Imperialismo

Marx, Engels, Lênin, Stálin, etc.
compilação Calvino Filho


INTRODUÇÃO
FRENTE ANTI-IMPERIALISTA


capa

A impiedosa exploração imperialista, que a quase todos nós atinge, deveria portanto reunir o povo brasileiro — assalariados em geral, pequena e média burguesias e certas camadas da grande burguesia industrial — numa frente monolítica anti-imperialista, por isso que todos os interesses do Brasil, desde os menores aos maiores, principalmente os fundamentais, são sacrificados pelo imperialismo, que só pode sobreviver à custa da mais intensa e extensa exploração dos povos atrasados. Todos nós, brasileiros, consequentemente, com raras exceções de reduzidos grupos da grande burguesia, sofremos intensamente com a exploração imperialista.

E por que não nos fundimos numa frente monolítica, anti-imperialista?

Porque sendo um país economicamente atrasado, um dos mais atrasados do mundo, na afirmação de Prestes, tendo por isso mesmo um proletariado novo e pequeno, a ideologia dominante é a dos imperialistas, de que é porta-voz, principalmente, a grande burguesia, acolitada pela maioria da pequena burguesia, inclusive a intelectual, que é venal e tacanha, animada sempre da esperança vã de poder galgar os altos postos econômicos e políticos, que lhe garantam o impossível: vida estável e farta.

A pequena burguesia rural (pequenos camponeses, pequenos patrões e intelectuais), em permanente e crescente processo de proletarização, emociona-se e se apaixona ao menor aceno da clique dominante, desde que esta falazmente afirme que é preciso ajudá-la a desenvolver o campo, dar-lhe melhores condições de vida. Essa a razão porque a pequena burguesia rural olha com simpatia as diretivas impostas pelos imperialistas de que o Brasil deve ser um país essencialmente agrícola e fornecedor de matérias primas e propõe mentirosamente ajuda nesse sentido. Entre a ilusão da promessa de uma política falsa, que se propõe melhorar pacífica e imediatamente a sua angustiosa situação de pobreza e abandono, e a solução definitiva, revolucionária, no tempo, de todos os seus problemas econômicos e sociais, a pequena burguesia rural, míope, decide-se pelas ilusões, que satisfazem a sua alma pequenina de pequeno produtor.

Entre os percalços de uma dura luta pela transformação social verdadeiramente libertadora e a passividade embalada por sonhos inspirados em promessas mendazes, o pequeno burguês, “homem prático e materialista”, titubeia... deixa-se escravizar.

“Para os marxistas está plenamente estabelecido o ponto de vista teórico — e a experiência de todas as revoluções e movimentos revolucionários da Europa confirmam inteiramente — que o pequeno proprietário rural, o pequeno patrão (tipo social que em muitos países europeus está muito difundido, que abrange massas), sofrendo sob o capitalismo uma pressão contínua e frequentemente um pioramento incrivelmente brusco e rápido de suas condições de vida, chegando à ruína, adquire facilmente uma mentalidade ultrarrevolucionária, porém é incapaz de manifestar serenidade, espírito de organização, disciplina, firmeza. O pequeno burguês “enfurecido” com os horrores do capitalismo é um fenômeno social peculiar, como o anarquismo, de todos os países capitalistas. A inconstância dessas veleidades revolucionárias, sua esterilidade, sua facilidade de transformar-se rapidamente em submissão, em apatia, em sonhos fantásticos, indo até ao entusiasmo “furioso” por esta ou aquela tendência burguesa “da moda”, são universalmente conhecidas.”
(Lênin — Obras Escogidas — T. II – pág. 723-26 — ELE, 1948 — La enfermedad infantil del “Izquierdísmo” en el comunismo — Cap. IV).

A ruína, a miséria e a dureza de sua situação, determinam na pequena burguesia vacilações perpétuas: segue hoje a burguesia, amanhã o proletariado. Só uma vanguarda proletária experimentada é capaz de combater e resistir a essas vacilações.
(Lênin — Obras Escogidas — T. II — Pág. 912 — ÉLE, 1948 — Sobre el impuesto en especie).

Já a grande burguesia é essencial e selvagemente reacionária, máxime nos países coloniais, semicoloniais e dependentes, que se encontram na fase de desenvolvimento econômico, à época do imperialismo, pois para poder acumular capitais apesar da concorrência e “exploração” que sofre do capitalismo monopolista estrangeiro, do imperialismo, visto que é forçada a transferir-lhe grande parte da mais-valia extorquida do trabalhador nacional, é levada a espoliar intensamente as massas trabalhadoras, a um tal grau que é incompatível com as humanas necessidade das massas trabalhadoras, fundamentalmente a do “direito de comer”.

Colocada na sua luta pela acumulação do capital entre dois fogos, o imperialismo e as massas trabalhadoras, a nossa burguesia sente-se impotente economicamente para enfrentar o imperialismo e prefere dele fazer-se aliada e cúmplice; dispondo da máquina opressora e coarctora do Estado, poder político que decorre do seu poder econômico, atira-se contra massas trabalhadoras nacionais, espoliando-as à exaustão; malbaratando, aniquilando a “força de trabalho”. Destarte, a grande burguesia das colônias e países dependentes consegue acumular capitais, apesar de pagar elevadíssimo royalty ao capitalismo monopolista estrangeiro, imperialismo, pelo “direito” de reduzir as massas trabalhadoras nacionais à mais impiedosa fome, miséria e degradação humana.

Há, todavia, um setor da grande burguesia, mais unido, com maior consciência de classe, o setor industrial, como no Brasil, que, dispondo de maiores capitais acumulados, pelos seus representantes mais qualificados, não poucas vezes é obrigado a tentar opor-se às forças imperialistas, quando estas lhe entravam demasiadamente os negócios e acúmulo de maiores riquezas, a que se julga com direito, mas é inconsequente, e mais medo tem do operariado brasileiro nascente do que coragem para lutar contra o imperialismo.

Esse o motivo porque como força patriótica e anti-imperialista, consequente, no Brasil, só se podem indicar no momento apreciáveis frações proletárias do campo e das cidades, de semiproletários, de camponeses pobres, bem como pequeno número dos da pequena burguesia, principalmente urbana, que compreendem e aceitam o programa mínimo dos comunistas para a libertação nacional da espoliação imperialista e levantamento rápido dos padrões de vida e cultural das massas trabalhadoras brasileiras.

E por que só pequeno número de pequenos burgueses, principalmente intelectuais" Porque

... os pequenos burgueses, em geral, são vacilantes, salvo após a vitória, e então soltam gritos de triunfo ensurdecedores, nas tabernas. Contudo, há entre eles, alguns ótimos elementos que se juntam espontaneamente aos trabalhadores.
(Engels — As guerras camponesas na Alemanha — Pág. 11 — Ed. Vitória Ltda., 1946).

Porque a nossa pequena burguesia está impregnada das concepções do regime capitalista, baseadas

“... no princípio seguinte: ou saqueias ao teu próximo ou ele te saqueia; ou trabalhas para outro ou outro trabalha para ti; ou és escravista ou tu mesmo és escravo. É natural que os homens educados em semelhante sociedade assimilem, por assim dizê-lo, com o leite materno, a psicologia, o costume, a ideia de que não há mais que senhor ou escravo, ou pequeno proprietário, pequeno empregado, pequeno funcionário, intelectual, em uma palavra, homens que se ocupam exclusivamente de ter o seu, sem pensar nos demais.

“Se exploro minha parcela de terra, pouco me importam os demais; se alguém tem fome, tanto melhor, venderei mais caro o meu trigo. Se tenho meu lugarzinho de médico, de engenheiro, de professor ou de empregado, que me importam os demais? Se me lanço aos pés dos poderosos, é possível que conserve o meu lugar e, talvez, possa fazer carreira e chegar a rico.”
(Lênin — Obras Escogidas — T. II — Pág. 842 — ELE, 1948 — Tarea de las Juventudes Comunistas).

Esse um aspecto das ideias, das concepções dominantes entre nós, reflexo das condições materiais da precária existência da nossa burguesia, produto das relações de produção de um país semicolonial, dominado e explorado principalmente pelo imperialismo anglo-americano, que por isso mesmo nos impõe a ideologia estimável em países coloniais, fornecedores de produtos agrícolas e de matérias primas.

A oligarquia financeira anglo-americana, por monopolizar os meios de produção material, igualmente monopoliza os meios de produção espiritual e mantém, por consequência, em geral, sob seu jugo, as ideias daqueles que materialmente dela depende.

“As ideias dominantes não são mais que a expressão ideal das condições materiais dominantes, são condições materiais dominantes traduzidas em ideias, e, por conseguinte, as próprias condições que fazem de uma classe a classe dominante, são, portanto, as ideias da sua dominação. Os indivíduos que compõem a classe dominante têm, entre outras coisas, uma consciência, logo, eles pensam consequentemente; na medida em que dominam como classe e determinam em toda sua extensão uma época histórica, claro está que o fazem inteiramente, que dominam, portanto, entre outras coisas, como seres pensantes, como produtores de ideias que regulam a produção e a distribuição das ideias do seu tempo; donde suas ideias serem as ideias dominantes da sua época.”
(Marx — Oeuvres Philosophiques — T. VI — Pág. 193 — Ideologie Allemande — A. Costes, 1937).

Da burguesia que hoje domina o mundo, ocupa os postos chaves mundiais a oligarquia financeira, da mesma forma que as grandes burguesias nacionais nos países em que nasceram ou atuam, subordinadas, entretanto, àquela oligarquia financeira mundial.

É evidente que a oligarquia financeira que domina o mundo atual faz com que as grandes burguesias nacionais identifiquem os próprios interesses com os seus, ideologicamente, seja subordinando-as, subjugando-as, subornando-as, seja amedrontando-as com o “fantasma do comunismo” com os movimentos operários e camponeses nacionais.

Essa a razão porque a classe dominante no Brasil, através dos seus representantes categorizados, prega e defende, uns inconscientemente e outros deslavadamente, cinicamente, a alienação da soberania nacional com a subordinação dos supremos interesses de nossa Pátria à oligarquia financeira ianque, eufemisticamente apresentada como o “colosso norte-americano”, em cuja órbita somos obrigados a girar por fatalidade geográfica e econômica, segundo a sua despudorada e traidora argumentação.

A ideologia, porém, é uma forma de consciência social e numa sociedade de classes há em oposição à ideologia dos exploradores a ideologia dos explorados, e mais nenhuma outra. Portanto, se na atualidade é dominante entre nós a ideologia burguesa, ao mesmo tempo cresce e se desenvolve impetuosamente a ideologia proletária.

E à ideologia proletária são inerentes as ideias de acendrado amor à Pátria e de defesa vigorosa da sua liberdade econômica e política da escravidão imperialista.

Ao deliquescente cosmopolitismo, reverso do estreito nacionalismo burguês, chauvinista, propagado pelo imperialismo, para armar as burguesias nacionais de uma teoria que Justifique a sua traidora alienação da soberania nacional em favor do imperialismo, as classes operárias levantam bem alto a bandeira de a defesa da soberania nacional e da autodeterminação dos povos, como frutos de seu profundo patriotismo, ao mesmo tempo que estendem suas mãos calosas para, seus demais irmãos de todo o mundo, num gesto eloquente de solidariedade e fraternidade internacionais, base do seu internacionalismo, carne de sua carne, sangue do seu sangue.


Inclusão: 14/06/2020