Leão Trotski
Socialista Revolucionário

Duncan Hallas

Estratégia e Táctica


O ideal dum movimento operário internacional é tão antigo, se não mais, quanto o próprio Manifesto Comunista e o seu chamado: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”. Em 1864 (a Primeira Internacional) e novamente em 1889 (a Segunda Internacional) foram feitas tentativas de dar uma expressão organizativa a este ideal. A Segunda Internacional colapsou em 1914 quando os seus grandes partidos romperam com o internacionalismo e apoiaram os “seus” respectivos governos burgueses, dos Kaisers da Alemanha e da Áustria, do Rei da Inglaterra e da Terceira República Francesa, por causa da Primeira Guerra Mundial.

Não é que eles tenham sido pegos de surpresa. Antes da guerra os Congressos tinham já chamado a atenção muitas vezes para a ameaça do imperialismo e do militarismo, para a ameaça crescente duma guerra e para a necessidade dos partidos obreiros se posicionarem firmemente contra os seus próprios governos, para realmente “utilizar a crise gerada pola guerra para acelerar a queda do domínio de classe capitalista”, como declarara o Congresso de Stuttgarda da Internacional em 1907.

As subseqüentes capitulações de 1914, resultaram uma atordoante derrota para o movimento socialista, e levaram Lénine a declarar:

“A Segunda Internacional está morta [...] Viva a Terceira Internacional”.

Cinco anos depois, em 1919, foi fundada a Terceira Internacional. Trótski cumpriu um papel central nela durante os seus primeiros anos.

Mais tarde, com a ascensão do estalinismo na URSS, a Internacional foi prostituída a serviço do Estado estalinista russo. Trótski luitou mais do que qualquer outro contra esta degeneração. Muitos dos seus escritos mais valiosos sobre a estratégia e a tática dos partidos revolucionários foram escritos para a Terceira Internacional, a Comintern, em ambos os períodos, o da ascensão e o do declínio.

“Deixando de lado o fracasso, as mentiras e a corrupção dos partidos socialistas oficiais sobreviventes, nós, os comunistas, unidos na Terceira Internacional, consideramos ser os continuadores directos dos esforços heróicos até o martírio duma longa linha de gerações revolucionárias, de Babeuf a Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.

Se a Primeira Internacional prognosticou o curso futuro do desenvolvimento e indicou os caminhos; se a Segunda Internacional juntou e organizou milhões de trabalhadores; a Terceira Internacional é a Internacional da ação aberta de massas, a Internacional da realização revolucionária, a Internacional dos factos”(1)

Trótski tinha quarenta anos de idade e estava na plenitude das suas forças quando escreveu o Manifesto da Internacional Comunista, do qual as linhas acima foram extraídas. Como Comissário do Povo para a Guerra da República soviética, só era segundo em relação a Lénine como porta-voz reconhecido do comunismo internacional.

Os seus pontos de vista não eram, naquele momento, especialmente distintivos. Eram os pontos de vista de toda a direção bolchevique; uma perspectiva que não excluía agudas diferenças de opinião nestes ou naqueles assuntos, mas que era essencialmente homogênea. Mas Trótski se tornaria com o tempo num dos defensores mais notáveis das idéias do período heróico da Internacional Comunista. Eventos não previstos por quaisquer dos líderes revolucionários de 1919 — e também não polos oponentes — reduziram depois a um pequeno punhado os portadores desta autêntica tradição comunista. Trótski sobressaiu-se entre eles como um gigante entre baixinhos.

Em várias ocasiões Trótski se referiria, nos seus escritos do final dos anos 20 e dos anos 30, às decisões dos quatro primeiros congressos da Comintern como um modelo de política revolucionária. O que foram estas decisões e em que circunstâncias foram adotadas?

Dia 4 de Março de 1919. Trinta e cinco delegados reunidos no Kremlin votaram, com uma abstenção, pola constituição da Terceira Internacional. Não era uma reunião muito representativa. Somente os cinco delegados do Partido Comunista Russo (Bukharine, Chicherine, Lénine, Zinoviev e Trótski) representavam um partido que era uma organização de massas e genuinamente revolucionário. Stange, do Partido Trabalhista norueguês (NAP), vinha de um partido de massas mas, como os factos ficariam por demonstrar, o NAP estava longe de ser revolucionário. Eberlein, do recém-formado Partido Comunista da Alemanha (KPD), representava uma real organização revolucionária, mas contava apenas com uns poucos milhares de membros. Os outros delegados representavam muito pouco.

A maioria era da opinião de que uma “Internacional” sem apoio real de massas em vários países seria algo sem sentido. Zinoviev, polos russos, argumentou que esse apoio de massas na realidade existia. A debilidade de muitas das delegações era circunstancial...

“Nós temos uma revolução operária vitoriosa num grande país... Na Alemanha vocês têm um partido que marcha para o poder e que em alguns meses estabelecerá um governo proletário. E então, que havemos esperar? Ninguém entenderá isto.”(2)

Nenhum dos delegados duvidava que a revolução socialista era uma perspectiva imediata na Europa central, sobretudo na Alemanha. Nas palavras de Eberlein:

“A menos que todos os sinais sejam enganosos, os operários alemães estám enfrentando a uma luita decisiva. Por mais difícil que possa ser, as perspectivas para o comunismo são favoráveis.”(3)

Lénine, o mais sóbrio e calculista dos revolucionários, havia dito no seu discurso de abertura que:

“não só na Rússia, mas na maioria dos países capitalistas desenvolvidos da Europa, na Alemanha por exemplo, a guerra civil é um facto [...] a revolução mundial está começando e está crescendo em intensidade em todos os lados”.(4)

Isto não era nenhuma fantasia. Para Novembro de 1918 o Império alemão, até então o Estado mais poderoso da Europa, tinha-se desmoronado. Seis comissários do povo, três social-democratas e três social-democratas independentes, substituíram o governo do Kaiser. Os Conselhos de Trabalhadores e Soldados tinham surgido por todo o país e exerciam o poder efectivo. Também é verdade que os líderes social-democratas, que detinham o governo, fizeram todos os esforços para reconstituir o velho poder capitalista, desta vez sob um disfarce “republicano”. Isso era uma razão a mais para criar uma Internacional revolucionária com uma direção forte e centralizada, que guiasse e apoiasse a luita por uma Alemanha soviética. E essa luita estava aparentemente se desenvolvendo, apesar da supressão sangrenta do levante espartaquista de Janeiro de 1919.

“De Janeiro a Maio de 1919 uma sangrenta guerra civil foi empreendida na Alemanha.”(5)

Um mês depois da reunião de Moscovo foi proclamada a República Soviética da Bavária.

A outra grande potência da Europa central, o Império Austro-húngaro, tinha deixado de existir. Os Estados sucessores se encontravam em variados graus de fermento revolucionário. Na Áustria de língua alemã a única força armada efetiva era o Volkswehr (Exército do Povo). A República Soviética da Hungria, foi proclamada no dia 21 de Março de 1919. Todos os Estados, os novos e os reconstituídos — Tchecoslováquia, Iugoslávia, e mesmo a Polônia — viviam uma situação altamente instável.

O papel das direções socialistas era crucial. A maioria apoiou as contra-revoluções, agora em nome da “democracia”. A maioria delas reivindicava ser e na realidade foram, marxistas e internacionalistas. Em 1914 capitularam diante das “suas” respectivas classes dominantes. Converteram-se, naqueles críticos momentos, no suporte principal do capitalismo, usando frases socialistas e o crédito conquistado por anos de oposição aos antigos regimes antes de 1914, para impedir o estabelecimento do poder dos trabalhadores. A sua tentativa para reconstituir a Segunda Internacional numa reunião em Berna (Suíça) foi vista como uma razão adicional e urgente para se proclamar a Terceira Internacional. Já em 1914 Lénine tinha escrito:

“A Segunda Internacional está morta, subjugada polo oportunismo [...] Viva a Terceira Internacional!”(6)

Dezaoito meses depois da Revolução de Outubro, ela se tornaria realidade. Quais foram as suas bases políticas? Ela se apoiava em duas plataformas fundamentais: o internacionalismo revolucionário e o sistema de sovietes como o meio a ser usado polos trabalhadores para governar a sociedade. A resolução principal do Congresso de 1919 declarava:

“A democracia assumiu formas diferentes e foi aplicada em diferentes graus nas antigas repúblicas gregas, nas cidades medievais e nos países capitalistas avançados. Seria pura tolice pensar que a mais profunda revolução da história — na qual pola primeira vez em todo o mundo o poder é transferido da minoria exploradora à maioria explorada —, poderia ser realizada dentro dos moldes desgastados da democracia parlamentar burguesa, sem mudanças drásticas, sem a criação de formas novas de democracia, de novas instituições que encarnam as novas condições de aplicação da democracia.”(7)

Sovietes ou parlamento? Após a Revolução de Outubro o Partido Comunista russo dissolvera em favor dos sovietes a Assembléia Constituinte recentemente eleita, na qual a partido camponês Social-revolucionário conquistara a maioria. Depois da Revolução de Novembro de 1918, o Partido Social-democrata alemão havia dissolvido os Conselhos de Trabalhadores e de Soldados, nos quais tinha maioria, em favor duma Assembléia Nacional na qual era minoria.

Em ambos os casos a questão das formas constitucionais era, na realidade, uma questão do poder de classe. O efeito da acção do Partido Comunista russo foi a criação dum Estado obreiro. O efeito da acção de Partido Social-democrata alemão foi a criação dum Estado burguês, a República de Weimar.

Marx, após a Comuna de Paris, escreveu que na transição do capitalismo para o socialismo, a forma do Estado só “pode ser a ditadura revolucionária do proletariado”.

Os social-democratas rejeitavam, na prática, a essência da teoria marxista do Estado, segundo a qual todos os Estados são Estados de classe e nenhum Estado é “neutro”. Eles rejeitavam a sua própria posição anterior, sobre a inevitabilidade da revolução, em favor de vias parlamentares “pacíficas” para o socialismo. Entretanto a República de Weimar foi, tanto quanto a República soviética russa, um produto da subversão violenta do Estado anterior. Soldados amotinados e trabalhadores armados, e não eleitores, derrubaram o Império alemão. O mesmo era verdadeiro para os Estados sucessores do Império Austro-húngaro. Mas, segundo eles, a transformação mais importante, a destruição do capitalismo, seria alcançada polos mecanismos ordinários da democracia burguesa! Na realidade isto significava o abandono do socialismo enquanto objectivo.

A Terceira Internacional, na sua “plataforma” de 1919, reafirmou a posição marxista:

“A vitória da classe operária reside na destruição da organização do poder inimigo e na organização do poder dos trabalhadores. Consiste na destruição do aparelho estatal burguês e a construção da máquina estatal proletária.”(8)

Conquistar o socialismo através do parlamento era uma estratégia fora de questão. Lénine, em 1917, citava, em sinal de aprovação, a afirmação de Engels de que voto universal é

“um indicador da maturidade da classe trabalhadora. Ele não pode e nunca será mais do que isso num Estado moderno”.(9)

“Nenhuma república burguesa, por mais democrática que seja — escreveu Lénine logo após a Conferência de Moscovo — jamais foi ou poderia ser algo mais do que uma máquina para a repressão dos trabalhadores polo capital, um instrumento da ditadura da burguesia, da dominação política do capital”.(10)

Uma república dos trabalhadores, baseada nos Conselhos Operários, tinha de ser verdadeiramente democrática.

“A essência do poder soviético reside no alicerce permanente e exclusivo de todo o poder do Estado, de todo o aparelho estatal. Está no facto de que é a organização de massas o que é permanente e exclusivo, daquelas classes que eram oprimidas polos capitalistas, isto é, os trabalhadores e semi-trabalhadores (camponeses que não exploram trabalho)".(11)

Isto era uma idealização, até mesmo para a Rússia de 1919, mas os “desvios” existentes eram explicados polo atraso do país, a guerra civil e a intervenção estrangeira.

Trótski, na época, e até os seus últimos dias, apoiava todas estas idéias sem qualquer reserva. Concordava com Lénine nas questões relacionadas à democracia burguesa e ao reformismo em 1919, e nunca mudou de opinião a respeito.

A reunião dos delegados em Moscovo fundara a nova Internacional sobre a base dum internacionalismo incondicional, um rompimento decisivo e final com os traidores de 1914, a defesa do poder operário, dos Conselhos de Trabalhadores, da República soviética e da perspectiva de revolução num futuro próximo, na Europa Central e Ocidental. O problema agora era criar os partidos de massa que pudessem transformar tudo isso em realidade.

Centrismo e ultra-esquerdismo

“Partidos e grupos até recentemente filiadas à Segunda Internacional estão, com cada vez mais freqüência, solicitando a sua participação na Terceira Internacional, embora na realidade não tenham se tornado comunistas [...] A Internacional Comunista está, de certa forma, virando moda [...] Em certas circunstâncias, a Internacional Comunista pode correr o risco de diluição pola afluência de grupos vacilantes e indecisos que ainda não romperam com a sua ideologia da Segunda Internacional.”(12)

Isto foi o que escreveu Lénine em Julho de 1920. A suposição do Congresso de 1919 da Comintern, de que um verdadeiro movimento revolucionário de massas existia na Europa, provou estar correto no ano seguinte.

Em Setembro de 1919 o Congresso de Bolonha do Partido Socialista Italiano votou, por esmagadora maioria e sob a recomendação da sua executiva, pola filiação à Terceira Internacional. O Partido Trabalhista norueguês (NAP) confirmou a sua filiação e os partidos búlgaro, iugoslavo (ex-sérvio) e romeno também se filiaram. Os primeiros três eram organizações importantes. O NAP que, tal como o Partido Trabalhista britânico, tinha a sua base nos sindicatos, dominava completamente a esquerda norueguesa, e o Partido Comunista búlgaro tinha desde o princípio o apoio de praticamente toda a classe trabalhadora da Bulgária. O Partido Comunista iugoslavo elegeu 54 deputados na primeira (e única) eleição livre realizada no novo Estado.

Na França, o Partido Socialista (SFIO), que dobrara o seu número de membros — de 90.000 a 200.000 entre 1918 e 1920 — havia realizado uma viragem para a esquerda, e estava flertando com Moscovo. O mesmo acontecia com os dirigentes do Partido Social-democrata Independente alemão (USPD), uma organização que estava ganhando terreno rapidamente às custas do Partido Social-democrata alemão (SPD). Os social-democratas de esquerda da Suécia, a esquerda checa e partidos menores em outros países (incluindo o britânico Partido Trabalhista Independente) tinham essencialmente a mesma linha. A pressão que vinha das suas fileiras forçava-os a assumir em palavras a defesa da Revolução de Outubro e negociar a sua admissão à Terceira Internacional.

“O desejo de certos grupos de “centro” de aderirem à Terceira Internacional — escreveu Lénine — fornece a confirmação indireta de que conquistou a simpatia da vasta maioria dos trabalhadores conscientes ao redor do mundo, e está se tornando a cada dia uma força mais poderosa.”(13)

Mas esses partidos não eram organizações comunistas revolucionárias. As suas tradições eram as social-democratas de antes da guerra — revolucionários nas palavras e passivos na prática. E eles foram conduzidos por homens que tentariam qualquer manobra para manter o controle e impedir a adopção duma estratégia e tática genuinamente revolucionárias.

Sem o grosso da militância desses partidos a nova Internacional não poderia vir a exercer uma influência decisiva na Europa a curto prazo. Sem uma ruptura com as direcções centristas não poderia vir a exercer uma influência revolucionária. A situação não era muito diferente com os partidos de massa que estavam dentro da Internacional. O Partido Socialista italiano, por exemplo, tinha centristas e até mesmo alguns reformistas declarados na sua direção.

A luita contra o centrismo era complicada por outro factor. Existiam fortes correntes de extrema-esquerda dentro de muitas das organizações comunistas. E fora delas estavam ademais algumas organizações sindicais importantes que haviam se aproximado da Terceira Internacional mas ainda rejeitavam a necessidade dum partido comunista. Ganhar e integrar essas grandes forças era uma operação difícil e complexa. Exigia uma luita em várias frentes diferentes.

As decisões do Segundo Congresso da Terceira Internacional foram de importância fundamental. De certo modo este foi o verdadeiro congresso de fundação. Aconteceu durante o auge da guerra com a Polônia, quando o Exército Vermelho estava se aproximando de Varsóvia. Na Alemanha uma tentativa para instalar uma ditadura militar, o putsch de Kapp, há pouco tinha sido derrotada pola acção da classe trabalhadora. Na Itália as ocupações de fábrica estavam a ponto de começar. O clima de otimismo revolucionário era mais forte do que nunca. Zinoviev, Presidente da Internacional, declarou:

“Estou profundamente convencido que o Segundo Congresso Mundial da Internacional Comunista é o precursor de outro congresso mundial, o Congresso Mundial das Repúblicas Soviéticas.”(14)

Tudo o que era necessário eram verdadeiros partidos comunistas de massa para conduzir o movimento à vitória. Uma das principais intervenções de Trótski no congresso se preocupou com a natureza de tais partidos.

“Camaradas, pode parecer bastante estranho que, três quartos de século depois do aparecimento do Manifesto Comunista, ainda se discuta num congresso comunista internacional se um partido é necessário ou não. É evidente que se nós estivéssemos lidando aqui com os senhores Scheidemann, Kautsky ou os seus co-pensadores ingleses, é claro, não seria necessário convencer estes cavaleiros de que um partido é indispensável para a classe trabalhadora. Eles criaram um partido para a classe operária e o entregaram ao serviço da burguesia e da sociedade capitalista. Exatamente porque eu sei que o partido é indispensável, e porque estou ciente do valor do partido, e exactamente porque eu vejo Scheidemann dum lado e, do outro, os sindicalistas americanos ou espanhóis ou franceses que não só desejam luitar contra a burguesia mas que, ao contrário de Scheidemann, realmente querem arrancar-lhe a cabeça fora — por essa razão eu digo que prefiro discutir com os camaradas americanos, espanhóis e franceses para provar-lhes que o partido é indispensável para o cumprimento da sua missão, a destruição da burguesia. Camaradas, os sindicalistas franceses estão realizando um trabalho revolucionário dentro dos sindicatos. Quando eu discuto hoje, por exemplo, com o camarada Rosmer, nós temos uma base comum de concordância. Os sindicalistas franceses disseram, em desafio às tradições da democracia e seus enganos: “Nós não queremos nenhum partido, somos por sindicatos proletários e pola minoria revolucionária que, dentro deles, aplica a acção direta.” O que significa essa minoria para os nossos amigos? Ela é a secção escolhida da classe operária francesa, uma secção com um programa claro e organização própria, uma organização onde se discutem todas as questões, e não só se discute mas também se decide, e onde eles estão ligados por uma certa disciplina.”(15)

Essa era a raiz do problema segundo Trótski. Os sindicalistas revolucionários eram muito mais propensos a construir um partido comunista do que os centristas, os quais aceitavam a idéia dum partido. A posição sindicalista não era completamente adequada — algo havia de ser adicionado:

“um inventário... que concentre toda a experiência acumulada pola classe operária. É assim que nós concebemos o nosso partido. É assim que concebemos a nossa Internacional.”(16)

Mas não poderia ser uma organização fundamentalmente de propaganda. Falando ao Executivo da Comintern contra o ultra-esquerdista holandês Gorter, que havia acusado a Comintern de “correr atrás das massas”, Trótski declarou:

“O que propõe o camarada Gorter? O que quer ele? Propaganda! Esta é a essência de todo o seu método. A revolução, segundo o camarada Gorter, não depende nem das privações nem das condições econômicas, mas da consciência das massas, enquanto a consciência das massas, por sua vez, é moldada através de propaganda. A propaganda é tomada aqui duma maneira puramente idealista, muito semelhante ao conceito da escola iluminista e racionalista do século XVIII [...] O que você quer fazer é essencialmente substituir o desenvolvimento dinâmico da Internacional por métodos de recrutamento individual de trabalhadores através da propaganda. Você quer uma espécie de Internacional “pura” dos eleitos e selectos...”(17)

O ultra-esquerdismo passivo, de tipo propagandístico, não era a única variedade presente nos primeiros anos da Comintern. Em 1921 uma tendência putschista desenvolveu-se na direção do partido alemão. Em Março daquele ano, na ausência duma situação revolucionária em escala nacional (em certos lugares da Alemanha central havia algo próximo a uma situação revolucionária), a direcção do partido tentou forçar o passo, tentou usar os militantes do partido como substitutos dum autêntico movimento de massas. O resultado do que ficou conhecido como a “Acção de Março” foi uma terrível derrota — o número de membros do partido despencou de aproximadamente 350.000 para cerca de 150.000. Uma “teoria da ofensiva” surgiu para justificar as táticas do KPD.

Eis aí a chamada teoria da ofensiva. Qual é a essência desta teoria? A sua essência é que nós temos entrado na época da decomposição da sociedade capitalista, ou em outras palavras, a época em que a burguesia deve ser derrubada. Como? Pola ofensiva da classe trabalhadora. Nesta forma puramente abstrata ela é inquestionavelmente correcta. Mas certos indivíduos tentaram converter este capital teórico em moeda equivalente de denominações menores, e eles declararam que esta ofensiva consiste em sucessivas ofensivas menores [...]”, observou Trótski num discurso no verão de 1921. E prosseguiu dizendo:

“Camaradas, tem sido abusada a analogia entre a luita da classe trabalhadora e as operações militares. Mas até um certo ponto podemos falar aqui de semelhanças [...] Em termos militares, nós também tivemos os nossos dias de Março [...] e os nossos dias de Setembro [a referência é ao fracasso do Partido Socialista Italiano em explorar a crise revolucionária de Setembro de 1920] O que acontece depois duma derrota parcial? Ocorre um certo deslocamento do aparelho militar, surge a necessidade dum intervalo para se tomar fôlego, a necessidade duma reorientação e duma estimativa mais precisa das forças recíprocas [...] Às vezes isso só se torna possível através duma retirada estratégica [...]

Mas para entender isto correctamente, para se discernir num movimento de recuo, numa retirada, uma parte componente dum plano estratégico unificado — para isso é necessária uma certa experiência. Mas se alguém raciocina de forma puramente abstrata e teima em avançar sempre [...] na suposição de que tudo pode ser substituído por uma extensão adicional de vontade revolucionária, o que é que obtém como resultado? Tomemos como exemplo os acontecimentos de Setembro na Itália ou os de Março na Alemanha. Nos é dito que a situação nestes países só pode ser remediada por uma nova ofensiva [...] Desta forma sofreríamos uma derrota ainda maior e muito mais perigosa [...] Não, camaradas, depois duma tal derrota temos de recuar.”(18)

As frentes únicas

De facto, já no verão de 1921, a direção da Comintern havia decidido que era necessária uma retirada estratégica geral. Trótski escreveu no Pravda em Junho:

"No ano mais crítico para a burguesia, o ano de 1919, a classe trabalhadora europea poderia ter conquistado o poder estatal com um mínimo de sacrifícios, caso tivesse à cabeça uma autêntica organização revolucionária, que estabelecesse metas claras e fosse capaz de persegui-las, isto é, um forte Partido Comunista. Mas não havia nenhum [...] Durante os últimos três anos os trabalhadores luitaram muito e houveram de sofrer muitos sacrifícios. Mas não conquistaram o poder. Como resultado, as massas trabalhadoras se tornaram mais cautelosas do que eram em 1919-20.”(19)

O mesmo pensamento foi expresso nas Teses sobre a situação mundial de autoria de Trótski, adotadas no Terceiro Congresso da Comintern em julho de 1921:

"Durante o ano decorrido entre o segundo e o terceiro congressos da Internacional Comunista, uma série de levantes e luitas da classe trabalhadora terminaram em derrotas parciais (o avanço do Exército Vermelho em Varsóvia em Agosto de 1920, o movimento dos trabalhadores italianos de Setembro de 1920, o levante dos operários alemães em Março de 1921). O primeiro período do movimento revolucionário do após-guerra, que se distinguiu polo caráter espontâneo de suas acções, pola imprecisão de suas baliças e os seus métodos, e polo pânico extremo que despertou entre as classes dominantes, parece, no essencial, ter terminado. A auto-confiança da burguesia enquanto classe e a estabilidade externa dos seus órgãos estatais, se fortaleceram inegavelmente [...] Os líderes da burguesia estão até mesmo jactando-se do poder dos seus aparelhos estatais e partiram para uma ofensiva contra os trabalhadores em todos os países tanto na frente política quanto econômica.”(20)

Em seguida ao congresso, o Comitê Executivo da Internacional Comunista começou a pressionar os partidos a mudar a ênfase dos seus trabalhos para a frente única. A essência desta tática foi formulada por Trótski de forma muito clara em 1922:

"A tarefa do Partido Comunista é conduzir a revolução dos trabalhadores [...] para cumpri-la o Partido Comunista tem de se apoiar na maioria esmagadora da classe operária [...] Por isso é que o partido só pode alcançar isto permanecendo uma organização absolutamente independente com um programa claro e uma estrita disciplina interna. É por isso que o partido teve que romper ideologicamente com os reformistas e os centristas [...] Depois de assegurar uma completa independência e homogeneidade ideológica de suas fileiras, o Partido Comunista tem de luitar por ganhar pola junto à maioria da classe trabalhadora. Mas é óbvio que a vida de classe obreira não é suspensa durante o período preparatório para a revolução. Choques com os industriais, com a burguesia, com o poder estatal, por iniciativa dum lado ou de outro, seguem o seu curso costumeiro.

Nestes choques — tanto quanto envolvam os interesses vitais de toda a classe trabalhadora, ou da sua maioria, ou desta ou aquela secção — as massas trabalhadoras sentem a necessidade da unidade de acção, da unidade para resistir aos ataques do capitalismo ou da unidade para tomar a ofensiva contra o capitalismo. Qualquer partido que se contraponha mecanicamente a esta necessidade de unidade na acção da classe obreira, será condenado polos trabalhadores.

Por conseguinte, a questão das frentes únicas não é de maneira alguma, nem na sua origem nem no seu conteúdo, uma questão das relações recíprocas entre a fracções parlamentares dos comunistas e a dos socialistas, ou entre os Comitês Centrais dos dous partidos [...] O problema das frentes únicas — apesar do facto de que, nesta época, uma divisão entre as várias organizações políticas que se baseiam na classe trabalhadora é inevitável — emerge da necessidade urgente de assegurar à classe trabalhadora a possibilidade duma frente unificada na sua luita contra o capitalismo.

Para os que não entendem esta tarefa, o partido é só uma organização de propaganda e não uma organização para a acção de massas [...] A unidade de frente pressupõe, conseqüentemente, a nossa boa vontade para, dentro de certos limites e em assuntos específicos, correlacionar na prática as nossas acções com as das organizações reformistas, na medida em que elas expressam, ainda hoje, a vontade de importantes setores da classe operária em luita.

Mas, afinal de contas, não rompemos nós com os reformistas? Sim, porque nós discordamos deles em questões fundamentais do movimento operário. E ainda assim buscamos o acordo com eles? Sim, em todos os casos em que as massas que os seguem estejam prontas a se engajarem em luitas comuns junto com as massas que nos seguem, e quando os reformistas, sejam compelidos, em maior ou menor grau, a se tornarem um instrumento desta luita.

Uma política voltada para assegurar a frente única não contém, é óbvio, garantias automáticas de que realmente se consiga a unidade da acção em todas as instâncias. Polo contrário, em muitos casos e talvez até mesmo na maioria de casos, os acordos entre organizações só serão cumpridos pola metade ou talvez nem sejam cumpridos. Mas é necessário que as massas em luita sempre tenham a oportunidade de se convencer que o fracasso na realização da unidade na acção não se deve à nossa irreconciliabilidade formal, mas à falta duma verdadeira vontade para a luita por parte dos reformistas.”(21)

O quarto Congresso da Comintern (1922), que se ocupou em grande parte com a questão da frente única, foi o último do qual tomou parte Lénine, e o último cujas decisões foram consideradas essencialmente correctas por Trótski. Uma década depois, numa declaração de princípios fundamentais, Trótski resumiu a sua atitude para com a experiência da Comintern na sua fase inicial:

"A Oposição de Esquerda fundamenta-se nos primeiros quatro congressos da Comintern. Isto não significa que ela se curva diante de cada letra das suas decisões, muitas das quais tiveram um caráter puramente conjuntural e foram contestadas por eventos posteriores. Mas todos os princípios essenciais (em relação ao imperialismo, o Estado burguês, à democracia e o reformismo; os problemas da insurreição; a ditadura do proletariado; sobre as relações com os lavradores e as nações oprimidas; o trabalho nos sindicatos; o parlamentarismo; a política da frente única) permanecem, ainda hoje, a expressão mais elevada da estratégia proletária na época da crise geral do capitalismo. A Oposição de Esquerda rejeita as decisões revisionistas do quinto e sexto Congressos Mundiais [1924 e 1928]”(22)

O ano de 1923 presenciou o surgimento do triunvirato de Estaline, Zinoviev e Kamenev por um lado, e da Oposição Esquerda do outro. Na Europa testemunhou duas derrotas devastadoras para a Comintern. Em Junho o Partido Comunista búlgaro, um partido de massas que desfrutava o apoio de praticamente toda a classe trabalhadora, adotou uma posição de “neutralidade”, ou melhor dito de passividade total, diante do Golpe de Estado da direita contra o governo do Partido Camponês. E após o regime democrático burguês ter sido destruído, uma ditadura militar foi instalada e a massa da população intimidada, lançou em 22 Setembro uma insurreição súbita, sem qualquer séria preparação política. A insurreição foi esmagada e como resultado se estabeleceu no país um feroz Terror Branco. Na Alemanha estourou uma crise econômica, social e política profunda, precipitada pola ocupação francesa do Ruhr e uma inflação astronômica que, literalmente, tornou o dinheiro sem valor.

“No outono de 1923 a situação alemã era mais desesperadora que em qualquer época desde 1919, a miséria era maior e o futuro mais sombrio.”(23)

Foi planejado um levante para Outubro. Após, o Partido Comunista formou um governo de coalizão com os social-democratas na Saxônia, e o levante foi cancelado no último minuto. (Em Hamburgo o comunicado do cancelamento não foi recebido a tempo; aconteceu uma insurreição isolada que foi esmagada apenas depois de dous dias.)

Trótski acreditava que uma oportunidade histórica fora perdida. A partir desta época a política da Comintern ficou cada vez mais determinada, primeiro, polas exigências da facção de Estaline na luita interna do partido russo e depois polas exigências da política externa do governo de Estaline. Depois duma breve oscilação de “esquerda” em 1924, a Comintern foi empurrada para a direita até 1928, e então para o ultra-esquerdismo (1928-34) e, finalmente, para bem mais à direita durante o período da “Frente Popular” (1935-39). Cada uma destas fases foi analisada e criticada por Trótski. Acho conveniente apresentar a sua crítica usando três exemplos.

O Comitê Sindical Anglo-Soviético

Afora a Revolução chinesa de 1925-27, a qual já discutimos, a política do Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB) até e durante a greve geral de 1926, foi a acusação mais importante que Trótski fez à Comintern na sua primeira fase direitista.

A greve geral de Maio de 1926 foi um ponto decisivo na história britânica e foi uma derrota absoluta para a classe trabalhadora. Trouxe a um fim um longo. embora irregular, período de combatividade da classe operária britânica. Começou um perído alongado de domínio dos sindicatos abertamente conciliadores e direitistas. E conduziu ao massivo reforço do reformismo do Partido Trabalhista às expensas do Partido Comunista.

Em 1924-25 a maré no movimento sindical estava fluindo para a esquerda. O “Movimento Minoritário”, sob inspiração do Partido Comunista e fundado em 1924 em torno duas palavras de ordem: “Parar o Recuo” e “Voltar aos Sindicatos”, estava ganhando uma influência considerável. Ao mesmo tempo, o movimento oficial estava começando a sofrer a influência dum grupo de dirigentes de esquerda. E, a partir da primavera de 1925, a TUC (Confederação Sindical Britânica) passou a colaborar com a Federação Soviética de Sindicatos através do “Comitê Consultivo Sindical Conjunto Anglo-Soviético”, um facto que deu para aos Conselheiros Gerais britânicos um certa imagem “revolucionária” e uma cobertura contra críticas da esquerda.

A essência da crítica de Trótski era que o Partido Comunista da Grã-Bretanha, por insistência de Moscovo, estava criando ilusões nesses burocratas de esquerda (a palavra de ordem central do P. C. da Grã-Bretanha era “Todo o Poder para o Conselho Geral”!) que certamente haveriam levar o movimento para uma fase crítica, como de facto fizeram [...], ao invés de luitar para se construir independentemente nas bases, usando qual fosse o disfarce que os “Conselheiros de Esquerda” recomendassem, mas sem confiar neles ou encorajar os militantes a confiar neles. Polo contrário, contando com a sua traição, advertindo para esse risco e preparando-se a ela.
Trótski escreveu mais tarde:

Zinoviev deu entender que contava que a revolução achasse seu caminho, não polo portal estreito do Partido Comunista britânico, mas polos grandes portões dos sindicatos. A luita polo Partido Comunista para ganhar as massas organizadas nos sindicatos foi substituída pola esperança de utilizar da forma mais rápida possível os aparelhos sindicais prontos para os propósitos da revolução. Desta falsa posição nasceu a recente política do Comitê Anglo-Russo que golpeou a União Soviética, assim como também a classe trabalhadora britânica; um golpe só ultrapassado pola derrota na China [...] Como resultado do maior movimento revolucionário acontecido na Grã-Bretanha desde os dias do cartismo, o Partido Comunista britânico não cresceu quase nada, enquanto o Conselho Geral se firmou ainda mais do que antes da greve geral. Tais são os resultados desta “manobra estratégica” sem igual.”(24)

Trótski não afirmava que uma política comunista independente houvesse levado a greve à vitória.

“Nenhum revolucionário que pesa as suas palavras afirmaria que uma vitória estaria assegurada através desta política. Mas uma vitória só era possível através desse caminho. Uma derrota nesse caminho seria uma derrota que poderia conduzir à vitória mais tarde.”(25)

Porém, a ser seguido de acordo com essa política “parecia muito longa e incerta esse caminho aos burocratas da Internacional Comunista?. Eles consideravam que por meio de influência pessoal sobre Purcell, Hicks, Cook e os outros [...] eles iriam arrastá-los en forma gradual e imperceptível [...] para a Internacional Comunista. Para garantir tal objectivo [...] os queridos amigos (Purcell, Hicks e Cook) não deveriam ser rejeitados ou irritados [...] tinha-se de recorrer a uma medida extrema [...] subordinar na realidade o Partido Comunista ao Movimento Minoritário [...] As massas só conheciam Purcell, Hicks e Cook como os líderes do movimento, os quais tinham a garantia de Moscovo. Estes amigos de “esquerda”, num teste sério, traíram vergonhosamente o proletariado. Os trabalhadores revolucionários foram lançados em confusão, mergulhados na apatia e naturalmente estenderam a sua decepção para o próprio Partido Comunista, o qual tinha sido apenas uma parte passiva de todo este mecanismo de traição e perfídia. O Movimento Minoritário foi reduzido a zero; o Partido Comunista voltou a ser uma seita desprezível.”(26)

A confiança nos “ burocratas de esquerda” continua sendo uma das características que distinguem os reformistas dos revolucionários. A crítica de Trótski é altamente pertinente ainda hoje.

A Alemanha no Terceiro Período

O sexto Congresso Mundial da Comintern (1928) iniciou um processo de reação violenta contra a linha de direita do período de 1924-28. Uma linha ultra-esquerdista dum caráter peculiarmente burocrático foi imposto aos Partidos Comunistas de todo o mundo, sem se levar em consideração as circunstâncias locais. Como reflexo do lançamento do Primeiro Plano Qüinqüenal e da coletivização forçada na URSS, esta nova linha proclamou um “Terceiro Período”, um período de “crescentes luitas revolucionárias”. Na prática isto significava que, num tempo em que o fascismo já era um perigo real e crescente — especialmente na Alemanha — os social-democratas eram considerados como o inimigo principal.

Nesta situação de contradições imperialistas crescentes e luitas de classe agudas, em 1929 declarou o Décimo Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista,

“o fascismo se torna cada vez mais o método dominante de domínio burguês. Em países onde há partidos social-democratas fortes, o fascismo assume a forma particular de fascismo social, o qual serve crescentemente à burguesia como instrumento para paralisar a atividade das massas na luita contra o regime de ditadura fascista.”(27)

Disso seguiu que a política de frente única, tal como era entendida até então, tinha que ser abandonada. Não havia possibilidade nenhuma de tentar forçar os partidos social-democratas de massa e os sindicatos controlados por eles a participarem da frente única contra os fascistas. Eles eram social-fascistas. Na verdade, o Décimo Primeiro Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comuniata (1931) acrescentou, que a social-democracia

“é o factor mais activo e marca-passo no desenvolvimento do Estado capitalista para o fascismo”.(28)

Esta visão grotescamente falsa da natureza do fascismo e da social-democracia conduziu à suposição de que “partidos social-democratas fortes” e “regimes fascistas ditatoriais” poderiam coexistir, e de facto coexistiram na Alemanha bem antes de Hitler subir ao poder.

“Na Alemanha o governo de Von Papen—Schleicher, com ajuda do Reichswehr [exército], o Stahlhelm [organização de direita, nacionalista e militarista] e dos nazistas, estabeleceram uma forma de ditadura fascista(...)”(29), proclamou o Décimo Segundo Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista (1932).

Trótski escreveu com urgência e desespero contra esta estupidez de 1929 até a catástrofe de 1933. O brilho e a força lógica dos seus trabalhos sobre a crise alemã raramente foram igualadas, e nunca superadas, por qualquer marxista.

O tema central de todos estes escritos era a necessidade duma “frente única dos trabalhadores contra o fascismo”, para citar o título dum dos seus escritos mais famosos. Mas Trótski fez muito mais que isto. Se forçou a seguir os tortuosos argumentos que os acólitos alemães de Estaline usaram em defesa do indefensável. Os seus escritos do período abordam e refutam uma gama extraordinária de argumentos pseudo-marxistas e, ao mesmo tempo, expunha com clareza excepcional a “expressão mais elevada da estratégia proletária”. Só podemos nos referir a uma parte pequena deles.

“A imprensa oficial da Comintern descreveu os resultados das eleições alemãs [de Setembro de 1930] como uma vitória prodigiosa do comunismo que coloca na ordem do dia a palabra de ordem duma Alemanha soviética. Os optimistas burocráticos não querem profundar sobre o significado da relação de forças revelada polas estatísticas da eleição. Eles examinam os números dos votos comunistas independentemente das tarefas revolucionárias criadas pola situação e os obstáculos que ela levanta.

O Partido Comunista recebeu cerca de 4.600.000 votos contra 3.300.000 em 1928. Do ponto de vista da maquinária parlamentar tradicional, o lucro de 1.300.000 votos era considerável, até mesmo se levarmos em conta o número total de eleitores. Mas o crescimento do partido empalidece completamente ao lado do salto do fascismo de 800.000 a 6.400.000 votos. De significado não menos importante é o facto de que a social-democracia, apesar de recúos significativos, reteve a sua filiação e ainda recebeu um número de votos operários consideravelmente maior do que o Partido Comunista.

Entretanto, se nós perguntássemos que combinação de circunstâncias internacionais e domésticas seriam capazes de fazer a classe obreira voltar-se para o comunismo com maior velocidade, não poderíamos encontrar um exemplo de circunstâncias mais favorável do que a situação da Alemanha no momento presente: [...] crise econômica, desintegração da classe dominante, crise do parlamentarismo, a tremenda auto-exposição da social-democracia no poder. Do ponto de vista destas circunstâncias históricas concretas, o peso específico do Partido Comunista alemão na vida social do país, apesar do lucro de 1.300.000 votos, permanece proporcionalmente pequeño [...]

Ao mesmo tempo, a primeira característica dum verdadeiro partido revolucionário é ser capaz de olhar a realidade na face [...] Para que a crise social traga uma revolução dos trabalhadores é necessário, além de outras condições, que a pequena-burguesia vire decisivamente em direção ao proletariado. Isto dará uma chance ao proletariado de se colocar à frente da nação. A última eleição revelou — e este é seu significado sintomático mais importante — uma volta na direção oposta. Sob o impacto da crise, a pequena burguesia tendeu, não na direção da revolução dos trabalhadores, mas na direção da reação imperialista mais extrema, puxando consigo sectores consideráveis do proletariado.

O crescimento gigantesco do nazismo é a expressão de dous factores: uma crise social profunda que tira as massas pequeno-burguesas do equilíbrio, e a falta dum partido revolucionário que seja considerado polas massas populares como um líder revolucionário reconhecido. Se o Partido Comunista é o partido da esperança revolucionária, então o fascismo, como movimento de massas, é o partido do desespero contra-revolucionário. Quando a esperança revolucionária toma conta das massas da classe trabalhadora, atrai inevitavelmente consideráveis e crescentes sectores da pequena burguesia. Justamente nesta esfera, a eleição revelou um quadro oposto: o desespero contra-revolucionário tomou conta da massa pequeno-burguesa com tal força que arrastou atrás de si muitos sectores da classe trabalhadora.

Na Alemanha o fascismo se tornou um perigo real, como uma aguda expressão da posição impotente do regime burguês, do papel conservador da social-democracia no regime, e da falta de poder do Partido Comunista para aboli-lo. Quem nega isto ou é um cego ou um fanfarrão".(30)

Para reparar esta situação, Trótski argumentava ser necessário, em primeiro lugar, sacudir o Partido Comunista e livrá-lo fora seu ultra-radicalismo estéril. A política do “maximalismo burocrático” (“uma tentativa de forçar a classe operária, tendo-se fracassado em convencê-la”) deve ser substituída por uma manobra activa fundamentada na política da frente única.

É uma tarefa difícil despertar duma vez a maioria da classe trabalhadora alemã para uma ofensiva. Como conseqüência das derrotas de 1919, 1921 e 1923 e das aventuras do “Terceiro Período”, os trabalhadores alemães, que estão atados por poderosas organizações conservadoras, desenvolveram fortes centros de inibição. Mas, por outro lado, a solidariedade organizativa dos trabalhadores alemães, que até hoje tem conseguido impedir quase completamente a penetração do fascismo nas suas fileiras, abre maiores possibilidades para luitas defensivas. Deve-se ter em mente que a política da frente única é, em geral, muito mais efetiva para a defesa do que para a ofensiva. Os estratos mais conservadores e atrasados são mais facilmente arrastados para luitar polo que eles têm do que para realizar novas conquistas.(31)

Todos os tipos de sofismas foram empregados polos estalinistas para obscurecer a questão e para apontar como “Trótskismo contra-revolucionário” a política que outrora havia sido a política da Comintern. A frente única, argumentavam, só poderia ser “a partir de baixo”. Com isso ficavam excluídos quaisquer acordos com os social-democratas, ainda que social-democratas individuais poderiam tomar parte numa “frente única” — contanto que aceitassem a direção do Partido Comunista! De modo crescente se alimentava a ilusão fatal resumida na palabra de ordem “Depois de Hitler é a nossa”. Uma perspectiva de passividade e impotência mascarada por retórica radical, como Trótski frisou em inúmeras ocasiões. Repetidas vezes ele retornou ao tema central da frente única, expondo os sofismas, ignorando calúnias e levando a discussão de volta ao ponto essencial, como neste brilhante exemplo:

“Uma vez um marchante de gado levou os seus bois para o matadouro. O carniceiro aproximou-se deles com o seu cuitelo afiado.

Cerremos fileiras e trespassaremos este carrasco com os nossos cornos, sugeriu um dos bois.

Acha você que o carniceiro é pior que o negociante que nos trouxe para aquí com a aguilhada?” disseram os bois que tinham recebido a sua educação no instituto de Manuilsky.

Mas depois poderemos na mesma ajustar contas com o negociante!

“Nada feito”, replicaram os touros, de princípios, ao que os aconselhava.

Tu só estás a dar uma capa de esquerda aos nossos inimigos e por isso também não passas dum social-carniceiro.

E recusaram-se cerrar fileiras.”

Das Fábulas de Esopo(32)

O Partido Comunista permaneceu firme no seu curso fatal. Hitler tomou o poder e o movimento operário foi destruído.

A Frente Popular e a Revolução espanhola

A vitória de Hitler levou os governantes da URSS a buscar “segurança” através de alianças militares com as potências ocidentais dominantes, francesa e britânica. Como um auxiliar da diplomacia de Estaline — é nisso que tinha se tornado agora — a Comintern foi fortemente empurrada para a direita. O Séptimo (e último) Congresso foi convocado em 1935 como uma demonstração pública de que a revolução definitivamente já não estava mais na ordem do dia. O Congresso chamou pola “Frente Única do povo na luita pola paz e contra os instigadores da guerra. Todos os interessados na preservação da paz deveriam ser atraídos para essas frentes.”(33)

Entre os interessados na preservação da paz incluíam-se os vencedores de 1918, as classes dominantes francesa e britânica, que na realidade eram os objectivos da nova linha.

“Hoje a situação não é a mesma de 1914”, declarou o Comitê Executivo da Terceira Internacional em Maio de 1936:

“Agora não é só a classe operária, o campesinato e todos os trabalhadores que estão decididos a manter a paz, mas também os países oprimidos e as nações jovens cuja independência é ameaçada pola guerra [...] Na fase presente existem vários Estados capitalistas também interessados em manter a paz. E conseqüentemente existe a possibilidade de se criar uma ampla frente da classe obreira, de todos os trabalhadores e de nações inteiras contra o perigo duma guerra imperialista.”(34)

Tal “frente” era, necessariamente, uma defesa do status quo imperialista. Uma nova retórica reformista teve que ser empregada para esconder este facto, e teve grande êxito — durante um tempo. Na sua primeira fase o entusiasmo popular pola unidade trouxe ganhos enormes para os Partidos Comunistas — o Partido Francês cresceu de 30.000 membros em 1934 a 150.000 ao final de 1936, mais 100.000 na Juventude Comunista; o Partido espanhol cresceu de menos de mil membros ao final do “Terceiro Período” (1934) para 35.000 em Fevereiro de 1936 e 117.000 em Julho de 1937. Os recrutas eram “vacinados” contra críticas da esquerda acusando os Trótskistas de serem agentes do fascismo.

Em Maio de 1935 foi assinado o pacto Franco-Soviético. Em Julho o Partido Comunista e o Partido Socialista francês (SFIO) fizeram um acordo com o Partido Radical, a coluna vertebral da democracia burguesa francesa, e em Abril de 1936 a Front Populaire destas três partidos ganhou as eleições gerais com uma plataforma de segurança coletiva e reforma. O Partido Comunista francês conquistou 72 cadeiras fazendo campanha “Por uma França forte, livre e feliz” e se tornou uma parte essencial da maioria parlamentar de Leão Blum, o líder do Partido Socialista e primeiro-ministro do governo da Frente Popular. Maurice Thorez, o secretário-geral do Partido Comunista francês, pôde dizer:

“Nós privamos corajosamente os nossos inimigos daquilo que nos foi roubado e pisoteado. Nós retomamos a Marselhesa e a Tricolor.”(35)

Quando a vitória eleitoral da esquerda foi seguida por uma onda massiva de greves e manifestações — nas quais seis milhões de trabalhadores estiveram envolvidos em Junho de 1936 — os velhos campeões das “luitas revolucionárias em ascensão” esforçaram-se para conter o movimento dentro de limites estreitos. O movimentou terminou com as concessões do “Acordo de Matignon" (jornada de 40 horas semanais e férias pagas). Ao final do ano o Partido Comunista, agora à direita dos seus aliados social-democratas, propôs a extensão da Frente Popular, transformando-a numa “Frente Francesa”, com a incorporação de alguns conservadores de direita que eram, por razões nacionalistas, anti-alemães.

O Partido francês foi pioneiro nesta política, porque a aliança com a França era central à política externa de Estaline. Mas essa política logo foi adotada por toda a Comintern. Quando a revolução espanhola estourou em Julho de 1936, em resposta à tentativa de Franco de tomar o poder, o Partido Comunista, o qual era parte da Frente Popular espanhola que ganhara as eleições de Fevereiro, fez o máximo que podia para manter o movimento dentro dos limites da “democracia”. Com a ajuda da diplomacia soviética, e é claro, dos social-democratas, teve sucesso.

“É absolutamente falso — declarou Jesús Hernández, editor do diário do partido — que o presente movimento dos trabalhadores tenha como objectivo o estabelecimento da ditadura do proletariado depois de terminada a guerra [...] Nós, os comunistas, somos os primeiros a repudiar esta suposição. Somos motivados exclusivamente polo desejo de defender a república democrática.”(36)

No encalço dessa linha o Partido Comunista espanhol e os seus aliados empurraram cada vez mais a política do governo republicano para a direita. No curso da prolongada guerra civil, primeiro eliminou do governo o POUM [Partido Operário de Unificação Marxista], um partido à esquerda dos comunistas, criticado duramente por Trótski por ter entrado na Frente Popular e ter-se desarmado politicamente, provendo uma "cobertura de esquerda” para o Partido Comunista. E depois do POUM foi a vez dos líderes da esquerda do Partido Socialista.

“A defesa da ordem republicana e a simultânea defesa da propriedade”(37) conduziu a um reinado de terror na Espanha republicana contra a esquerda. E isto, como assinalou Trótski, pavimentou o caminho para a vitória de Franco. “A classe trabalhadora espanhola manifestou excelentes qualidades militares”, escreveu Trótski em Dezembro de 1937. Em seu peso específico na vida econômica do país, no seu nível político e cultural, o proletariado espanhol se situava, desde o primeiro dia da revolução, não abaixo, mas acima do proletariado russo do início de 1917. No seu caminho para a vitória, seus principais obstáculos foram as suas próprias organizações. A camarilha estalinista dirigente, conforme a sua função contra-revolucionária, consistia de mercenários, carreiristas, elementos desclassificados e, em geral, todos os tipos de refugo social. Os representantes das outras organizações de trabalhadores — os reformistas incuráveis, anarquistas charlatões, centristas impotentes do POUM — murmuraram, gemeram, vacilaram, manobraram, mas no fim eles se adaptaram aos estalinistas. Como resultado da sua atividade conjunta, o campo da revolução social — os trabalhadores e os camponeses — provou estar subordinado à burguesia, ou mais corretamente, à sua sombra. Foi sangrado até a última gota e o seu caráter foi destruído.

Não houve falta de heroísmo por parte das massas ou de coragem por parte dos revolucionários individuais. Mas as massas foram abandonadas à sua própria sorte, enquanto os revolucionários permaneceram desunidos, sem um programa, sem um plano de acção. Os mandos militares “republicanos” se preocuparam mais em esmagar a revolução social do que em alcançar vitórias militares. Os soldados perderam a confiança nos seus comandantes e as massas no governo. Os lavradores abandonaram a batalha, os trabalhadores se tornaram exaustos. Derrota atrás de derrota, a desmoralização cresceu rapidamente. Tudo isso não era difícil de prever desde o princípio da guerra civil. Colocando-se a tarefa de salvar o regime capitalista, a Frente Popular se condenou à derrota militar. Virando o bolchevismo de cabeça para baixo, Estaline cumpriu com total sucesso o papel de coveiro da revolução.”(38)

Quase ninguém hoje em dia (com exceção dum punhado de seitas maoístas) defende a linha estalinista do “Terceiro Período”. Em relação à Frente Popular o caso é completamente diferente. Deixando-se de lado todas as diferenças espaciais e temporais, que outra cousa é o “eurocomunismo” e o chamado “compromisso histórico”? Além disso, alguns mais à esquerda — em termos políticos formais — da tendência eurocomunista reproduzem a substância dos mesmos erros que Trótski combatera sob o título de “Comitê Sindical Anglo-Soviético”.

Estas questões, portanto, não são de interesse meramente histórico, mas também de interesse prático. Os escritos de Trótski sobre estratégia e táctica, em relação a estas grandes questões, constituem um verdadeiro tesouro. Pode-se dizer, sem qualquer exagero, que ninguém desde 1923 produziu um trabalho que se aproxime de sua profundidade e brilho. Eles são, literalmente, indispensáveis para os revolucionários de hoje em dia.


Notas:

(1) Trotsky, ‘Manifesto of the Communist International to the workers of the world’, The First Five Years of the Communist International, New York: Pioneer 1945 Vol.2, pp.29-30. (retornar ao texto)

(2) J. Degas The Communist International 1919-43, London: Cass 1971, Vol.1, p 26. (retornar ao texto)

(3) Ibid. p 6. (retornar ao texto)

(4) Lenin, Collected Works, Moscow: Foreign Languages Publishing House 1960, Vol 28 p 455. (retornar ao texto)

(5) S.Haffner, Failure of a Revolution: Germany 1918-19, London: Andre Deutsch 1973 p 152. (retornar ao texto)

(6) Lenin, op. cit., Vol 21 p.40. (retornar ao texto)

(7) J. Degras op. cit., cit Vol I, pp.12-13. (retornar ao texto)

(8) J. Degras op cit p 19. (retornar ao texto)

(9) Lenin, op cit., Vol 25 p.393. (retornar ao texto)

(10) Ibid., Vol 29 p.311. (retornar ao texto)

(11) J. Degras, op cit p 13. (retornar ao texto)

(12) Lenin, op.cit. Vol.31, pp.206-07. (retornar ao texto)

(13) Ibid. p.206. (retornar ao texto)

(14) J. Degras, op.cit. p.109. (retornar ao texto)

(15) Trotsky ‘Speech on Comrade Zinoviev’s report on the role of the party’, The First Five Years of the Communist Intemational, op.cit. Vol.1, pp.97-99. (retornar ao texto)

(16) Ibid. p.101. (retornar ao texto)

(17) Ibid. p.141. (retornar ao texto)

(18) Ibid. pp.303-O5. (retornar ao texto)

(19) Ibid. pp.294-95. (retornar ao texto)

(20) J. Degras, op.cit. Vol.1, p.230. (retornar ao texto)

(21) Trotsky, The First Five Years of the Communist International, op.cit. Vol.2, pp.91-95. (retornar ao texto)

(22) Trotsky. Writings of Leon Trotsky 1932-33, New York: Pathfinder Press 1972, pp.51-55. (retornar ao texto)

(23) E.H. Carr, The Interregnum 1923-1924, Harmondsworth: Penguin 1965, p.221. (retornar ao texto)

(24) Trotsky, ‘Lessons of the General Strike’, Trotsky’s Writings on Britain, London:New Park 1974, Vol.2, pp.241,245. (retornar ao texto)

(25) Ibid. p.244. (retornar ao texto)

(26) Ibid. pp.252-53. (retornar ao texto)

(27) J. Degras, The Communist International: Documents, London: Cass VoIII, p.44. (retornar ao texto)

(28) Ibid. p.159. (retornar ao texto)

(29) Ibid. p.224. (retornar ao texto)

(30) Trotsky, ‘The turn in the Communist International’, The. Struggle Against Fascism in Germany, New York: Pathfinder Press 1971, pp.57-60. (retornar ao texto)

(31) Trotsky, ‘What next?’, The Struggle Against Fascism in Germany, op.cit. p.248. (retornar ao texto)

(32) Ibid. p.254. (retornar ao texto)

(33) J. Degras, op.cit. Vol.III, p.375. (retornar ao texto)

(34) Ibid. p.390. (retornar ao texto)

(35) Ibid. p.384. (retornar ao texto)

(36) Ver F. Morrow, Revolution and Counter-Revolution in Spain, New York: Pioneer 1938, p.34. (retornar ao texto)

(37) Ibid. p.35. (retornar ao texto)

(38) Trotsky, ‘The lessons of Spain: the last warning’, The Spanish Revolution (1931-39), New York: Pathfinder Press 1973, p.322. (retornar ao texto)

Inclusão 10/11/2007