Comentários (2)

J. V. Stálin

29 de setembro de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), 29 de setembro de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 320-323.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

O partido dos “amorfos” e os soldados russos

Sob o tzarismo o partido social-revolucionário proclamava aos quatro ventos a necessidade de dar aos camponeses as terras dos latifundiários. Os camponeses, acreditando que esse fosse o seu partido, confiaram então nos social-revolucionários e agruparam-se em torno deles.

Após a queda do tzarismo e a vitória da revolução era chegado o momento de passar das palavras aos fato e de pôr finalmente em prática as “áureas palavras” dos social-revolucionários sobre a questão da terra. Mas... (o famoso “mas”!) os social-revolucionários começaram a hesitar e balbuciando propuseram aos camponeses que esperassem, para obter a terra, a Assembleia Constituinte, cuja convocação tinha sido ainda por cima adiada.

Constatou-se que fazer discursos altissonantes sobre a terra e sobre os camponeses é mais fácil que dar efetivamente a terra aos camponeses. Constatou-se que os social-revolucionários somente em palavras “tomavam a peito a promessa feita aos camponeses e quando chegou o momento de passar das palavras aos fatos, preferiram recuar, escondendo-se atrás da Assembleia Constituinte…

Os camponeses responderam a essa atitude com um poderoso movimento agrário, “ocupando” espontaneamente as terras dos latifundiários, “apropriando-se” dos animais de tração e dos instrumentos agrícolas “alheios”, e exprimiram com isso sua desconfiança contra a política de expectativa propugnada pelos social-revolucionários.

Os ministros social-revolucionários não permaneceram em débito com os camponeses, uma vez que prenderam por essas ações dezenas e centenas de camponeses membros dos comitês da terra. Os ministros social-revolucionários mandavam prender os camponeses social-revolucionários porque punham em prática as promessas feitas pelos social-revolucionários: eis como se desenvolveu a situação diante de nos.

Seguiu-se a isso um caos completo no partido dos social-revolucionários, caos que apareceu de maneira particularmente clara por ocasião da votação efetuada no Antiparlamento, quando os social-revolucionários de esquerda pronunciaram-se a favor da passagem imediata das terras para os camponeses, os social-revolucionários de direita pronunciaram-se contra e Tchernov, esse Hamlet do partido social-revolucionário, absteve-se, com profunda sabedoria, juntamente com os centristas.

A resposta a essa atitude foi dada pela saída em massa dos soldados do partido social-revolucionário.

Mas uma parte dos soldados que ainda não saíram do partido social-revolucionário “solicita” vivamente “ao Comitê Central do partido” que ponha em prática por fim a unidade do partido, acabando com o “amorfismo”.

Escutai:

“A Conferência unificada dos representantes das organizações militares dos regimentos e dos destacamentos especializados de Petrogrado, Tzárskoie Sieló, Peterhof, etc., julgando que nesse momento grave para o partido é necessário unir a maioria do partido... na base de um programa que, eliminando a fisionomia amorfa do partido, una todos os seus elementos vitais…, pronuncia-se pela... imediata transferência de todas as terras cultiváveis aos comitês da terra...” (“Dielo Naroda”).

Eis pois novamente a questão da “passagem imediata das terras”!

Os soldados esperam unir todos “os elementos vitais do partido” social-revolucionário no terreno do reconhecimento dessa reivindicação!

Ingênuos! Após uma série de insucessos, querem ainda jungir ao mesmo carro o revolucionário Kámkov, o cadete Avkséntiev e o “amorfo” Tchernov!

Camaradas soldados, é tempo de compreender que o partido social-revolucionário não existe mais, existe somente, uma massa “amorfa”, uma parte da qual empantanou-se atrás de Sávinkov, uma outra permaneceu nas fileiras dos revolucionários e a terceira, impotente marca passo, mascarando de fato a fração de Sávinkov.

É tempo de se compreender isso e abandonar as tentativas no sentido de unir aquilo que não se pode unir…

Os conspiradores no poder

Búrtsev escreve hoje no seu jornal Óbchtcheie Dielo:(1)

“Agora pode-se afirmar com segurança que não houve nenhum complô de Kornílov! Na realidade as coisas passaram-se de modo totalmente diverso: houve um acordo entre o governo e o general Kornílov para lutar contra os bolcheviques! A luta contra os bolcheviques, objeto dos acordos entre os representantes do governo e o general Kornílov, era a íntima aspiração dos representantes de diversos partidos, desde os democráticos aos socialistas. Até ao infausto 26 de agosto, todos eles consideravam o general Kornílov como aquele que iria salvá-los do iminente perigo bolchevique.”

Não “complô”, mas “acordo”, escreve Búrtsev, em grifo.

Búrtsev tem razão. Nesse caso, tem absolutamente, razão. Foi concluído um acordo sobre a organização do complô contra os bolcheviques, isto é, contra a classe operária, contra o exército revolucionário e os camponeses: um acordo para fazer complô contra a revolução!

Que as coisas tenham se passado assim, é o que temos afirmado desde os primeiros dias da revolta de Kornílov e dizem-no dezenas e centenas de fatos; e revelações que ninguém desmentiu não deixam nenhuma dúvida a respeito.

E os conspiradores estão todavia no poder ou próximo ao poder. E se continua todavia a brincar de inquérito, a brincar “de revolução”.

A coalizão com os conspiradores, o governo do complô: eis, ao que parece, o presente que os senhores defensistas ofereceram aos operários e aos soldados!


Notas de fim de tomo:

(1) Óbchtcheie Dielo (A Causa Comum), diário vespertino, publicado por V. Búrtsev em setembro-outubro de 1917 em Petrogrado. O diário apoiava Kornílov e movia uma campanha feroz de calúnias contra os soviets e contra os bolcheviques. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024