L. A. & Cª no meio da revolução

Texto de Maria Mata
Ilustrações de Susana Oliveira


Apêndice, Lisboa 25 de Abril de 1974


ESTA HISTÓRIA É VERDADEIRA?

Não, é claro que não!

Toda a gente — e os escritores são como toda a gente — pode inventar histórias. Mas as histórias dos escritores — que são inventadas — costumam falar de coisas que podiam ter sido verdade. É a criação literária.

Mas então, nesta história, o que é que é verdade e o que é que é inventado?

Os gémeos, o Luís, a Ana, a avó, são inventados, é claro. O roubo também.

Mas existe um Laboratório em Sacavém que em 1974 se chamava Laboratório de Física e Engenharia Nucleares e onde está instalado o único reactor nuclear que existe em Portugal.

E o que aconteceu em Lisboa, no dia 25 de Abril de 1974, também foi verdade.

Na madrugada do dia 25, por todo o Portugal, várias unidades militares revoltaram-se e dirigiram-se a Lisboa para mudar o governo, extinguir a PIDE, libertar os presos políticos, fazer eleições livres, abolir a Censura, acabar com a guerra em Angola, Moçambique e Guiné.

Era uma revolução!

Os militares revoltosos apelaram pela rádio "a todos os habitantes da cidade de Lisboa, no sentido de recolherem a suas casa, nas quais se (deviam) conservar com a máxima calma".

Não foi isso que os lisboetas fizeram: vieram para a rua dar vivas à Liberdade, ajudar e oferecer cravos aos soldados.

O Chefe do Governo — nessa altura chamava-se Presidente do Conselho e era o Professor Marcello Caetano — refugiou-se no Quartel da Guarda Nacional Republicana, no Largo do Carmo, em pleno Centro de Lisboa. Foi para lá que se dirigiu o Capitão Salgueiro Maia, com os seus soldados e alguns blindados.

E logo aí a população ajudou! Como nessa zona de Lisboa há muitas ruas estreitinhas, indicou ao Capitão Maia quais eram as melhores ruas e, uma vez chegados ao Largo do Carmo, disse-lhe a melhor maneira de alguns soldados subirem aos telhados para melhor controlarem a situação.

O cerco ao Quartel do Carmo durou a tarde toda: o Capitão Salgueiro Maia chegou ao Largo do Carmo cerca do meio-dia e trinta e só às sete e meia da tarde é que o Professor Marcello Caetano se rendeu.

No resto de Lisboa e no resto do País quase não houve resistência à Revolução; à noite, o General Spínola, Presidente da Junta de Salvação Nacional (era o novo governo) aparece na Televisão a anunciar o novo regime político que é aquele em que vivemos agora.

Foi bom? Foi mau?

Isso não nos compete a nós dizer. Nós só quisemos contar uma história que se podia ter passado naqueles dias que ficarão para sempre na História de Portugal.


Inclusão: 29/04/2020