O Desenvolvimento do Comércio Internacional e o Progresso Econômico dos Países Atrasados

G. Afanassiev


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 40 - Mai-Jun de 1952.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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Uma das missões confiadas à Organização das Nações Unidas, pela Carta, é a de contribuir para a elevação do nível de vida, para o pleno emprego da população, para condições de progresso e desenvolvimento econômico e social, com a finalidade de criar as condições de estabilidade e de bem-estar, indispensáveis às relações pacíficas e amigáveis entre as nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade e da auto-determinação dos povos (artigo 55).

Tarefas análogas estão inscritas nos estatutos das chamadas instituições especializadas intergovernamentais, criadas junto à ONU em virtude dos artigos 57 e 63 de sua Carta. Assim, por,exemplo, os estatutos da Organização de Alimentação e Agricultura (F.A.O.) assinalam como um dos objetivos dos membros da organização «a elevação do nível de alimentação e de vida das populações, colocadas sob sua jurisdição». Consequentemente, fazem parte das atribuições da F.A.O., a concessão de uma ajuda técnica às nações que a solicitem, assim como o envio a esses países de missões apropriadas para levar-lhes essa ajuda. No artigo primeiro dos estatutos do Banco Internacional da Reconstrução e Desenvolvimento, é dito também que uma de suas tarefas é «prestar sua contribuição na reconstrução e no desenvolvimento dos territórios dos Estados-membros, através da cooperação por meio de inversões de capital em objetivos produtivos... e também de ajudar no desenvolvimento das possibilidades e recursos de produção nos países atrasados».

Convém colocar no número desses últimos os países fracamente industrializados do Sul e do Sudeste da Ásia, do Oriente Próximo e Médio, da África e da América Latina. Sua economia, em regra geral, tem um desenvolvimento unilateral e se caracteriza pela produção da um só ou alguns gêneros alimentícios, de matérias primas de origem agrícola ou mineral; a indústria nacional ou não existe absolutamente, ou é extremamente pouco desenvolvida: o nível da população, que carece de alimentação, de roupa e de moradia, é muito baixo e diminui constantemente. Ao lado disso, esses países ocupam vastos territórios em que vive uma população numerosa e são ricos em recursos naturais. Em muitos casos são fornecedores bem importantes e às vezes mesmo detém o monopólio do fornecimento da matérias primas e de gêneros alimentícios; borracha (Indonésia, Ceilão e Malásia), juta (Índia e Paquistão), estanho (Malásia, Indonésia e Bolívia), Açúcar (Cuba), Café (Brasil e América Central), etc. Entretanto, essa posição, vantajosa à primeira vista, de países atrasados em conseqüência de rua fraqueza econômica, acarreta-lhes os resultados mais desfavoráveis porque se acham submetidos à exploração das grandes potências do mundo capitalista, o que acentua, a um grau extremamente pronunciado, sua dependência econômica em relação à conjuntura variável dos mercados de matérias primas, frequentemente determinada por medidas que não são em absoluto de ordem comercial.

Os organismos da ONU consagraram muito tempo e trabalho ao exame das questões relativas à ajuda econômica aos países atrasados, mas, os resultados de seus trabalhos não compensam o tempo gasto com o estudo desses problemas. É necessário confessar francamente que esses resultados foram ínfimos.

Desde 1948 a terceira sessão da Assembléia Geral da ONU aprovou uma resolução sobre a necessidade da ajuda ao desenvolvimento econômico dos países atrasados e fixou no orçamento da ONU uma quantia de cerca de 300.000 dólares destinada às despesas preliminares de ajuda técnica a esses países. A ajuda econômica aos países atrasados se tornou um tema do conversações particularmente estudado no seio dos organismos da ONU, depois que o presidente dos Estados Unidos da América, Truman, proclamou o famoso «Ponto 4» em seu discurso programa pronunciado em janeiro de 49. Esse «ponto 4» do programa do presidente americano é, como se sabe, igualmente consagrado às questões da «ajuda» aos países atrasados.

Em março de 1949, o representante soviético declarou ao Conselho Econômico e Social da ONU que o ponto do vista da URSS sobre o problema da ajuda econômica aos países e territórios atrasados era o seguinte:

  1. A União Soviética é partidária de uma ajuda econômica extensa aos países e territórios atrasados sob a condição de que essa ajuda concorra para o desenvolvimento nacional no sentido de sua independência, conforme estipulam os estatutos da ONU.
  2. A ajuda econômica deve concorrer para o desenvolvimento dos recursos internos desses países e territórios e para o desenvolvimento de sua indústria e agricultura nacionais.
  3. A ajuda econômica não deve ser acompanhada da exigência de nenhum privilégio político, econômico ou militar em benefício dos países que concedem essa ajuda.

Em seguida o Conselho Econômico e Social da ONU, desviou-se das questões de ajuda econômica aos países fracos, limitando seu interesse às questões de ajuda técnica, que apresenta naturalmente um caráter incomparavelmente, mais estreito e não poderia substituir de modo algum a ampla ajuda econômica necessária aos países atrasados. Os delegados da URSS juntamente com os representantes dos países de democracia popular, tiveram de travar uma luta enérgica contra os adversários do princípio da soberania nacional e do desenvolvimento industrial dos países fracos, aos quais deve-se estender a ajuda técnica,a fim de salvaguardar na medida do possível os interesses desses países.

Foi assim, notadamente, que sob a insistência da delegação soviética, o Conselho Econômico e Social tomou uma resolução estipulando que a ajuda técnica deve ter por finalidade ajudar os países pouco desenvolvidos a atingir sua independência econômica e política pelo desenvolvimento de sua indústria e de sua agricultura, e pela elevação do nível econômico e social do bem-estar da população, o Conselho adotou uma outra proposta soviética estabelecendo que oa peritos enviados nos países atrasados não devessem exercer atividades outras que as imediatamente ligadas à ajuda técnica, e que suas atribuições nesse caso devem ser definidas em acordo com os governos que recebem essa ajuda.

O Conselho Econômico e Social aceitou igualmente as emendas apresentadas pela delegação polonesa relativamente ao respeito à soberania nacional e à legislação dos países ajudados e o princípio da não discriminação na concessão da ajuda. Aprovou, igualmente, uma proposta da delegação da R. S. S. da Bielo-Rússia em virtude da qual as informações a serem fornecidas pelos países que solicitarem ajuda técnica devem se limitar às questões que tenham relação imediata com a solicitação.

Assim, graças à iniciativa e à insistência dos representantes da URSS e dos países de democracia popular, a concessão da ajuda técnica aos países economicamente atrasados que a reclamam, foi submetida, no quadro da ONU, a certas condições que garantem em certa medida os seus direitos e interesses.

A própria questão de ajuda econômica aos países fracos é deixada ao exame de certos Estados que possuem os recursos financeiros e materiais indispensáveis assim como ao exame do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, a única das instituições intergovernamentais apropriada que dispôs de meios reais de investimentos. Por isso, os países atrasados no sentido econômico se acham colocados numa situação de desigualdade e de subordinação no decurso de suas negociações com a maioria de seus contratantes, de que estes não deixam de se prevalecer.

Para prestar ajudar técnica aos países fracos, a Organização das Nações Unidas dispõe de meios extremamente modestos que, além disso, estão em sua maior parte à disposição de instituições especiais. Assim é que, particularmente, num período de 18 meses — de 1 de julho de 1950 a 31 de dezembro de 1951 — os diferentes países membros da Organização das Nações Unidas não depositaram no fundo da ONU a título de «ampliação do programa de ajuda técnica», senão 20 milhões de dólares, dos quais mais de 70% foram transferidos a F. A.O., à Organização Internacional do Trabalho, à UNESCO e outros organismos. Esses fundos servem para pagar aos peritos assessores da ONU e das instituições inter-governamentais, bolsas de estudos concedidas aos cidadãos dos países que reclamam ajuda técnica, organização de cursos de formação de especialistas em determinados locais e outras medidas semelhantes.

Uma atividade desse gênero poderia produzir alguns efeitos positivos, embora, naturalmente, de todo insuficiente em relação às enormes necessidades dos países economicamente atrasados se fosse realizada de uma maneira conveniente. Nesse sentido, a prática das instituições especializadas da ONU como a F.A.O. e a Organização Internacional do Trabalho se apresenta de maneira particularmente pouco satisfatória. A F.A.O. mandou numerosas missões investigar o estado da agricultura nos países da América Latina, da Ásia, e da Bacia do Mediterrâneo. Deixando de lado os conselhos puramente técnicos relativos, por exemplo, aos métodos de luta centra as pragas das plantações, as recomendações dessas missões tiveram por objetivo orientar a agricultura dos países que foram objeto de suas investigações para as espécies de cultura que não entram em concorrência com as mercadorias exportadas pelos Estados Unidos, particularmente, o trigo e o algodão. Em vista dessa maneira tendenciosa de proceder, não é preciso dizer que os países fracamente desenvolvidos não devem esperar uma ajuda eficaz por parte da ONU e de suas instituições especializadas.

A situação assume, entretanto, um aspecto ainda mais sério quando se trata de ajuda propriamente econômica, agora no quadro do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento. Desde o início de suas operações, em 1946, até 1951, esse Banco decidiu conceder créditos no valor de somente 1 bilhão e 207 milhões de dólares, dos quais os países que podem ser colocados na categoria de economicamente fracos não receberam senão 395 milhões, dos quais apenas 174 milhões tinham sido realmente utilizados até primeiro de janeiro de 1952. Sob o pretexto de verificar a conveniência dos investimentos, o Banco se entrega a pesquisas excessivamente capciosas relativamente à situação econômica e política do país que solicita uma ajuda e, com freqüência, violando a soberania desse país, exige que ele tome diversas providencias de caráter administrativo e legislativo, para lhe conceder, finalmente, um empréstimo sob condições financeiras extremamente onerosas (4% ao ano, em média), destinado à realização de projetos especiais aprovados pelos Estados Unidos, que representam o papel dirigente nos negócios desse banco. O Banco concede créditos quase que exclusivamente para a construção de centrais elétricas e o desenvolvimento dos transportes, a fim de aumentar, nos países em questão, a produção de matérias primas e outros materiais estratégicos que serão em seguida exportados para os Estados Unidos.

Mas o «novo programa» (o «ponto quatro») de Truman, sobre o qual afirmava o seu autor, por ocasião do seu lançamento, que devia «oferecer aos países atrasados as reservas americanas de conhecimentos técnicos» e fomentar as inversões americanas «nas regiões que têm necessidade de ser desenvolvidas» murchou antes de florescer. Esse programa se reduziu, na realidade, ao desembolso de quantias insignificantes para a «ajuda técnica», deixando aberta a questão de se colocarem à disposição dos países fracos capitais e recursos materiais que se destinem à uma ampla edificação econômica, capaz realmente de garantir o pleno emprego e elevar o nível de vida das massas populares da Ásia meridional e sul-oriental, da Bacia do Pacífico, da África e da América Latina. Para o ano orçamentário de 1950-1951 o Congresso dos Estadas Unidos destinou um total de 14 milhões e 500 mil dólares de «ajuda» a título do «ponto quatro», créditos gastos, em sua quase totalidade, com o pagamento dos funcionários americanos enviados para os países que recebem a «ajuda» estabelecida pelo programa.

Para o ano de 1951-52 os Estados Unidos destinaram apenas 13 milhões de dólares de contribuição ao fundo da ONU para a «ampliação do programa de ajuda técnica».

Os meios dirigentes americanos estabeleceram que os países beneficiados celebrassem acordos especiais com os Estados Unidos como condição para a concessão de créditos para a «ajuda técnica» a título do «ponto quatro». Além disso, os Estados Unidos procuraram assegurar o mais possível a possibilidade de não só receber as mais variadas informações sobre a situação econômica dos países beneficiados como também de realizar a prospecção de minerais úteis sempre que já não tivessem adquirido esse direito em virtude de convenções anteriores. Assim, por exemplo, através de um acordo de «ajuda técnica» concluído com o governo do Nepal, os Estados Unidos obtiveram a autorização de «proceder imediatamente à prospecção dos recursos minerais do país», em virtude do que uma missão americana partiu para o Nepal.

Semelhantes acordos de «ajuda técnica» exercem o papel de medidas auxiliares e preliminares que devem preparar o terreno para as inversões americanas diretas nos países que são objeto dessa espécie de «ajuda» assim como para os empréstimos concedidos pelo Banco governamental americano de exportação e importação. Business Week, a revista dos grandes industriais e banqueiros americanos, considerando o «ponto quatro» do programa de Truman como uma continuação do «plano Marshall», escrevia em maio de 1949 que sua ação devia ser calculada para um período mais longo, de aproximadamente 50 anos. Entre os métodos fundamentais para a realização do programa Truman essa revista enumerava os créditos concedidos pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento assim como os créditos concedidos pelo Banco de Exportação e Importação de Washington, as inversões privadas e, — o que está longe de desempenhar o último papel nessa questão — a ampliação do programa americano de constituir reservas de matérias primas estratégicas o que deve acarretar o aumento da produção de matérias primas nos países atrasados e sua exportação para os Estados Unidos.

Quanto às inversões privadas americanas, antes mesmo dessa época, se dirigiam, em grandes proporções, para os países economicamente atrasados. Essas inversões apresentam um caráter específico e visam quase que exclusivamente o desenvolvimento das empresas petrolíferas americanas na Venezuela e em alguns outros países da America Latina assim como no Oriente Próximo e Médio — Arábia Saudita, Kuwait e Iraque. As inversões desse gênero não concorrem de forma alguma para o desenvolvimento desses países nem para o progresso social de sua população e não conduzem senão a delapidação de suas riquezas nacionais.

Em outros países ou regiões que, por assim dizer, não recebem o «certificado» de atrasadas, ou não se faz nenhuma inversão de capital, ou então essas inversões se realizam em proporções insignificantes, cercadas ainda de toda sorte de condições preliminares. Nesse sentido é característico o «Código Internacional de um Regime Equitativo para os Investimentos no Estrangeiro» aprovado em 1949 por ocasião do XII Congresso da Câmara do Comércio Internacional que concede de fato a essas inversões direitos e garantias ilimitadas nos países economicamente atrasados. A massa principal da população dessas regiões pertence ao Império Britânico. Os países britânicos da Ásia Sul-Oriental são fornecedores de matérias primas muito importantes, indispensáveis à indústria inglesa e constituem uma das fontes de entrada de dólares nas caixas do Tesouro inglês. Ao mesmo tempo, em nenhuma parte do mundo a miséria, a fome e o aniquilamento da população atinge proporções tão terríveis como na Índia e nos países atrasados vizinhos. Assim, por exemplo, de acordo com os algarismos retirados do relatório anual apresentado pela F.A.O., relativo a 1951, enquanto que a ração alimentar mínima média do homem é de 2.800 a 3.000 calorias por dia, a ração diária é na Índia de 1.600, na Indonésia de 1950 e na Indochina de 1.560 calorias.

Inquietos pelo aumente da consciência nacional e da luta de libertação dos povos da Ásia e do Extremo Oriente, os meios governamentais da Inglaterra, ao mesmo tempo em que recorrem à medidas de intervenção militar direta, se esforçam por desviar a atenção desses povos com a promessa de uma ajuda ao desenvolvimento econômico dessas regiões. O desejo da Inglaterra de opor obstáculos ao reforçamento das posições americanas não representa um papel de somenos importância nessa política. Como resultado de todos esses esforços surgiu na ordem do dia um «plano de cooperação para o desenvolvimento econômico dos países da Ásia meridional e sul-oriental», conhecido sob o nome de «plano de Colombo» que a propaganda britânica quer apresentar como uma «magnânima contribuição da Inglaterra à ajuda aos países economicamente atrasados».

Entretanto, a análise do «plano de Colombo» revela imediatamente o seu caráter não só tendencioso como também irreal e extremamente limitado. Calculado para seis anos, o «plano de Colombo» se estende à Índia, ao Pasquistão, ao Ceilão, à Malásia e às possessões inglesas ao norte de Bornéo e prevê uma despesa de 1 bilhão e 868 milhões de libras esterlinas, o que representa menos de 2 dólares por habitante anualmente. Na realidade, aliás, essas quantias não são postas à disposição dos países atingidos pelo «plano» nem à disposição dos países iniciadores. Dessa quantia total de 1 bilhão e, 868 milhões de libras esterlinas, 1 bilhão e 84 milhões se destinam às importações, isto é, 58% do total, e os recursos mais ou menos reais destinados à realização do programa de importação são os créditos em libras esterlinas desses países, que atingem aproximadamente a 250 milhões de libras, sobre os quais a Inglaterra promete levantar o bloqueio. Tenciona-se, além disso, obter cerca do 100 milhões de libras de créditos do Canadá, da Austrália, da Nova Zelândia assim como da própria Inglaterra (neste último caso para pagar as importações de material e de equipamento com destino à Malásia e ao norte de Bornéo). Todo o resto dos créditos reclamados a título do Plano de Colombo, inclusive em grande parte a moeda local, fica sem nenhuma cobertura real.

O «Plano de Colombo» se propõe objetivos mais que modestos no sentido de elevar o nível econômico dos países aos quais se aplica, mas, o que é mais importante, não cria nenhuma base de garantir efetivamente a independência econômica desses países. Prevê-se que após sua realização as superfícies de semeadura desses países devem aumentar apenas de 3,5%, a produção de cereais de 6 milhões de toneladas e a potência das centrais elétricas de 1 milhão e 100 mil kilowatts, o que, no melhor dos casos, permitira apenas manter o atual nível de vida miserável da população e não oferece nenhuma esperança de melhoria.

O «Plano de Colombo» prevê principalmente o desenvolvimento da agricultura e dos transportes, nos limites indicados acima, visando-se aumentar a exportação de juta, de algodão, de borracha e de outras matérias primas. Estipula que não se deve consagrar mais de 10% do total das inversões à indústria, e, assim mesmo, à indústria leve de preferência. O «Plano de Colombo» não chega mesmo a colocar o problema do desenvolvimento da indústria pesada como meio de fazer os países da Ásia Sul-Oriental atingir uma verdadeira independência econômica e política. Não se propõe outro objetivo senão o de manter esses países no papel de fornecedores de matérias primas a baixo preço e de mercado de escoamento para os produtos da indústria inglesa.

Conclui-se claramente do que acabamos de dizer que a «ajuda econômica» oferecida pelos Estados Unidos, pela Inglaterra e seus sócios não tem em vista criar uma base sólida para a economia nacional dos países fracos e pouco desenvolvidos, mas apenas intensificar neles a extração e a produção de matérias primas e de produtos brutos destinados à exportação para os Estados que «concedem a ajuda» e a criação de enormes reservas de matérias estratégicas. Os países objetos da «ajuda» constatam que se lhes recusa o fornecimento de equipamento industrial, de tornos e de máquinas absolutamente indispensáveis ao desenvolvimento, de sua economia nacional, porque esses fornecimentos contribuiriam para o estabelecimento de sua independência econômica e política e agravariam inevitavelmente a concorrência vigente nos mercados comerciais. Não é preciso dizer que uma «ajuda» desse gênero não pode concorrer para o progresso econômico e social dos países fracamente desenvolvidos, ao contrário, freia o desenvolvimento de suas forças produtivas, aumenta a sua dependência em relação às grandes potências capitalistas e os reduz à categoria de apêndices agrícolas e de fontes de matérias primas da economia desses Estados e representa uma ameaça mesmo para o atual nível de vida miserável da população dos países atrasados.

* * *

A União Soviética, absorvida pelas tarefas grandiosas das construções de paz, é absolutamente alheia, por sua própria natureza, a esses objetivos de manter os países pouco desenvolvidos como apêndices agrícolas e fontes de matérias primas das grandes potências industriais e reservas de produtos não acabados. Campeã firme e consequente, do direito de autodeterminacão dos povos, a União Soviética sempre procurou contribuir, o máximo possível, para o desenvolvimento das forças produtivas dos países atrasados, para a exploração racional de suas riquezas naturais por eles próprios e para o estabelecimento de sua independência econômica e política. As relações entre a União Soviética e todos os demais países se baseiam no principio leninista-stalinista da igualdade entre as nações grandes e pequenas e do respeito mútuo à soberania nacional. O Governo Soviético se atem firmemente a esse princípio e dele jamais se afastará.

Os êxitos da edificação econômica e cultural nos países europeus de democracia popular, cuja maioria era ainda países agrícolas num passado bem recente, constituem um testemunho brilhante da influência benéfica que relações econômicas estreitas. exercem sobre o desenvolvimento das forças produtivas das outras nações. Os acordos comerciais celebrados entre a União Soviética e os países de democracia popular à base da igualdade e de vantagens recíprocas asseguram a ajuda da URSS ao desenvolvimento livre e independente da economia desses países que marcham a passo acelerado para a sua industrialização. Os fornecimentos de equipamento soviético, que compreende o mais variado sortimento do material moderno mais avançado, permitiram aos países de democracia popular curar rapidamente as feridas causadas pela guerra e a ocupação fascista, ultrapassar consideravelmente o seu nível de produção de antes da guerra e impulsionar seriamente o progresso de sua industrialização.

A União Soviética é uma grande potência industrial. A base das mais recentes conquistas da ciência e da técnica, as suas usinas produzem o mais complexo equipamento moderno, tornos, máquinas, ferramentas, instrumentos, aparelhos, etc. Basta dizer que somente no curso de 1951 a indústria de construções mecânicas da URSS criou cerca de 500 novos tipos e marcas muito importantes de máquinas e mecanismos.

Não há modelo, por mais complexo que seja, de equipamento, torno ou máquina que as empresas da URSS sejam incapazes de produzir. Os aparelhos de carga e transporte, os tornos e máquinas têxteis e poligráficas, os caminhões e carros de turismo, os aparelhos de ótica, todas as espécies possíveis de instrumentos, etc, de construção soviética foram exibidos em numerosas exposições internacionais e universalmente apreciados. Nas bacias carboníferas da União Soviética trabalham de maneira impecável máquinas de extração combinadas e máquinas de corte e carregadoras do último tipo que têm o rendimento mais elevado do mundo. Por exemplo, uma cortadeira-carregadora com um rendimento de 60 toneladas por hora talha, abate e carrega simultaneamente até 85% do carvão em camadas que têm uma espessura de 0,8 a 1,5 metros. A construção soviética de caldeiras e de turbinas fez grandes progressos; criaram-se novos tipos de poderosas turbinas e caldeiras a vapor à alta pressão e turbinas e geradores hidráulicos. A indústria de construções mecânicas produziu cerca de 150 tipos novos, de grande rendimento, de tornos para talhar os metais e de prensas de forjar. A indústria leve, a indústria de alimentação e outros ramos da produção e dos transportes estão supridos com novos tipos de equipamento. Poderosas máquinas aspiradoras e de dragagem escavadores-transportadores de uma caçamba e de várias caçambas, poderosas betoneiras para as usinas automáticas de concreto, caminhões de carga com uma capacidade de 25 toneladas e outros mecanismos de elevada produtividade são amplamente utilizados na URSS para a construção de canais, de reservatórios d'água, de rodovias e ferrovias.

Ao lado de numerosos tipos já em uso de tratores, de segadeiras combinadas, de mangoais complexos, de máquinas que servem para arar o solo, semear e colher e outra espécie de equipamento, a agricultura soviética recebe diariamente novos tipos de máquinas e de equipamentos que contribuem para mecanizar ainda mais os seus trabalhos. Além disso, uma quantidade de outros tipos de máquinas são fabricadas para mecanizar a preparação da forragem assim como para os trabalhos de plantação das faixas florestais protetoras.

Toda essa produção de elevada qualidade pode se tornar objeto de exportação para os países que dela necessitam para desenvolver a sua economia nacional.

Os visitantes ao pavilhão soviético da Exposição Industrial Internacional que se realizou em Bombaim em 1952 se convenceram, pelos seus próprios olhos, da riqueza e do nível elevado da técnica soviética. Máquinas-ferramentas que, segundo a opinião do Diretor do Instituto Industrial de Bombaim, não têm iguais, tratores de lagarta, escavadores elétricos, máquinas hulhíferas combinadas, equipamento para a indústria leve, máquinas combinadas para a colheita de algodão, máquinas de secar o feno, tecidos da melhor fabricação e da mais bela cor, trigo de primeira qualidade e uma grande quantidade de outros tipos de mercadorias, máquinas e ferramentas provocaram o entusiasmo dos visitantes ao pavilhão soviético. «É a exposição do mundo novo, escreveu a propósito do pavilhão soviético o jornal indiano «Cross Roads». A mentira da «cortina de ferro» está desmascarada». Os pavilhões da República Popular Chinesa, da Hungria e da Tchecoslováquia obtiveram igualmente um. grande êxito na exposição.

Por ocasião da oitava sessão que se realizou em fevereiro de 1952 em Rangun (Birmânia) da Comissão Econômica da ONU para a Ásia e o Extremo Oriente, o representante soviético, desenvolvendo e completando as propostas apresentadas pela delegação soviética à conferência de ajuda ao comércio dos países da Ásia e do Extremo Oriente que se realizara em Singapura, em outubro de 1951, fez uma declaração a respeito do comércio da União Soviética com os países da Ásia.

O representante da URSS declarou que a União Soviética podia entregar aos países da Ásia, e do Extremo Oriente, em condições mutuamente vantajosas, máquinas-ferramenta, equipamento elétrico e eletro-mecânico e, particularmente, centrais elétricas, material de transporte, locomotivas, vagões, equipamento para as indústrias extrativas, fábricas têxteis e de calçados e outros ramos da indústria leve, máquinas e equipamento agrícolas e outras máquinas de que os países da Ásia e do Extremo Oriente têm necessidade para sua industrialização e o desenvolvimento de sua agricultura, assim como cimento, madeira, adubos, cereais e artigos de consumo em troca de matérias primas e de bens de consumo que interessam à URSS e que esses países produzem: borracha, juta, goma-laca, estanho, especiarias, chá, casca de quinino, etc. O representante soviético acrescentou que a URSS estava disposta a examinar as propostas dos países da Ásia e do Extremo Oriente que visassem a celebração de acordos comerciais e de compensação sobre uma base mutuamente vantajosa.

Logo que o representante soviético fez em Singapura a sua declaração relativa ao desenvolvimento do comércio entre a URSS e os países da Ásia, a propaganda hostil à União Soviética tentou apresentá-la como uma simples manobra, sem qualquer base real. Não é por acaso, porém, que se afirma que mais depressa se pega um mentiroso do que um coxo. Toda a história das relações econômicas entre a URSS e os países europeus de democracia popular e a República popular Chinesa, a assistência desinteressada prestada pela União Soviética ao fomento e ao desenvolvimento da economia desses países refutam, mais do que quaisquer palavras, o caráter mentiroso de afirmações desse jaez. Como declarou o Vice-Presidente do Governo Central da República Popular Chinesa, Liu Chao-Tsi,

«as condições que a União Soviética estabelece para as relações comerciais são, da primeira à última, amigáveis e desinteressadas. Nenhum país capitalista pode oferecer condições semelhantes. Trata-se de uma manifestação tão notória como concreta do espírito de internacionalismo que é próprio do povo soviético».


«Cabe aos comunistas empenhar todas as suas energias com o objetivo de reforçar o Movimento dos Partidários da Paz, de contribuir para trazer para as suas fileiras novas camadas e setores da população. Precisamos para isso ter uma noção clara em nossas fileiras das características fundamentais do Movimento dos Partidários da Paz, como uma organização de massas, sem partido, movimento que é amplo e reúne pessoas e organizações das mais diferentes tendências. Nesse amplo movimento cabe aos comunistas ser o traço de união, saber ser o maior fator de coesão.».
LUIZ CARLOS PRESTES

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Inclusão 11/02/2011