O PCP e a Luta pela Reforma Agrária

Partido Comunista Português


I CONFERÊNCIA DE TRABALHADORES AGRÍCOLAS DO SUL (Évora, 9 de fevereiro de 1975)
INTERVENÇÃO DE ÁLVARO CUNHAL NA SESSÃO DE ENCERRAMENTO DA CONFERÊNCIA(1)


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Camaradas:

As conclusões da I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, que acabam de ser aprovadas, têm um alto significado.

Elas mostram que os trabalhadores agrícolas tomaram o seu destino nas próprias mãos, que estão firmemente decididos a defender os seus interesses vitais, e pôr fim ao desemprego, à fome e à miséria, a transformar a actual agricultura, que os grandes agrários condenaram ao atraso e ao abandono, numa agricultura desenvolvida, que assegure aos trabalhadores agrícolas a vida a que têm direito e assegure ao País os géneros de que o País necessita.

As conclusões da Conferência mostram também que os trabalhadores agrícolas, melhor que ninguém, estão em condições de indicar ao País as grandes linhas das transformações democráticas necessárias nos campos do Sul e particularmente as grandes linhas da Reforma Agrária, que (como todos os debates nesta Conferência evidenciaram) se tornou uma aspiração profunda e um objectivo central das massas trabalhadoras.

Camaradas:

Os acontecimentos desde o 25 de Abril têm mostrado que os monopolistas e os latifundiários são o grande apoio e a grande força da reacção e do fascismo, são os inimigos jurados dos trabalhadores, são os inimigos jurados da nova situação democrática instaurada pelo heróico Movimento das Forças Armadas e defendida e construída também pelas forças democráticas e pela luta e pela actividade criadora das massas populares.

Os grandes senhores do dinheiro Tia indústria, os grandes senhores da terra na agricultura, procuram por todos os meios criar dificuldades à nossa jovem democracia, paralisar a produção, provocar o caos económico, fomentar o descontentamento das massas populares contra o Governo Provisório e contra o MFA.

Inversamente, tanto na indústria como na agricultura, são os trabalhadores que, defendendo os seus interesses de classe, defendem o aumento da produção e a solução dos grandes problemas económicos nacionais. Os interesses dos trabalhadores identificam-se com os interesses da nação portuguesa.

Na indústria, enquanto o patronato reaccionário desviai os fundos, anula encomendas, diminui e sabota a produção, conduz as empresas à beira da falência e do encerramento, multiplica os despedimentos e ameaça a totalidade dos trabalhadores com o desempregosão os operários e empregados que, contra a vontade do patronato, asseguram o funcionamento das empresas, procuram manter postos de trabalho e se esforçam por fazer sair as empresas das dificuldades, assegurando o cumprimento da sua função na economia nacional.

Na agricultura, como esta Conferência comprovou, enquanto os grandes agrários mantêm incultos centenas de milhares de hectares, cessam o cultivo das terras ou mal as aproveitam, abatem o gado ou deixam-no morrer à fome, destroem culturas, lançam os trabalhadores para o desempregosão os trabalhadores agrícolas que, contra a vontade dos grandes agrários, começam a cultivar terras abandonadas, a tratar das árvores e dos gados lançados ao desprezo, e dar vida a uma agricultura arruinada para que ela possa finalmente dar trabalho, pão, uma vida desafogada e livre ao povo trabalhador.

Os, factos demonstram que, na situação criada pela revolução democrática em curso, o aumento da produção, a estabilidade económica e financeira do Pais, só podem ser alcançados em luta contra os monopólios e contra os grandes agrários e com a intervenção decidida, o trabalho esforçado e a iniciativa criadora das massas trabalhadoras das cidades e dos campos.

No que respeita ao desemprego, à luta contra a sabotagem económica, à assistência e previdência, aos interesses das populações, à organização sindical e à Reforma Agrária, as conclusões da Conferência dão numerosas sugestões e fazem numerosas propostas que constituem contribuição preciosa para a solução dos problemas que afectam os trabalhadores agrícolas do Sul.

Podeis estar certos de que o PCP terá em conta essas conclusões da Conferência no seu próprio exame dos problemas e em toda a sua actividade no governo e fora do governo.

Camaradas:

Em todos os debates desta Conferência um facto foi salientado: que há terras imensas para cultivar por um lado e que há milhares de braços sem trabalho por outro.

Os trabalhadores agrícolas do Sul, assalariados e pequenos agricultores, não mais podem admitir que haja lado a lado terras por cultivar e trabalhadores sem trabalho.

Do Alentejo das terras incultas, das charnecas, dos pousios, do gado raro e miserável, dos baixos rendimentos das culturas, do Alentejo do desemprego, da fome e da miséria, os trabalhadores, com o apoio do Estado democrático, farão um Alentejo com uma agricultura que dará em abundância os produtos de que os trabalhadores e o País necessitam.

A Reforma Agrária surge natural como a própria vida, aparece como resultado da necessidade objectiva de resolver o problema do emprego e da produção, como solução indispensável e única.

Os latifúndios têm sido e são a miséria, o atraso e a morte. A entrega da terra a quem a trabalha significa a própria vida, vida para os trabalhadores desempregados e seus filhos, vida para a agricultura abandonada, sabotada pelos grandes agrários e pelos grandes capitalistas.

Vivemos um momento histórico nos campos do Sul. Pelas mãos dos trabalhadores, a Reforma Agrária deu os primeiros passos. Se soubermos reforçar a organização e a unidade dos trabalhadores, se soubermos reforçar a aliança Povo-Forças Armadas, o desenvolvimento da Reforma Agrária é irreversível. A luta não parará mais até que a terra de todos os latifundiários seja entregue a quem a trabalha.

Na sua luta abnegada e heróica, os trabalhadores agrícolas do Sul, como todos os trabalhadores portugueses, poderão contar sempre, nas horas boas e nas horas más, com o Partido Comunista Português.

Unidos e organizados, avante para novas vitórias!

Vivam os heróicos trabalhadores agrícolas do Sul!

Viva a unidade dos trabalhadores na luta por uma vida melhor!

Viva a aliança do movimento popular com o Movimento das Forças Armadas!

Viva o Partido Comunista Português!

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) Intervenção pronunciada de improviso. (retornar ao texto)

Inclusão 29/05/2019