A União Revolucionária tem defendido consistentemente o direito do povo Negro à autodeterminação; mas temos também sublinhado a posição de que:
O direito de uma nação oprimida a formar um Estado independente é uma exigência democrática. Embora defendamos o direito à autodeterminação e reconheçamos a nossa responsabilidade de conquistar o apoio dos trabalhadores brancos a esse direito, não acreditamos que a questão da secessão — na Cintura Negra (Black Belt) ou noutras partes do país — esteja no cerne da luta pela libertação negra na atualidade…
É por isso que as insurreições Negras de hoje, tanto a sul como a norte, não são levantamentos camponeses, mas sim rebeliões urbanas. É por isso que os movimentos dos povos Negros e latino-americanos se concentram nas áreas urbanas e giram, não em torno do direito à terra ou à constituição de um Estado separado, mas em torno de outras exigências democráticas: o fim do terror policial e da ocupação das suas comunidades; acesso aberto ao ensino superior; programas de estudos Negros e do Terceiro Mundo; controlo comunitário das escolas; acesso das pessoas Negras e latino-americanas às profissões e à formação profissional; e o direito de se registarem, votarem e elegerem representantes políticos…
Precisamente porque a questão nacional Negra é, na sua essência, uma questão proletária, as organizações Marxistas-Leninistas entre o povo Negro estão a desempenhar um papel cada vez mais dirigente nestas lutas, dirigindo de forma clara o ataque principal contra o inimigo imperialista e apontando o caminho para a unidade de todo o proletariado. Este novo facto — a liderança Negra e latino-americana na luta proletária no seu conjunto — está a abalar toda a estrutura da supremacia branca, que tem sido um dos principais pilares da classe dominante norte-americana na prevenção da unidade revolucionária das suas vítimas. (Red Papers 2)
Mas alguns autointitulados “revolucionários” — principalmente um conjunto de seitas trotskistas — não só negam o direito à autodeterminação do povo Negro em geral, como negam especificamente a existência da supremacia branca e denunciam toda a luta contra ela. A vanguarda desta traição é o Partido Progressista dos Trabalhadores (PLP - Progressive Labor Party), de orientação trotskista.
Há três anos, no Red Papers 1, apontámos que a essência da linha do PLP — “todo o nacionalismo é reacionário” — é, ela própria, reacionária. É fundamentalmente contrária ao Marxismo-Leninismo e ao Pensamento de Mao Tsé-Tung. Nessa altura, caracterizámos a linha do PLP como classicamente trotskista — “de esquerda” na forma, direitista na essência — e acrescentámos que a oposição do PLP a todas as lutas de libertação nacional significava que:
Se o PLP mantivesse de forma coerente os princípios que declara, seria forçado a denunciar Mao e os chineses… Preferíamos ver o PLP assumir uma posição honesta e criticar Mao abertamente, em vez de se apresentar como defensor do maoísmo.
No último ano, aproximadamente, o PLP fez precisamente isso. Reconhecendo a contradição fundamental entre a sua linha e a linha Marxista-Leninista de Mao Tsé-Tung e do Partido Comunista Chinês, o PLP lançou abertamente um ataque contra a China, resgatando no processo praticamente todas as gastas calúnias trotskistas (e até algumas variações novas dos velhos temas trotskistas). Grande parte deste ataque centra-se na questão nacional. (Para mais informação sobre o PLP e o oportunismo trotskista clássico, ver o artigo noRed Papers 1, Contra a Lavagem Cerebral).
A linha do PLP sobre a questão nacional resume-se, grosso modo, da seguinte forma: o nacionalismo é sempre e em toda a parte a ideologia da burguesia. É, portanto, sempre e em toda a parte, reacionário; tal como a burguesia, não possui qualquer aspeto progressista. Oposto ao nacionalismo está o socialismo, que é a ideologia dos trabalhadores. Qualquer chamada “luta de libertação anti-imperialista” que não tenha como objetivo imediato o socialismo é uma fraude — um embuste “nacionalista” burguês. (Para quem ache que este resumo é demasiado grosseiro, recomendamos a leitura de qualquer um dos documentos mais recentes do PLP, especialmente o documento “teórico” Road to Revolution, III.)
Para os chamados “marxistas”, a afirmação categórica de que a burguesia não possui quaisquer aspetos progressistas é indesculpável. Representa uma negação completa do materialismo histórico. Está em contradição direta com Marx e Engels. Por exemplo, no Manifesto Comunista, afirmam que “a burguesia, do ponto de vista histórico, desempenhou um papel profundamente revolucionário.” (Parte I, Burgueses e Proletários, p. 33, edição da Foreign Language Press, Pequim, 1970.)
Naturalmente, Marx e Engels referem-se aqui à vitória da sociedade capitalista sobre a sociedade feudal, à revolução nas forças produtivas provocada pela conquista do poder e pela governação da burguesia na sua fase inicial, pré imperialista, de desenvolvimento. É por isso que mais adiante, no Manifesto, assinalam que os comunistas “na Alemanha [...] combatem ao lado da burguesia sempre que esta atue de forma revolucionária, contra a monarquia absoluta, a aristocracia feudal e a pequena burguesia (os pequenos produtores e comerciantes da cidade e do campo).” (Marx e Engels, ibid., Parte IV: Posição dos Comunistas face aos Diferentes Partidos de Oposição Existentes, p. 75.)
É também por este motivo que Marx e Engels se empenharam pessoalmente em mobilizar o apoio das classes trabalhadoras americana e europeia à burguesia dos Estados Unidos na Guerra Civil contra o esclavagismo.
Mas será que, hoje, na época do imperialismo e da revolução proletária, a burguesia não se transformou em força inteiramente reacionária? Tal afirmação é válida se nos referirmos às burguesias dos países imperialistas, as quais retardam e distorcem o desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais, tanto nos próprios países imperialistas como nas suas colónias e semicolónias.
No entanto, por oposição a isto, as burguesias nacionais emergentes nos países coloniais e semicoloniais não desempenham um papel inteiramente reacionário, precisamente porque o seu desenvolvimento se encontra travado pela dominação imperialista.
A burguesia nacional desses países procura expulsar os capitalistas estrangeiros, com o objetivo de se tornar ela própria na classe dominante. Contudo, a burguesia nacional é demasiado fraca e deformada para resistir ao imperialismo por um período prolongado; sempre que lidera a luta de libertação nacional, acaba por capitular perante o imperialismo ou é esmagada por este. No entanto, sob a liderança do proletariado e do seu Partido Comunista, a burguesia nacional — ou, pelo menos, determinados sectores desta — pode ser unida na luta anti-imperialista.
Do ponto de vista da filosofia Marxista, do materialismo dialético e histórico, a afirmação simplista do PLP segundo a qual a burguesia não possui qualquer aspeto progressista — “não se pode negociar com patrões, quaisquer patrões, em lado nenhum, em tempo algum” (Challenge, 21 de Maio de 1971) — não é apenas uma tolice simplória, é um veneno contrarrevolucionário.
Mas e quanto à afirmação de que o nacionalismo, enquanto ideologia, é burguês e fundamentalmente oposto à ideologia do proletariado? É verdade que se encontram nos escritos de Lenine — especialmente antes da Revolução de Outubro — passagens que parecem sustentar essa posição. Por exemplo, Lenine escreveu, em 1913:
O marxismo é irreconciliável com o nacionalismo, mesmo com o mais “justo”, “puro”, mais refinado e civilizado. Em lugar de todas as formas de nacionalismo, o marxismo coloca o internacionalismo...
O nacionalismo burguês e o internacionalismo proletário — eis os dois lemas irreconciliavelmente hostis que correspondem aos dois grandes campos de classe no mundo capitalista e que exprimem as duas políticas (ou melhor, as duas conceções do mundo) no que respeita à questão nacional. (Lenine, “Observações Críticas sobre a Questão Nacional”, Vol. 20, pp. 34, 26.)
Note-se que Lenine opõe o internacionalismo proletário ao nacionalismo burguês, como duas conceções do mundo fundamentalmente antagónicas. Nesta época, a questão nacional permanecia ainda “confinada a um círculo estreito de problemas que diziam principalmente respeito a nacionalidades ‘civilizadas’” (Estaline, Os Fundamentos do Leninismo, “A Questão Nacional”, p. 70). Tratava-se da primeira fase da questão nacional, quando esta era ainda, do ponto de vista político, uma questão burguesa — o direito da burguesia de uma nação oprimida a controlar o seu próprio mercado, a constituir um Estado separado.
Mas mesmo nesta fase, Lenine insistia na distinção entre o nacionalismo da nação opressora (o nacionalismo da “Centúria Negra” na Rússia) e o nacionalismo da nação oprimida. E deixou claro que:
Quem não reconhece e defende a igualdade das nações e das línguas e não combate toda a forma de opressão ou desigualdade nacional, não é Marxista, nem sequer é democrata. (Lenine, “Observações Críticas sobre a Questão Nacional”, Vol. 20, p. 28.)
Lenine traçava já a distinção — que viria a tornar-se ainda mais crucial com o desenvolvimento da questão nacional — entre o nacionalismo da burguesia e as aspirações da classe operária da mesma nação à igualdade nacional e ao internacionalismo proletário:
Em cada nação moderna (capitalista — nota da União Revolucionária) há duas nações — dizemos nós a todos os socialistas nacionalistas. Em cada cultura nacional existem duas culturas nacionais. (Lenine, ibid., p. 32.)
Foi precisamente graças à sua linha correta sobre a questão nacional durante esse período — defendendo o direito das nações à autodeterminação, ao mesmo tempo que lutava pela unidade do proletariado de todas as nacionalidades — que os bolcheviques conquistaram o apoio não apenas da grande maioria dos operários e camponeses da Grande Rússia, mas também das massas das nações oprimidas. Em A Revolução de Outubro e a Questão Nacional, Estaline descreve os frutos colhidos dessa política acertada:
A Revolução de Outubro apenas veio reforçar a aliança entre os operários e camponeses das regiões periféricas e os operários e camponeses da Rússia, inspirando-os com confiança no triunfo do socialismo. A guerra dos “governos nacionais” (forças burguesas no seio das nações oprimidas — nota do União Revolucionária) contra o poder soviético levou o seu conflito com esses “governos” ao ponto de uma rutura total, culminando na rebelião aberta contra eles.
Foi assim formada uma aliança socialista entre os operários e camponeses de toda a Rússia contra a aliança contrarrevolucionária dos “governos” burgueses nacionais das regiões fronteiriças da Rússia…
Só agora se tornou evidente para todos que a burguesia nacional não lutava pela libertação do “seu próprio povo” da opressão nacional, mas sim pela liberdade de extrair lucros à sua custa, pela liberdade de conservar os seus privilégios e o seu capital.
Só agora ficou claro que a emancipação das nacionalidades oprimidas era inconcebível sem uma rutura com o imperialismo, sem a derrubada da burguesia dessas nacionalidades oprimidas, sem a transferência do poder para as massas laboriosas dessas mesmas nacionalidades. (Estaline, A Revolução de Outubro e a Questão Nacional, Vol. 4, pp. 164, 166.)
Isto referia-se ao interior da própria Rússia. Mas importa recordar que a guerra imperialista e a Revolução de Outubro transformaram a questão nacional à escala internacional. A questão nacional entrou então na sua segunda fase.
Na primeira fase — quando a questão nacional era um “problema interno de Estado” dos países capitalistas, uma questão política de natureza democrático-burguesa, parte integrante da revolução burguesa — o dever dos comunistas na nação opressora era defender o direito à autodeterminação (incluindo a secessão) da nação oprimida.
O dever dos comunistas na nação oprimida consistia, de um modo geral, em opor-se à separação, lutando antes pela fusão de todas as nacionalidades e pela unidade direta (incluindo a unidade organizativa nos mesmos sindicatos e partidos políticos) entre os operários das nações oprimidas e os das nações opressoras.
Na segunda fase, de carácter internacional, da questão nacional — quando esta se tornou plenamente uma questão colonial — a unidade organizativa direta entre o proletariado dos países imperialistas e o dos países coloniais ou semicoloniais torna-se impossível. Já não se trata de uma revolução simultânea e comum, mas sim de movimentos revolucionários distintos, com desenvolvimentos desiguais, nos países imperialistas por um lado, e nas colónias e semicolónias por outro.
Estes movimentos, no entanto, encontram-se unidos por um inimigo comum: o imperialismo. Assim, a estratégia para os ligar reside na aliança entre a revolução proletária nos países imperialistas e as lutas de libertação nacional dos povos oprimidos na Ásia, África e América Latina. “A vitória da classe operária nos países desenvolvidos e a libertação dos povos oprimidos do jugo do imperialismo são impossíveis sem a formação e consolidação de uma frente revolucionária comum” (Estaline, Os Fundamentos do Leninismo, “A Questão Nacional”, p. 76.),
Com a Revolução de Outubro deu-se a rutura na cadeia imperialista de dominação económica e política à escala mundial. Este acontecimento, aliado ao facto de as colónias terem sido arrastadas para a Primeira Guerra Mundial, despertou os povos colonizados para a luta anti-imperialista. O movimento de libertação nacional nos países coloniais e semicoloniais passou, assim, a constituir parte integrante da revolução socialista mundial, deixando de se enquadrar no quadro da revolução de tipo burguês. Como escreveu Mao Tsé-Tung em 1938:
Pode um comunista, sendo internacionalista, ser ao mesmo tempo um patriota? Afirmamos que não só pode, como deve sê-lo… nas guerras de libertação nacional, o patriotismo é o internacionalismo aplicado. (Mao, O Papel do Partido Comunista Chinês na Guerra Nacional, Obras Escolhidas, Vol. 2, p. 196.)
Mao Tsé-Tung desenvolveu a estratégia correta não apenas para a revolução chinesa, mas também, em termos gerais, para os movimentos revolucionários nos países coloniais e semicoloniais. Em que consiste essa estratégia? Trata-se da Revolução da Nova Democracia.
A Revolução de Nova Democracia decorre em duas etapas distintas, mas diretamente interligadas — a etapa nacional-democrática e a etapa socialista. Durante a primeira etapa, o inimigo principal é o imperialismo e os seus aliados internos: o feudalismo e o capitalismo burocrático (capitalismo de Estado e financeiro). Estes obstáculos devem ser eliminados para libertar as forças produtivas — especialmente a mais importante delas, o povo — e, assim, lançar as bases materiais e ideológicas da transformação socialista da sociedade.
Enquanto subsistirem a exploração semifeudal e os métodos agrícolas primitivos que a caracterizam, a agricultura não poderá constituir a base material para a industrialização socialista, nem será possível mobilizar os camponeses para o trabalho coletivo. Enquanto os monopólios estrangeiros e os capitalistas de Estado internos continuarem a distorcer o desenvolvimento industrial em função das necessidades do capital estrangeiro, não será possível desenvolver a indústria de forma integral, nem torná-la o fator condutor da transformação da economia no seu conjunto, impossibilitando, assim, que a classe operária assuma a liderança dos camponeses e das massas populares no processo de edificação do socialismo.
Esta transformação só poderá ser realizada, tanto na indústria como na agricultura, sob a direção e controlo da Ditadura Democrática Popular, dirigida pelo proletariado e pelo seu Partido Comunista. Na sua essência, a Ditadura Democrática Popular constitui uma forma de ditadura do proletariado. O próprio Lenine caracterizou a ditadura do proletariado como “uma forma especial de aliança de classe entre o proletariado — a vanguarda da classe trabalhadora — e os numerosos estratos não proletários das massas laboriosas (a pequena burguesia, os pequenos proprietários, o campesinato, a intelligentsia, etc.), ou a maioria destes”. (Vol. 24, p. 311, edição russa; citado por Estaline em A Revolução de Outubro e a Tática dos Comunistas Russos, Vol. 6, p. 380.)
Na China, durante a primeira etapa da revolução — contra o imperialismo, o feudalismo e o capitalismo burocrático —, esta forma especial de aliança de classes era mais ampla, incluindo não apenas os camponeses e a pequena burguesia urbana, mas também sectores da burguesia nacional (capitalistas que não estavam ligados ao capital estrangeiro). Após um breve período de desenvolvimento capitalista limitado, subsequente à tomada do poder a nível nacional — desenvolvimento esse que foi controlado e restringido sob a dominação do Estado, dirigido pelo proletariado e pelo seu Partido Comunista —, a tarefa imediata passou a ser a socialização da indústria e a coletivização da agricultura. O proletariado envida todos os esforços para conquistar a burguesia nacional e os camponeses abastados à cooperação nesta tarefa; mas, quando estes resistem, o proletariado e o seu aliado fundamental — os camponeses pobres — devem exercer a ditadura sobre estas forças essencialmente burguesas. A revolução avança, então, plenamente para a segunda etapa: a etapa socialista.
A teoria da Revolução de Nova Democracia — conjuntamente com a teoria da Guerra Popular — desenvolvida por Mao Tsé-Tung, está a ser aplicada no Vietname e em toda a Indochina na luta contra o imperialismo e os seus agentes internos. A luta na metade sul do Vietname, bem como no Laos e no Camboja, encontra-se ainda na primeira etapa: a etapa da revolução nacional-democrática. Esta não poderá avançar para a segunda etapa — a revolução socialista — enquanto os imperialistas e os seus fantoches não forem derrotados.
Contudo, o Progressive Labor Party (PLP) exige que o programa imediato da luta seja o socialismo. Se a linha do PLP fosse posta em prática, o proletariado seria privado de aliados inestimáveis na luta contra o imperialismo e, de facto, a luta nunca poderia avançar até à derrota do imperialismo e dos seus agentes, nem atingir a etapa socialista. Mais uma vez, a linha do PLP é classicamente trotskista — “esquerdista” na forma, mas direitista na essência. Objetivamente, está em consonância com os interesses dos imperialistas, que desesperadamente procuram destruir a frente unida dos povos da Indochina. E porque os povos da Indochina se recusam a oferecer-se para o massacre ao adotarem a linha contrarrevolucionária do PLP, este rotula-os, sem exceção, de “revisionistas” e “traidores”. A nosso ver, é bastante claro quem são os verdadeiros traidores.
Na verdade, a linha que o PLP tenta utilizar como arma para esmagar as lutas populares foi já há muito derrotada nas revoluções chinesa (e russa). Após o Japão ter lançado uma invasão em larga escala da China, e o Partido Comunista Chinês ter estabelecido uma frente unida com Chiang Kai-Shek para travar uma guerra de resistência nacional, alguns chamados “super revolucionários” acusaram o Partido Comunista Chinês de “traição”. Na sua obra Refutação da Demagogia “Esquerdista”, Mao explicou:
Sem dúvida, a revolução atual é o primeiro passo, que se desenvolverá no segundo passo, o do socialismo, numa fase posterior. E a China apenas alcançará a verdadeira felicidade quando entrar na era socialista. Mas ainda não chegou o momento de introduzir o socialismo… a revolução chinesa não pode evitar dar dois passos: primeiro a Nova Democracia e depois o socialismo. Além disso, o primeiro passo exigirá bastante tempo e não poderá ser realizado de um dia para o outro. Não somos utopistas e não podemos desligar-nos das condições concretas que enfrentamos.
Certos propagandistas maliciosos, confundindo deliberadamente estas duas etapas distintas da revolução, defendem a chamada teoria da revolução única… com base nesta “teoria”, opõem-se freneticamente ao comunismo e ao Partido Comunista… O seu verdadeiro objetivo é erradicar a revolução, opor-se a uma revolução burguesa-democrática consequente e a uma resistência firme ao Japão, preparando assim a opinião pública para a sua capitulação perante os agressores japoneses. (Mao, Sobre a Nova Democracia, Obras Escolhidas, Vol. II, p. 358.)
E Mao não poupou palavras ao apontar a origem destas perturbações:
… certos capitalistas sem escrúpulos esquecem todos os princípios morais… uma vez determinada a sua política, não perderam tempo em contratar alguns “metafísicos”, juntamente com alguns trotskistas que, brandindo as suas penas como lanças, investem em todas as direções e semeiam o caos. (Mao, idem, p. 359.)
E eis que surge agora o Progressive Labor Party (PLP) para ressuscitar antigas teorias desacreditadas e semear a confusão com o mesmo propósito — “opor-se freneticamente ao comunismo… o seu verdadeiro objetivo é erradicar a revolução.”
O PLP, naturalmente, reivindicará ser o único verdadeiro revolucionário, o único que continua a “lutar pelo socialismo.” Mas, ao opor o socialismo à libertação nacional — em vez de compreender a relação dialética entre ambos — está, na realidade, a lutar para manter o domínio da burguesia imperialista. Ao responder a alguns filisteus que se opunham à rebelião irlandesa de 1916 contra o imperialismo britânico, qualificando-a de “golpe”, Lenine parece dirigir-se diretamente ao Progressive Labor Party:
Imaginar que a revolução social é concebível sem revoltas das pequenas nações nas colónias e na Europa, sem explosões revolucionárias por parte de sectores da pequena burguesia com todos os seus preconceitos, sem um movimento das massas proletárias e semiproletárias politicamente inconscientes contra a opressão dos latifundiários, da Igreja e da monarquia, contra a opressão nacional, etc. — imaginar tudo isso é rejeitar a revolução social. Como se um exército se posicionasse num lugar e dissesse: ‘Estamos pelo socialismo’, e outro noutro local outro exército dissesse: ‘Estamos pelo imperialismo’, e isso constituísse uma revolução social! Só quem defenda uma visão pedantemente ridícula poderia vilipendiar a rebelião irlandesa chamando-lhe um ‘golpe’. Quem espera uma revolução social ‘pura’ nunca a verá acontecer. Tal pessoa presta homenagem verbal à revolução sem compreender o que é uma revolução. (Lenine, A Discussão sobre a Autodeterminação Resumida, Vol. 22, pp. 355-356, destaque no original.)
Proclamar, da boca para fora, a adesão à revolução sem compreender o que é, de facto, uma revolução — tal é, na melhor das hipóteses, a mais benevolente caracterização que se pode fazer do PLP. Mas não se esperaria, de resto, que o PLP se deixasse mover pelos escritos de Lenine (ou de Estaline), dado que repudiou não apenas a Revolução Chinesa, como também a primeira revolução socialista vitoriosa — a Revolução Russa — liderada por Lenine e Estaline. Com efeito, o PLP repudiou abertamente toda a história do movimento comunista mundial.
Acreditamos, no entanto, que os escritos de Lenine, Estaline e Mao, assim como os de Marx e Engels, ajudarão os revolucionários honestos a compreender o verdadeiro significado da revolução — e, igualmente, a identificar a contrarrevolução disfarçada sob a aparência de uma “super revolução”.
De que modo se manifesta a linha contrarrevolucionária do PLP relativamente à questão nacional no seio do movimento revolucionário nos Estados Unidos?
O PLP chegou a afirmar o seu apoio às lutas das nacionalidades oprimidas dentro dos Estados Unidos — lutas que, segundo o próprio PLP, seriam “nacionais na forma e de classe no conteúdo” — como, por exemplo, a reivindicação de programas de Estudos Negros, o acesso aberto ao ensino superior, o controlo comunitário, entre outras. Contudo, ao longo dos últimos anos, o PLP repudiou todas estas lutas, criticando aquilo a que chamou as suas “cedências ao nacionalismo”, as quais constituíam, na realidade, cedências ao Marxismo-Leninismo.
O PLP soube ainda cronometrar o seu recuo relativamente a estas lutas de modo a causar o maior dano possível. Por exemplo, num momento crucial — já no final da luta de 1968-69 em torno do acesso aberto, dos Estudos Negros e de outras reivindicações dos estudantes do Terceiro Mundo no San Francisco State College — o PLP inverteu subitamente a sua posição anterior de apoio, denunciando toda esta a luta como uma fraude, dirigida por pseudolíderes “nacionalistas”. Isto aconteceu precisamente quando a administração da escola, com o apoio total do aparelho de Estado, se preparava para esmagar a greve.
Na verdade, a greve da San Francisco State, liderada por revolucionários Negros, latinos e asiáticos, constituiu a mais longa luta da história do movimento estudantil; envolveu milhares de pessoas numa militância anti-imperialista, que mobilizou um amplo apoio comunitário, construiu uma frente unida forte contra a opressão dos povos do Terceiro Mundo e proporcionou a milhares de pessoas uma profunda aprendizagem sobre a natureza do Estado imperialista e sobre a força dos povos na sua luta contra esse poder. Existiram influências burguesas e pequeno-burguesas nesta luta? Cometeram-se erros, mesmo entre os elementos mais honestos? Naturalmente. Mas isso não altera o facto de se ter tratado de um avanço significativo para o movimento de massas anti-imperialista — e muito menos justifica a traição cobarde do PLP.
O PLP declarou também apoiar a contratação e a promoção preferenciais de trabalhadores Negros e de outros trabalhadores do Terceiro Mundo. No entanto, na prática, tentou sabotar o trabalho de organizações que representam as forças mais combativas entre os trabalhadores Negros na luta por essas exigências. O PLP ataca todas as organizações Negras e do Terceiro Mundo, acusando-as de serem “nacionalistas” e, por conseguinte, reacionárias. Lamenta-se de que o “nacionalismo” divide a classe trabalhadora — e chega ao ponto de afirmar que tal divisão é quase tão grave quanto o racismo entre os trabalhadores brancos.
Esta é a velha cortina de fumo do “racismo inverso” utilizada pela classe dominante para se opor a todas as lutas genuínas do povo Negro. Ao adotar esta linha no seio da classe trabalhadora (na medida em que o PLP mantém algum contacto com trabalhadores), o PLP encontra-se lado a lado com os dirigentes sindicais reacionários que jamais moveram um dedo para combater a supremacia branca nas fábricas ou nos próprios sindicatos, e que, de forma oportunista, atacam os trabalhadores Negros que se erguem contra essa opressão. “Estão a dividir a classe trabalhadora”, grita o PLP, em uníssono com os dirigentes da U.A.W.
Tanto o PL como os traidores sindicais estão apenas interessados no nível mais baixo de unidade entre os trabalhadores — uma “unidade” falsa, incapaz até de sustentar de forma eficaz a luta económica dos trabalhadores pela sobrevivência, muito menos de romper com o padrão de supremacia branca cuidadosamente instituído pela burguesia. Por conseguinte, tal unidade não representa qualquer desafio sério ao poder burguês.
Em oposição à linha do PLP, que afirma que “todo o nacionalismo é reacionário” e que a organização dos trabalhadores Negros e do Terceiro Mundo perturba a unidade da classe operária, afirmamos que a crescente organização desses trabalhadores — na luta contra a opressão nacional e contra a exploração e opressão de todos os trabalhadores — constitui uma força motriz capaz de impulsionar a luta de classes e de lançar as bases para uma verdadeira unidade revolucionária do proletariado na luta contra o capitalismo monopolista dos Estados Unidos.