Duas linhas

J. V. Stálin

16 de setembro de-1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 12. 16 de setembro de-1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 291-293.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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A questão fundamental da revolução é a questão do poder. Quem tem em suas mãos o poder, a classe que está no poder, determina inteiramente o caráter da revolução, seu desenvolvimento e seu êxito. A chamada crise do poder não é outra coisa senão a expressão exterior da luta das classes pelo poder. A época revolucionária distingue-se justamente pelo fato de que a luta pelo poder adquire nela um caráter mais agudo e mais manifesto. A isso é devida, entre nós, a crise “crônica” do poder, agravada ainda por cima pela guerra, pelo esfacelamento e pela fome. A isso é devido o fato “surpreendente” de que nenhuma “conferência”, nenhum “congresso” pode em nossos dias abster-se de examinar a questão do poder.

Nem sequer a Conferência Democrática que realiza suas sessões no Teatro Alexandre pode abster-se de examinar essa questão.

Nessa Conferência emergiram duas linhas sobre a questão do poder.

A primeira linha é a da coalizão aberta com o partido cadete. É pregada pelos defensistas mencheviques e social-revolucionários. Foi sustentada na Conferência pelo encarniçado conciliador Tsereteli.

A segunda linha é a da ruptura radical com o partido cadete. Ela é propugnada pelo nosso Partido, pelos social-revolucionários e pelos mencheviques internacionalistas. Foi sustentada na Conferência por Kámenev.

A primeira linha leva à instauração do poder da burguesia imperialista sobre o povo, uma vez que a experiência do governo de coalizão mostrou que a coalizão com os cadetes é o domínio do latifundiário sobre o camponês, ao qual não é dada a terra, o domínio do capitalista sobre o operário, que é condenado ao desemprego, o domínio da minoria sobre a maioria, que vem a ser presa da guerra e do esfacelamento, da fome e da ruína.

A segunda linha leva à instauração do poder do povo sobre os latifundiários e sobre os capitalistas, uma vez que romper com o partido cadete significa justamente assegurar a terra aos camponeses, o controle da produção aos operários, uma paz justa à maioria trabalhadora.

A primeira linha exprime a confiança no governo existente, deixando-lhe plenos poderes.

A segunda linha exprime a desconfiança contra o governo e bate-se pela passagem do poder aos representantes diretos dos Soviets dos Operários, dos Camponeses e dos Soldados.

Existem alguns indivíduos que sonham com a conciliação dessas duas linhas inconciliáveis. Assim por exemplo Tchernov, que na Conferência falou contra os cadetes mas pela coalizão com os capitalistas, sob a condição (!) de que os capitalistas renunciem (!) a seus interesses. É óbvia a falsidade intrínseca da “posição” de Tchernov. Mas não se trata aqui do caráter contraditório dessa posição, e sim do fato de que ela introduz de contrabando os malogrados argumentos de Tsereteli sobre a coalizão com o partido cadete.

De fato ela permite a Kerenski, “partindo do programa da Conferência”, “completar” o governo com os diversos Buríchkin e Kíchkin, que estão prontos a subscrever qualquer programa para não pô-lo em prática.

De fato essa falsa “posição” facilita a luta de Kerenski contra os soviets e contra os comitês, pondo-lhe nas mãos uma arma representada pelo “antiparlamento” consultivo.

A “linha” de Tchernov é a mesma de Tsereteli, mas “astutamente” mascarada para colher alguns simplórios nas redes da “coalizão”.

Há razão em supor que a conferência seguirá as pegadas de Tchernov.

Mas a Conferência não é a última instância.,

As duas linhas que expusemos acima não fazem senão exprimir o que existe na realidade. Mas na realidade não temos somente um poder, temos dois: o poder oficial, que é o diretório, e o poder não oficial, que são os soviets e os comitês.

O traço característico do momento é a luta entre esses dois poderes, se bem que ela ainda seja conduzida surda e inconscientemente.

A Conferência está evidentemente destinada a jogar sobre a balança um peso decisivo a fim de que o poder seja conferido ao diretório.

Mas saibam os senhores conciliadores, abertos e mascarados, que quem se enfileira com o diretório instaura o poder da burguesia, entra inevitavelmente em conflito com as massas dos operários e dos soldados e deve agir contra os soviets e os comitês.

Os senhores conciliadores não podem ignorar que a última palavra cabe aos comitês e aos soviets revolucionários.


Inclusão: 18/02/2024