Os agentes dos chineses irão cair(1)

Enver Hoxha

13 de dezembro de 1976


Título original: Agjentët e Kinës po i Nxjerrin Veshët (Shënime).
Fonte: Obras Completas, volume 60 (dezembro de 1976 – fevereiro de 1977), páginas 24-49; Casa de Publicações “8 Nëntori”, Tirana, 1988.
Tradução: Thales Caramante – Jornal A Verdade.
HTML: Lucas Schweppenstette.

SEGUNDA-FEIRA,
13 de DEZEMBRO de 1976

O Presidente do Partido Comunista da Austrália (Marxista-Leninista) (PCA-ML), Edward Hill, alguém que participou do 7º Congresso do nosso partido e expressou sua “satisfação” com o congresso, que até fez uma “boa” intervenção na plenária, depois de deixar nosso país, enviou uma carta para o camarada Ramiz Alia e ao nosso embaixador em Paris, o camarada Dhimitër Lamani. A carta foi entregue ao nosso embaixador através da esposa de Hill [Joyce Hill], na qual também disse que “ela contém algumas observações de Hill sobre o 7º Congresso do PTA”.

Como se vê, este “comunista”, do qual considerávamos um bom camarada, claro e objetivo, nem sequer teve a coragem necessária para dialogar com o nosso partido, teve que fazer suas “observações” através de uma carta. Entretanto, essas “observações” não passam de ataques, calúnias e provocações contra nosso partido, da qual ele produziu de suas próprias deduções tiradas de sua cabeça ou as tomou emprestada dos chineses, tornando-se um mero estafeta de suas ideias.

Ainda não recebemos a carta, mas o embaixador nos enviou por rádio as principais ideias da carta, na qual Hill diz:

a) “Por que o PTA é a favor da organização de encontros internacionais multipartidárias enquanto a China é contra?” – Isso não merece comentários de nossa parte. Já dissemos o motivo;

b) “Por que não declaramos em nosso congresso que a China não é a favor de encontros internacionais multipartidárias?” – Isso também é tão provocativo quanto absurdo. Mas deve haver objetivos mais profundos que o levam a levantar essas questões;

c) Apesar de termos explicado o motivo da necessidade e da importância de encontros internacionais multipartidários, esse revisionista conclui que estamos fazendo isso apenas para “trazer a China para a linha correta”. Que comentários nós podemos fazer depois dessa calúnia? Ele está nos acusando de querer “carregar a bandeira”;

d) “Mao Zedong é um grande marxista-leninista, a história é testemunha deste fato”. De acordo com Hill, tudo que Mao fez ou diz é “maravilhoso”, e ele ainda acrescenta que “Mao deve ser colocado ao lado de Marx e Lênin” – Quem se opôs dele colocar Mao ali? Da nossa parte, ao contrário, colocamos Marx, Engels, Lênin e Stálin lado a lado. Isso também é uma provocação, da qual Hill quer nos impor o “Pensamento Mao Zedong”. Ironicamente, ele acusa do “PTA de querer impor sua opinião aos outros”, acusação infundada e baseada em nenhum fato;

e) Hill difama que em nosso congresso nós supostamente adotamos uma posição discriminatória em relação aos partidos do Vietnã, Coreia e Laos, acrescentando que ele tem muito a dizer em relação a esses partidos, porque não concorda com eles.

f) Hill, este “comunista”, não concorda com avaliação do nosso partido em relação aa Comintern e supostamente analisa, em uma página, os “erros cometidos” por Dimitrov, que teria sido “criticado por Stálin”.

Que canalha tem que ser esse sujeito para difamar o trabalho da Comintern ao dizer que Thorez, Togliatti, Duclos, Sharkey (todos traidores) entraram para a Comintern por acidente! Em outras palavras, ele nega o papel importante que a Comintern desempenhou no fortalecimento dos partidos comunistas de todo o mundo, dizendo, indiretamente, “veja, todos aqueles partidos que a Comintern ajudou são traidores”.

O camarada Lamani disse que Hill também opinou sobre a “situação internacional”, da qual estão em oposição à linha do nosso congresso. Porém, esclareceremos melhor todas essas questões quando recebermos sua carta. Tudo que posso dizer, por enquanto, é que Hill está agindo como um provocador e um revisionista. Em momento nenhum fizemos qualquer crítica aberta que seja contra Mao ou contra a China, em momento nenhum falamos sobre eles com Hill. Tanto o que dissemos no congresso quanto o que conversamos com ele um ou dois anos antes não teve uma única palavra contra a China ou Mao, pelo contrário, fomos até elogiosos. Na primeira e na segunda conversa que tivemos, Hill se comportou como um hipócrita, não ousou expressar suas opiniões reais, nem se envolver em uma discussão camarada conosco. Como vemos, ele veio se aproveitar do que podia para levar até a China. Aparentemente, Hill também recebeu da China instruções para agir. Ele foi enviado como provocador para que iniciássemos uma polêmica com ele sobre uma terceira parte: o Partido Comunista da China (PCCh). Não cairemos nessa armadilha. Essa manobra trotskista nós já conhecemos desde a época de Khrushchev, que enviou Zhivkov e Kadar para nos provocar.

A tática dos chineses é clara. Eles nos enviaram uma “nota verbal” na qual nos acusam de “termos atacado a linha do PCCh e a estratégia de Mao Zedong” e isto é tudo. Ao mesmo tempo, eles enfatizam que: “Não iremos responder às acusações de vocês, porque não queremos entrar em polêmica”(2). Enquanto isso, por outro lado, eles usam Hill e talvez outros, por meio dos quais devemos entrar em polêmica sobre o problema chinês. O objetivo é dividir o movimento revolucionário e a unidade dos partidos comunistas marxista-leninistas. Eles já fizeram isso há muito tempo com vários partidos comunistas marxista-leninistas, com os quais romperam relações e agora mantêm relações apenas com uma miscelânea de grupos de provocadores que se autodenominam “maoístas”. Ao jogar esse jogo, eles estão buscando isolar o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e reduzir sua grande autoridade.

Devemos estar vigilantes nesse sentido, devemos nos proteger contra esses provocadores e defender a linha correta do nosso partido, a pureza do marxismo-leninismo com todas as suas forças. Os revisionistas chineses e seus lacaios vão cair no descrédito e irão fracassar.

Devemos responder à carta de Hill dizendo que ele jamais terá como obter uma resposta nossa sobre uma questão que envolve um terceiro partido fraterno. Derrubaremos suas opiniões antimarxistas uma a uma. Faremos isso em um tom de camaradagem, assim como nosso partido sempre agiu, e com isso mostraremos a ele que está errado quando espera alguma resposta “passional” de nós, assim como Khrushchev esperava de nós. Ele deve ter ciência que é livre para manter e defender sua própria opinião sobre as questões sobre as quais tem opinião própria.


Notas da tradução:

(1) Essas são notas do Diário Político Pessoal do camarada Enver Hoxha, nesses diários ele expressava opiniões pessoais sobre uma infinidade de assuntos. Algumas dessas opiniões pessoais não eram ainda aprovadas coletivamente pelo Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), ou seja, não eram opiniões públicas do PTA sobre uma série de políticas. Esse conjunto de notas e teses do camarada Enver Hoxha foram publicadas apenas entre 1978 e 1979, após a ruptura da China contra a Albânia em julho de 1978. A publicação dessas notas, teses e sínteses foi aprovada pelo PTA com o objetivo demonstrar a investigação cotidiana e dialética que o camarada Enver Hoxha fazia da política de Mao Zedong e do PCCh desde 1962 até o momento da ruptura. (retornar ao texto)

(2) Aqui o camarada Enver Hoxha está se referindo à tática da “falácia do espantalho”, da qual se cria um fato inexistente no argumento do oponente para que, em seguida, possa se refutar, porém, em bases falsas. Neste caso, a tática dos chineses era dizer que o PTA difamava a vida e obra de Mao Zedong e do PCCh para justificar um rompimento diplomático e ideológico com a Albânia e o PTA, algo que na realidade concreta simplesmente não acontecia. As críticas públicas do camarada Enver Hoxha à Mao Zedong e ao PCCh começaram apenas no final de 1978, com o lançamento da segunda edição de O Imperialismo e a Revolução, após o rompimento da China contra a Albânia em julho de 1978. (retornar ao texto)

Inclusão: 15/11/2023