A Revolução Alemã e a Burocracia Estalinista
(Problemas Vitais do Proletariado Alemão)

Léon Trotsky


12. Os brandlerianos (KPDO) e a burocracia estalinista(1)


Não há, e não pode haver contradições entre os interesses do Estado soviético e os do proletariado internacional. Mas é radicalmente falso estender esta lei à burocracia estalinista. O seu regime está cada vez mais em contradição tanto com os interesses da União soviética como os da revolução mundial.

Por causa da burocracia soviética, Hugo Urbahns não vê as bases sociais do Estado proletário. Urbahns elabora com Otto Bauer o conceito de Estado acima das classes, mas diferente de Bauer, ele encontra o seu modelo não na Áustria mas na actual República dos Sovietes.

Aliás, Talheimer afirma que a ''orientação trotskista que dúvida do carácter proletário (?) do Estado soviético e o carácter socialista da edificação económica'' (10 de Janeiro) um carácter centrista. Ao afirmar isso, Talheimer mostra até onde vai a identificação do Estado operário com a burocracia soviética, ele quer que se olhe a União soviética com os óculos da fracção estalinista e não com os olhos do proletariado internacional. Noutros termos, ele raciocina não como um teórico da revolução proletária mas como o lacaio da fracção estalinista. Um lacaio vexado, em desgraça, mas mesmo assim um lacaio que espera ser perdoado. Por isso, mesmo na ''oposição'', ele não ousa nomear em voz alta a burocracia: como Jeová ela não o perdoa: ''Não pronuncies o meu nome em vão.''

Tais são os dois polos dos grupos comunistas: um não vê a floresta por causa das árvores, enquanto que o outro, a floresta impede-o de distinguir as árvores. Todavia, no fim de contas nada de surpreendente que Thalheimer e Urbahns se descubram afinidades e façam bloco contra a apreciação marxista do Estado soviético.

O ''apoio'' do exterior traz à experiência russa, ''apoio'' sumário e não compromete nada, tornou-se nestes últimos anos uma mercadoria bastante propagada e muito barata. Em todas as partes do mundo, há muitos jornalistas, turistas, escritores mas também ''socialistas'' mais ou menos radicais, humanitários e pacifistas, que manifestam em relação à URSS e a Estaline o mesmo apoio incondicional que os brandlerianos. Bernard Shaw, que no seu tempo criticou violentamente Lénine e o autor destas linhas, aprova plenamente a política de Estaline. Maximo Gorki, que estava na oposição com o Partido comunista do tempo de Lénine, está hoje inteiramente ao lado de Estaline. Barbusse, que anda mão na mão com os sociais-democratas franceses, apoia Estaline. O semanário americano The New Masses, publicação dos pequeno-burgueses radicais de segunda ordem, toma a defesa de Estaline contra Rakovsky. Na Alemanha, Ossietzky que citou com simpatia o meu artigo sobre o fascismo, julgou necessário de notar que eu era injusto na minha crítica a Estaline. O velho Ledebour disse: ''No que respeita o problema principal na polémica que opões Trotsky a Estaline – a socialização pode ser empreendida num país isolado e levado a cabo -, coloco-me inteiramente ao lado de Estaline''. Poder-se-ia multiplicar os exemplos deste tipo. Todos os ''amigos'' da URSS abordam os problemas do Estado soviético do exterior, como observadores, simpatizantes e às vezes como turistas. Evidentemente, vale mais ser amigo do plano quinquenal soviético que amigo da bolsa de nova-iorquina. Todavia, a simpatia passiva da pequena-burguesia de esquerda está muito afastada do bolchevismo. A primeira derrota importante de Moscovo bastará a dispersar a maioria do publico, como poeira no vento.

Em quê a posição dos brandlerianos sobre o Estado soviético se distingue da posição de todos esses ''amigos''? Unicamente talvez por uma menor sinceridade. Um tal apoio não aquece nem arrefece a República dos Sovietes. E quando Thalheimer nos ensina, a nós oposição de esquerda, bolcheviques-leninistas russos, que atitude é preciso ter para com a URSS, não deixa de inspirar um sentimento de nojo.

Rakovsky dirigiu em pessoa a defesa das fronteiras da República do Sovietes; ele participou nos primeiros passos da economia soviética, na elaboração da política em relação ao campesinato; ele esteve na origem dos comités de camponeses pobres na Ucrânia e dirigiu a aplicação da política da Nova Economia Política às condições originais da Ucrânia; ele conheceu todos os meandros desta política; ainda hoje ele segue-a dia a dia de Barnaul com uma atenção apaixonada; ele previne contra os erros possíveis e sugere soluções justas. Kote Tsintsatzé, esse velho combatente morto na deportação, Moralov, Karl Grunstein, Kasparova, Sosnovky, Kossior, Aussem, os Eltsin, pai e filho, Blumkine, fuzilado por Estaline. Dingelstedt, Chumskaia, Solntsev, Stopalov, Poznansky, Sermux, Botov que Estaline fez morrer sob a tortura na prisão, dezenas, centenas, milhares de outros dispersos ns prisões e na deportação, todos são combatentes da Revolução de Outubro e da guerra civil, todos tinham participado na edificação socialista, nenhuma dificuldade não os assustava e todos estão prontos a retomar o seu posto de combate ao primeiro sinal. Pertence a eles receber as lições de Thalheimer sobre a fidelidade ao Estado operário?

Tudo o que há de progressista na política de Estaline foi formulado pela oposição de esquerda e foi combatido pela burocracia. Anos de prisão e de deportação, tal é o preço que a oposição de esquerda pagou e paga ainda por ter tomado a iniciativa do plano, dos ritmos elevados de crescimento, da luta contra os kulaques e de uma colectivização maior. Qual foi o contributo à política económica da URSS de todos esses partidários incondicionais, desses simpatizantes, incluindo os brandleristas? Nenhum! Por detrás do seu apoio sumário e não crítico a tudo o que se faz na URSS, se esconde uma simpatia morna e não um entusiasmo internacionalista: é que o assunto se passa para lá das fronteiras da sua própria pátria. Brandler e Thalheimer pensam e dizem em voz baixa: ''O regime de Estaline, evidentemente, não nos convinha, a nós alemãs; mas é bom para os russos!''

O reformista vê na situação internacional a soma das situações nacionais; o marxista considera a política nacional em função da politica internacional. Nesta questão fundamental, o grupo do KPDO (os blandleristas) ocupa uma posição nacional-reformista, quer dizer que ele nega na prática, se não é em palavras, os princípios e os critérios internacionalistas da politica nacional.

Roy, cujo programa político para a Índia e a China decorria inteiramente da ideia estalinista dos partidos ''operários e camponeses'' para o Oriente, era partidário e o colaborador mais próximo de Thalheimer. Durante muitos anos, Roy fez a propaganda para a criação de um partido nacional-democrata na Índia. Noutros termos, ele intervinha não como um revolucionário proletário mas como um democrata nacional pequeno-burguês. O que não o impediu de forma alguma de participar activamente no estado-maior central dos brandleristas(2).

Mas foi em relação à URSS que o oportunismo nacional dos brandleristas se manifesta da maneira a mais grosseira. A burocracia estalinista, a acreditar neles, agiu sem cometer o menor erro. Mas não se sabe porquê, a direcção desta mesma fracção estalinista é desastrosa na Alemanha. Porquê? É porque não se trata de erros parciais de Estaline, devidos ao seu desconhecimento dos outros países, mas de sucessão de erros, de toda a orientação. Thälmann e Remmele conhecem a Alemanha como Estaline conhece a Rússia, como Cachin, Semard e Thorez conhecem a França. Eles formam uma fracção internacional e elaboram a sua política para os diferentes países. Ora, acontece que esta política, irrepreensível na Rússia, ocasiona a ruína a revolução em todos os outros países.

A posição de Brandler torna-se particularmente inoportuna quando se relaciona com o interior da URSS, onde o brandleriano é obrigado a apoiar Estaline incondicionalmente. Radek que, no fundo, foi sempre mais próximo de Brandler que da oposição de esquerda, capitula diante de Estaline. Brandler só podia aprovar esse acto. Mas Radek após a sua capitulação foi logo obrigado por Estaline a proclamar que Brandler e Thalheimer eram ''sociais-fascistas''. Os suspiros platónicos do regime estalinista em Berlim nem tentaram escapar a essas contradições humilhantes. Todavia, o seu objectivo prático é claro, mesmo sem explicação (''Se tu me colocas à cabeça do partido na Alemanha, declara Brandler a Estaline, comprometo-me a reconhecer a tua infalibilidade nos assuntos russos, com a condição que tu me permitas levar a minha política nos assuntos alemãs''.) Pode-se sentir respeito por tais ''revolucionários''?

A crítica que fazem os brandlerianos da política da burocracia estalinista na Internacional comunista, é completamente unilateral e desonesta do ponto de vista teórico. O único defeito desta politica é de ser ''ultra-esquerda''. Mas pode-se acusar de ultra-esquerda o bloco de quatro anos entre Estaline e Tchang-Kaichek? Era de ultra-esquerda a criação da Internacional camponesa? Pode-se qualificar de golpista o bloco com o conselho geral dos fura-greves? E que dizer da criação dos partidos operários e camponeses na Ásia e do partido operário e lavrador nos Estados-Unidos?

Além disso, qual é a natureza social do ultra-esquerdismo estalinista? Um estado de alma passageiro? Um estado doentio? Procura-se em vão uma resposta a esta questão no teórico Thalheimer.

A oposição de esquerda desvendou o código deste enigma: trata-se de um zig-zag ultra-esquerda do centrismo. Os brandleristas não podem aceitar esta definição confirmada pelo desenvolvimento dos últimos nove anos, porque isso significa a morte política deles. Eles seguiram a fracção estalinista em todos os seus zig-zags à direita, mas opuseram-se aos zigzags de esquerda; por aí, eles provaram que eles eram a ala direita do centrismo. O facto que eles tenha arrancado o tronco, como um ramo morto, está na ordem das coisas; quando das viragens bruscas do centrismo, é inevitável que certos grupos e camadas se afastem à direita e à esquerda. O que foi dito não implica que os brandleristas se tenham enganado em tudo. Eles tiveram razão e ainda razão sobre numerosos pontos contra Thälmann e Rammele. Não há nada de extraordinário nisso. Os oportunistas podem ter uma oposição justa na luta contra o aventureirismo. Inversamente, a corrente ultra-esquerda pode colher exactamente o momento da passagem da luta para ganhar as massas para a luta pelo poder. Na sua crítica de Brandler, os ultra-esquerda exprimiram no fim de 1923 bom número de ideias justas, o que não os impediu de cometer grandes erros em 1942-1925. O facto que na crítica deles os saltos do ''terceiro período'', os branleristas tenham retomado uma serie de considerações antigas mas justas, não testemunha de forma alguma a justeza de sua posições em geral. É preciso analizar a política de cada grupo a través de vários períodos: nos combates defensivos, nos combates ofensivo, nos períodos de ascenso e nos momentos de reflux, nas condições de luta par ganhar as massas e numa situação de luta directa pelo poder.

Não poderia haver direcção marxista especializada nos problemas de defesa e de ofensiva, de frente única ou de greve geral. A aplicação correcta de todos esses métodos só é possível quando se é capaz de apreciar sinteticamente a situação no seu conjunto, quando se sabe analizar as forças em jogo, fixar as etapas e as voltas e, a partir dessa análise, acertar um conjunto de acções que respondem à situação presente e preparam a etapa seguinte.

Brandler e Thalheimer se consideram quase como especialistas exclusivos da ''luta pelas massas''. Essa gente apoia com grande seriedade que os argumentos da oposição de esquerda em favor da política da frente única são um plagiado da sua própria posição. Não se pode recusar a ninguém o direito de ser ambicioso! Imaginem que no mesmo momento onde você explica a Heinz Neumann um erro de multiplicação, um valente professor de aritmética declara que você o copia, porque desde anos ele explica os mistérios do cálculo, exactamente como você.

A pretensão dos brandleristas me deu, de qualquer modo, um minuto de alegria na situação actual tão triste. A sabedoria estratégica desses senhores data do IIIº Congresso da Internacional comunista. Aí eu defendi o ABC da luta em direcção das massas contra a ala ''esquerda'' de então. No meu livro, Nova etapa, consagrado à popularização da política da frente única e editado pela Internacional comunista em diferentes línguas, sublinho de muitas maneiras o carácter elementar das ideias que aí são defendidas. ''Tudo o que é dito, lemos, por exemplo na página 70 da edição alemã, constitui uma verdade elementar do ponto de vista de toda experiência revolucionária séria. Mas alguns elementos de ''esquerda'' do congresso viram nessa táctica um avanço para a direita … '' Entre estes figuravam Thalheimer ao lado de Zinoviev, Bukarine, Radek, Maslov, Thälmann.

A acusação de plagiado não é somente a única acusação. Não somente a oposição de esquerda apoderou-se da propriedade intelectual de Thalheimer, ela deu para além disso, parece, uma interpretação oportunista. Esta curiosa afirmação merece que nos atardemos na medida onde ela dá a possibilidade de melhor esclarecer a questão da política do fascismo.

Numa das minhas precedentes obras, exprimi a ideia que Hitler não podia chegar ao poder pela via parlamentar: mesmo admitindo que ele possa obter 51% dos votos. A agudização das contradições económicas e o agravamento das contradições políticas deveriam conduzir a uma explosão muito antes da chegada desse momento. É por essa razão que os brandleristas me atribuem a ideia que os nacionais-socialistas desaparecerão da cena sem que uma acção extra-parlamentar de massa dos operários seja necessário. No quê isso vale mais que as invenções do Rote Fahne.

Partindo da impossibilidade onde se encontram os nacionais-socialistas de aceder ''pacificamente'' ao poder, concluo daí que eles tomam inevitavelmente outras vias, seja um golpe de Estado directo ou uma etapa de coligação resultando inevitavelmente num golpe de Estado. A auto-liquidação sem dor do fascismo seria possível num só caso: se Hitler aplicasse em 1932 a mesma política que Brandler em 1923 sem sobrestimar os estrategas nacionais-socialistas, creio todavia que eles são mais sólidos e perspicazes que Brandler e companhia.

A segunda objecção de Thalheimer é ainda mais profunda: a questão de saber se Hitler chegará ao poder pela via parlamentar ou por outra via não tem, diz ele, qualquer importância, porque ela não modifica a ''essência'' do fascismo, que, de qualquer maneira, não pode instaurar a sua dominação senão sobre os fragmentos das organizações operárias. ''Os operários podem tranquilamente deixar aos redactores de Vorwarts o cuidado de analizar as diferenças que podem exister entre a chegada de Hitler ao poder pela via parlamentar e a chegada por outra via.'' (Arbeiterpolitik, 10 Janeiro). Se os operários da vanguarda seguem Thalheimer, Hitler cortar-lhe-á as goelas seguramente. Para o nosso douto professor, só importa ''a essência'' do fascismo, ele deixa os redactores de Vorwarts apreciar a maneira como ela se realiza. Infelizmente, ''a essência'' progromista do fascismo não pode se manifestar plenamente senão depois da sua chegada ao poder. Trata-se portanto de não o deixar chegar ao poder. Para isso, é preciso compreender a estratégia do inimigo e explicar aos operários. Hitler faz grandes esforços para fazer entra em aparência o seu movimento no quadro da constituição. Só um pedante que se imagina ser um ''materialista'' pode acreditar que tais procedimentos não têm influência sobre a consciência política das massas. O constitucionalismo de Hitler visa não somente manter uma porta aberta para um bloco com o centro, mas também enganar a social-democracia, mais exactamente, para que os chefes da social-democracia enganem mais facilmente as massas. Quando Hitler jura que acederá ao poder pela via constitucional, eles proclamam logo que o perigo do fascismo não é de temer por agora. De qualquer modo, teremos ocasião de medir a relação de forças nas eleições de toda a espécie. Cobrindo-se com a perspectiva constitucional, que adormece os seus adversários, Hitler quer manter a possibilidade de dar um golpe no momento decisivo. Esta astúcia de guerra, apesar da sua simplicidade aparente, encerra em si uma força enorme, porque ela apoia-se não somente na psicologia dos partidos intermediários que desejam resolver a questão politicamente e legalmente, mas também, o que é muito mais perigoso, sobre a credulidade das massas populares.

É necessário acrescentar que a manobra de Hitler é uma faca de dois gumes: ele engana os seus adversários mas também seus partidários. Ora, para a luta, sobretudo para uma luta ofensiva, é necessário ter um espírito combativo. Não se pode manter esse espírito senão convencendo as suas tropas do carácter inelutável de uma luta aberta. Esse raciocínio implica igualmente que Hitler não pode prolongar demasiados tempo o seu tenro idílio com a Constituição de Weimar, sem desmoralizar as suas fileiras. Ele deve tirar a tempo o punhal do seu seio.

Não basta compreender a única ''essência'' do fascismo, é preciso saber apreciá-lo como fenómeno político real, como inimigo consciente e pérfida. Nosso mestre-escola é demasiado ''sociólogo'' para ser revolucionário. Não é claro de facto, que os pensamentos profundos de Thalheimer entram como factores positivos nos cálculos de Hitler, porque é fazer serviço ao inimigo meter no mesmo saco a difusão pelo Vorwarts ilusões constitucionais e a revelação da astúcia que o inimigo ergue sobre as suas ilusões.

A importância de uma organização vem seja das massas que ela mobiliza, seja do conteúdo das ideias que ela é capaz de fazer penetrar no movimento operário. Não se encontra nada disso entre os brandleristas. Portanto, com qual desprezo magnífico Brandler e Thalheimer falam do pântano centrista do SAP! De facto, se comparar-mos essas duas organizações, o SAP e o KPDO, todas as vantagens estão do lado do primeiro. O SAP não é um pântano, mas uma corrente viva. Ele evolui da direita para esquerda, para o comunismo. O epíteto do pântano aplica-se muito melhor à organização de Brandler-Thalheimer, que se caracteriza por uma completa estagnação ideológica.

No interior do grupo do KPDO, existia há muito tempo uma oposição, descontente essencialmente com os dirigentes que se esforçam em adaptar sua política não tanto às condições objectivas mas ao estado de humor do estado-maior estalinista de Moscovo.

A oposição de Walcher-Frolich tolerou durante vários anos a política de Branler-Thalheimer que, sobretudo no que respeita a URSS, tinha não somente um carácter errado, mas também conscientemente hipócrita e politicamente desonesto; é claro que ninguém não inscreverá isso no activo do grupo dissidente. Mas o facto é que o grupo Walcher-Frolich reconheceu finalmente a quanto inútil uma organização cujos chefes procuram antes de tudo ganhar a simpatia de seus superiores. A minoria julga indispensável a adopção de uma política independente e activa, dirigida não contra o sinistro Rammele, mas contra a orientação e o regime da burocracia estalinista na URSS e na Internacional comunista. Se interpretarmos correctamente a posição de Walcher-Frolich a partir de materiais ainda extremamente insuficientes, esta última constitui, todavia, um progreso sobre esse ponto. Após ter rompido com um grupo visivelmente moribundo, a minoria é agora confrontada na tarefa de uma nova orientação, nacional e sobretudo internacional.

A minoria dissidente, tanto que se possa julgar, considera como sua tarefa principal no período vindouro, apoiar-se sobre a esquerda do SAP, ganhar esse novo partido para o comunismo e de se servir para meter fim ao conservadorismo burocrático do Partido comunista alemão. É possível pronunciar-se sobre esse plano, formulado de modo tão vago e geral: as bases de princípio continuam obscuras. É preciso uma plataforma! Pensamos não num documento que se contentaria de reproduzir os lugares comuns do catecismo comunista, mas num texto trazendo as respostas claras e concretas às questões militantes da revolução proletária, questões que, durante estes últimos nove anos rasgaram as fileiras comunistas e que conservam hoje ainda toda a sua actualidade. De outro modo, isso equivaleria a se dissolver no SAP e a atrasar a sua marcha para o comunismo.

A oposição de esquerda seguirá com atenção e sem tomar partido a evolução da minoria. A cisão de uma organização moribunda deu, mais de uma vez no decurso da história, um impulso ao desenvolvimento progressista à sua parte viável. Seremos muito contentes ver que esta lei se confirma mais uma vez no que concerne a sorte da minoria. Mas só o futuro nos dirá.

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) KPDO: Kommunistiche Partei Deutschlands-Opposition (Partido comunista alemão da oposição). Organização formada pela oposição de direita ao PCA, após a sua exclusão: dirigida por Brandler e Thalheimer; a partir de 1930, forma com outros grupos comunistas direitistas a União internacional da oposição comunista; 1931: cisão, a minoria junta-se ao SAP. (retornar ao texto)

(2) Hoje, Roy foi condenado a numerosos anos de prisão pelo governo MacDonald. Os Jornais da Internacional comunista nem se sentem obrigados a protestar: pode-se concluir uma aliança estreita com Tchang Kaichek, mas não se deve, em nenhum caso, defender o brandleriano indiano Roy contra os carrascos imperialistas. (retornar ao texto)

Inclusão 09/11/2018