorável dos sindicatos. Fim da greve na Messa. No Norte, prossegue a greve dos pescadores. Trabalhadores da panificação, contrariando o sindicato, entram em greve. Lisboa sem autocarros, nem eléctricos, nem pão. Fim das greves nos têxteis e lanifícios. Contra a comissão pró-sindicato, greve dos CTT no Terreiro do Paço. Em Bragança, o PC declara: “As greves selvagens não podem servir a causa dos trabalhadores”. O general Galvão de Melo lê na televisão o desabafo de um anónimo entristecido com a democracia: “Libertarem-se terroristas [guerrilheiros dos movimentos de libertação] e transformá-los em heróis nacionais!”

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28 Maio

Fim da greve na Messa; prossegue a dos transportes. Início da greve dos operários das padarias. Greve dos CTT em Lisboa. São ocupadas casa no bairro de S. João de Deus, no Porto. O MDP critica as “greves irresponsáveis”.

29 Maio

Fim da greve dos pescadores. Na greve dos trabalhadores da ponte 25 de Abril, não são cobradas portagens. O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Panificação considera que os operários das padarias “são manipulados pelos agentes dos patrões”; o patronato, por seu lado, atribui a greve a “elementos políticos da extrema-esquerda”. Spínola afirma no Porto: “Eis a primeira grande opção que o povo português tem de fazer: a liberdade democrática ou o anarquismo, aquele anarquismo que em todos os tempos foi o cancro demolidor das sociedades democráticas”. Abolidos os exames para todos os alunos com médias superiores a 10 valores. Na Lisnave são despedidos 600 trabalhadores das empresas associadas, por falta de navios.

30 Maio

Regresso ao trabalho nos transportes públicos, na Electrolux (em “solidariedade com o governo”) e nas padarias (onde as reivindicações não foram atendidas). Uma lista de oposição de esquerda apresenta-se às eleições do Sindicato de Empregados de Escritório, tradicionalmente influenciado pelo PC.

31 Maio

O pré dos soldados passa de 30$ para 250$ por mês e o rancho passa a ser igual para todas as patentes. Começam a aparecer as primeiras comissões de soldados. Criação do sindicato de vendedores de jornais. O Sindicato dos Ferroviários (próximo do PC) declara não querer “participar em aventuras perigosas para a consolidação da liberdade”. A Comissão de Trabalhadores do Metro contesta a decisão do governo de demitir a administração, por esta ter feito demasiadas cedências laborais.

Os sindicatos dos ferroviários declaram que já não querem a greve. Fim das greves das padarias, da Carris e dos pescadores.

1 Junho

Manifestação da Intersindical capacontra “a greve pela greve”; uma delegação é recebida pelo ministro (comunista) do Trabalho. Criação de comissões de apoio à greve da Timex. PS defende o controlo das greves pelos sindicatos. É nomeada uma comissão para elaborar uma lei da greve.

2 Junho

Manifestação violenta de soldados do contingente de Macau, contra o comando militar; segundo os jornais, o motim, que se tornou quase incontrolável, era dirigido contra os militares acusados de corrupção e desvio de fundos. Empregadas domésticas constituem o seu sindicato.

3 Junho

O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas informa que no teatro de guerra da Guiné as tropas portuguesas sofreram dezasseis feridos. Aprovados em Conselho de Ministros diplomas de amnistia para crimes comuns. Início da greve total da Timex. O MES afirma em comício: “A haver algumas ameaças fascistas, será muito mais provável que sejam promovidas pelos sectores da burguesia em decadência do que pelo capital financeiro”.

4 Junho

A Assembleia de Delegados das empresas de construção civil do Distrito de Lisboa deliberou, por unanimidade, que o Sindicato dos Operários da Construção Civil não deve filiar-se na Intersindical porque esta “não se mostrava interessada em reconhecer a comissão eleita pelos trabalhadores, dando mostras de partidarismo”. Trabalhadores das carnes exigem semana das 44 horas. Vitória da greve das trabalhadoras da Simões & Cia, em Benfica, por aumentos salariais e saneamento da administração. Greve de 1000 empregadas de limpeza. Várias centenas de donas de casa reúnem-se numa associação ligada ao Movimento de Libertação das Mulheres. É lançada a campanha para “Um dia de trabalho pela nação”, iniciativa do PC, que afirma: “Este apelo patriótico desperta uma adesão entusiástica”. Os trabalhadores da Applied Magnetics instituem a semana de 40 horas.

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5 Junho

Distribuído no Funchal um manifesto que defende a independência para a Madeira. Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do Porto expulsos das instalações da empresa Salvador Caetano. Noticia-se que Barbieri Cardoso, antigo subdirector da DGS, prepara golpe em Paris.

6 Junho

Manifestação do MES em Cabo Ruivo, de apoio aos movimentos de libertação das colónias. Greve de 8000 empregadas de limpeza, decretada pelo Sindicato dos Contínuos e Porteiros de Lisboa. Ocupação das instalações da Edil, contra o despedimento colectivo de 14 trabalhadores e a ameaça de mudança da sede da empresa. Mário Soares encontra- se com Samora Machel em Lusaca. Ao regressar, afirma: “É imoral haver negociações enquanto morre gente”. A LCI promove uma manifestação contra Pinochet.

7 Junho

Álvaro Cunhal comenta com militantes do seu partido que “o fim da guerra colonial não será fácil”. Saldanha Sanches, director do jornal do MRPP, é preso. O PCP, condenando os grupos de extrema-esquerda, afirma que eles “servem claramente não os interesses dos trabalhadores, mas os da reacção”. A URML propõe uma revolução radical.

8 Junho

Anúncio do debate da lei eleitoral. Manifestação em Lisboa, promovida por cabo-verdianos, de apoio aos movimentos de libertação.

9 Junho

Estabelecimento de relações diplomáticas com a URSS e a Jugoslávia.

10 Junho

Manifestação fascista em Lisboa de apoio ao “federalismo” com as colónias. Manifestação, da Avenida da Liberdade a Belém, de apoio ao MFA. Interrupção da emissão de TV, por parte da Junta de Salvação Nacional, por considerar a farsa teatral transmitida (representada no contexto das comemorações do dia de Portugal), ofensiva dos sentimentos católicos.

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11 Junho

Nomeação de dezasseis secretários e subsecretários para Angola e Moçambique.

12 Junho

As Forças Armadas comunicam a morte em combate de três militares. Anunciada nova classificação para a visualização do “Couraçado Potemkine” de Eisenstein: “Não aconselhável a menores de 13 anos - Pode ser visto por menores de 13 anos quando acompanhados por pais ou professores”. Reunião do Conselho de Ministros para analisar a criação de uma comissão de controle ad hoc da Informação, e aprovação de diplomas sobre restrições ao uso de greve, ocupação pelos trabalhadores, saneamentos, etc. Salário mínimo de 4500$00 para metalúrgicos assinado entre Sindicato e Ministério do Trabalho. Prisão de Ramiro Valadão. Manifestação de vários milhares de pessoas para reclamar a libertação do director do jornal do MRPP. As operárias da Sogantal ocupam a empresa e decidem passar a vender a produção. Os pides presos na Penitenciária de Lisboa iniciam greve da fome.

13 Junho

Manifestação unitária da extrema-esquerda (CBS, LCI, LUAR, PRP, GAPS) contra a prisão de Saldanha Sanches. O Secretário-Geral da OUA acusa:

“É a falta de nitidez e a confusão que ainda caracterizam a política portuguesa. Será isto deliberado ou acidental? Creio que é deliberado”. Encontro da Junta de Salvação Nacional com o MFA para análise da situação. Trabalhadores da Citroen de Mangualde ocupam a fábrica, contra o lock-out da administração.

14 Junho

Mário Castrim apela a “dizer não à greve sem razão”. Costa Gomes representa Portugal em reunião da NATO. Amnistia de mais de mil presos por delitos comuns. Nomeação de Silvério Marques para governador de Angola.

Cinco mil manifestantes, operários e patrões de pequenas e médias empresas, da Margem Sul gritam: “Não às greves!”, “Os empresários são filhos do povo”, “Não à anarquia, não ao desemprego, não à fome!”

15 Junho

Pescadores de Matosinhos entram em greve por melhores salários.

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17 Junho

Greve de 35000 trabalhadores dos CTT por aumentos salariais. Spínola, nos Açores em conversações com Nixon, exige a mobilização militar para acabar com a greve. Face à iminência da intervenção militar, a greve termina derrotada. Despedidos mais de vinte empregados da fábrica de confecções Liscosa de Corroios, que encerrou. Manifestação dos trabalhadores dos Laboratórios JABA contra o despedimento arbitrário de 7 trabalhadores. O exército atira sobre presos que tentam fugir da penitenciária de Lisboa. Há feridos.

18 Junho

Despedimento de dezasseis operárias da fábrica de ferragens Urfic de Tondela. O Secretário de Estado do Trabalho Carlos Carvalhas, em reunião pública com dirigentes sindicais do distrito de Santarém, manifesta- se contra os “que agora procuram semear a confusão, que defendem a greve pela greve e o caos económico”, afirmando que “Roma e Pavia não se fizeram num dia, nem Portugal será obra de alguns, mas a construção da maioria...O que não se compadece com a impaciência, ou com a doença infantil de queimar etapas.”. Tipógrafos da gráfica Carlos Marques, de Beja, entram em greve. Revolta em várias prisões de delito comum. Protestos contra a greve dos carteiros, que prossegue apesar de já ter conseguido o 13s mês e um dia de folga semanal.

19 Junho

Comunicados de apoio à luta dos CTT, do MES, LUAR e LCI. A União dos Sindicatos do Porto considera que a greve dos CTT foi precipitada, que “a população pode virar-se contra os trabalhadores” e sugere que alguns delegados sindicais poderão ser “pides ou legionários”. Manifestação de protesto frente ao edifício dos CTT na Praça da Batalha, Porto, com agressões aos trabalhadores e tentativa de assalto do edifício; seguiu posteriormente para o Regimento de Infantaria 14, manifestando a sua indignação. Magistrados da Covilhã expressam “a sua repulsa pela greve” dos CTT. Entraram em greve 600 trabalhadores da Ormis de Santa Iria e de Alcochete, contra a suspensão de um membro da CT. Os operários da Electomecânica de Automóveis manifestam-se contra o despedimento de 6 colegas.

20 Junho

Despedimento de 42 operários da Salvador Caetano de Ovar, por acordo entre a administração e o INTP, com base em critérios de assiduidade, rendimento, zelo e antiguidade dos trabalhadores. Fim da greve dos carteiros. Primeiros encerramentos de empresas têxteis.

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21 Junho

Contactos entre o exército e MPLA. Agentes da PIDE/DGS libertados em Moçambique.

Palma Carlos afirma ao Arriba, jornal falangista espanhol, que “o Pacto Ibérico mantém-se sem alterações e não se põe o problema da sua reforma”. Mário Soares ao Le Monde reafirma: “Somos fiéis à Aliança Atlântica”. Octávio Pato reclama contra a luta dos trabalhadores dos CTT, “que, entre outras reivindicações, exigem um horário de trabalho de 35 horas”, demonstrando com tal “que o que estava em causa era uma acção contra o Governo Provisório e contra a democratização do País. (...) O processo revolucionário não tem prazos...”. O Governo anuncia ter preparado a intervenção militar na greve dos CTT, a qual foi cancelada apenas porque a greve foi suspensa. Professores obtêm vitória ao obter do MEC o pagamento das férias. Manifestação de dois milhares de pessoas que exigem alterações do Código Civil para poderem divorciar-se. Comício no Pavilhão dos Desportos promovido pelo Movimento Nacional Pró-Divórcio. Primeiras restrições do governo à liberdade de imprensa.

22 Junho

O Ministério do Trabalho apela em comunicado de imprensa “a todos os trabalhadores, a toda a população portuguesa para que compreenda a luta dos trabalhadores dos CTT” pois “as condições de trabalho e remunerações destes são difíceis e baixas, e por isso é justo que eles lutem por melhores condições de vida...” e termina afirmando que “o que houve de errado na sua luta foi não atenderem ao momento extremamente importante e complexo que o País e a economia portuguesa atravessam, e lançarem-se imediata e abertamente em greve, pondo assim em perigo as conquistas democráticas já alcançadas...”. Trabalhadores da Companhia das Águas, que querem nacionalizações sem indemnização do capital privado, ocupam os serviços administrativos da empresa com o apoio de uma força de Lanceiros 2 (Polícia Militar). Criada a Comissão ad-hoc para Controle dos Meios de Informação, na dependência da Junta de Salvação Nacional: incitamentos a greves, paralisações ou manifestações não autorizadas pela legislação em vigor e agressões ideológicas que contrariem a execução do Programa do Movimento da Forças Armadas são duas das infracções consideradas. Movimento para a criação de sindicatos de assalariados agrícolas no Sul e exigência de assistência médica e férias igual à dos operários da indústria. Grande reunião no Porto: discurso de Álvaro Cunhal, que apela para as pequenas empresas e para o sentido do dever das grandes empresas em relação ao país. Extinção do Movimento Nacional Feminino.

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23 Junho

Requisição de cinco navios da companhia de petróleos Soponata, na sequência da greve de zelo do pessoal da marinha mercante. Formada a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), calculados em 30.000, com declarações contrárias à guerra.

24 Junho

Proibida a divulgação em Luanda de um manifesto pela independência de Angola subscrito por militantes do MPLA. Formação dos CIC, que apelam à luta pela independência imediata e incondicional das colónias, em solidariedade total com os movimentos de libertação. Greve de 300 operárias têxteis da fábrica de camisas Mafalda, de capital norte-americano, contra o encerramento da empresa. A comissão directiva do Sindicato da Construção Civil de Lisboa divulga comunicado contra incitamentos à greve e apela à denúncia dos agitadores às Forças Armadas. Manifestação de famílias de soldados exigindo o fim da guerra. Manifestação de 1000 operários da Siderurgia, em apoio do caderno reivindicativo.

25 Junho

Anúncio do debate da lei do saneamento. Presos dois oficiais milicianos que se recusaram a reprimir a greve dos CTT. O governo toma conta da Companhia das Águas de Lisboa.

26 Junho

Manifestação em Lisboa, pelo 12º aniversário da Frelimo. Quatro mil despedimentos na construção civil.

27 Junho

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Declaração do PCP anunciando que se verificam posições “aventureiristas” entre os trabalhadores dos Correios e denunciando a greve de zelo por eles organizada. A assembleia nacional dos delegados dos CTT solidariza-se com os dois militares presos por se terem recusado a intervir contra a greve dos carteiros.

29 Junho

Comício do PCP em Lisboa com 20.000 pessoas.

2 Julho

Fim da greve na Martins e Rebelo, em que os operários venderam directamente produtos leiteiros ao público.

3 Julho

Inicia-se a paralisação da frota de pesca de arrasto por os armadores não aceitarem os aumentos salariais pedidos pelos pescadores. O governo e o Ministério do Trabalho condenam a greve nas agências de turismo, cujos trabalhadores se concentram diante deste ministério.

5 Julho

As instalações fabris da Socel, na Mitrena, são ocupadas pelos trabalhadores devido à administração ter recusado a lista de saneamentos exigidos pelo pessoal. Despedimento de quatro jornalistas de esquerda da Rádio Renascença. Dois jornais são processados por terem noticiado a manifestação pela libertação dos dois militares que se recusaram a intervir na greve dos carteiros. Os trabalhadores quotizam-se para pagar as multas. Primeira reunião unitária dos partidos da direita. Comunicado dos trabalhadores dos Correios contra o PCP. Um comunicado da Comissão de Extinção da PIDE/DGS informa que estão presos mil indivíduos daquela organização.

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6 Julho

Início da greve da Efacec-Inel - Lisboa.

8 Julho

Manifestação em Lisboa de vinte mil funcionários públicos, indignados com a publicação de um decreto que alarga grandemente o leque salarial. O Secretariado Provisório reclama a redução do leque salarial, saneamento imediato da Administração Pública e direito à livre sindicalização. Ficam concentrados em S. Bento, com grande participação de mulheres, até o governo comunicar a suspensão do decreto. Manifestações do funcionalismo também no Porto e em Setúbal. No Porto, paralisam durante algumas horas o Matadouro e as oficinas municipais, também em protesto contra a tabela de vencimentos. Plenário da União de Sindicatos do Porto reclama medidas do governo contra os despedimentos em massa. Os trabalhadores de seguros manifestam-se no Porto e na Seguros Douro entram em greve, com ocupação das instalações. Plenários de católicos de Braga contestam o arcebispo, ligado ao antigo regime. Uma companhia teatral inicia espectáculos em fábricas.

9 Julho

Demissão de Palma Carlos, chefe do I Governo Provisório, por não lhe serem dados pelo Conselho de Estado maiores poderes. Uma manifestação no Marquês de Pombal em apoio de dois oficiais milicianos presos por se recusarem a reprimir a greve dos CTT é impedida por um cordão militar; o EMGFA acusa a convocatória da LCI e do MES de “fazer o jogo da reacção”. A manifestação desce a avenida e atravessa a Baixa. Representantes dos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa reclamam subsídio de férias, 13º mês e diuturnidades. Reunião geral dos trabalhadores do LNEC reclama: cumprimento cabal e imediato das medidas de saneamento; actualização dos vencimentos com congelamento dos mais altos; semana de 40 horas a entrar imediatamente em vigor; direito de sindicalização para os trabalhadores da Função Pública. Mantém-se a greve dos professores da Faculdade de Direito, que recusam o saneamento, decretado pelos alunos, de Paulo Cunha, Marcelo Caetano, Soares Martinez e outros, ligados ao antigo regime. O MES condena a anunciada regulamentação do direito à greve. Continuam a fechar fábricas, sobretudo no Norte. Os sindicatos pedem a intervenção do governo. Formação do COPCON (Comando Operacional do Continente), para “manter e restabelecer a ordem pública”.

10 Julho

Trabalhadoras da Applied Magnetics reunidas em plenário impedem o despedimentocapa de 116 camaradas e decidem quotizar-se para assegurar o seu salário enquanto a administração não as readmitir. Os funcionários públicos, que desde a manifestação de dia 8 se mantinham em piquetes em S. Bento, abandonam o local. Numa reunião de 33 sindicatos que constituem a União de Sindicatos do Sul exige-se ao governo que impeça os despedimentos, proíba o lockout e reconheça a independência das colónias. Os dirigentes do Sindicato das Conserveiras do Algarve vêm a Lisboa queixar-se de que os patrões não respeitam o salário mínimo e fecham as empresas. Cerca de mil empregadas de limpeza foram despedidas na sequência de lhes ter sido fixado salário mínimo e pagamento do dia de folga. Assembleia de professores do IST pede o saneamento do Ministério da Educação.

11 Julho

Discursando aos fuzileiros, o general Spínola glorifica os combatentes do Ultramar e os valores da Pátria. Os trabalhadores da Efacec-Inel em Lisboa decidem em plenário prosseguir a greve com ocupação das instalações, denunciando as manobras de intimidação da administração. A comissão de moradores do bairro camarário da Quinta da Calçada queixa-se da situação degradante. Reuniões de trabalhadores rurais em Casas do Povo no Ribatejo, em que homens e mulheres, pela primeira vez, denunciam as condições de miséria em que vivem. Assalariados de Aljustrel conseguem nova tabela salarial e direito de transporte para o local de trabalho. Os trabalhadores teatrais do PCP afirmam-se “participantes activos da luta da classe operária pela Democracia e pela construção do Socialismo e do Comunismo”. Comício anticolonialista na Amadora, promovido pelo MDP. Continuam a afluir ao governo provenientes da oferta de um dia de trabalho de diversas empresas. Seguindo o exemplo de outras localidades, a população da Damaia organiza a limpeza das ruas, para manifestar às autoridades o desagrado pelos serviços oficiais.

12 Julho

Os sindicatos de metalúrgicos de todo o país denunciam que, logo após a assinatura do acordo trabalho-capital, “deu-se início a uma vaga de despedimentos sem precedentes” e exigem do governo “que sejam usados os meios necessários para fazer respeitar os seus direitos”. O sindicato dos operários da construção civil de Lisboa propõe ao governo medidas legislativas contra os despedimentos sem justa causa. Assinada em Moura uma convenção de trabalho entre os assalariados e os empresários agrícolas, estabelecendo salários mínimos, semana de 44 horas, pagamento de horas extraordinárias, etc. Empregadas domésticas de Aveiro, organizadas em comissão pró- sindical, reclamam uma lei do trabalho com direito a descanso semanal, férias, salário mínimo, etc. O Partido Liberal e o PDC reclamam que o governo “acabe com o clima de insegurança e incerteza criado pela agitação de Maio e Junho” e “o clima de ódio que se instalou nas relações de trabalho”. O MDM do Barreiro promove a criação de creches e jardins infantis no concelho.

13 Julho

Polícia de choque ocupa a TAP em greve.

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14 Julho

Mil e duzentos pescadores continuam a greve, que dura há um mês. Desembarque de um carregamento de sardinha vinda da URSS.

19 Julho

Ocupação das instalações da Gulbenkian para exigir o saneamento da administração. Esta aceita as reivindicações salariais mas “nega aos trabalhadores o direito de intervir nos problemas da administração”.

22 Julho

Fim da greve da Efacec-Inel.

23 Julho

Administrador da Applied Magnetics comunica a dissolução da empresa aos 600 trabalhadores em greve.

24 Julho

Um grupo de mercenários invade a Sogantal de madrugada mas são cercados pela população e rendem-se ao MFA. Apresentação pública do CDS.

25 Julho

Manifestações em Lisboa e no Porto pelo fim da guerra colonial.

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27 Julho

Spínola afirma a intenção de transferência de poderes para os representantes dos povos africanos. Creve na Mabor.

28 Julho

Um plenário de 4000 trabalhadores da TAP vota a continuação da greve, cercado por comandos e pára-quedistas com carros de combate.

31 Julho

Spínola suspende o Diário de Lisboa e A Capital, alegando que estes jornais dão demasiado destaque às manifestações da extrema-esquerda pelo fim dos embarques para as colónias.

1 Agosto

Campanha de alfabetização no Norte, organizada pela UEC com o apoio do governo.

2 Agosto

Anulada a suspensão dos jornais. A Comissão de Extinção da PIDE informa que o aparelho repressivo do regime fascista integrava 2160 funcionários, cerca de 20.000 informadores, 80.000 legionários, com 600 informadores e 200 elementos da Força Automóvel de Choque.

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4 Agosto

Ocorrem novos tumultos em Luanda.

5 Agosto

Manifestação promovida pelo MRPP é impedida pela intervenção de forças militares.

10 Agosto

Ex-pides amotinam-se na Penitenciária de Lisboa, com o apoio de Galvão de Melo. Controlada a situação, regressam às celas, sendo vaiados pela população que se concentra no exterior.

13 Agosto

Manifestação dos grupos marxistas-leninistas no Porto é atacada por militantes do PC com barras de ferro. Reunião autorizada de várias centenas de membros da ex-ANP, o partido único do regime fascista, numa quinta ao sul de Lisboa.

14 Agosto

Manifestação de solidariedade com o MPLA no Rossio. A polícia dispara e provoca um morto e vários feridos. O PC protesta contra a repressão e condena as acções dos fascistas e dos esquerdistas contra as forças armadas.

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16 Agosto

Comício do MRPP em Braga acaba em desordem.

20 Agosto

MPLA cessa as hostilidades.

20 Agosto

Greve na empresa de construções Soares da Costa, no Porto. Comício do MES, sobre a crise económica, a descolonização, a Pide e a escalada da reacção. O Jornal do Comércio exige a demissão do director, conotado com o regime fascista.

22 Agosto

Encerramento do Jornal do Comércio devido à publicação pelos trabalhadores de um jornal de greve.

24 Agosto

Explode uma bomba no Porto, impedindo uma reunião do MDP/CDE.

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27 Agosto

Início da greve do pessoal da TAP, depois de expirado o prazo para a aceitação das reivindicações. Os sindicatos são surpreendidos pela declaração de greve, marcada à sua revelia; formam-se comissões e piquetes de greve. O exército cerca em Lisboa o Jornal do Comércio, ocupado pelos trabalhadores que se preparavam para imprimir um jornal de greve nas máquinas da empresa. Aprovada a lei da greve, proibindo as greves políticas e interprofissionais e impondo o pré-aviso de 37 dias, senào o lock-out é permitido. O PCP pede para se respeitar a lei, mas as greves continuam sem a ter em conta.

28 Agosto

Requisição civil, sob disciplina militar, do pessoal em greve na TAP e posterior ocupação militar. O PCP critica a greve e as “manobras aventureiristas”. Ao longo do dia, os trabalhadores mantêm-se em plenário no refeitório; compelidos a abandonarem as instalações, reúnem-se à noite no exterior. Grande parte dos administrativos afasta-se da luta.

29 Agosto

Regressado ao trabalho, o pessoal dos serviços de manutenção da TAP mantêm a greve de braços caídos, enquanto chovem comunicados contra a ocupação militar e são detidos de alguns trabalhadores.

30 Agosto

Greve com ocupação da Litografia Ideal, do Porto.

4 Setembro

Greve geral de todos os jornais para apoiar a greve do Jornal do Comércio, que se mantém desde 25 de Agosto. O jornalistas de O Século, muitos dos quais do PCP, decidem fazer sair o jornal, apesar da decisão tomada em Assembleia Geral dos trabalhadores da informação. Os grevistas dos outros jornais reúnem-se diante de O Século para impedir a saída; o governo envia uma força militar. Diante da vontade dos trabalhadores, a comissão de trabalhadores, próxima do PC, decide não fazer sair o jornal, apesar de já impresso, para evitar o choque com os que se encontram no exterior e a eventualidade de um confronto entre as forças armadas e os “aventureiristas, os extremistas e os reaccionários”.

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5 Setembro

Início de uma semana de homenagens à resistência chilena contra Pinochet

7 Setembro

Ameaça de greve dos assalariados agrícolas do Baixo Alentejo, depois da ruptura das negociações entre o novo sindicato e o patronato, relativamente aos salários e à semana de 44 horas.

9 Setembro

Forma-se a comissão organizadora da manifestação da “maioria silenciosa”, proposta para 28 de Setembro e apoiada pelos jornais Tempo Novo, Tribuna Popular e Bandarra.

10 Setembro

Estão em greve os trabalhadores de Salvaterra de Magos, decorrendo negociações com os proprietários rurais.

12 Setembro

Manifestação de milhares de operários dos estaleiros navais, que atravessam Lisboa até ao Ministério do Trabalho, para exigir o saneamento da administração, afecta ao antigo regime, o direito à greve e a recusa do lock-out, previsto na lei. Entre as palavras de ordem: “Estamos com o MFA sempre que o MFA estiver connosco”.

Proibida pelo governo, a manifestação tinha sido bloqueada pelos militares à porta da Lisnave mas, diante da sua amplitude, a tropa retira-se. Os operários do Jornal do Comércio lançam um livro sobre a sua greve.

16 Setembro

Greve dos trabalhadores rurais da Chamusca. É obtido acordo com o patronato.

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17 Setembro

Em assembleia geral, os trabalhadores do Jornal do Comércio recusam as propostas dos sindicatos e do PCP para terminarem a greve. Na TAP, os operários, forçados ao trabalho pelas forças militares que ocupam a empresa, decidem em plenário iniciar nova greve dentro de dez dias, se não forem retiradas de imediato das tropas e se não houver resposta da administração às reivindicações apresentadas.

19 Setembro

Manifestação dos trabalhadores da TAP.

23 Setembro

Sindicatos criticam a luta da TAP, pondo em causa a representatividade do plenário que decidiu a greve para dia 27.

25 Setembro

Despedimento de 300 operários da manutenção da TAP, em consequência da greve de zelo iniciada depois da requisição

26 Setembro

Manifestação da TAP, protestando contra os despedimentos, com confrontos com a tropa e o COPCON. Cartazes nas paredes de Lisboa apelam a uma manifestação da “maioria silenciosa” a 28 de Setembro, com o apoio do general Spínola e das forças de direita. Recontros entre elementos da direita e militantes de esquerda que se manifestam junto ao Campo Pequeno, onde decorre uma tourada com a presença do general Spínola.

27 Setembro

Militantes do PCP e da extrema- esquerda levantam barricadas à entrada de Lisboa para impedir a passagem dos manifestantes de direita que vêm de fora. Os soldados juntam-se espontaneamente às barricadas. Os VAFs distribuem comunicados apelando à população para que saia à rua a impedir a manifestação. Em Lisboa e no Porto são saqueadas as instalações do Partido Liberal e Partido do Progresso e do semanário Bandarra, onde é descoberta propaganda fascista.

28 Setembro

Prosseguem as barricadas em Lisboa e Porto. Destacamentos civis e militares revistam os veículos, prendendo os ocupantes quando encontram armas. Frustrada a realização da manifestação da “maioria silenciosa”, são detidos cerca de 150 elementos suspeitos de actividades conspirativas. Otelo afirma ter chegado a estar detido em Belém pelos conspiradores. Realizam-se manifestações de esquerda.

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29 Setembro

Spínola demite-se, criticando o “caos” e a “anarquia”. Otelo Saraiva de Carvalho pede na rádio “às forças democráticas Que colaboraram com o MFA que retirem os piquetes das barricadas" e que confiem totalmente nas forças armadas.

2 Outubro

Libertação de Saldanha Sanches, membro do comité central do MRPP e director do jornal maoísta Luta Popular, preso desde Julho. Um grupo de populares queima na rua os jornais Bandarra e Tribuna Popular, da extrema-direita.

3 Outubro

Vasco Gonçalves propõe a realização de um domingo de trabalho. O COPCON assalta a sede nacional do Partido do Progresso, ligado aos acontecimentos do 28 de Setembro, e encontra cinco mil granadas e cocktails Molotov, capacetes, matracas, walkie- talkies e uma sofisticada aparelhagem de impressão.

5 Outubro

“Dia de trabalho para a nação”, cujo principal organizador foi o PCP. Costa Gomes em Lisboa e Vasco Gonçalves no Porto negam que exista anarquia.

6 Outubro

Fim da greve do Jornal do Comércio, após o afastamento do director. Paralisação na Tabopan, de Amarante, para a readmissão de dois operários despedidos.

7 Outubro

Um grupo do MRPP protesta contra a presença do iate “Apoio” na Madeira, acusando os seus tripulantes de serem da CIA. São lançados ao mar automóveis e motorizadas pertencentes aos tripulantes. A desordem termina com a intervenção dos fuzileiros, exército e polícia. O iate fundeia ao largo. Duas centenas de sinistrados por acidentes de trabalho reunem-se na Praça Humberto Delgado para apresentarem um caderno reivindicativo (revisão das pensões, indemnizações, assistência médica, etc.).

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11 Outubro

A polícia do Porto prende e espanca 28 operários de uma obra da construtora Soares da Costa que há oito semanas se mantêm em greve com ocupação e fica a proteger os fura-greves que são trazidos de fora.

12 Outubro

A AEPPA leva a efeito um grande comício em Lisboa sob o slogan “Guerra total à fera fascista”, de protesto contra a benevolência com que são tratados os pides e legionários. Mário Soares declara em entrevista ao Expresso-,

“Existe em Portugal a possibilidade de uma via original para o socialismo e para a democracia”.

13 Outubro

Primeiro comício da LCI no Porto: “Uma só solução, esmagar a reacção”. É sugerida a criação de uma frente única da classe operária.

20 Outubro

Congresso do PCP em Lisboa, pela concentração de esforços na Aliança Povo-MFA. Suprimida a referência à “ditadura do proletariado”, “que poderia causar uma incompreensão sobre a orientação política” do partido, segundo Álvaro Cunhal.

22 Outubro

É assinado o cessar fogo entre o governo português e o MPLA, no Leste de Angola.

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4 Novembro

É impedida a realização de um comício do CDS em Lisboa. Manifestação de grupos “esquerdistas” e assalto à sede do CDS. A AEPPA critica a benevolência do governo ao permitir a reunião da Juventude Centrista a pouco mais de um mês da primeira intentona fascista. O boicote é condenado pelo PS, PPD e PCP, que acusam os grupos esquerdistas de “iludir alguns jovens e servir a reacção”.

5 Novembro

Homenagem ao revolucionário brasileiro Carlos Marighella, Promovida pelo MES, LUAR e Juventude Socialista.

6 Novembro

O MPLA não aceita o plano Português de descolonização.

8 Novembro

O jornalista Manuel Geraldo, que faz campanha contra a exploração dos assalariados alentejanos, escapa ileso de um atentado a tiro em Beja. Os trabalhadores da Celulose do Tejo protestam contra o despedimento de um colega e avisam que “responderão à dureza com dureza”. O presidente da CIP pede aos homens de negócios europeus que tenham confiança no futuro democrático de Portugal: “Não haverá caos económico se a Europa mostrar compreensão pela nossa situação.” Mário Soares negoceia com Holden Roberto a independência de Angola. A LUAR realiza um comício na Cova da Piedade.

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11 Novembro

Os trabalhadores da Federação dos Municípios do Ribatejo entram em greve com ocupação, por não serem aceites as suas reivindicações: 40 horas semanais, 6.000$00 de ordenado mínimo, saneamento dos reaccionários, creche, cantina e supermercado no local de trabalho, assistência médica gratuita, passagem imediata dos eventuais ao quadro, 26 dias úteis de férias, subsídio de férias e de Natal iguais à média ponderada dos salários.

23 Novembro

Congresso do PPD.

27 Novembro

Congresso do MES.

28 Novembro

Violentos confrontos nas faculdades entre MRPPs e UECs e membros do MJT, com intervenção do COPCON.

29 Novembro

O ministro da Educação e Cultura, prof. Vitorino Magalhães Godinho, pede a demissão.

30 Novembro

Criado grupo de trabalho para negociar a passagem das minas de Aljustrel para o domínio do Estado. 230 metalúrgios da F. Mocho, de Matosinhos, denunciam a falência fraudulenta da empresa. Incidentes num comício do PPD em Viana do Castelo.

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2 Dezembro

Na Algot, empresa têxtil sueca, as 1200 operárias exigem o saneamento da encarregada geral, que acusam de castigos e agressões, e reclamam melhores condições sanitárias.

3 Dezembro

Multiplicam-se as reuniões de trabalhadores por todo o país para apoiar o princípio da unicidade sindical na lei.

4 Dezembro

No Bairro de Cheias, cerca de 3000 pessoas recusam-se a abandonar as casas que ocuparam.

5 Dezembro

Plenário da Torralta com mais de 9000 trabalhadores, onde foi exposta a necessidade de intervenção estatal face aos graves problemas existentes, entre os quais a falta de pagamento de salários.

7 Dezembro

A multinacional Spelber tenta reduzir horário de trabalho, mas os 600 trabalhadores da fábrica de Águeda recusam-se a cumprir a determinação e apresentam as suas reivindicações à gerência.

8 Dezembro

Eleita comissão pró-sindicato dos pescadores de Sesimbra. O Ministro do Trabalho afirma que “ é altura de os pescadores deixarem de ser explorados”.

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9 Dezembro

Uma militante do MRPP presa na cadeia das Mónicas devido a incidentes durante um colóquio promovido pela Juventude Centrista entra em greve de fome como protesto contra as condições da detenção. Inicia-se o processo de recenseamento eleitoral.

11 Dezembro

O COPCON faz rusgas em todo o país, “para combater a criminalidade e os marginais”.

13 Dezembro

O COPCON prende onze capitalistas, ou seus agentes, acusados de graves delitos contra a economia nacional. Dias depois, apenas um deles continua detido. Ao longo do mês são saneadas dos serviços públicos dezenas de Pessoas devido às suas ligações à PIDE ou à Legião.

14 Dezembro

As Forças Armadas prendem militantes de alguns grupos de esquerda. A maior parte desses militantes é libertada uma ou duas semanas depois. Hospitalização da militante do MRPP em greve de fome na cadeia.

16 Dezembro

É criada a UDP.

17 Dezembro

Trabalhadores da Siderurgia rejeitam a distribuição de gratificações especiais capaaos quadros e, como a administração mantém essas gratificações, os quadros que não se solidarizam com os trabalhadores são afastados num plenário e substituídos por técnicos que ocupam as funções imediatamente a seguir. A empresa fica a funcionar 4 dias inteiramente por conta dos trabalhadores.

22 Dezembro

Os quadros superiores da Siderurgia são readmitidos ao trabalho, sob a condição de doarem as gratificações a um fundo social criado para o efeito.

26 Dezembro

O Estado intervém na CIFA, Valongo, para evitar o encerramento e a entrada em crise de todo o sector têxtil. Ultimato dos trabalhadores do Jornal do Comércio para a nomeação ate 31 de Dezembro de um novo director e para a retoma da edição do jornal.

27 Dezembro

Ministro da Educação revela, em comunicação feita à RTP, a decisão do governo de encerrar as vagas para os 28.000 canditatos ao ensino superior.

28 Dezembro

Continua por todo o país a entrega de contribuições dos trabalhadores para “reforçar a unidade entre o governo provisório e o MFA”.

30 Dezembro

Um grupo de recrutas protesta em comunicado contra a vaga de prisões que se seguiram a reuniões por eles realizadas em Mafra, em fim de Novembro, sobre as suas reivindicações. No início de Dezembro, 500 recrutas tinham sido mandados para casa.

1975

3 Janeiro

Assembleia Geral do Sindicato dos Bancários em Lisboa capaaprova moção propondo ao Governo Provisório a nacionalização da banca, para defender os interesses do povo português contra o imperialismo, os monopólios e os latifundiários.

4 Janeiro

Primeira reunião da Inter-Comissões de Lisboa, com a presença de 18 comissões de moradores.

6 Janeiro

Plenário de trabalhadores da Tinturaria Portugália reclama a nacionalização imediata e sem indemnização da empresa. Os alunos do IADE no Porto ocupam a escola. Primeiro comunicado do ELP.

7 Janeiro

Salgado Zenha inicia campanha contra a unicidade sindical, defendida pelo PCP.

8 Janeiro

No Casal Ventoso, 600 pára- quedistas procedem a uma rusga geral. Mário Dionísio demite-se da comissão de saneamento do MEC por discordar da permanência em cargos de responsabilidade de indivíduos manifestamente afectos ao antigo regime.

9 Janeiro

Uma centena de trabalhadores dos supermercados Nutripol manifesta-se contra a ameaça de falência da empresa. Plenário da UTIC em Gaia denuncia a sabotagem económica e defende que “a opção da via socialista se deve tornar realidade”. Sessão tumultuosa na Câmara Municipal do Porto, por o presidente da Comissão Administrativa, do PS, impedir a intervenção dos representantes das juntas de freguesia. Restabelece-se a normalidade nos Serviços Municipalizados da Câmara depois de ser reconhecido à comissão de trabalhadores o direito a eleger os seus representantes junto da direcção de serviços.

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10 Janeiro

Cem trabalhadores da Sirgaria Ribeiro, em Lisboa, ameaçada de falência pela descapitalização e fuga para o estrangeiro de um dos patrões, decidem passar a fiscalizar a produção e a comercialização. Desertores e refractários reúnem-se em Lisboa. Aprovado o decreto sobre a gestão democrática do ensino. Numa sessão de esclarecimento promovida pela célula comunista da televisão é afirmado que “o partido mais representado na RTP é ainda a ANP fascista”. Na apresentação pública da FSP por Manuel Serra, afirma-se que no congresso do PS “triunfaram os representantes da burguesia enroupados de bandeiras vermelhas”; a FSP considera “inevitável o afrontamento entre a burguesia e a classe trabalhadora”, está contra a via reformista e defende a auto- organização dos trabalhadores para a “edificação e defesa armada do socialismo”. Iniciam- se as conversações no Alvor para o processo de descolonização de Angola.

11 Janeiro

Paralisação na refinaria da Sacor, em Matosinhos. Termina o conflito nos Supermercados Invictos, com a readmissão dos despedidos. Continua a greve dos pescadores de Caxinas, Vila do Conde. Vitória da lista de esquerda na eleição para o Secretariado Nacional dos Trabalhadores dos CTT. Comícios, da UDP, no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, e do MRPP no Palácio de Cristal, no Porto. A Comissão de Extinção da PIDE/DCE e LP denuncia as dificuldades em levar a cabo a sua tarefa por “estarem ainda largamente por definir as implicações ao mais alto nível a ter em conta no actual processo de saneamento”.

13 Janeiro

Militantes do Movimento de Libertação da Mulher que pretendiam fazer um “auto-de-fé” dos símbolos da opressão feminina no Parque Eduardo VII foram atacadas por milhares de pessoas, sobretudo homens. Os 150 trabalhadores da empresa de plásticos CETAP, de Espinho, declaram-se em greve por não serem atendidas as suas reivindicações salariais. No Porto, cerca de 200 pedreiros ocuparam a instalações do Grémio, em apoio às suas reivindicações: 13º mês, semana de 45 horas, subsídio de férias e revisão do contrato de trabalho. Continua também ocupada pelos trabalhadores a sede do Grémio dos Industriais Têxteis do Norte, apesar de os dirigentes sindicais terem aceite em negociações com o patronato o princípio da desocupação como primeiro passo para um acordo. Os trabalhadores da firma John W. Noite impõem, em reunião com um representante dos patrões no Ministério do Trabalho, que as gratificações de fim de ano passem a ser distribuídas a todos, percentualmente, em função do salário. Os trabalhadores de carnes do distrito de Leiria, reunidos no seu sindicato, condenam as ameaças de alguns patrões de despedimento dos que comparecem a reuniões sindicais. No boletim do MFA: “A Administração Pública não poderá ser dirigida nos escalões de decisão por homens que transigiram com sistemas anteriores. Não basta dizer-se democrata, é preciso ser revolucionário”. Compareceu e foi ouvido no Serviço de Extinção o banqueiro Miguel Quina, dono do grupo Borges. “O PS não contribuirá para a instauração de uma democracia burguesa”, asseguram dirigentes socialistas em conferência de imprensa, em que comentam a cisão que deu origem à FSP.

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14 Janeiro

Grande manifestação em Lisboa, promovida pela Intersindical, a favor da unicidade sindical na lei, com apoio do PCP, MDP, MES e FSP.

15 Janeiro

Plenário dos trabalhadores do hospital de Ovar critica as limitações na assistência aos trabalhadores pobres e decide pôr-se em contacto com outros hospitais do distrito para uma acção comum. Detidos para averiguações dois antigos ministros do Interior, general Arnaldo Schultz e Alfredo Rodrigues dos Santos Júnior, assim como o coronel Homero de Matos, penúltimo director da PIDE, e um agente. Acordo de Alvor entre o governo português e os três movimentos angolanos.

16 Janeiro

Cortejo de trabalhadores da Plessey, de Cabo Ruivo, vem ao Ministério do Trabalho pedir garantias contra a ameaça de 400 despedimentos pretendidos pelos administradores ingleses como retaliação contra os aumentos de salários. Grande enchente no comício do PS no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, sob o lema “socialismo, sim, ditadura, não”, em que se reclama um inquérito ao modo como foi elaborado o projecto de lei da unicidade si ndical e que termina com vivas ao MFA e à classe operária. A AOC, convidada ao comício, denuncia o “social-fascismo” como inimigo dos trabalhadores. Os professores de Religião e Moral não poderão fazer parte do conselho directivo das escolas oficiais, por não serem nomeados pelo MEC, determina um decreto. Respondendo a críticas sobre a lentidão do saneamento no seu ministério, o ministro da Justiça, Salgado Zenha, argumenta que o processo se desenrola de acordo com a lei e contra-ataca que no Ministério do Trabalho “continua a exercer funções um membro do governo fascista”. O ministro da Educação comunica aos estudantes que foi saneado o Conselho Escolar da Faculdade de Direito, que envolve todos os professores catedráticos (entre os quais Freitas do Amaral).

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17 Janeiro

Num julgamento no Tribunal do Trabalho no Porto, a decisão do juiz, desfavorável a uma operária que se queixava de não ter recebido o devido durante dois anos, provoca protestos dos trabalhadores presentes, que exigem a anulação da sentença; a polícia tem que ajudar o patrão a sair da sala. Nas eleições do Sindicato dos Bancários do Porto, vitória por grande maioria da lista afecta ao PS. Protestos do PS, do PPD e do episcopado contra o projecto de lei da unicidade sindical. O governo manda encerrar o liceu Rodrigues de Freitas, no Porto, paralisado desde Dezembro por uma greve promovida por um grupo de alunos que pretendiam o direito de sanear professores em assembleia da escola. Durante um desfile de centenas de estudantes, a intervenção da polícia provoca alguns feridos ligeiros. O COPCON decide libertar o soldado Etelvino de Jesus, do MRPP, em greve da fome desde 17 de Dezembro. Chega a Lisboa o novo embaixador americano, Frank Carlucci. Trabalhadores do Ministério da Educação e Cultura defendem que o saneamento “deve ser levado às suas últimas consequências”. Trabalhadores do Fundo de Fomento da Habitação criticam a demora do governo em ordenar um inquérito a irregularidades e apelam à população para contribuir com informações para o saneamento de responsáveis por fraudes naquele organismo. Sargentos da Força Aérea, há dois dias reunidos em plenário na BA1 (Sintra), discutem a sua situação profissional.

18 Janeiro

Plenário de 800 oficiais da Armada preconiza que o MFA elabore “legislação revolucionária destinada a consolidar o avanço do processo democrático”. Num comício comemorativo do 18 de Janeiro, na Marinha Grande, Álvaro Cunhal defende a unicidade sindical e afirma que “a reacção trama um golpe”, apelando ao “redobrar da vigilância”. Mais tarde, fala no lº Encontro Nacional dos Pequenos e Médios Comerciantes, em Lisboa.

19 Janeiro

Convocados pelo Sindicato dos Operários Agrícolas do Distrito de Santarém,capa reúnem naquela cidade cerca de mil trabalhadores rurais para discutir a reforma agrária, os contratos colectivos e os despedimentos. Plenários dos electricistas de Coimbra e dos trabalhadores da Pfizer. Assembleias de estudantes em Lisboa e Coimbra reclamam a eliminação do exame de aptidão à Universidade e repudiam a obrigatoriedade do serviço cívico, como “antidemocrática e profundamente antipopular”, criticando a UEC, UNEP e Intersindical pelo seu apoio a essa lei e contrapondo-lhe a “formação de cursos livres, embriões da escola nova, científica e de massas”. O MRPP reúne a I Conferência Nacional sobre o Trabalho de Propaganda na Cidade Universitária, com 200 delegados. Rejeita tanto a unicidade como o pluralismo sindical, reivindicando o “direito da classe operária se organizar autonomamente a todos os níveis”. A FSP afirma em comunicado que, com a polémica contra a unicidade, os “partidos burgueses pretendem recuperar o 25 de Abril para o capitalismo, vestido agora de roupagens social-democratas ou socialistas” e atribui aos dirigentes do PS “um projecto aventureirista de direita” visando lançar uma parte das Forças Armadas contra a outra parte.

20 Janeiro

O Conselho de Ministros aprova o decreto da unicidade sindical, com os votos contrários dos ministros do PPD e PS. O PS anuncia uma manifestação para dia 31, o PCP e os sindicatos programam uma manifestação para o mesmo dia em defesa da unicidade sindical. Voltaram ao mar os 900 pescadores de Caxinas, depois de uma greve de 16 dias que lhes permitiu obter condições semelhantes às dos outros portos. Plenário dos trabalhadores da TAP ameaça com a ocupação da empresa se a administração levar por diante a venda de dois aviões. Prossegue a luta dos trabalhadores da Tinturaria Cambournac, no Cacém, e das Confecções Algot, no Porto, contra a ameaça de despedimentos. Operárias das Confecções Aipis, no Porto, ocupam a empresa que o patrão tentava encerrar. Operários têxteis do Porto obtêm pagamento do 13º mês depois de ocuparem por dez dias a sede da Associação dos Industriais. Demitidos três altos funcionários da Direcção de Transportes Terrestres, antigos oficiais da Legião. A Secção Regional Sul do Sindicato dos Médicos intervém no debate sobre o futuro Serviço Nacional de Saúde, afirmando que a opção está na “via socialista”. A LCI defende em conferência de imprensa que “a burguesia está tão interessada nas eleições porque foi derrotada no terreno da luta de massas” e que “a hora não é de eleições para uma Constituinte burguesa, mas de avançar decisivamente no ataque ao poder do capital”. O PCP de Portalegre acusa em comunicado os latifundiários de sabotaram a produção e de ameaçarem os trabalhadores com as eleições: “Depois das eleições vocês vão ver...” A Base-FUT protesta em comunicado contra o decreto que legaliza os despedimentos colectivos e afirma que o desemprego vai a caminho dos 200 mil.

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22 Janeiro

Mil trabalhadores do Entreposto Comercial de Automóveis, reunidos em plenário, decidem impedir o pagamento dos aumentos concedidos pela administração aos quadros de chefia. Trabalhadores dos Transportes Colectivos do Porto conseguem o acordo do governo para o saneamento do Conselho de Gerência. Advogados pedem o julgamento de ex-ministros fascistas. Trabalhadores ocupam a fábrica de limas Duarte Feteira; impedem a entrada do patrão e propõem-se passar à venda directa da produção. Está em funcionamento na Companhia Portuguesa de Electricidade a comissão de inquérito para saneamentos.

25 Janeiro

Milhares de manifestantes, convocados pelos grupos anti­fascistas, cercam o congresso do CDS que se realiza no Palácio de Cristal, no Porto, e entram em confrontos com a polícia. Os participantes ficam retidos 24 horas, até ser evacuados pelo COPCON.

26 Janeiro

Assembleia nacional dos trabalhadores de lanifícios exige contrato colectivo, em que sejam proibidos os despedimentos sem justa causa, estabelecida semana de 40 horas, 30 dias de férias pagas, 13ª mês e salário mínimo de 4500$00.

30 Janeiro

O Conselho dos Vinte proíbe a manifestação e contramanifestação convocadas para 31 de Janeiro, em torno da questão da unicidade sindical. O MRPP, MES e outros grupos de extrema-esquerda mantêm as suas convocatórias, em protesto contra a visita da esquadra da NATO. Continua a greve de solidariedade dos cantoneiros da limpeza da Câmara Municipal de Lisboa, que se manifestam na rua protestando contra as condições de trabalho e os salários baixos. Lutas e plenários contra o desemprego na IBM, Messa e Applied Magnetics. Reunião geral de alunos da Faculdade de Direito vota a contratação de novos professores. Assembleia de estudantes no liceu Pedro Nunes discute a proposta de saneamento de 8 estudantes do CDS. Em conferência de imprensa, a LCI reclama a dissolução do CDS e o desarmamento imediato da PSP e CNR, critica o plano económico de emergência do Governo Provisório, “que nada tem a ver com a classe operária”, aplaude a ocupação de terras no Alentejo e condena as manobras da NATO.

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31 Janeiro

Reunião da Comissão Coordenadora da Inter-Comissões de Lisboa, com aprovação do caderno reivindicativo e definição do processo de luta dos moradores.

1 Fevereiro

Impedida a reunião do congresso do PDC, dirigido pelo spinolista Sanches Osório.

2 Fevereiro

Entrada da esquadra da NATO no Tejo. Apesar da proibição de manifestações pelo governo, a Reunião Inter-Empresas convoca uma manifestação para dia 7, a que aderem os CTT, TAP, Cergal, Efacec, Applied, Setenave, Messa e muitas outras empresas em luta e que é apoiada pelo MES, LCI, UDP e FEC. O PCP condena a iniciativa como provocatória.

7 Fevereiro

Manifestação da Interempresas, com dezenas de milhares de pessoas, essencialmente operários, exige: “Não ao desemprego, direito ao trabalho”. “Sim à greve, não ao \lock-out”, “Fora a NATO, fora a CIA, independência nacional”. A tropa recusa-se a reprimir a manifestação frente à embaixada dos EUA e, no Ministério do Trabalho, solidariza-se com os operários, gritando as mesmas palavras de ordem e virando as espingardas contra o edifício que guardava.

9 Fevereiro

Primeira Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul sob a palavra de ordem “Liquidação dos latifúndios, a terra a quem a trabalha”.

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12 Fevereiro

Os trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas exigem a nacionalização da empresa para salvaguardarem o emprego. Os operários dos Iogurtes Bom Dia ocupam a fábrica e mantêm a produção em autogestão. 40 trabalhadores no desemprego criam uma comissão de melhoramentos e ocupam um latifúndio em Vale de Ouro de Cima (Valdágua).

13 Fevereiro

Greve dos transportes públicos de Coimbra; os veículos circulam gratuitamente. Os trabalhadores das confecções Eicorte, ao saber da falência fraudulenta da sociedade, ocupam a fábrica e mantêm-na em funcionamento.

15 Fevereiro

Greve dos pescadores do Algarve, com paralisação de todos os portos. Os 700 operários da vidreira Pereira Roldão, da Marinha Grande, ocupam a fábrica e assumem a direcção da produção, fixando um salário máximo. É elaborado um “caderno reivindicativo dos Bairros de Lata e Pobres de Lisboa”. Inicia-se uma nova vaga de ocupações de casas nas regiões de Lisboa e Porto e noutras localidades.

17 Fevereiro

Trabalhadores de Coina formam a cooperativa Estrela Vermelha nos terrenos de uma quinta ocupada. É decapitada a estátua de Salazar em Santa Comba Dão.

19 Fevereiro

Greve dos trabalhadores da Rádio Renascença. Os trabalhadores do Vaquinhas & Gertrudes, estaleiro de reparação e construção de navios, decidem constituir uma cooperativa operária para terem garantias de emprego.

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21 Fevereiro

Os alunos de vários liceus entram em greve contra as medidas governamentais que prevêem uma maior selecção, passando depois a pôr em causa o conteúdo reaccionário dos programas, a hierarquia nos estabelecimentos de ensino, etc. No fim do mês, a greve é seguida praticamente por todo o país.

22 Fevereiro

O Estado assume a maioria do capital da Companhia Portuguesa das Pescas; continua a greve dos pescadores em todos os portos do Sul, alguns portos do Norte e entre os pescadores do bacalhau.

28 Fevereiro

A LUAR ocupa palacete para uma clínica popular na Cova da Piedade. O MLM realiza uma manifestação exigindo a revogação do Código Penal no que se refere ao aborto.

1 Março

Encerramento definitivo do jornal Novidades.

3 Março

Ocupação duma vivenda para centro popular no Barreiro. Uma revista alemã revela que a CIA prepara golpe em Portugal antes do final de Março.

4 Março

O ministro da Educação lança um ultimato para os estudantes retomarem as aulas dentro de dois dias, condenando as “profissões de fé revolucionárias” e apelando ao estudo.

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6 Março

PDC organiza comício no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, boicotado por grupos de esquerda, sendo necessária a intervenção dos militares para evitar os confrontos. Plenário da Lisnave na Margueira com mais de 3 mil trabalhadores demite a Comissão para a Redução do Leque Salarial por as suas propostas envolverem verbas que “poriam em risco a situação económica da empresa”.

7 Março

Grupos de populares e militantes da extrema-esquerda boicotam um comício do PPD em Setúbal, travando-se confrontos violentos. A intervenção da polícia provoca um morto e duas dezenas de feridos entre os manifestantes, quando estes cercavam uma esquadra. Intervenção do COPCON, que evacua os polícias. Os motins prolongam-se pelo dia seguinte. O PC e o PS pedem a protecção das suas sedes, assim como a do PPD. Ocupados vários edifícios para sedes de partidos. Ocupação do hotel Muxito, no Seixal, por elementos de diversos partidos de esquerda e por comissões de moradores.

8 Março

Desfile e comício com centenas de pessoas no centro de Lisboa em comemoração do Dia Internacional da Mulher, organizado pelo MDM e Intersindical. No Porto, a FEC enche o Palácio de Cristal para debater os problemas da mulher e a “luta pela reconstrução do comunismo”.

9 Março

Apesar de proibida pelo Governo Civil, realiza-se no Porto uma manifestação contra a carestia e os despedimentos, com milhares de pessoas que corresponderam à convocação da FEC, MES, PRP e LCI. Um orador afirma que “as ilusões dos trabalhadores após o 25 de Abril se estão a desvanecer, porque o grande capital continua a ser quem manda no país” e apela à instauração de um governo popular. O cortejo detém-se diante do consulado norte-americano gritando palavras de ordem contra o imperialismo e protesta no comando da PSP pela prisão, por “propaganda ilegal”, de dois jovens, entretanto libertados. Mais de um milhar de empregados de comércio concentram-se frente ao Ministério do Trabalho reivindicando a generalização do contrato colectivo a toda a classe e gritando palavras de ordem: Os trabalhadores não podem esperar mais!”, “Abaixo os latifúndios!”, “Vigilância popular!”, “Abaixo a reacção!” e “O povo está com o MFA!”. A Comissão para a Redução do Leque Salarial na Lisnave/Setenave, que preconiza a redução do número de categorias e a elevação do salário mínimo de 7 para 8,5 contos, realiza uma reunião de trabalhadores em que denuncia o “boicote à luta da classe operária por parte do pessoal administrativo e chefes de sector”. Entretanto, a célula do PCP acusa elementos daquela comissão de irrealismo e de “consciente ou inconscientemente, servirem o capital e a reacção através de provocações”. Terminou a greve dos ferrageiros do Porto por terem conseguido aumentos decapa salários. Permanecem em greve há oito dias os descarregadores do porto de Leixões, reivindicando condições iguais às de Lisboa. "Queremos que nos considerem homens e não animais de carga”. O Sindicato dos Rodoviários de Lisboa emite um comunicado apelando à “Vigilância contra a CIA” e denunciando o auxílio e donativos da social-democracia alemã “a determinado partido em Portugal”. Plenário de moradores do 2º Bairro de Lisboa pede o desmantelamento dos monopólios, nacionalização da banca e do comércio externo e saneamento do aparelho de Estado. Plenário das comissões de moradores do concelho de Sintra reúne 600 delegados que debatem melhoramentos locais. Congresso da UDP no Montijo, na presença de 450 delegados de todo o país. A UDP afirma não pretender confundir-se com o “partido comunista cuja reconstrução é actualmente preparada pelas organizações marxistas-leninistas” e apresenta como objectivo a instauração de uma República Popular por via revolucionária. Constituição da UJC. Álvaro Cunhal denuncia “acções de carácter provocatório visando agudizar conflitos para instaurar um governo reaccionário”. Comunicado do MES: “Compete aos trabalhadores e às forças políticas que se reclamam da democracia proletária tomar audaciosamente a iniciativa em ordem a conquistar o poder, destruir o aparelho do Estado burguês e realizar a revolução socialista”. Comunicado do MDP/CDE declara “aceitar a necessidade de sacrifícios para a reconstrução do País” desde que haja uma vontade firme de resolver os problemas. Comunicado do PS afirma compreender a inevitabilidade dos últimos aumentos de preços e assegura que não se entrará “numa escalada inflacionista como resultado de um funcionamento desordenado da economia capitalista”. Ocupação de uma casa para comuna popular em Aveiras de Cima. Primeira reunião conjunta das CMs dos arredores de Lisboa e Setúbal.

11 Março

Tentativa de golpe militar spinolista, com participação da GNR. O RAL1 é bombardeado e cercado por unidades de pára- quedistas, sendo morto um soldado. Dominado o golpe, o general Spínola e outros oficiais fogem para Espanha; prisão de militares de direita. Ao fim do dia, por convocação de vários partidos, grande manifestação no centro de Lisboa. Em várias cidades do país, as sedes do PDC e do CDS são assaltadas. A partir daqui, muitas empresas são ocupadas pelos trabalhadores. Além disso, estende-se ainda mais o movimento de ocupação dos prédios vazios e das grandes mansões abandonadas, transformadas em creches e locais de habitação.

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13 Março

Sob pressão dos trabalhadores bancários, em greve desde o 11 de Março, o Conselho da Revolução, criado na véspera, decreta a nacionalização dos sete grupos bancários mais importantes, golpeando profundamente os interesses monopolistas ligados ao fascismo.

14 Março

É garantida a manutenção dos interesses das multinacionais instaladas em Portugal.

15 Março

Nacionalização das companhias de seguros, que passam a ser geridas por comissões administrativas. Prisão de militantes do MRPP, que anuncia uma manifestação.

18 Março

Anunciando para 25 de Abril as eleições para a Assembleia Constituinte, o Conselho da Revolução proibe a participação do PDC, do MRPP e da AOC.

20 Março

Manifestação em Lisboa de 5000 operários metalúrgicos, agrupados em Comissões de Trabalhadores, contra a direcção do sindicato.

21 Março

Reunião promovida em Setúbal pela 5ª Divisão condenando as ocupações selvagens e avisando que a desocupação tem de ser feita até 24 de Março. Prosseguem todavia as ocupações de casas, que se prolongam pelo mês de Abril.

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31 Março

Começam a alastrar as ocupações de terras no Alentejo e Ribatejo.

1 Abril

Início da campanha eleitoral.

4 Abril

Vasco Gonçalves tenta plataforma de acordo com a Igreja no caso da Rádio Renascença.

5 Abril

Salgado Zenha publica na República um artigo favorável à Igreja no conflito da Rádio Renascença,

7 Abril

A Inter-Comissões de Lisboa entrega um caderno reivindicato ao governo, dando um prazo de 20 dias para resposta. O Cardeal Patriarca de Lisboa em entrevista a um jornal estrangeiro afirma que o “governo não controla o País”.

11 Abril

A propaganda da FEC(ML) é suspensa.

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12 Abril

PRP-BR convoca um plenário de trabalhadores onde é proposta a formação de Conselhos Revolucionários de Trabalhadores, Soldados e Marinheiros.

15 Abril

A Inter-Comissões de Moradores dos concelhos de Loures, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira entrega um caderno reivindicativo ao representante do primeiro-ministro.

19 Abril

Realiza-se o Congresso dos CRTSM, afectos ao PRP, com representantes de 165 empresas e 25 unidades militares.

22 Abril

Manifestação em Lisboa contra o decreto que regulamenta a legalização das ocupações.

23 Abril

Ocupação de uma quinta para a Cooperativa de Torre Bela.

25 Abril

Eleições para a Assembleia Constituinte, as primeiras eleições livres nos últimos 50 anos. O PS é o partido mais votado, seguido do PPD e PCP. O CDS, MDP e UDP conseguem representação parlamentar.

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30 Abril

Imprensa revela que o ELP conspira em Espanha, nomeadamente em Badajoz, onde é nítido o movimento de conhecidos reaccionários portugueses. É promulgada a lei da unicidade sindical.

1 Maio

Manifestações por todo o país. No estádio 1º de Maio registam-se incidentes com manifestantes do PS. Vasco Gonçalves discursa e Mário Soares é impedido de chegar à tribuna. Os grupos marxistas-leninistas convocam uma manifestação independente do Terreiro do Paço à Alameda.

2 Maio

Manifestações do PS em Lisboa e Porto como protesto contra os incidentes do dia anterior no estádio 1º de Maio.

5 Maio

Nasce o MDLP, depois de o major Sanches Osório ter entregue uma declaração da denominada Frente de Salvação Nacional ao General Spínola, o qual lhe introduz alterações.

17 Maio

Manifestações pelo direito à habitação e pela revogação do decreto anti-ocupação, dos moradores dos bairros de lata de Lisboa e Porto.

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19 Maio

Tipógrafos do República, afectos à esquerda, expulsam a direcção que acusam de ter transformado o jornal num órgão do PS. As instalações ficam ocupadas pelos trabalhadores. Manifestações do PS e de toda a direita contra a ocupação.

23 Maio

As instalações das minas de S. Pedro da Cova, encerradas desde 1969, são ocupadas pelos moradores da freguesia e antigos mineiros.

26 Maio

Manobras da NATO, que motivam manifestações hostis à ingerência imperialista.

27 Maio

Os trabalhadores da Rádio Renascença ocupam os estúdios e do centro emissor da Buraca. É abandonada a designação de “emissora católica” e são afastados os padres do serviço radiofónico dos estúdios de Lisboa. Oficiais do COPCON entregam ao CR o “Documento dos operacionais do COPCON”.

28 Maio

Ocupação das sedes do MRPP pelo COPCON, com a prisão de 400 militantes, por o Luta Popular ter acusado Jaime Neves e Salgueiro Maia de estarem implicados num golpe de direita em preparação.

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30 Maio

Decreto institui o Serviço Cívico para os estudantes.

31 Maio

Alastra a guerra no Norte de Angola entre a FNLA e o MPLA.

6 Junho

Manifestação em Ponta Delgada exige a demissão do governador, do MDP/CDE. Pouco depois inicia-se a perseguição aos partidos de esquerda. CR determina a reabertura do República com entrega do jornal à administração.

10 Junho

Fracasso completo da jornada suplementar pela “batalha da produção” organizada pela Intersindical.

14 Junho

Roubo de armas de Santa Margarida, que origina uma operação stop em todo o país.

16 Junho

Por falta de acordo com a administração, não é cumprida a determinação de reabertura do República, continuando a entrar apenas os trabalhadores nas instalações.

17 Junho

Manifestação dos Conselhos Revolucionários de Trabalhadores.

18 Junho

Manifestações e contramanifestações frentecapa ao Patriarcado devido à situação da Rádio Renascença, com incidentes graves. O PS apoia a Igreja. O COPCON apoia os trabalhadores do República no conflito com a administração.

19 Junho

Manifestação dos trabalhadores da Rádio Renascença. O MFA aprova o Plano de Acção Política, de influência meloantunista.

20 Junho

Comunicados de vários partidos face aos acontecimentos frente ao Patriarcado.

23 Junho

Os trabalhadores da CUF em plenário decidem exigir nacionalização e saneamentos. Trabalhadores da SAPEC de Setúbal (capital belga) ocupam as instalações. O administrador tem liberdade para andar dentro da fábrica mas não pode sair. Pedem intervenção do Estado, saneamento da administração, não transferência de 11 mil contos de dividendos, etc. Os trabalhadores ocupam a fábrica Salmar no Lavradio e formam a cooperativa Coopsal.

24 Junho

Manifestação do PS contra a ocupação pelos trabalhadores do jornal República.

28 Junho

Definição das características de autonomia capae apartidarismo da Intercomissões de Lisboa.

29 Junho

Primeira Assembleia Popular na Pontinha. Fuga de 88 pides da prisão de Alcoentre.

30 Junho

Trabalhadores da Bronzes Cetóbriga de Setúbal em luta. Novos combates em Luanda.

2 Julho

Manifestação organizada por comissões de trabalhadores da cintura industrial de Lisboa desfila frente à Rádio Renascença em apoio da CT. Governo e Vasco Gonçalves são insultados, porque defendem a entrega da emissora à Igreja.

3 Julho

Conselho da Revolução decide a nacionalização da Rádio Renascença.

4 Julho

Manifestações em Lisboa de apoio ao Poder Popular contra os boatos de mais um golpe militar. capaTrabalhadores da Junta Autónoma do Porto de Setúbal elegem Conselho Revolucionário de Trabalhadores. Criação do Conselho Municipal do Porto, que reúne a Comissão Administrativa da Câmara com representantes das associações de moradores, dos bairros camarários, das juntas de freguesia e da comissão de trabalhadores da Câmara.

5 Julho

Independência de Cabo Verde.

8 Julho

Assembleia do MFA aprova o Documento-Guia da Aliança Povo-MFA, de tendência gonçalvista.

9 Julho

Moradores de Setúbal vêm manifestar-se a Lisboa, em apoio da reivindicação dos 500$ por assoalhada.

10 Julho

Manifestações populares de apoio ao Documento-Guia do MFA, fortemente atacado pelo PS, PPD e CDS. O jornal República reaparece sob direcção da comissão de trabalhadores. Em protesto, o PS abandona o IV governo.

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12 Julho

Independência de São Tomé e Príncipe.

13 Julho

Em Rio Maior são assaltadas as sedes do PCP e da FSP É o início de uma série de acções violentas contra organizações de esquerda, arregimentadas pelos caciques do PSD, MDLP e ELP e contando com o apoio da Igreja. Manifestações em Aveiro de apoio ao Episcopado na questão da Rádio Renascença.

14 Julho

Em Rio Maior são queimados jornais porque se considera que não foram correctamente relatados os acontecimentos do dia anterior. Ocupação da Cooperativa Agrícola 1º de Maio, na Gâmbia (Setúbal). Manifestação no tribunal de Setúbal pela anulação do processo contra um morador.

15 Julho

COPCON desaloja os ocupantes da Quinta de Miraventos em Setúbal. PS promove manifestações pelo afastamento de Vasco Gonçalves.

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16 Julho

Manifestação em Lisboa pelo poder popular, pelo controle operário, contra a Constituinte, com o apoio do RALIS. No Porto, 10 mil pessoas percorrem as ruas numa manifestação pelo poder popular e de apoio ao Documento-Guia do MFA, promovida pelos revolucionários e por comissões de trabalhadores e moradores.

17 Julho

Manifestação dos Conselhos Revolucionários de Trabalhadores, Soldados e Marinheiros, onde se dá vivas à ditadura do proletariado. Os soldados do RALIS participam com os blindados. O PPD abandona o governo.

18 Julho

Grande comício do PS no Estádio das Antas, apesar das tentativas de boicote do PC e da Intersindical.

19 Julho

Comício monstro do PS na Fonte Luminosa, onde Mário Soares exige o afastamento de Vasco Gonçalves e ameaça que “o PS pode paralisar o país”. O PC tenta impedir a concentração com barricadas, a pretexto de que se prepara uma “marcha sobre Lisboa”.

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20 Julho

Começam os assaltos no Norte e Centro contra sedes do PCP, MES, MDP/CDE e FEC. Durante 14 dias, saques e incêndios em Batalha, Rio Maior, Cadaval, Lourinhã, Alcobaça, Minde, Aveiro, Estarreja, Águeda, Sever do Vouga, S. João da Madeira, Matosinhos, Monchique. Manifestação em Viseu de apoio ao Episcopado. Nacionalizadas as principais empresas de pesca.

23 Julho

Numa reunião de oficiais de Infantaria em Mafra, Vasco Lourenço defende a dissolução da 5a Divisão e a substituição de Vasco Gonçalves como primeiro- ministro.

24 Julho

Otelo de visita a Cuba.

25 Julho

Início do Congresso de todos os sindicatos promovido pela Intersindical. Assembleia do MFA cria o Directório, que reparte o poder entre Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo.

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27 Julho

Manifestação em Bragança de apoio ao Episcopado.

29 Julho

Promulgada a lei da Reforma Agrária. Conflito na CT da TAP, entre elementos moderados e radicais.

31 Julho

Jaime Neves e outros militares do Regimento de Comandos são saneados numa assembleia da unidade.

2 Agosto

Mercenários a soldo de patrões corticeiros atacam a tiro na Margem Sul militantes de esquerda que distrtibuem propagandade apoio à luta dos operários.

3 Agosto

I Encontro dos Trabalhadores das UCPs e Cooperativas Agrícolas do distrito de Beja pede crédito e escoamento dos produtos. Assaltadas e destruídas as sedes do PCP e MDP/CDE em Póvoa do Lanhoso. Não são feitas Prisões. O MFA intervém em Vila Nova de Famalicão para evitar o assalto e incêndio do centro de trabalho do PCP. Manifestação em Coimbra de apoio ao Episcopado.

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4 Agosto

Jaime Neves é reintegrado por Otelo no Regimento de Comandos. Nos Metalúrgicos de Lisboa, a oposição de esquerda (CUOM) acusa a direcção do Sindicato de sanear todos os que criticam a linha da Intersindical. Direcções sindicais do Norte exigem a detenção e julgamento dos responsáveis por atentados. A DORN do PCP divulga nomes de assaltantes e incendiários fascistas, reclamando procedimento judicial.

7 Agosto

Otelo, de visita ao Porto, é vaiado e aplaudido.

8 Agosto

É publicado o Documento dos Nove. Condenação do assalariado rural José Diogo por ter matado um latifundiário. Comício da AEPPA em Lisboa, “Contra a justiça burguesa, justiça popular”. Otelo e Fabião denunciam a vaga de assaltos que grassa no Norte em nome do anticomunismo.

10 Agosto

Manifestações em Braga e Lamego de apoio à Igreja Católica. Em Braga, depois do violento discurso do primaz, é cercada e assaltada a sede do PCP, causando vários feridos.

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13 Agosto

É divulgado o documento do COPCON de resposta ao Documento dos Nove. Começam as negociações entre os Nove e Otelo.

14 Agosto

São saneados 24 jornalistas do Diário de Notícias.

15 Agosto

Manifestação do PS em Lisboa de apoio ao Documento dos Nove e contra o 5º Governo Provisório. A Comissão Dinamizadora da Armada critica o Documento dos Nove. O PCP apela à “unidade dos democratas e antifascistas”, no comício realizado no Pavilhão dos Desportos.

17 Agosto

É assaltado o centro de trabalho de Alcobaça do PCP. Prossegue a violência no Centro e Norte do país.

19 Agosto

São assaltadas as sedes dos partidos de esquerda em Ponta Delgada. Otelo e Grupo dos Nove começam, em segredo, a estudar a formação do VI Governo provisório. Intersindical convoca greve de meia hora contra o avanço da reacção.

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20 Agosto

Manifestação em Lisboa de apoio ao Documento do COPCON de dezenas de milhares de pessoas exigindo a dissolução imediata da Assembleia Constituinte e desenvolvimento dos órgãos de vontade popular. Cunhal propõe em Alcântara uma “Frente Popular para salvar a Revolução”. Ocupação de 12 propriedades do distrito de Évora, por trabalhadores de Vendas Novas, em colaboração com a Escola Prática de Artilharia. No Bairro Salgado, de Setúbal, ocupação de casa para creche e centro cultural. Assalto a uma sede do MDP no Porto e tentativa de assalto à sede da União de Sindicatos. Nova lei restringe o conceito de justa causa para despedimentos.

21 Agosto

Rumores de um golpe de direita.

22 Agosto

Ocupação da Quinta da Marquesa, abandonada há 30 anos.

24 Agosto

Manifestações em Leiria e Vila Real de apoio ao Episcopado. Em Leiria são assaltadas as sedes de partidos de esquerda, provocando um morto e vários feridos. Também em Arcos de Valdevez, Ponte de Lima (onde é morto um militante do PCP) e Faro são assaltados os centros de trabalho do PCP.

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25 Agosto

Criação da FUP (Frente de Unidade Popular) entre o PCP e alguns partidos de esquerda. Manifestação no Porto pela aplicação do Documento do COPCON. Prossegue a violência nos Açores contra os membros dos partidos de esquerda, que são forçados a encerrar as sedes e membros do PCP são expulsos da Horta.

27 Agosto

Manifestação da FUP em Belém, que o PCP tenta transformar numa manifestação de apoio a Vasco Gonçalves, o que produz os primeiros confrontos no seio da Frente. Os comandos de Jaime Neves ocupam a 5.ª Divisão por ordem da Região Militar de Lisboa. Manifestação do PS no Porto contra a permanência de Eurico Corvacho à frente da Região Militar Norte.

28 Agosto

O PCP abandona a FUP, que se transforma em FUR, Frente de Unidade Revolucionária.

29 Agosto

Vasco Gonçalves passa a CEMGFA e Pinheiro de Azevedo inicia contactos para a formação do VI Governo.

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31 Agosto

Realiza-se o primeiro congresso da LUAR. É noticiada a criação do MDLP, dirigida por Spínola.

1 Setembro

Trabalhadores da Manuel Gonçalves suspendem a comissão sindical. Reunião nas Canárias de dirigentes separatistas dos Açores da FLA.

2 Setembro

Decorre a Assembleia do Exército e no dia seguinte as da Força Aérea e da Armada. Luta pelo poder na chefia das Forças Armadas entre “gonçalvistas” e “meloantunistas”.

5 Setembro

Assembleia de Tancos do MFA destitue Vasco Gonçalves de Chefe do EMGFA. Profundas alterações na composição do Conselho da Revolução, de onde saem os “gonçalvistas”. É o “pronunciamento de Tancos”. Plenário da empresa Eduardo Jorge, dominado pelo PCP, expulsa um militante da FEC.

8 Setembro

Cerca de 1000 pessoas na manifestação pelo poder popular convocada pela FUR em Setúbal. O novo Conselho da Revolução decide tomar medidas disciplinares contra os soldados da Polícia Militar por terem tomado parte em manifestações de rua.

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9 Setembro

Corvacho substituído por Pires Veloso na RMN. Forças da PM recusam-se a embarcar para Angola.

12 Setembro

3500 desalojados ocupam um bairro do FFH em vias de acabamento na Baixa da Banheira. A CM do Fogueteiro ocupa 48 fogos do FFH nas mesmas condições. Vasco Gonçalves exonerado do governo.

17 Setembro

Paralisação de milhares de trabalhadores rurais no Alentejo: contra a ofensiva da contra- revolução e dos grandes proprietários. Sindicato dos Escritórios do Norte abandona a Intersindical.

19 Setembro

Toma posse o VI Governo (Pinheiro de Azevedo), com ministros do PS, PPD e PCP. Carga policial sobre manifestação do Conselho Municipal do Porto. Comissão de Moradores do Bairro Alves da Silva ocupa uma antiga fábrica de conservas que transforma em centro cultural.

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21 Setembro

Primeira aparição dos SUV (Soldados Unidos Vencerão), com uma grande manifestação no Porto, a que dão adesão numerosas comissões de soldados e que mobiliza dezenas de milhares de pessoas.

22 Setembro

Sindicato dos Metalúrgios propõe greve geral no sector. Algumas Comissões de Moradores forçam ao encerramento de “boites” em Setúbal. Início das jornadas de luta dos deficientes das Forças Armadas, com barricadas em Belém, ocupações de estações de rádio e das portagens das auto- estradas de acesso a Lisboa, interrupção da circulação na linha do Estoril e tentativa de sequestro do governo, reprimida pelos Comandos.

23 Setembro

Circulam boatos de que a Rádio Renascença será entregue ao Patriarcado.

24 Setembro

É criada a ARPE (Acção Revolucionária das Praças do Exército) pelos soldados dos quartéis de Lisboa.

25 Setembro

Manifestação dos SUV em Lisboa; centenas de soldados fardados, conjuntamente com populares, desviam dezenas de autocarros da Carris para irem para a Trafaria, onde conseguem a libertação de dois militares presos.

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26 Setembro

Sai o 1º número do Diário do Alentejo sob direcção da comissão de trabalhadores. Congresso Nacional das Comissões de Trabalhadores na Covilhã. Criação do AM1, organismo militar de repressão do movimento popular, que devido aos protestos populares nunca chegou a funcionar.

27 Setembro

Assalto e saque populares à embaixada e consulados de Espanha em Lisboa, Porto e Évora, em protesto contra a execução de cinco jovens antifascistas. Pinheiro de Azevedo é nomeado pelo CR Presidente da República.

29 Setembro

Ocupação da Rádio e TV pelos Comandos. A Rádio Renascença, ocupada pelos comandos deixa de funcionar. Iniciam-se as manifestações de apoio à RR.

30 Setembro

Forças de Comandos ocupam as antenas em Monsanto e fecham a Rádio Renascença. O Capitão Fernandes desvia um número considerável de armas que Otelo afirma “estarem em boas mãos”. PS promove manifestação de apoio ao governo de Pinheiro de Azevedo.

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1 Outubro

São desocupadas as emissoras da rádio e televisão, excepto a Rádio Renascença. O PS acusa o RALIS de preparar um golpe de esquerda.

2 Outubro

Manifestação dos SUV em Beja contra a transferência de 40 aviadores.

3 Outubro

Início do conflito do CICAP/ RASP, no Porto. Incidentes em Beirolas. As Comissões de Moradores de Benfica subscrevem uma moção para os desempregados serem isentados do pagamento das rendas de casa. Plenário dos trabalhadores agrícolas em Grândola reclama: crédito imediato às cooperativas e aos pequenos e médios agricultores; estruturas comerciais ao serviço do povo; avante com a reforma agrária. O “Plano dos Coronéis” é publicado no jornal O Século; embora desmentido, acabará por ser posto em prática no 25 de Novembro. Manifestação na Amadora de apoio a Jaime Neves promovida pelo PS.

4 Outubro

Encerramento do CICAP no Porto. Sá Carneiro retoma a direcção do PPD.

6 Outubro

O RALIS acusa o PS de tentar dividir os soldados e de entregar armas pesadas aos Comandos. Manifestação dos SUV em Évora. Federação dos Metalúrgicos apela à greve geral. Ocupação do RASP pelos soldados do CICAP (Porto) passando a gerir a unidade de forma democrática. Manifestação em Lisboa de apoio ao RALIS.

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7 Outubro

Manifestação dos Metalúrgicos diante do Ministério do Trabalho.

8 Outubro

Trabalhadores da CUF decidem oferecer adubos às cooperativas agrícolas. Manifestação do PPD contra o RASP provoca dezenas de feridos. Manifestação em Coimbra, promovida pelo PS, de apoio a Charais e pelo “restabelecimento da disciplina no exército”. 250 mil metalúrgicos em greve. Governo cede a todas as reivindicações.

9 Outubro

Manifestação dos SUV em Coimbra reúne milhares de trabalhadores e soldados.

10 Outubro

No Porto, durante uma manifestação do PS de apoio ao governo, regista-se tentativa de assalto à sede da UDP, repelida, seguindo-se confrontos durante horas. A sede da FEC é incendiada; apedrejada a delegação do Diário de Notícias. Escalada da guerra civil em Angola.

13 Outubro

Peregrinação a Fátima com controlo militar dos acessos.

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15 Outubro

Manifestação dos SUV em Évora.

17 Outubro

Bomba destrói quase totalmente o Centro da Reforma Agrária em Alcácer do Sal.

21 Outubro

Manifestação de apoio à CT da Rádio Renascença, com desfile até à Buraca, onde após várias horas a estação emissora é desselada e ocupada pelos trabalhadores.

22 Outubro

Onda de boatos sobre golpes e contragolpes. O jornal A Luta divulga planos de um hipotético golpe de esquerda. Na imprensa surge a primeira referência à Frente Militar Unida para fazer frente aos SUV.

23 Outubro

Recomeçam as emissões da Rádio Renascença a partir da Lisboa. Manifestação em Lisboa de apoio ao Poder Popular. As Brigadas Revolucionárias regressam à clandestinidade.

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24 Outubro

Início da greve dos trabalhadores da panificação. Pires Veloso coloca todas as unidades da Região Militar Norte em alerta rigoroso para impedir a assembleia plenária dos soldados da Região Norte.

5 Novembro

COPCON prende 11 indivíduos acusados de pertencerem ao ELP.

6 Novembro

Incidentes em Santarém, no Centro Regional da Reforma Agrária, causam dois mortos e 22 feridos. Manifestação em Lisboa contra Ferreira da Cunha, do Ministério do Interior, acusado de ter colaborado com a PIDE/DCS.

7 Novembro

Bomba destrói o emissor da Rádio Renascença a mando do Conselho da Revolução.

8 Novembro

Início do conflito no corpo de Pára-quedistas , após a destruição do emissor da Rádio Renascença. Manifestação de protesto contra OCR.

9 Novembro

Manifestação de apoio ao governo no Terreiro do Paço, com a participação do PS e PPD. O PRP apela à revolução armada.

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10 Novembro

Iniciam o regresso a Portugal as últimas tropas presentes em Angola.

11 Novembro

Dia da Independência de Angola. Pára-quedistas rebelam-se contra a cadeia hierárquica, tomando conta da base de Tancos e colocam-se às ordens do COPCON.

12 Novembro

Cerco ao Palácio de S. Bento pelos operários da construção civil em greve; sequestro dos deputados e do Governo durante dois dias. Exigem a publicação do contrato, duas vezes prometido, mas ainda não publicado. Pinheiro de Azevedo, depois de terem falhado as tentativas de intervenção militar contra os operários, é obrigado a ceder. Forças do Exército e da GNR cercam e revistam uma cooperativa rural em Árgea, Torres Novas, “em busca de armas”.

13 Novembro

Os deputados sitiados em S. Bento saem por entre alas de manifestantes que gritam palavras de ordem e injúrias contra os deputados de direita e do PS.

14 Novembro

Uma manifestação conjunta do PS, CDS e PPD termina com o assalto e destruição da sede da União de Sindicatos do Porto, da Intersindical.

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16 Novembro

Manifestação em Lisboa promovida pelas Comissões de Trabalhadores da cintura industrial de Lisboa e pelas UCPs do Alentejo. Correm boatos de que vai ser instaurada a “Comuna de Lisboa”.

17 Novembro

Deputados da Assembleia Constituinte ameaçam tranferi-la para o Porto. São passados à disponibilidade 1200 pára- quedistas. A Comissão de Vigilância das Forças Armadas denuncia a preparação de um golpe reaccionário que deverá eclodir a 19.

18 Novembro

Governo suspende funções até lhe serem facultados todos os Poderes repressivos.

19 Novembro

Incidentes na Assembleia Constituinte forçam à interrupção da sessão e evacuação da sala pela polícia.

20 Novembro

Manifestação em Belém em defesa do Poder Popular e contra o governo. Costa Gomes apela aos manifestantes contra o perigo de guerra civil. O PS convoca comícios para vários pontos do país. A Base de Tancos é dissolvida.

21 Novembro

Realiza-se o juramento de bandeira revolucionário no RALIS. É divulgado um manifesto dirigido aos soldados e marinheiros, assinado por 28 oficiais. Vasco Lourenço é nomeado Comandante da RML, com a oposição de diversas unidades, que se recusam a aceitar essa nomeação.

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22 Novembro

Chegada dos últimos contingentes vindos de Angola a bordo do Niassa, ocorrendo incidentes no desembarque.

23 Novembro

Mais de uma centena de oficiais da Base de Tancos abandonam a unidade e instalam-se na Cortegaça (Espinho). O PS volta a encher a Alameda com uma manifestação de apoio ao Governo Provisório.

24 Novembro

A Intersindical convoca uma greve geral de duas horas para a Cintura Industrial de Lisboa. Plenário de agricultores em Rio Maior, organizado pela CAP, corta acessos a Lisboa e vêm apresentar as suas reivindicações ao governo.

 

25 Novembro

Pára-quedistas de Tancos ocupam as Bases Aéreas de Tancos, Monte Real, Montijo e Ota (durante a tarde), bem como o EMFA. O RALIS ocupa posições nos acessos da auto-estrada do Norte, Aeroporto da Portela e Beirolas. Forças da EPAM ocupam a RTP e o Regimento de PM controla a EN. O Presidente da República decreta o estabelecimento do estado de sítio parcial na região de Lisboa. As tropas rebeldes que ocupavam Monsanto rendem-se aos Comandos. Estes ocupam o Regimento da Polícia Militar, onde morrem dois comandos e um PM. Nos dias seguintes são detidos dezenas de oficiais, passados mandatos de captura, encerrados diversos jornais, dissolvido o COPCON e substituídas as altas patentes do exército.

continua>>>


Inclusão 23/11/2018