A Revolução em Ruptura
Textos Históricos da Revolução II

Organização e introdução de Orlando Neves


Costa Gomes em Paris, a Valery Giscard D'Estaing
(4-6-1975)


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«As minhas primeiras palavras são de agradecimento a V. Ex.?, sr. Presidente, pela oportunidade e pela generosidade que teve em me convidar para visitar este belo país, tão conhecido e tão querido de todos os portugueses.

V. Ex.ª pode calcular, que nesta minha decisão de começar as visitas de Chefe do Estado, pela França, aos países nossos amigos, não foi uma mera questão de acaso.

Como V. Ex.ª acaba de afirmar, são bem conhecidos os laços históricos que nos unem e, eu posso dizer que a história de Portugal está intimamente ligada às suas relações com o povo francês, desde o início da nacionalidade até aos nossos dias.

Apesar, porém, dos laços históricos, sentimentais, culturais e de amizade que nos unem, se não houvesse outro motivo, eu teria tido ocasião de me decidir pelo facto de, neste momento, termos em França, a trabalhar junto dos vossos operários, um decénio da população portuguesa.

Desejo aproveitar este momento para agradecer a V. Ex.8, ao Governo francês e aos trabalhadores franceses a forma muito fraterna e muito amiga como têm acolhido os nossos trabalhadores.

Salientou V. Ex.ª, sr. Presidente, as dificuldades que se sentem no meu País pelo facto de termos, há pouco mais de um ano, deposto uma ditadura, a mais longa da História, e que nos causou tremendos malefícios.

A nossa Revolução, que eu considero uma das revoluções mais puras e famosas da História da Humanidade, porque foi feita pelos militares, quase sem derramamento de sangue, tem na sua génese algumas dificuldades. Eu posso afirmar, mais uma vez, que a nossa Revolução tem por finalidade a construção de uma democracia pluralista, de um socialismo livre, onde sejam respeitados os direitos do homem e onde todos os portugueses possam subsistir numa sociedade em que seja completamente banida a exploração do homem pelo homem.

Como se afirma no Programa do Movimento das Forças Armadas, a Revolução respeita escrupulosamente todos os tratados que o Governo Português tinha afirmado, incluindo o Tratado do Atlântico Norte, e o Governo português está disposto a cumprir fielmente estes tratados.

Sr. Presidente, eu agradeço-lhe a compreensão que demonstrou para com o meu País e a sua situação actual, porque me parece que, mercê de circunstâncias várias, a situação político-social de Portugal tem sido bastante deformada, quando transpõe as tonteiras e é observada pelos países, quer europeus quer americanos, que sempre têm mantido as melhores relações connosco.

Espero que a minha visita possa realmente colocar a situação de Portugal nos seus devidos termos, e peço a V. Ex. e ao povo francês, que eu tanto considero, porque a ele devo tanto da minha formação intelectual e da minha cultura, que nesta altura realmente se debrucem um pouco mais sobre os problemas do meu País e tenham um pouco de compreensão e de estima pelo que ali se passa.

Para finalizar, eu quero reiterar os meus agradecimentos a V. Ex.ª e quero dirigir a todo o povo francês uma saudação fraterna e muito sincera, não só minha como de todo o povo português. Viva a França!»

continua>>>
Inclusão 30/04/2019