Um Outro Olhar Sobre Stáline

Ludo Martens


Capítulo X - De Stáline a Khruchov

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Em 9 de Fevereiro de 1946, Stáline apresentou aos eleitores um balanço da guerra antifascista. A guerra, afirmou, foi «uma grande escola de teste e verificação de todas as forças do povo.»(1) Stáline questionou indirectamente as concepções militaristas segundo as quais o Exército Vermelho teria sido o principal artesão da vitória. Com efeito, a ideia do exército acima do Partido, defendida à época por Tukhatchévski, desenvolveu-se no final da guerra no círculo de Júkov. Stáline reconhecia evidentemente os enormes méritos do exército, todavia sublinhou:

«A nossa vitória significa antes de tudo que triunfou o nosso regime social soviético».(2)

«A guerra mostrou que o regime social soviético é verdadeiramente um regime popular (...)».

«A nossa vitória significa, em segundo lugar, que triunfou o nosso sistema estatal soviético, que o nosso Estado Soviético multinacional resistiu a todas as provações da guerra e demonstrou a sua vitalidade».(3)

Mas, prosseguiu Stáline,

«seria erróneo afirmar que conseguimos a vitória unicamente graças à coragem das nossas tropas»(4).

O heroísmo do exército teria sido em vão sem as enormes massas de tanques, canhões, munições que o povo colocou à disposição dos seus soldados. E toda esta produção fabulosa só foi possível graças à industrialização, realizada num

«prazo incrivelmente curto de 13 anos, e graças à colectivização, que permitiu pôr fim num prazo tão reduzido, ao atraso secular da nossa agricultura».

E Stáline lembrou o combate conduzido pelos trotskistas e os bukharinistas contra a industrialização e a colectivização.

«Muitos membros importantes do Partido puxaram sistematicamente o Partido para trás e empenharam-se por todos os meios em arrastá-lo para a via “normal” de desenvolvimento capitalista.»(5)

Assim, Stáline colocou justamente a tónica no papel-chave desempenhado pelo Partido e pelas massas trabalhadoras na preparação da defesa e durante a guerra.

Em Fevereiro de 1946, o novo plano quinquenal foi ratificado. Na sua retirada, o exército alemão tinha deliberadamente feito explodir e queimar tudo aquilo que podia ser útil aos soviéticos. Duas mil cidades, 70 mil aldeias e empresas que empregavam quatro milhões de trabalhadores foram total ou parcialmente destruídas.(6)

Nas regiões invadidas, as destruições representaram de 40 a 60 por cento do potencial da indústria carbonífera, da produção de electricidade, da indústria ferrosa e não ferrosa e metalúrgica, das indústrias mecânicas.

Alguns estimaram que a URSS precisaria de várias décadas para curar as feridas que os nazis tinham infligido ao seu tecido industrial. Ora, graças a três anos de esforços extrordinários, a produção industrial de 1948 ultrapassou a de 1940.(7) Em relação a 1940, ano-base (100), a produção de carvão atingiu então o índice 123; a electricidade, 130; os laminados, 102; automóveis e camiões, 161; máquinas e instrumentos, 154; cimento, 114.(8)

Em 1950, no final do quarto plano quinquenal, a produção industrial era 73 por cento superior à de 1940. A produção de meios de produção duplicou, a de bens de consumo registou um incremento de 23 por cento.(9)

O quinto plano, cobrindo o período 1951-1955, previa um crescimento industrial de 12 por cento ao ano. Facto novo: a produção de bens de consumo conhecerá um desenvolvimento notável, com um aumento de 65 por cento; os meios de produção terão um crescimento de 80 por cento em cinco anos.(10)

Esta mudança na política económica já tinha sido anunciada por Stáline no seu discurso-balanço de 1946. «Especial atenção será dada ao alargamento da produção de bens de consumo, à elevação do nível de vida dos trabalhadores através da contínua diminuição do preço de todas as mercadorias, assim como à ampla construção de todos os tipos de institutos científicos de investigação.»(11)

Os Estados Unidos ocupam o lugar da Alemanha nazi

A guerra antifascista ainda não tinha terminado e já um grande número de generais americanos desejava uma reviravolta nas alianças para lançar operações militares contra a União Soviética. Nessa aventura pensavam utilizar o exército nazi, depurado de Hitler e do seu círculo. O antigo agente secreto Cookridge relata algumas conversas tidas no Verão de 1945:

«O general Patton imaginou rearmar duas divisões da Waffen-SS para as incorporar no III Exército (americano) e “dirigi-las contra os vermelhos”. Patton apresentou muito seriamente este projecto ao general McNarney, governador militar dos EUA na Alemanha (...) “O que pensam esses bolcheviques imbecis, e o que é que isso pode bem interessar?” — dizia Patton. “Mais cedo ou mais tarde teremos de nos bater contra eles. Por que não agora, enquanto o nosso exército está intacto e podemos repeli-los para a Rússia? Com os meus alemães, somos capazes de fazê-lo. Eles detestam esses bastardos vermelhos”.»

Patton foi convocado por Robert Murphy, o conselheiro político de McNarney.

«Patton perguntou-me» — escreveu Murphy — «se haveria alguma hipótese de avançar até Moscovo, acrescentando que tinha força para chegar lá em 30 dias, em vez de esperar que os russos atacassem os Estados Unidos.»(12)

O nazi Gehlen e a CIA

O general Gehlen tinha sido o chefe da espionagem nazi na União Soviética. Em Maio de 1945, decidiu render-se, com os seus arquivos, aos norte-americanos e foi apresentado ao major-general Luther Sibert, chefe de Informações do grupo dos exércitos do general Bradley. A pedido de Sibert, o nazi Gehlen redigiu um relatório de 129 páginas: «Projecto de uma organização secreta baseada no trabalho dos serviços de informação, dirigida contra a União Soviética sob a égide americana.»(13)

Gehlen foi recebido pelas mais altas autoridades militares norte-americanas e quando os representantes soviéticos pediram notícias de Gehlen e de Schellenberg, dois criminosos de guerra que lhes deveriam ter sido entregues, os americanos responderam desconhecer o seu paradeiro. Em 22 de Agosto de 1945 transferiram clandestinamente Gehlen para os Estados Unidos.(14)

Então, o nazi Gehlen «negociou» com os ases da inteligência norte-americana, inclusive Allan Dulles, e chegaram a um «acordo»: a organização de espionagem de Gehlen continuaria a funcionar na União Soviética de forma autónoma e

«oficiais americanos assegurariam a ligação com os Serviços americanos». (...) «A organização Gehlen seria utilizada unicamente para fornecer informações sobre a União Soviética e os países satélites.»(15)

Em 9 de Julho de 1946, Gehlen estava de volta à Alemanha para reactivar o seu serviço de espionagem nazi sob o controlo dos Estados Unidos. Recrutou dezenas de oficiais superiores da Gestapo e das SS, fornecendo-lhes identificações falsas.(16)

John Loftus, um quadro dos serviços secretos norte-americanos responsável pela detecção de antigos nazis após a guerra, veio a constatar que milhares de fascistas ucranianos, croatas e húngaros foram introduzidos nos Estados Unidos por um serviço «rival». Loftus escreveu:

«O número de criminosos de guerra nazis que se instalaram nos Estados Unidos após a II Guerra Mundial é estimado em cerca de dez mil»(17).

Desde 1947, quando os norte-americanos iniciam a guerra fria, estes «antigos» nazis desempenharam um papel considerável na propaganda anticomunista. Assim, pode afirmar-se que o imperialismo americano foi realmente o continuador directo do expansionismo nazi.

A bomba nuclear... contra a URSS

Em 21 de Julho de 1945, em plena conferência de Potsdam, Truman recebe um relatório sobre o primeiro teste nuclear norte-americano. Margaret Truman escreve:

«Isto deu a possibilidade ao meu pai de prosseguir as conversações (com Stáline) com mais audácia e mais firmeza».

E acrescenta:

«O meu pai reflectiu cuidadosamente sobre a maneira como deveria informar Stáline sobre a existência da bomba atómica. Aproximou-se do “líder” soviético e informou-o de que os Estados Unidos tinham construído uma nova arma com um poder de destruição extraordinário. O primeiro-ministro Churchill e o secretário de Estado Byrnes deram alguns passos na sua direcção para observarem atentamente a reacção de Stáline. Este manteve a mais completa calma.»(18)

Júkov recorda a conversa entre Stáline e Mólotov no seu regresso à residência:

«Mólotov reagiu imediatamente:

«— Eles estão a tentar aumentar o preço.

«Stáline disse sorrindo:

«— Deixa-os. Hoje tenho que falar com Kurtchátov para que ele acelere as coisas.

«Compreendi que falavam da bomba nuclear.»(19)

Stáline era um homem decidido e calmo que nunca se deixava intimidar, mesmo pela chantagem nuclear.

Truman concebeu a bomba atómica desde a sua construção como uma arma de terror massivo, capaz de assegurar aos Estados Unidos a hegemonia mundial. Nas suas memórias escreve:

«Eu via a bomba como uma arma militar e nunca duvidei de que ela seria utilizada. Quando falei com Churchill, ele disse-me sem hesitação que era a favor da utilização da bomba nuclear(20)

No final de Julho de 1945, a União Soviética tomou a decisão de entrar em guerra com o Japão que, a partir desse momento, caminhou para uma derrota militar inevitável. Apesar disso, sem a menor necessidade militar, os norte-americanos decidiram «experimentar» as suas armas nucleares sobre seres humanos. Contavam assim também aterrorizar os seus adversários num tal grau que nem mesmo os nazis haviam imaginado. É de notar que o objectivo principal do imperialismo, ao matar em massa os japoneses, era suscitar o terror entre os soviéticos: a mensagem principal era dirigida a Stáline. Logo que Churchill soube da existência da bomba atómica, desejou utilizá-la... contra a URSS! O professor Gabriel Kolko escreveu:

«O marechal Alan Boorke pensava que o entusiasmo infantil do primeiro-ministro estava a tornar-se perigoso: Ele via-se já capaz de eliminar os centros industriais da Rússia.»(21)

Em Potsdam, Churchill

«insistiu com os americanos para que utilizassem a bomba como um meio de pressão política sobre os russos.»(22)

Em 6 de Agosto de 1945, sabendo que Hiroxima tinha sido destruída pela bomba, Truman declarou às pessoas com quem estava: «É o maior caso da história!». Truman ousou escrever uma frase similar nas suas memórias! A decisão do imperialismo norte-americano de exterminar sem distinção centenas de milhares de civis japoneses mostra bem a sua natureza desumana e bárbara: levantava assim a tocha deixada pelas potências fascistas.

No mesmo dia, na sua declaração oficial, Truman disse:

«Se agora os japoneses não aceitarem as nossas condições, podem preparar-se para uma chuva de ruínas vinda do céu, como jamais se viu à face da terra.»(23)

Em 9 de Agosto, uma segunda cidade, Nagasaki, foi varrida do mapa pela chuva atómica prometida por Truman, que custou a vida a 443 mil pessoas entre as populações civis de Hiroxima e Nagasaki.(24)

Enquanto única potência que aspirava à hegemonia mundial, os Estados Unidos tornaram-se adversários irredutíveis de qualquer movimento anti-imperialista que lutasse pela independência, pela democracia popular e pelo socialismo. Este é o sentido da «doutrina Truman», uma doutrina de intervenções em todos os azimutes sob o pretexto de «defender a liberdade (do mercado, da exploração) contra o perigo comunista». Truman formulou-a deste modo em 12 de Março de 1947:

«Creio que a política dos Estados Unidos deve ser de apoio aos povos livres que resistem às tentativas de sujeição por parte de minorias armadas ou através de pressões exteriores.»(25)

Essa política de intervencionismo era «justificada» principalmente pelo «perigo do totalitarismo russo»; Truman declarou que

«a nova ameaça a que fazemos face parece tão grave quanto o foi a Alemanha nazi».(26)

Tendo eliminado Hitler, o seu concorrente pela hegemonia mundial, Truman recupera textualmente todas as calúnias anticomunistas dos nazis. Referindo-se à União Soviética, Truman afirmou:

«Um grupo de fanáticos cruéis, mas hábeis, organizaram uma ditadura com todos os ornamentos de uma religião de Estado (... ) O indivíduo torna-se súbdito do Estado numa escravidão perpétua.»(27)

Assim, ainda mal os nazis tinham sido vencidos, Truman adoptou logo a principal orientação deles — a do anticomunismo e do anti-sovietismo. Ora foi o próprio Hitler que, a 31 de Agosto de 1944, tinha esboçado uma abertura em direcção aos norte-americanos.

«Uma vitória dos nossos adversários irá fatalmente bolchevizar a Europa. (... ) A coligação dos nossos adversários é composta de elementos heterogéneos: Estados ultracapitalistas de um lado, Estados ultracomunistas do outro. (...) Virá o dia em que essa coligação se desagregará. (... ) Por mais grave que seja a situação, o importante é esperar o momento.»(28)

Para se salvar da derrota iminente, para desfazer as alianças, os nazis acentuaram no fim da guerra as suas calúnias grosseiras contra o comunismo. Truman retomou-as 18 meses mais tarde.

A luta anti-imperialista e a luta pela paz

Sobre esse pano de fundo, podemos compreender melhor a política internacional que Stáline seguiu de 1945 a 1953. Stáline manteve uma oposição firme ao imperialismo norte-americano e aos seus planos de guerra. Na medida das suas possibilidades, ajudou os movimentos revolucionários dos diferentes povos, demonstrando sempre uma grande prudência. Stáline conduziu uma luta contra o sistema capitalista mundial em quatro frentes: reforçou a defesa da União Soviética, a base do movimento comunista internacional; ajudou os povos que decidiram empenhar-se na via da democracia popular e do socialismo; apoiou os povos colonizados que aspiravam à independência e encorajou o vasto movimento internacional pela paz, contra as novas aventuras belicistas do imperialismo.

Stáline compreendeu claramente que o objectivo do imperialismo anglo-americano era «salvar» as classes reaccionárias dos países limítrofes da URSS, que tinham colaborado com os nazis, para integrá-las na sua estratégia de hegemonia mundial. Esta orientação desenhou-se claramente logo no decurso da própria guerra.

Em 1 de Agosto de 1944, o governo polaco em Londres desencadeou a insurreição de Varsóvia. Estes reaccionários lançaram-se numa aventura criminosa com o único objectivo de impedir o Exército Vermelho de libertar a capital da Polónia. O Exército Vermelho, que acabava de avançar 600 quilómetros, tinha perdido muitos homens e equipamentos. Era-lhe impossível furar até Varsóvia para ajudar os insurgentes. Por outro lado, os reaccionários polacos ocultaram deliberadamente aos soviéticos a sua intenção de desencadear uma insurreição. Assim, os nazis, que haviam concentrado várias divisões em Varsóvia, massacraram a população e destruíram a capital.(29) Stáline compreendeu que havia ali uma guerra dentro da guerra. E escreve a Churchill e a Roosevelt:

«Mais cedo ou mais tarde todos saberão a verdade sobre esse punhado de criminosos que, para ocuparem o poder, empreenderam a aventura de Varsóvia.»(30)

A 23 de Agosto de 1944, o Exército Vermelho libertou a primeira aldeia húngara. Dois dias mais tarde, o governo fascista de Horthy, no poder desde de 1919, debruçou-se sobre a nova situação criada.

«Os anglo-saxões queriam que os húngaros contivessem os russos até que eles próprios ocupassem a Hungria», lê-se no processo verbal.(31)

Horthy e seu bando começaram a luta contra «o imperialismo vermelho» no exacto momento em que 35 divisões fascistas se apressavam a «defender» Budapeste contra o exército soviético. Desde esse dia, a reacção húngara contava salvar-se graças à ajuda dos norte-americanos, que deveriam garantir a «independência húngara» contra o «expansionismo soviético». Em todos os países da Europa de Leste, a palavra de ordem «independência nacional» será utilizada pelas classes reaccionárias para combater não apenas o socialismo, mas também os próprios interesses nacionais fundamentais e integrar-se na estratégia norte-americana de dominação mundial.

Na Grécia, a resistência nacional dirigida pelo Partido Comunista infligiu pesadas baixas aos nazis. Quando os alemães abandonam Atenas, em 12 de Outubro de 1944, os 70 mil resistentes armados controlavam quase todo o território. O exército inglês interveio para impedir o povo grego de fundar um poder revolucionário. Em 5 de Setembro, Churchill escreve ao general Scobie:

«Não hesite em agir como se estivesse num país conquistado onde se desenvolve uma rebelião local.»(32)

Foi assim que começou a longa guerra dos anglo-americanos contra os antifascistas gregos.

Esmagando as forças armadas fascistas nos países da Europa de Leste, o Exército Vermelho criou condições propícias ao desenvolvimento da luta dos operários, dos camponeses e dos antifascistas. Graças a essa ajuda, as massas dirigidas pelos partidos comunistas conseguiram instaurar o poder socialista e alcançaram assim uma independência nacional autêntica, frustrando as intrigas das forças fascistas e burguesas, que tentavam manter o seu poder transformando os países da Europa de Leste em colónias norte-americanas.

A teoria do «imperialismo vermelho», que os nazis tinham inventado no começo da guerra, em 1941, para justificar a sua agressão, foi recuperada pelos norte-americanos a partir de 1946. A maneira como os anglo-americanos entendiam a «independência» dos países foi ilustrada na Grécia, onde massacraram as forças temperadas no combate anti-hitleriano...

A análise que Stáline fazia da situação internacional após a derrota das potências fascistas foi exposta por um dos seus próximos, Andrei Jdánov, o responsável político em Leningrado durante os 900 dias do bloqueio fascista.

Eis o texto que Jdánov apresentou durante a conferência de informação de nove partidos comunistas, realizada em Setembro de 1947 na Polónia. As suas posições merecem a nossa atenção não apenas pela sua pertinência, mas também porque serão atacadas e rejeitadas, ponto por ponto, apenas nove anos mais tarde, após o golpe de estado de Khruchov.

«O objectivo colocado pela nova linha expansionista dos Estados Unidos é o estabelecimento da dominação mundial. Esta nova linha visa a consolidação da situação de monopólio dos Estados Unidos sobre os mercados, monopólio que se estabeleceu na sequência do desaparecimento dos seus dois concorrentes mais importantes — a Alemanha e o Japão — e pelo enfraquecimento dos seus parceiros capitalistas, a Inglaterra e a França. Esta nova linha conta com um amplo programa militar, económico e político, cuja aplicação estabelecerá em todos os países visados a dominação política e económica dos Estados Unidos, reduzirá esses países a estados satélite e introduzirá internamente regimes que eliminarão qualquer obstáculo à exploração destes países pelo capital americano. (... ) Os políticos imperialistas mais enraivecidos e loucos começaram, após Churchill, a preparar planos com vista a organizar o mais rapidamente possível uma guerra preventiva contra a URSS, utilizando abertamente o monopólio americano temporário da arma atómica contra os soviéticos. (... ) O plano militar estratégico dos Estados Unidos prevê a criação, em tempo de paz, de numerosas bases militares e quartéis muito distantes do continente americano, destinados a serem utilizados para objectivos de agressão contra URSS e os países da nova democracia. (... ) Os monopólios norte-americanos alimentam esperanças particulares sobre a restauração da Alemanha capitalista, considerando que ela constituirá a mais importante garantia para o sucesso da luta contra as forças democráticas na Europa. (...) Mas no caminho das suas aspirações à dominação mundial, os Estados Unidos têm pela frente a URSS, com sua crescente influência internacional, como bastião da política anti-imperialista e antifascista, os países da nova democracia, que escaparam ao controlo do imperialismo anglo-americano, e os operários de todos os países. (...) As concessões à nova orientação dos Estados Unidos da América e do campo imperialista podem incitar os seus inspiradores a tornarem-se mais insolentes e mais agressivos. É por isso que os partidos comunistas devem colocar-se à cabeça da resistência em todos os domínios contra os planos imperialistas de expansão e agressão.»(33)

Stáline teve sempre confiança nas forças do povo soviético e nas forças revolucionárias e anticapitalistas de todo o mundo. Esta atitude foi exprimida com nitidez numa declaração oficial de Malenkov, em 1950.

«Que ninguém se atreva a acreditar que o tinir das armas dos fautores da guerra nos fazem medo. Não somos nós, mas os imperialistas e os agressores que devem temer a guerra. (... ) Poderá haver a menor dúvida de que, se os imperialistas deflagrarem uma terceira guerra mundial, essa guerra será o túmulo não de estados capitalistas isolados, mas de todo o capitalismo mundial?»(34)

Em 1949, a União Soviética construiu a sua própria arma nuclear. Stáline conseguiu assim anular a chantagem nuclear dos norte-americanos. Ao mesmo tempo, a União Soviética e os comunistas do mundo inteiro lançaram uma campanha internacional para conter os planos de guerra norte-americanos e pela proibição das armas nucleares. O Congresso Mundial da Paz iniciou o mais amplo movimento pela paz jamais visto contra as agressões imperialistas. No Manifesto, divulgado no final do seu segundo congresso mundial, lê-se:

«Cada vez mais, os povos do mundo depositam as suas esperanças em si próprios, na sua firmeza e na sua boa vontade. O combate pela Paz é o vosso combate. Saibam que centenas de milhões de Partidários da Paz unidos vos estendem a mão. A Paz não se espera, conquista-se. Em conjunto com os 500 milhões de seres conscientes que assinaram o Apelo de Estocolmo, exigimos a proibição das armas atómicas, o desarmamento geral e o controlo da aplicação destas medidas.»(35)

O revisionismo de Tito e os Estados Unidos

Os partidos comunistas da Europa do Leste, que travaram duros combates nos anos 1945-1948 para realizar a passagem ao socialismo, possuíam muito menos experiência do que o partido soviético. Ideologicamente eram pouco sólidos: a entrada de centenas de milhares de novos membros, vindos em parte de correntes sociais-democratas, tornava- os muito permeáveis ao oportunismo e ao nacionalismo burguês.

A partir de 1948, a corrente social-democrata e anti-soviética impôs-se na direcção do Partido Comunista Jugoslavo. A luta iniciada por Stáline em 1946 contra o revisionismo de Tito é a prova da sua clarividência e firmeza de princípios. Quarenta e cinco anos mais tarde, a história confirmou inteiramente as suas previsões.

No momento da invasão alemã, em 1941, o partido jugoslavo clandestino contava com 12 mil membros; oito mil dos quais foram mortos no decurso da guerra. Mas durante a resistência, as suas fileiras foram engrossadas com perto de 140 mil membros e mais cerca de 360 mil aderiram até meados de 1948. Dezenas de milhares de kulaques, burgueses e elementos pequeno-burgueses entraram no Partido.(36) Tito apoiava-se cada vez mais nestes últimos na sua luta contra os verdadeiros comunistas. O Partido não tinha uma vida interna normal, não havia discussão política e, consequentemente, não se fazia críticas nem autocríticas marxistas-leninistas; os dirigentes não eram eleitos, mas cooptados.(37)

Em Junho de 1948, o Bureau de Informação dos partidos comunistas, agrupando oito partidos, publicou uma resolução em que criticava o partido jugoslavo. Nela sublinhava-se que Tito não prestava nenhuma atenção à acentuação das diferenças de classe no campo nem ao crescimento dos elementos capitalistas no país.(38) A resolução afirmava que o partido jugoslavo, partindo de uma posição nacionalista burguesa, tinha rompido a frente unida socialista contra o imperialismo. O texto considerava:

«Uma tal linha nacionalista não pode senão conduzir à degeneração da Jugoslávia numa república burguesa vulgar.»(39)

Ao receber esta crítica, Tito desencadeia uma depuração maciça. Todos os elementos marxistas-leninistas foram eliminados do Partido. Dois membros do Comité Central, Zhoujovic e Hebrang, tinham já sido presos em Abril de 1948. O general Arso Jovanovic, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, foi preso e assassinado, o mesmo aconteceu com o general Slavko Rodic.(40) O The Times falou em numerosas prisões de comunistas que apoiavam a resolução do Kominform e estimou entre 100 mil e 200 mil o número de pessoas presas.(41)

No seu relatório ao VIII Congresso do Partido, realizado em 1948, Kardelj fez muitas citações forçadas de Stáline para afirmar que a Jugoslávia «estava a repelir os elementos kulaques» e nunca tomaria «posições anti-soviéticas».(42)

Mas alguns meses mais tarde, os titistas retomam publicamente a velha teoria social-democrata da passagem do capitalismo ao socialismo sem luta de classes! Bebler, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, declarou em Abril de 1949:

«Nós não temos kulaques como havia na URSS. Os nossos camponeses ricos participaram em massa na guerra popular de libertação. (... ) Será um erro se conseguirmos fazer passar os kulaques ao socialismo sem luta de classes?»(43)

Em 1951, a equipa de Tito declarou que os

«kolkhozes (soviéticos) são o reflexo do capitalismo de Estado que, misturado com numerosos vestígios do feudalismo, constitui o sistema social da URSS».

Desenvolvendo as concepções de Bukhárine, os titistas substituem a planificação pelo mercado livre:

«Ninguém fora da cooperativa fixa as normas nem as categorias do que se deve produzir.» Organizam «a passagem a um sistema que confere mais liberdade ao funcionamento das leis económicas objectivas. O sector socialista da nossa economia está em condições de triunfar sobre as tendências capitalistas através de meios puramente económicos.»(44)

Em 1953, Tito reintroduz a liberdade de comprar e vender terra e de contratar operários agrícolas.

Segundo o testemunho do coronel Vladimir Dapcevic, em 1951, Tito comparou os comunistas jugoslavos fiéis ao marxismo-leninismo à quinta-coluna hitleriana, justificando a posteriori a prisão de mais de 200 mil comunistas. Tito escreveu:

«Os ataques dos agressores fascistas provaram a grande importância que é dada a um elemento novo: a quinta-coluna. Ela é um elemento político e militar que entra em acção no momento dos preparativos da agressão. Hoje tentam de novo fazer algo de parecido no nosso país, sob diferentes formas, particularmente da parte dos países kominformistas.»(45)

No começo dos anos 50, a Jugoslávia era ainda um país em larga medida feudal. Mas os titistas põem em causa o princípio de que o Estado socialista deve manter a ditadura do proletariado. Em 1950, os revisionistas jugoslavos lançaram uma discussão sobre «o problema do definhamento do Estado e especialmente do definhamento do papel do Estado na economia». Para justificar o regresso ao Estado burguês, Djilas apelida o Estado soviético de «monstruoso edifício do capitalismo de Estado» que «oprime e explora o proletariado». Ainda segundo Djilas, Stáline luta pelo

«engrandecimento do seu império de capitalismo de Estado e, no interior, pelo reforço da burocracia». (...) «A cortina de ferro, a hegemonia sobre os países da Europa Oriental e uma política de agressão tornaram-se actualmente para ele indispensáveis». Djilas fala da «miséria da classe operária que trabalha para os interesses “superiores” imperialistas e para os privilégios da burocracia. (...) A URSS é hoje objectivamente a mais reaccionária das grandes potências». Stáline é «um prático do capitalismo de Estado e o chefe e guia espiritual e político da ditadura burocrática».

Como verdadeiro agente do imperialismo americano, Djilas prossegue:

«Encontramos teorias nos hitlerianos que, tanto pelo seu conteúdo como pela prática social que pressupõem, se assemelham como duas gotas de água às teorias de Stáline.»(46)

Acrescentemos que Djilas, que mais tarde se instalou nos Estados Unidos, refere-se neste texto à «crítica do sistema stalinista» feita por... Trótski!(47)

Em 1948, Kardelj jurava ainda fidelidade ao combate anti-imperialista. No entanto, dois anos mais tarde, a Jugoslávia apoiou a agressão americana contra a Coreia! O The Times relatou:

«O senhor Dedijer vê os acontecimentos da Coreia como uma manifestação da vontade soviética de dominar o mundo (...) Os trabalhadores do mundo precisam de se dar conta de que existe um outro pretendente à dominação mundial e de se desembaraçar das ilusões a propósito da URSS, que seria, supostamente, uma força de democracia e de paz.»(48)

Assim, Tito transformou-se num mero peão na estratégia anticomunista dos Estados Unidos. Em 1951 declarou ao New York Herald Tribune que,

«no caso de um ataque soviético, onde quer que seja na Europa, mesmo que tal aconteça a milhares de quilómetros das fronteiras jugoslavas, combaterá imediatamente ao lado do Ocidente (...) A Jugoslávia considera-se como uma parte do muro de solidariedade colectiva construído contra o imperialismo soviético.»(49)

No domínio económico, as medidas socialistas tomadas na Jugoslávia antes de 1948 foram rapidamente liquidadas. Alexander Clifford, o correspondente do Daily Mail, escreveu a propósito das reformas económicas adoptadas em 1951:

«Se se concretizarem, a Jugoslávia ficará muito menos socializada do que a Grã-Bretanha.» (...) «Os preços dos bens (serão) determinados pelo mercado, isto é, pela oferta e procura», (...) «os salários (serão) fixados na base das receitas ou dos lucros da empresa», as empresas «decidirão de forma independente o que produzem e em que quantidades. (...) Não há muito marxismo clássico em tudo isto.»(50)

A burguesia anglo-americana cedo reconheceu que dispunha na pessoa de Tito de uma arma eficaz no seu combate anticomunista. A Business Week escreveu em 12 de Abril de 1950:

«Para os Estados Unidos em particular e para o Ocidente em geral, o encorajamento de Tito revelou ser um dos métodos mais baratos para conter o comunismo russo. O montante da ajuda ocidental a Tito cifra-se agora em 51,7 milhões de dólares. É muito menos que os mil milhões de dólares, aproximadamente, que os Estados Unidos gastaram na Grécia com o mesmo objectivo».(51)

A burguesia contava utilizar Tito para encorajar o revisionismo e organizar a subversão nos países socialistas da Europa do Leste. Em 12 de Dezembro de 1949, Eden declarou ao Daily Telegraph:

«O exemplo e a influência de Tito podem mudar de forma decisiva o curso dos acontecimentos na Europa Central e Oriental.»(52)

Atribuindo à demagogia comunista de Tito o seu justo valor, o The Times escreveu:

«Contudo, o titismo apenas permanecerá uma força na medida em que o marechal Tito puder pretender ser comunista.»(53)

O titismo estabeleceu o seu poder em 1948 enquanto corrente nacionalista burguesa. É com base no nacionalismo que todos os princípios da ditadura do proletariado são abandonados na Jugoslávia. O nacionalismo foi o húmus em que floresceram teorias trotskistas e bukharinistas.

Depois da II Guerra Mundial, a orientação nacionalista teve igualmente uma grande influência no seio dos outros partidos comunistas da Europa de Leste. Após a morte de Stáline, o chauvinismo grão-russo desenvolve-se em Moscovo e, como reacção, o chauvinismo nacionalista despoleta-se na Europa de Leste. Importa determo-nos um instante sobre os princípios que estão no fundo de todas estas controvérsias.

Já em 1923, Stáline tinha formulado um aspecto essencial do internacionalismo proletário nestes termos:

«(...) Para além do direito dos povos à autodeterminação, há ainda o direito da classe operária ao fortalecimento do seu poder (...) Há casos em que o direito à autodeterminação entra em contradição com outro direito superior — o direito da classe operária, chegada ao poder, ao fortalecimento do seu poder. Nestes casos - é preciso dizê-lo frontalmente — o direito à autodeterminação não pode e não deve constituir obstáculo à causa da realização do direito da classe operária à sua ditadura. O primeiro deve ceder lugar ao segundo.»(54)

Baseando-se no princípio do internacionalismo proletário, Stáline era um adversário irredutível de qualquer nacionalismo e, em primeiro lugar, do chauvinismo grão-russo. Ainda em 1923 declarou:

«A principal força que refreia o processo de unificação das repúblicas numa única união (... ) é o chauvinismo grão-russo. Não é nenhum acaso, camaradas, que os smenovekhovistas tenham conquistado uma massa de adeptos entre os funcionários soviéticos.»(55)

«O smenovekhovismo é a ideologia da nova burguesia que cresce e pouco a pouco se funde com o kulaque e com os funcionários-intelectuais. Esta nova burguesia formulou a sua ideologia (...) a saber, que o Partido Comunista deverá degenerar e a nova burguesia consolidar-se; que nós, os bolcheviques, sem nos apercebermos iremos chegar ao limiar da república democrática, em seguida transpor este limiar e, com a ajuda de algum César que sairá talvez dos círculos militares, talvez dos círculos de funcionários civis, encontrar-nos-emos na situação de uma república burguesa ordinária.»(56)

Mas, na luta mundial entre socialismo e imperialismo, Stáline compreendia também que o nacionalismo burguês podia ser utilizado como uma arma anti-socialista terrível.

«Perante a luta de morte que se desencadeia entre a Rússia proletária e a Entente imperialista, não há senão duas saídas possíveis para a periferia; ou bem com a Rússia, e então é a libertação da opressão imperialista das massas trabalhadoras da periferia, ou bem com a Entente, e então é o inevitável jugo imperialista. Não há terceira via. A alegada independência dos alegados independentes Geórgia, Arménia, Polónia, Finlândia etc., não é mais que uma aparência enganadora que mascara a completa dependência destes Estados, se assim se podem chamar, em relação a este ou aquele grupo de imperialistas (... ) Os interesses das massas populares dizem-nos que reivindicar a separação da periferia na actual fase da revolução é profundamente contra-revolucionário.»(57)

Nas repúblicas semifeudais da periferia soviética, o nacionalismo burguês constituía a principal forma da ideologia burguesa, corroendo o partido bolchevique.

«Temos de nos lembrar que nossas organizações comunistas da periferia, nas repúblicas e regiões, não podem desenvolver-se e erguer-se, transformar-se em verdadeiras organizações de quadros marxistas internacionalistas se não se afastarem do nacionalismo. O nacionalismo é o principal obstáculo ideológico na formação de quadros marxistas, da vanguarda marxista na periferia e nas Repúblicas (... ) Para estas organizações o nacionalismo desempenha o mesmo papel que o menchevismo desempenhou no passado para o partido bolchevique. Só sob o disfarce do nacionalismo é que podem penetrar nas nossas organizações periféricas influências burguesas de todos os tipos, inclusive influências mencheviques (...) O sopro nacionalista esforça-se por penetrar no nosso Partido na periferia (...) A burguesia renasce, a NEP desenvolve- se, o nacionalismo também (...) Existem resquícios do chauvinismo grão-russo que empurram igualmente para a frente o nacionalismo local (... ) É exercida a influência dos Estados estrangeiros, que apoiam por todos os meios o nacionalismo.»(58)

«A essência do desvio para o nacionalismo local consiste na tendência para se isolar e se fechar na sua concha nacional, na tendência para dissimular as contradições de classe no seio da própria nação, na tendência para se defender do chauvinismo grão- russo colocando-se à margem da corrente colectiva de edificação do socialismo, a tendência para não ver aquilo que aproxima e une as massas trabalhadoras das nacionalidades da URSS e ver apenas o que as pode afastar umas das outras.

«O desvio para o nacionalismo local reflecte o descontentamento das classes decadentes das nações antes oprimidas com o regime da ditadura do proletariado, a sua tendência para se isolar no seu Estado nacional e estabelecer aí o seu domínio de classe(59)

Em 1930, Stáline voltou à questão do internacionalismo formulando um princípio que revelará toda a sua importância na época Bréjnev:

«O que é o desvio para o nacionalismo, pouco importa se se trata de nacionalismo grão-russo ou do nacionalismo local? O desvio para o nacionalismo é a adaptação da política internacionalista da classe operária à política nacionalista da burguesia. O desvio para o nacionalismo reflecte as tentativas da sua “própria” burguesia “nacional” de minar o regime soviético e de restaurar o capitalismo. A fonte desses dois desvios (...) é comum. É o abandono do internacionalismo leninista (...) O principal perigo é representado pelo desvio que deixámos de combater, permitindo-lhe assim que se desenvolva até se tornar um perigo de Estado.»(60)

Stáline contra o oportunismo

Podemos agora abordar a seguinte questão: como pôde o revisionista Khruchov tomar o poder imediatamente após a morte de Stáline? Muitos elementos mostram que, a partir de 1951, Stáline começou a inquietar-se seriamente com a situação do Partido. Até então, entre 1945 e 1950, foi obrigado a concentrar-se na reconstrução e nos problemas internacionais.

As correntes burguesas dos anos 30

As correntes burguesas mais importantes que Stáline teve de combater durante os anos 20 e 30 foram o trotskismo (menchevismo camuflado com um discurso ultra-esquerdista), o bukharinismo (desvio social-democrata), a tendência bonapartista (orientação militarista no seio do exército) e o nacionalismo burguês. Estas quatro correntes continuaram a exercer influência no decurso dos anos 1945-1953. Damos dois exemplos reveladores. Abdurakhmane Avtorkhánov, jovem funcionário de origem tchetchena, que trabalhava no departamento de propaganda do Comité Central, fugiu da União Soviética para os Estados Unidos após o deflagrar da guerra. O seu itinerário mostra o parentesco existente entre as correntes oportunistas dos anos 30 e as que surgiram após 1945.

«Em política» — dizia Avtorkhánov—«pertenço à tendência Bukhárine.»(61)

Mas o seu livro Stáline no Poder está também salpicado de elogios a Trótski,

«o leão da Revolução de Outubro», que após «o Testamento político de Lénine», deveria dirigir o Partido com a ajuda de Bukhárine(62) «Trótski (era) o amigo dos “nacionalistas georgianos”.»(63)

Avtorkhánov recorda que Trótski considerava que a tentativa

«de impor o socialismo proletário no país agrário mais atrasado da Europa (... ) seria susceptível de degenerar numa ditadura despótica de um punhado de socialistas anarquistas».(64)

Avtorkhánov era antes de mais um partidário das concepções sociais-democratas.

«Bukhárine defendia a livre concorrência entre os dois sectores, socialista e capitalista. (...) A grande indústria socialista eliminará gradualmente o sector capitalista (... ) pelo livre jogo da concorrência. (... ) Devíamos poder dizer aos camponeses das cooperativas: “Enriquecei-vos”. A pequena burguesia rural (kulaques), incapaz de enfrentar a concorrência dos camponeses colectivizados, estava destinada a desaparecer.»(65)

Por último, Avtorkhánov defendia também as posições do nacionalismo burguês.

«As Repúblicas do Cáucaso sempre se mostraram as mais propensas ao separatismo», afirmou ele. «Quando em 1921 os Sovietes ocuparam pela força este país, os democratas e os partidários da independência refugiaram-se na clandestinidade. (... ) Movimentos de revolta tiveram lugar por várias vezes no Cáucaso para reconquistar a independência nacional.»(66)

Assim, vemos Avtorkhánov exprimir a sua simpatia pelas quatro correntes oportunistas principais que ameaçavam o socialismo no decurso dos anos 20 e 30: o trotskismo, o bukharinismo, o nacionalismo burguês e o militarismo. As suas posições favoráveis a esta última corrente foram tratadas num capítulo anterior.

As posições que Avtorkhánov tomou durante a guerra e no período de 1945-1950 são muito significativas. Referindo-se à agressão nazi, escreve:

«Noventa por cento dos cidadãos soviéticos só desejavam uma coisa: o fim de Stáline, mesmo que o preço fosse a vitória de Hitler. (...) A guerra contra a URSS, que os soldados alemães tinham ganho em 1941, foi perdida pelas SS. (...) Hitler, o tirano, não foi senão a sombra de Stáline(67)

Depois de ter galanteado Hitler durante um tempo, Avtorkhánov, anticomunista feroz, cai finalmente nos braços dos imperialistas anglo-americanos.

«Nos dois primeiros anos da guerra, as populações da URSS chegaram a preferir Hitler a Stáline. (... ) Os anglo-saxões tiveram a oportunidade única de poder manobrar as duas frentes - a frente alemã e a frente soviética - sem terem de intervir com as suas próprias forças, e conseguiram assim ganhar a guerra. (...) A operação tornou-se possível no dia em que Hitler voltou as suas forças contra o Leste. (...) Enquanto Stáline e Hitler se batiam, os aliados poderiam ter feito seguir a multidão, depois do enterro de Hitler, para o cortejo fúnebre de Stáline(68)

Acolhido nos Estados Unidos, Avtorkhánov tornou-se um fervoroso adepto da hegemonia americana, incitando à guerra contra a «expansão comunista».

«Fiel aos ensinamentos de Lénine, Stáline apontou a proa para a “revolução mundial”. O objectivo perseguido pelo stalinismo é instituir no mundo a ditadura terrorista de um só partido. (...) O mundo está perante esta alternativa: o stalinismo ou a democracia. Para a resolver em vida, Stáline mobiliza as suas quintas colunas no mundo inteiro.»

Ora, dizia Avtorkhánov, as contra medidas norte-americanas tornam este plano caduco.

«Desde então, a Stáline só resta uma solução: a guerra.»(69)

O nosso segundo exemplo refere-se à organização clandestina de Tokáev, que esteve ligada durante os anos 30 aos bonapartistas, aos bukharinistas e aos nacionalistas burgueses. Após a guerra, continuou a sua actividade.

Em 1947, Tokáev encontrava-se em Karlshorst, na Alemanha. Um camarada «altamente colocado» entregou-lhe os microfilmes com as últimas peças acrescentadas ao seu dossier pessoal.

«Eles sabiam demasiado. A abertura da caça aproximava-se perigosamente. E quando o processo de acusação estivesse pronto, haveria factos que remontavam a 1934.»(70)

«No final de 1947, os democratas revolucionários chegaram à conclusão de que deveriam agir: mais vale morrer honradamente do que arrastar-se como escravos. Animávamo-nos pensar que partidos de tendência liberal e os que pertenciam à Segunda Internacional, no estrangeiro, tentariam ajudar-nos. Sabíamos que havia comunistas nacionais não apenas na Jugoslávia, mas também na Polónia, na Bulgária, na Hungria e nos estados bálticos, e acreditávamos que também nos apoiariam como pudessem, apesar de não sermos de forma alguma comunistas.»

«Mas o MVD(71) (Segurança do Estado) ganhou a corrida. Nós fomos demasiado lentos a mobilizar. Uma vez mais foi a catástrofe. Começaram as prisões e as acusações remontavam até o assassinato de Kírov, em 1934. Outros foram acusados das conspirações bonapartistas de 1937 e 1940, de nacionalismo burguês e de tentativas de derrubar o regime em 1941. Como a malha se fechava em torno de nós, eu recebi a tarefa de salvar ao menos os nossos arquivos.»(72)

Após a sua fuga para a Inglaterra, Tokáev publicou uma série de artigos na imprensa ocidental e confessa ter sabotado o desenvolvimento da aviação, justificando-se assim:

«Não tentar travar os meus compatriotas na sua investigação, com uma insaciável ambição de dominação mundial, seria empurrá-los para o destino que Hitler reservou aos alemães. (...) É preciso absolutamente que os ocidentais compreendam que Stáline não perseguia senão um objectivo: a dominação do mundo por qualquer meio.»(73)

É de notar que, após a sua fuga para o Ocidente, Avtorkhánov e Tokáev, dois representantes emblemáticos das correntes burguesas na URSS, apoiaram as posições mais extremas da burguesia anglo-americana durante a guerra fria.

Debilidades na luta contra o oportunismo

Não há portanto dúvidas de que Stáline continuou nos últimos anos de sua vida a lutar contra as tendências sociais-democratas e nacionalistas burguesas e contra a subversão conduzida pelo imperialismo anglo-americano. Não obstante, é claro que essa luta não foi conduzida com a profundidade e a amplitude necessárias para revigorar e endireitar ideológica e politicamente o Partido.

Com efeito, depois da guerra, que exigiu esforços profissionais extraordinários da parte dos quadros militares, técnicos e científicos, as tendências antigas para o profissionalismo militar e o tecnocratismo reforçaram-se notoriamente. A burocratização e a busca de privilégios e de uma vida fácil acentuaram-se igualmente. Essa evolução negativa foi encorajada pela «vertigem do sucesso»: o grande orgulho que os quadros tinham na vitória antifascista transformava-se muitas vezes em presunção e arrogância. Todos estes fenómenos minaram a vigilância ideológica e política em relação às correntes oportunistas.

Stáline lutou contra manifestações particulares do oportunismo e do revisionismo. Tinha a opinião de que a luta de classes no domínio ideológico prosseguiria por longo tempo. Mas não estava em condições para formular uma teoria compreensiva sobre a sua origem e as suas bases sociais. Mais concretamente, não chegou à formulação de uma teoria coerente sobre a persistência das classes e da luta de classes na sociedade socialista.

Stáline não percebeu com clareza que, depois do desaparecimento das bases económicas da exploração capitalista e feudal, continuava a existir na União Soviética terreno de onde podiam surgir elementos burgueses. O burocratismo, o tecnocratismo, as desigualdades sociais e os privilégios introduziram em certas camadas da sociedade soviética um estilo de vida burguês e aspirações à reintrodução de certas formas do capitalismo. A persistência da ideologia burguesa no seio das massas e nos quadros foi um factor suplementar que levou camadas inteiras para posições anti-socialistas. Os adversários do socialismo encontraram sempre importantes recursos e reservas ideológicas e materiais junto do imperialismo. E o imperialismo nunca deixou de infiltrar agentes secretos e de comprar renegados que, juntos, se esforçaram para explorar e ampliar todas as formas de oportunismo existentes na URSS. A tese de Stáline segundo a qual «não havia uma base de classe para a dominação da ideologia burguesa» era unilateral e não dialéctica e introduziu debilidades e erros na linha política.(74)

Com efeito, Stáline não esteve à altura de definir as formas adequadas de mobilização das massas operárias e kolkhozianas para combater o perigo da restauração. A democracia popular deveria ter sido desenvolvida com a intenção claramente definida de eliminar o burocratismo, a tecnocracia, o carreirismo e os privilégios. Ora a participação popular na defesa da ditadura do proletariado não foi devidamente assegurada. Stáline sublinhou sempre que a influência da burguesia e do imperialismo se reflectia no Partido sob a forma de correntes oportunistas. Mas não estava em condições para formular uma teoria sobre a luta entre as duas linhas no seio do Partido. Em 1939, fazendo o balanço das grandes depurações, Stáline colocou a tónica exclusivamente na «espionagem e actividade conspirativa das cúpulas trotskistas e bukharinistas» e na maneira como «os Estados burgueses (... ) tentam utilizar as fraquezas das pessoas, a sua vaidade e a sua falta de carácter».(75) Stáline subestimou manifestamente as causas internas que permitiram o nascimento das correntes oportunistas que, em seguida, através das infiltrações de agentes secretos, se ligaram de uma forma ou de outra ao imperialismo.

Stáline não compreendeu que os perigos do burocratismo, do tecnocratismo, da procura de privilégios existiam de forma permanente e em grande escala e que produziram inevitavelmente concepções sociais-democratas, conciliadoras com o imperialismo. Em consequência, Stáline não julgou necessário mobilizar o conjunto dos membros do Partido para combater as linhas oportunistas e para eliminar as tendências perigosas; lutas ideológicas e políticas nas quais todos os quadros e membros deveriam educar-se e transformar-se. Depois de 1945, a luta contra o oportunismo ficou confinada às esferas dirigentes do Partido e não contribuiu para a transformação revolucionária do conjunto do Partido.

Foi analisando essas falhas que Mao Tse Tung formulou a sua teoria sobre a continuação da revolução:

«A sociedade socialista estende-se por um período bastante longo, durante o qual continuam a existir as classes, as contradições de classes e a luta de classes, assim como a luta entre a via socialista e a via capitalista, assim como o perigo de uma restauração do capitalismo. É preciso compreender que esta luta será longa e complexa, é preciso redobrar a vigilância e prosseguir a educação socialista (... ) Senão, um país socialista como o nosso transformar-se-á no seu contrário: mudará de natureza e assistirá à restauração do capitalismo.»(76)

Os grupos revisionistas de Béria e de Khruchov

Estas debilidades políticas foram ainda agravadas pelas tendências revisionistas que emergiram dentro da direcção suprema do Partido no final dos anos 40. Para dirigir os diferentes sectores do Partido e do Estado, Stáline apoiou-se sempre nos seus colaboradores. Depois de 1935, Andrei Jdánov desempenhou um papel essencial no trabalho de consolidação do Partido. A sua morte, em Agosto de 1948, deixou um vazio. No início dos anos 50, a saúde de Stáline deteriorou-se fortemente na sequência de um cansaço extremo acumulado durante a guerra. O problema da sucessão de Stáline colocar-se-ia num futuro bastante próximo.

Foi neste momento que dois grupos de revisionistas dentro da direcção se manifestaram e lançaram intrigas, continuando a jurar fidelidade a Stáline. O grupo de Béria e o de Khruchov constituíram duas fracções revisionistas rivais que, minando em segredo a obra de Stáline, entraram mutuamente em guerra.

Tendo sido fuzilado por Khruchov em 1953, logo após a morte de Stáline, poderíamos supor que Béria era um adversário do revisionismo de Khruchov. Foi esta a posição que adoptou Bill Bland num estudo bem documentado sobre a morte de Stáline.(77)

No entanto, testemunhos de fontes totalmente opostas convergem na afirmação de que Béria adoptou posições direitistas. Assim, o autor Thaddeus Wittlin, no estilo nauseabundo do macarthismo, publicou uma biografia de Béria, cujo tom é o seguinte:

«Stáline, o ditador, contempla o seu povo como um deus impiedoso vigiando os seus milhões de escravos.»(78)

Textualmente. Ora, expondo as ideias desenvolvidas por Béria em 1951, Wittlin afirma que ele queria permitir a iniciativa privada no sector da indústria ligeira e «afrouxar o sistema de explorações colectivas», para regressar aos «métodos anteriores a Stáline, os da NEP». Béria «opunha-se à política stalinista de russificação das nações e repúblicas não russas». «Desejava manter boas relações com os países ocidentais» e «pretendia também restabelecer relações com Tito».(79) Esta homenagem à «política razoável» de Béria é surpreendente sob uma caneta tão maldosamente anticomunista.

Tokáev, oposicionista clandestino, afirmava que conhecia Béria desde os anos 30, «não no seu papel de servidor, mas como inimigo do regime».(80) Gardinachvili, um colaborador próximo de Béria, manteve laços muito estreitos com Tokáev.(81)

Khruchov, que teria interesse em apresentar Béria como fiel a Stáline, escreveu:

«Béria ganhou o hábito de exprimir cada vez mais nitidamente a sua falta de respeito por Stáline nos últimos anos da sua vida. (...) Stáline receava ser uma vítima escolhida por Béria. (...) Stáline, por vezes, parecia ter medo de Béria. Ficaria muito feliz se pudesse desembaraçar-se dele, mas não sabia como fazê-lo.»(82)

Precisamos também de mencionar a opinião de Mólotov que, com Káganovitch, permaneceu sempre fiel ao seu passado revolucionário.

«Não excluo que Béria tenha tomado parte na morte de Stáline. Senti-o por aquilo que ele me contou. No 1.° de Maio de 1953, na tribuna do Mausoléu, fez alusões ao assunto. Queria aparentemente suscitar a minha simpatia. Disse: “Dei cabo dele”. Como se me tivesse ajudado. Ele queria claramente tornar a minha relação mais favorável: “Salvei-os a todos!”».(83)

«Khruchov — é sem dúvida uma pessoa de tipo reaccionário que apenas se encostou ao Partido. É claro que ele não acredita em nenhum comunismo (... ) Quanto a Béria, considero-o como uma pessoa de fora. Infiltrou-se no Partido com fins maléficos (...) Béria era uma pessoa sem princípios.»(84)

Nos últimos anos de vida de Stáline, Khruchov e Mikoian escondiam manifestamente as suas ideias políticas para melhor se posicionarem com vista à sucessão. O desprezo que Khruchov sentia por Stáline transparece nas suas memórias:

«Na minha opinião, foi durante a guerra que Stáline começou a perder o juízo. (...) No final de 1949, a doença começou a atormentar o espírito de Stáline(85)

Enver Hoxha apercebeu-se da impaciência com que Khruchov esperava a morte de Stáline. Nas suas memórias, descreve uma discussão que teve em 1956 com Mikoian:

«Foi o próprio Mikoian que nos disse que eles, com Khruchov e seus acólitos, tinham decidido organizar um atentado para matar Stáline, mas que depois renunciaram a esse plano.»(86)

Stáline contra o futuro khruchovismo

Stáline ter-se-á dado conta das intrigas que os revisionistas que o rodeavam urdiam? O relatório principal apresentado por Malenkov ao XIX Congresso nos começos de Outubro de 1952, assim como a obra de Stáline Problemas Económicos do Socialismo, publicada nessa ocasião, mostram que Stáline estava convencido de que uma nova luta contra o oportunismo e uma nova depuração do Partido se tinham tornado necessárias.

O relatório apresentado por Malenkov tem a marca de Stáline. As teses revolucionárias que defende serão desmontadas quatro anos mais tarde por Khruchov e Mikoian. Criticava também com virulência uma multiplicidade de tendências negativas na economia e na vida do Partido, tendências que se impuseram em 1956 sob a forma do revisionismo khruchoviano.

Antes de mais, voltando à questão da depuração de 1937-1938, Malenkov anota:

«À luz dos resultados da guerra, aparece diante de nós, em toda sua grandeza, o significado da luta intransigente que o nosso Partido travou ao longo de anos contra os inimigos do marxismo-leninismo, contra os malogros trotskistas-bukharinistas, contra os capitulacionistas e os traidores que tentaram desviar o Partido do bom caminho e cindir a unidade das suas fileiras. (... ) Aniquilando a organização clandestina dos trotskistas e dos bukharinistas, o Partido destruiu a tempo todas as possibilidades de aparecimento na URSS de uma quinta coluna e preparou politicamente o país para a defesa activa. Não é difícil compreender que se isto não tivesse sido feito a tempo, encontrar-nos-íamos durante as hostilidades na situação de homens metralhados pela frente e pela retaguarda, e teríamos perdido a guerra.»(87)

Quatro anos mais tarde, Khruchov negará que os trotskistas e bukharinistas tivessem degenerado a ponto de defender uma plataforma social-democrata e burguesa, como negará que alguns entre eles tenham entrado em contacto com forças estrangeiras hostis. Khruchov inventa então a teoria segundo a qual o socialismo tinha definitivamente triunfado desde 1936 e que não havia portanto base social nem para a traição nem para a restauração capitalista!

Eis suas principais afirmações:

«(...) O Estado soviético estava consolidado, (...) as classes exploradoras já tinham sido liquidadas e as relações socialistas tinham-se afirmado em todos os sectores da economia nacional.»(88) (...) «O socialismo estava já no essencial construído no nosso país, (... ) no essencial tinham sido liquidadas as classes exploradoras, (... ) mudara de forma radical a estrutura da sociedade soviética, reduzira-se drasticamente a base social de correntes e grupos políticos hostis ao Partido».(89)

Khruchov concluía assim que a depuração tinha sido um acto arbitrário que nada justificava, reabilitando deste modo as posições políticas dos oportunistas e dos inimigos do socialismo.

No seu Relatório ao XIX Congresso, Malenkov sublinhou quatro fragilidades principais do Partido, as quais, precisamente, seriam aproveitadas por Khruchov para realizar, quatro anos mais tarde, o seu golpe de estado revisionista. Malenkov salientou que muitos quadros burocratizados recusavam a crítica e o controlo da base e refugiavam-se no formalismo e na apatia.

«A autocrítica e, sobretudo, a crítica vinda da base não são ainda (...) o método principal para revelar e corrigir os nossos erros e as nossas insuficiências, as nossas debilidades e as nossas maleitas (...) A crítica é objecto de desdém e de perseguição. Encontramos frequentemente militantes que proclamam a sua fidelidade sem limites ao Partido mas que, na realidade, não suportam a crítica vinda da base, sufocam-na e vingam-se daqueles que os criticam. Conhecemos um bom número de casos em que a atitude burocrática para com a crítica e a autocrítica (... ) matavam a iniciativa (... ) e implantavam em certas organizações os hábitos antipartido dos burocratas, inimigos jurados do Partido. Lá onde o controlo das massas sobre a actividade das organizações (... ) está enfraquecido, aparecem (... ) o burocratismo, a degradação e mesmo a desagregação de certos escalões do nosso aparelho. (...) Os êxitos têm engendrado no nosso Partido a auto-satisfação, um optimismo oficial, o espírito de tranquilidade, o desejo de descansar sobre os louros e de fazer prevalecer méritos passados. (...) Os dirigentes transformam frequentemente as reuniões em manifestações de parada, de distribuição de louvores, de tal forma que os erros e as insuficiências no trabalho, as maleitas e as debilidades não são denunciadas nem criticadas (... ) O espírito de frouxidão penetrou nas organizações do Partido.»(90)

Reencontramos aqui um tema constante em Stáline desde os anos 30: o apelo à base para que critique e controle os burocratas que procuram a tranquilidade, que reprimem a voz dos militantes, se comprazem com a negligência e se comportam como inimigos do comunismo. Este texto permite imaginar a vaga de críticas que Stáline queria de novo dirigir contra os revisionistas.

Quatro anos mais tarde, quando Khruchov denunciou a «insegurança, o medo e o desespero» que reinavam, segundo ele, sob Stáline, estava de facto a prometer aos elementos burocráticos e oportunistas que gozariam doravante de tranquilidade. Nunca mais seriam «perseguidos» pelas críticas «esquerdistas» da base. A auto-satisfação e o espírito de imobilismo serão as características principais da burocracia revisionista que tomará o poder definitivamente sob Khruchov.

Em seguida, Malenkov denunciou os comunistas que troçavam da disciplina do Partido e se comportavam como proprietários.

«A atitude formal a respeito das decisões do Partido e do Governo, a atitude passiva na sua aplicação são vícios que é preciso extirpar implacavelmente. O Partido não tem necessidade de funcionários empedernidos e indiferentes, para os quais a sua tranquilidade pessoal passa à frente dos interesses da causa; o Partido precisa de combatentes infatigáveis, cheios de abnegação. (... ) Um bom número de dirigentes esquece que as empresas cuja direcção lhes foi confiada pertencem ao Estado; esforçam-se por transformá-las no seu feudo, onde fazem “tudo o que o seu pé esquerdo lhes pede”. (... ) Temos muitos dirigentes que pensam que as decisões do Partido e as leis soviéticas não são obrigatórias para eles. (... ) Aqueles que tentam esconder a verdade ao Partido e enganá-lo não podem ser membros do Partido.»(91)

As pessoas que Malenkov denuncia nesta passagem encontrarão em breve em Khruchov o seu representante. Khruchov tornou-se no porta-voz dos burocratas quando criticou a «flutuação demasiado pronunciada dos quadros.»(92) O texto de Malenkov permite também compreender melhor aquilo que estava por trás das diatribes de Khruchov contra Stáline. Stáline, afirmou ele, «passou do campo da luta ideológica», aplicando o rótulo de «inimigo do povo», para o recurso sistemático à «via das repressões em massa» e «do terror»(93). Essas frases destinavam-se a tranquilizar aqueles que tinham sido atacados no texto de Malenkov, aqueles que faziam das empresas do Estado a sua propriedade privada, aqueles que escondiam a realidade ao Partido para poderem roubar e desfalcar impunemente, aqueles que declamavam frases «marxistas-leninistas» sem a menor intenção de as seguirem. Com Khruchov, todos os que aspiravam a tornar-se burgueses de corpo inteiro não tinham mais que temer «a repressão e o terror» do poder socialista.

Em terceiro lugar, Malenkov ataca os quadros que formavam clãs fora de qualquer controlo e que se enriqueciam ilegalmente.

«Alguns funcionários delapidam eles próprios os bens dos kolkhozes, apropriando-se das terras colectivas, constrangendo as direcções dos kolkhozes a lhes fornecerem gratuitamente cereais, carne, leite e outros géneros.» (...) «Alguns dirigentes não seleccionam os quadros segundo suas qualidades políticas e práticas, mas de acordo com um espírito de família, um espírito de camaradagem e de companheirismo (... ) Estas deformações engendram em certas organizações um corrilho de homens que se apoiam mutuamente e colocam os seus interesses de grupo acima dos do Partido e do Estado. Não espanta que um tal ambiente conduza normalmente à decomposição e à putrefacção. (...) A atitude desonesta e irresponsável em relação à execução das directivas dos organismos dirigentes é uma das manifestações mais perigosas e criminosas do burocratismo. (... )

O objectivo do controlo da execução é de evidenciar as insuficiências, pôr a nu as ilegalidades, ajudar os trabalhadores honestos aconselhando-os, punir os incorrigíveis.»(94)

Sob Khruchov, não se escolhiam os quadros que apresentavam as melhores qualificações políticas: bem pelo contrário, esses foram «depurados» enquanto «stalinistas». Em torno de Béria, de Khruchov, de Mikoian, de Bréjnev formaram-se capelinhas burguesas, completamente libertas do controlo popular revolucionário, exactamente como Malenkov o descrevera. Stáline já lá não estava para «punir os incorrigíveis» e serão os incorrigíveis que doravante punirão os verdadeiros comunistas.

Finalmente, Malenkov criticou os quadros que negligenciam o trabalho ideológico, permitindo às correntes burguesas emergir de novo e tomar o poder na frente da ideologia.

«Em numerosas organizações do Partido, subestima-se o trabalho ideológico, trabalho que acumula atrasos no conjunto das tarefas do Partido e, em algumas organizações, se encontra em estado de abandono (... ) Qualquer enfraquecimento da ideologia socialista reverte a favor do reforço da influência da ideologia burguesa (... ) Subsistem em nós resquícios da ideologia burguesa, da mentalidade e da moral de proprietário. Estes resquícios são muito vivos, podem crescer, desenvolver-se, é preciso combatê-los resolutamente. De igual modo, não estamos imunizados contra a penetração de ideias que nos são estranhas, tanto de fora, do lado dos estados capitalistas, como, do interior, do lado dos restos hostis ao poder soviético. (... ) Aquele que vive de fórmulas aprendidas de cor e não tem o sentido do novo é incapaz de se orientar correctamente na conjuntura interior e exterior. (... ) Algumas organizações apaixonam-se pela economia, esquecendo-se dos problemas da ideologia (...) Lá onde se relaxa a atenção aos problemas da ideologia, forma-se um terreno propício à animação de visões e concepções que nos são hostis. Elementos estranhos, oriundos dos resíduos de grupos antileninistas derrotados pelo Partido, procuram dominar alguns sectores do trabalho ideológico.»(95)

Khruchov rebaixará o leninismo transformando-o numa série de fórmulas vazias de qualquer espírito revolucionário. O vazio assim criado aspirará as velhas ideologias sociais-democratas e burguesas que terão uma nova juventude. Por outro lado, Khruchov irá falsificar ou eliminar simplesmente as noções essenciais do marxismo-leninismo: a luta anti-imperialista, a revolução socialista, a ditadura do proletariado, o prosseguimento da luta de classes, a concepção leninista do Partido, etc.. Quando fala da «educação marxista» propõe o contrário de Malenkov! Khruchov dirá:

«Durante longos anos, os nossos quadros do Partido foram insuficientemente educados nas (...) questões práticas da edificação económica.»(96)

Reabilitando os oportunistas e os inimigos atingidos pelas depurações, Khruchov permitiu a ressurreição das correntes ideológicas social-democrata, burguesa e tsarista.

No plenário que se seguiu ao XIX Congresso, Stáline foi ainda mais duro nas críticas que endereçou a Mikoian, Mólotov e Vorochílov; estava virtualmente em conflito aberto com Béria. Todos os membros da direcção compreenderam perfeitamente que Stáline exigia uma mudança radical de rumo. Khruchov compreendeu claramente a mensagem e, como os outros, encolheu a cabeça entre os ombros:

«Stáline, pelos vistos, tinha os seus planos para punir os membros antigos do Politburo. Várias vezes falou na necessidade de substituir os membros do Politburo. A sua proposta após o XIX Congresso de eleger para o Presidium do Comité Central 25 pessoas tinha como objectivo afastar os membros antigos do Politburo e fazer entrar pessoas menos experientes (...) Pode-se até pressupor que isto foi concebido para depois liquidar os membros antigos do Politburo e apagar os vestígios relativos a actos indecorosos de Stáline(97)

Nessa época, Stáline já era um homem velho, exausto e doente. Agia com prudência. Tendo chegado à conclusão de que os membros do Bureau Político já não estavam à altura, colocou jovens mais revolucionários no Presidium para os pôr à prova e testá-los. Os revisionistas e conspiradores como Khruchov, Béria e Mikoian sabiam que em breve perderiam as suas posições.

Ainda de acordo com Khruchov, após o caso do complot dos médicos no final de 1952, Stáline teria dito aos membros do Bureau Político:

«Sois como gatinhos cegos, o que acontecerá sem mim — o país perecerá porque não conseguis distinguir os inimigos».(98)

Khruchov usou esta citação como prova da demência e da paranóia de Stáline. Mas a história mostrou o quanto esta observação era pertinente.

O golpe de Estado de Khruchov

As intrigas de Béria

Jdánov, o sucessor provável de Stáline, morreu em Agosto de 1948. Antes do seu falecimento, uma médica, Lídia Timachuk, já tinha acusado os médicos de Stáline de aplicarem um tratamento contra-indicado para apressar a sua morte. Ela repetirá essas acusações mais tarde.

Durante o ano de 1949, quase todo o círculo de Jdánov é preso e executado. Kuznetsov, secretário do Comité Central e braço direito de Jdánov, Rodiónov, primeiro-ministro da República Russa e Voznessénski, presidente do Plano, foram as principais vítimas. Eles estavam entre os quadros mais destacados da nova geração. Khruchov atribui a sua eliminação essencialmente às intrigas de Béria. Stáline havia criticado algumas teorias de Voznessénski que afirmava, nomeadamente, que a lei do valor deveria regular a repartição dos capitais e do trabalho entre os diferentes ramos. Num tal caso, respondeu Stáline, os capitais e a força de trabalho concentrar-se-iam na indústria ligeira, a mais rentável, em detrimento da indústria pesada.

«A esfera de acção da lei do valor está limitada no nosso país pela existência da propriedade social dos meios de produção, pela acção da lei do desenvolvimento planificado da economia nacional.»(99).

Mas, no seu texto, Stáline refuta os pontos de vista oportunista sem tratar os seus autores como inimigos. Segundo Khruchov, Stáline interveio várias vezes a favor da libertação de Voznessénski e da sua nomeação para presidente do Banco do Estado.(100)

Quanto às acusações de Timachuk contra os médicos de Jdánov, a filha de Stáline, Svetlana, afirmou que o seu pai de início «não acreditava que os médicos fossem desonestos».(101) Abakúmov, o ministro da Segurança do Estado, próximo de Béria, foi quem conduziu então a investigação. Mas no final de 1951, Ignátiev, um homem do Partido sem experiência na Segurança, substitui Abakúmov, que é preso e acusado de falta de vigilância. Abakúmov teria protegido o seu chefe, Béria?

A investigação passou a ser dirigida por Riúmine, antigo responsável pela segurança no secretariado pessoal de Stáline. Nove médicos foram presos, acusados de estarem «ligados à organização internacional de nacionalistas burgueses judeus JOINT (American-Jewish Joint Distribution), criada pelos serviços secretos americanos».(102) Este processo foi interpretado como um primeiro ataque de Stáline contra Béria.

Em simultâneo decorre um segundo processo. Em Novembro de 1951, responsáveis pelo Comité Central do Partido Comunista da Geórgia foram presos por desvio de fundos públicos e roubo de propriedade do Estado e acusados de serem nacionalistas burgueses ligados aos serviços secretos anglo-americanos. Na depuração que se seguiu, mais da metade dos membros do Comité Central, considerados como homens de Béria, perdem as suas posições.(103) O novo primeiro secretário afirma no seu relatório que a depuração foi conduzida «sob as instruções pessoais do camarada Stáline(104)

A morte de Stáline

Alguns meses antes da morte de Stáline todo o sistema de segurança que o protegia é desmantelado. O seu secretário pessoal, Aleksandr Poskrióbichev, que o acompanhava desde 1928 com uma eficácia notável, foi dispensado e colocado sob prisão domiciliária, após ser acusado de desvio de documentos secretos. O tenente-coronel Nikolai Vlássik, chefe da segurança pessoal de Stáline durante 25 anos, foi preso a 16 de Dezembro de 1952 e morto algumas semanas mais tarde na prisão.(105) O major-general Piotr Kossinkin, vice-comandante da Guarda do Krémline, responsável pela segurança de Stáline, morreu de uma «crise cardíaca», em 17 de Fevereiro de 1953. Deriabin escreveu:

«O processo de privação de Stáline de toda a sua segurança pessoal (foi) uma operação estudada e muito bem conduzida.»(106)

Béria estava em posição para dirigir um complot semelhante. Em 1 de Março, às 23 horas, a guarda encontra Stáline inconsciente estendido no chão do seu quarto. Por telefone são chamados os membros do Bureau Político. Khruchov afirma que também ele lá esteve e que depois «cada um voltou para sua casa».(107) Ninguém chamou um médico... Só 12 horas após ter sofrido o ataque, Stáline recebe os primeiros cuidados. Morre a 5 de Março. Lewis e Whitehead escrevem:

«Alguns historiadores consideram que há provas de uma morte premeditada. Abdurakhmane Avtorkhánov vê as causas na evidente preparação por Stáline de uma nova depuração comparável à dos anos 30.»(108)

Imediatamente após a morte de Stáline, foi convocada uma reunião do Presidium [nova designação do Politburo]. Logo de início, Béria propõe Malenkov para presidente do Conselho dos Ministros e Malenkov pede que Béria seja nomeado primeiro vice-presidente daquele órgão e ministro dos Assuntos Internos e da Segurança do Estado(109).

Nos meses que se seguiram, Béria dominou a cena política. «Atravessámos nessa altura um período muito perigoso», escreveu Khruchov(110).

Apenas chegado de novo à direcção da Segurança, Béria ordena a prisão de Poskrióbichev, o secretário de Stáline, depois Riúmine, que tinha dirigido a investigação sobre a morte suspeita de Jdánov. Ignátiev, o chefe de Riúmine, é denunciado pelo papel que desempenhou no mesmo processo. Em 3 de Abril, os médicos acusados de terem assassinado Jdánov são libertados. O sionista Wittlin afirma que, ao reabilitar os médicos judeus, Béria queria «atacar a política externa de Stáline, dirigida essencialmente contra o Ocidente, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.»(111) Ainda em Abril, Béria organiza um contragolpe na Geórgia, a sua região natal. Colocou novos homens à frente do Partido e do Estado, Dekanozov (que seria fuzilado com Béria) tornou-se ministro da Segurança do Estado, em substituição de Rukhádze, preso como «inimigo do povo».(112)

Intrigas de Khruchov contra Béria

Entretanto, Khruchov urde intrigas contra Béria. Começa por ganhar o apoio de Malenkov, o «protegido» de Béria, depois encontra-se individualmente com todos os outros. O último a ser contactado foi Mikoian, o melhor amigo de Béria. Em 24 de Junho é convocado o Presidium, no decorrer do qual Béria é preso. Mikoian terá exprimido a opinião de que Béria «tomará em conta as nossas críticas (...) o seu caso não é desesperado.»(113) Mas ao sinal combinado, 11 marechais e generais implicados no complot, sob o comando de Júkov, irrompem na sala e prendem Béria, que seria fuzilado com os seus colaboradores em 23 de Dezembro de 1953.

Em 14 de Julho de 1953, o general Aleksei Antónov e o major-general Efímov organizam um «golpe de estado» no Partido Comunista da Geórgia, expulsando os homens de Béria. Mjhavanádze, antigo tenente-general, torna-se primeiro secretário do Partido.(114)

Riúmine, que tinha sido preso por Béria em 5 de Abril de 1953, é condenado 15 meses mais tarde pelos khruchovistas pelo seu papel no «caso dos médicos». Em 23 de Julho é fuzilado. Em contrapartida, o seu chefe Ignátiev, protegido de Khruchov, é nomeado primeiro secretário da República da Bachquíria.(115)

No final de Dezembro de 1954, Abakúmov, antigo ministro da Segurança do Estado e os seus adjuntos são condenados à morte, acusados de terem fabricado, sob instruções de Béria, o «caso de Leningrado» contra Voznessénski e os seus amigos. Em Setembro de 1955 Nikolai Rukhádze, o responsável pela Segurança na Geórgia, que conduziu a depuração contra os homens de Béria em 1951, foi condenado e fuzilado como «cúmplice de Béria».(116) Assim, de 1950 a 1955, diferentes clãs revisionistas puxaram as facas para acertar contas e aproveitaram a ocasião para eliminar os partidários de Stáline.

Os inimigos reabilitados

Depois da morte de Stáline, oportunistas e inimigos do leninismo enviados justamente para a Sibéria foram reabilitados e colocados em lugares de direcção. Serguei, o filho de Khruchov, relata-nos que, no decurso dos anos 30, Khruchov e Mikoian tiveram relações próximas com um certo Snégov, condenado em 1938 como inimigo do povo a 25 anos de prisão. Em 1956, Khruchov retirou-o de um campo para que testemunhasse «sobre os crimes stalinistas». Ora este Snégov «provou» ao filho de Khruchov que

«não se tratava tanto de erros e falhas acidentais de Stáline, mas sim da sua política errónea e criminosa, que era a causa de todos os males. E que essa política não surgiu de repente em meados dos anos 30, mas tinha as suas raízes na Revolução de Outubro de 1917 e na Guerra Civil».(117)

Este indivíduo, que se declarava abertamente adversário da Revolução de Outubro, foi nomeado por Khruchov comissário no Ministério do Interior, onde se ocupou nomeadamente da reabilitação das «vítimas do stalinismo(118)

Khruchov foi também repescar o velhaco Soljenítsine num campo de trabalho. Assim, o chefe revisionista que jurava querer «regressar ao leninismo» contraiu uma aliança com um reaccionário tsarista para combater o «stalinismo». Os dois canalhas entenderam-se maravilhosamente. Num impulso de ternura pelo seu cúmplice «marxista», Soljenítsine escreveu mais tarde:

«Era impossível ter previsto o ataque súbito, tonitruante e furioso que Khruchov tinha reservado contra Stáline no XX Congresso! Não me recordo de ter lido desde há muito tempo coisa tão interessante.»(119)

Khruchov e a contra-revolução pacífica

Depois da execução de Béria, Khruchov impôs-se como a figura dominante do Presidium. Em Fevereiro de 1956, no XX Congresso, inverteu completamente a linha ideológica e política do Partido. Proclamou ruidosamente que a «democracia leninista» e a «direcção colectiva» tinham sido restabelecidas, mas impôs praticamente o seu relatório secreto sobre Stáline aos demais membros do Presidium. Mólotov testemunha-o:

«Quando Khruchov leu o seu relatório ao XX Congresso, eu já tinha sido destinado à prateleira. Perguntam-me frequentemente por que é que não tomei a palavra no XX Congresso contra Khruchov? O Partido não estava preparado para isso. Nós teríamos sido postos fora. Permanecendo no Partido, esperava que pudéssemos recuperar um pouco a situação.»(120)

A luta entre as duas linhas, entre o marxismo-leninismo e os desvios burgueses, nunca cessou desde 25 de Outubro de 1917. Com Khruchov, a correlação de forças inverteu-se e o oportunismo, combatido e reprimido até então, apoderou-se da direcção superior do Partido. O revisionismo utilizou essa posição para liquidar, passo a passo, as forças marxistas-leninistas. À morte de Stáline, o Presidium tinha dez membros: Malenkov, Béria, Khruchov, Mikoian, Mólotov, Káganovitch, Vorochílov, Bulgánine, Saburov e Pervúkhine(121). Depois da eliminação de Béria, Mikoian afirmou em 1956 que o Presidium constituía um «colectivo dirigente estreitamente unido».(122) Mas, no ano seguinte, Khruchov e Mikoian substituíram todos os outros com o argumento de que

«estes renegados (...) queriam ressuscitar a época penosa em que dominavam métodos e acções viciosos, resultantes do culto da personalidade».(123)

A eliminação da maioria marxista-leninista do Presidium foi possível graças à intervenção do Exército e, particularmente, de Júkov e dos secretários regionais, que vieram em socorro de Khruchov colocado em minoria. As hesitações, a pouca perspicácia política e o espírito de conciliação de Mólotov, Malenkov e Káganovitch provocaram a sua derrota.

Também na política internacional, a linha seguida entre 1945 e 1953 por Stáline foi completamente desmantelada. Khruchov capitulou ante a burguesia mundial. No XX Congresso disse:

«O Partido desfez as noções caducas. (...) Nós queremos ser amigos dos Estados Unidos. (...) A Jugoslávia regista importantes resultados na edificação socialista. (...) A classe operária pode conquistar uma sólida maioria no Parlamento e transformá-lo em instrumento de uma vontade popular autêntica.»(124)

Khruchov começou a desmontagem da obra de Stáline fazendo profecias encantadoras. Ouvi-las hoje revela-nos Khruchov no seu verdadeiro papel de burlão.

«Durante o período do culto à personalidade» — dizia Khruchov—«apareceram pessoas que nos atiravam areia para os olhos».

Com Stáline, esses aduladores e ilusionistas desapareceram naturalmente. Por isso, agora, Khruchov podia prosseguir com descaramento o seu discurso:

«No decurso dos próximos dez anos (1961-1970) a União Soviética, que está a criar a base material e técnica do comunismo, ultrapassará em produção por habitante o país capitalista mais poderoso e mais rico, os EUA»(125)

Vinte anos depois, com a sua «entrada no comunismo», prometida por Khruchov para 1970, a União Soviética implodiu sob os golpes do imperialismo norte-americano; as suas repúblicas caíram no domínio de mafiosos e de capitalistas rapaces; o povo foi mergulhado na miséria e no desemprego, o crime reina por toda parte, o nacionalismo e o fascismo provocam guerras civis atrozes, as mortes contam-se às dezenas de milhares, os refugiados aos milhões.

Quanto a Stáline, também ele chegou na sua época a reflectir sobre o futuro incerto. As conclusões de A História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, que redigiu em 1938, merecem ser relidas à luz dos acontecimentos actuais. Elas contêm seis lições essenciais, tiradas da experiência do partido bolchevique. A quarta diz o seguinte:

«Não se pode admitir que haja no Estado-Maior da classe operária cépticos, oportunistas, capitulacionistas e traidores. Não se pode considerar um acaso o facto de que os trotskistas, os bukharinistas e os nacionalistas burgueses se tenham tornado agentes estrangeiros. É a partir do interior que mais facilmente se tomam as fortalezas(126)

Assim previu Stáline o que se passaria na União Soviética no dia em que um Gorbatchov e um Iéltsine entrassem no Bureau Político.

No final do século XX, a humanidade retrocedeu de alguma forma ao ponto de partida, aos anos 1900-1914, quando as potências imperialistas pensavam poder decidir entre elas o destino do mundo. Nos próximos anos, à medida que o carácter criminoso, bárbaro e desumano do imperialismo se revelar cada vez mais nitidamente, as novas gerações que não conheceram Stáline serão levadas a render-lhe homenagem. Elas subscreverão as palavras de Mao Tse Tung, que, a 21 de Dezembro de 1939, nos longínquos campos da guerrilha da imensa China, festejava o 60.° aniversário de Stáline:

«Festejar Stáline é tomar partido por ele, pela sua obra, pela vitória do socialismo, pela via que ele indicou à humanidade, é declarar-se por ele como por um amigo muito caro. Porque a imensa maioria da humanidade vive hoje no sofrimento e não poderá libertar-se senão seguindo a via indicada por Stáline e com a sua ajuda.»(127)


Notas:

(1) Citação traduzida do original russo, «Discurso na assembleia pré-eleitoral de eleitores do círculo eleitoral de Stáline da cidade de Moscovo, 9 de Fevereiro de 1946», in I.V. Stáline, Obras, Izdátelstvo Pissátel, Moscovo, 1997, tomo 16, pág. 6 (NT). (retornar ao texto)

(2) Idem, pág. 7 (NT). (retornar ao texto)

(3) Idem, pág. 8 (NT). (retornar ao texto)

(4) Idem, pág. 10 (NT). (retornar ao texto)

(5) Idem, pág. 13 (NT). (retornar ao texto)

(6) Maurice Dobb, Soviet Economic Development, 6.a edição, Routledge and Kegan Paul, Londres, 1966, p. 301. (retornar ao texto)

(7) Ibidem, p. 313. (retornar ao texto)

(8) Bettelheim, L’Economie Soviétique, Ed. Recueil Sirey, Paris, 1950, pp. 148, 151. (retornar ao texto)

(9) Dobb, op. cit., p. 316. (retornar ao texto)

(10) Ibidem, p. 316. (retornar ao texto)

(11) Stáline, Obras, ibidem, pág. 15 (NT). (retornar ao texto)

(12) E.H. Cookridge, L’espion du siècle Reinhard Gehlen, Ed. Fayard, 1973, p. 169. (retornar ao texto)

(13) Ibidem, p. 162. (retornar ao texto)

(14) Ibidem, p. 165. (retornar ao texto)

(15) Ibidem, p. 178. (retornar ao texto)

(16) Ibidem, pp. 187-188. (retornar ao texto)

(17) Mark Aarons et John Loftus, Des nazis au Vatican, Ed. Olivier Orban, 1991, p. 318 (retornar ao texto)

(18) Valentin Beriejkiv, J’étais interprète de Staline, Ed. Du Sorbier, Paris, 1985, p. 384. (retornar ao texto)

(19) Jukov, Reminiscenses and Reflections, Vol. 2, Progress, Moscovo, 1985, p. 449. (retornar ao texto)

(20) Truman, Memoirs, II, p. 462. (retornar ao texto)

(21) Gabriel Kolko, The Politics of War, Panthon Books. Nova Iorque, 1990, p. 559. (retornar ao texto)

(22) Ibidem, p. 560. (retornar ao texto)

(23) Truman, op. cit., p. 466. (retornar ao texto)

(24) Déborine, Les secrets de la Seconde Guerre Mondiale, Ed. du Progrès, Moscovo, 1972, p. 265. (retornar ao texto)

(25) Truman, op. cit., p. 129. (retornar ao texto)

(26) Ibidem, p. 124. (retornar ao texto)

(27) Ibidem, p. 314. (retornar ao texto)

(28) Hitler parle à ses généraux, Ed. Albin Michel, 1964, pp. 279, 264, 283. (retornar ao texto)

(29) Rokossovski, op. cit., pp. 274-282. (retornar ao texto)

(30) Traduzido do original russo, «Telegrama N.° 223 do Presidente do Governo, I.V. Stáline, ao Presidente F. Rosevelt e ao Primeiro-Ministro W. Churchill», in Correspondência entre o Presidente do Conselho de Ministros da URSS e o Presidente dos EUA e o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha durante a Grande Guerra Patriótica 1941-1945, Gospolitizdat, Moscovo 1957, tomo II (disponível em vlastitel.com.ru/stalin/perepiska/sr/sr44_o8.htm) (NT). (retornar ao texto)

(31) L’armée soviétique libératrice dans la Secunde Guerre Mondiale, Ed. Du Progrès, 1977, p. 309. (retornar ao texto)

(32) Kolko, op. cit., p. 188. (retornar ao texto)

(33) Rapport d’André Jdanov sur la situation internationale, Setembro de 1947, Imprimerie Maréchal, Paris, 12-1947, pp. 5-7, 14, 21, 7 e 26. (retornar ao texto)

(34) Malenkov, Le XXXII anniversaire de la grande révolution socialiste d’Octobre, Ed. en langues étrangères, Moscovo, 1950, p. 23. (retornar ao texto)

(35) «Manifeste aux peuples», Revue Mondiale de la Paix, Paris, Novembro de 1950, n.° 21, pp. 121-122. (retornar ao texto)

(36) James Klugman, From Trotski to Tito, Lawrence and Wishart, Londres, 1951, p. 13. (retornar ao texto)

(37) Ibidem, p. 22. (retornar ao texto)

(38) Ibidem, p. 9. (retornar ao texto)

(39) Ibidem, p. 11. (retornar ao texto)

(40) Ibidem, p. 43. (retornar ao texto)

(41) Ibidem, p. 143. (retornar ao texto)

(42) Rapport: Le PCYdans la lutte pour la Yougoslavie nouvelle... Belgrado, 1948, pp. 94, 25. (retornar ao texto)

(43) Klugmann, op. cit., p. 129. (retornar ao texto)

(44) «Directives du CC», in Questions actuelles du socialisme, n.° 10, Jan-fev. 1952, Agence Yougoslave d’Information, pp. 160, 161, 145. (retornar ao texto)

(45) Ibidem, p. 85. (retornar ao texto)

(46) Ibidem, N.° 14, Out-Nov. 1952, AYI, Paris, pp. 2, 5, 18, 35-36, 30, 37, 44 e 47. (retornar ao texto)

(47) Ibidem, p. 44. (retornar ao texto)

(48) The Times, 13 de Dezembro de 1950. (retornar ao texto)

(49) New York Herald Tribune, 26 de Junho de 1951.(retornar ao texto)

(50) Daily Mail, 31 de Agosto de 1951, p. 150. (retornar ao texto)

(51) Business Week, 12 de Abril de 1950, p. 175. (retornar ao texto)

(52) Daily Telegraph, 12 Décembre 1949, p. 191. (retornar ao texto)

(53) The Times, 13 de Setembro de 1949, p. 194. (retornar ao texto)

(54) Traduzido do original russo, «Discurso de encerramento a propósito do relatório ao XII Congresso do PCU(b) sobre os aspectos nacionais na acção edificante do Partido e do Estado, 23 de Abril de 1923», in I.V. Stáline, Obras, Gossudártvenoe Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1947, tomo 5, pág. 265 (NT). (retornar ao texto)

(55) Traduzido do original russo, «Relatório sobre os aspectos nacionais na acção edificante do Partido e do Estado, ao XII Congresso do PCU(b), 23 de Abril de 1923», in I.V. Stáline, Obras, Gossudártvenoe Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1947, tomo 5, pág. 244 (NT). (retornar ao texto)

(56) Staline, Le marxisme et la question nationale et coloniale, Ed. Norman Bethune, 1974, p. 75. (retornar ao texto)

(57) Ibidem, p. 117. (retornar ao texto)

(58) Ibidem, p. 203. (retornar ao texto)

(59) Traduzido do original russo, «Relatório político do Comité Central ao XVI Congresso do PCU(b), 27 de Junho de 1930» in I.V. Stáline, Obras, Gossudártvenoe Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1949, tomo 12, pág. 371 (NT). (retornar ao texto)

(60) Staline, Le marxisme et la question nationale et coloniale, Ed. Norman Bethune, 1974, pp. 344-345. (retornar ao texto)

(61) Alexandre Ouralov (A. Avtorkhanov), op. cit., p. VIII. (retornar ao texto)

(62) Ibidem, pp. 32 e 34. (retornar ao texto)

(63) Ibidem, p. 83. (retornar ao texto)

(64) Ibidem, pp. 197-198. (retornar ao texto)

(65) Ibidem, pp. 139-140. (retornar ao texto)

(66) Ibidem, pp. 167-168. (retornar ao texto)

(67) Ibidem, pp. 184, 291. (retornar ao texto)

(68) Ibidem, p. 296. (retornar ao texto)

(69) Ibidem, pp. 299 e 302. (retornar ao texto)

(70) Tokáev, op. cit., p. 354. (retornar ao texto)

(71) Acrónimo russo de Ministérstvo Vnútrennikh Del (Ministério dos Assuntos Internos) (NT). (retornar ao texto)

(72) Tokáev, op. cit., pp. 358-359. (retornar ao texto)

(73) La Libre Belgique, 4 Março de 1949, p. 1; 6 Março de 1949, p. 1. (retornar ao texto)

(74) Malenkov, Rapport au XIX Congrès, Ed. En langues étrangères, Moscovo, 1952, p. 121. (retornar ao texto)

(75) Traduzido do original russo, «Relatório ao XVIII Congresso do Partido sobre o trabalho do CC do PCU(b), 10 de Março de 1939», in I.V. Stáline, Obras, Izdátelstvo «Pissátel», Moscovo, 1997, pág. 331 (NT). (retornar ao texto)

(76) Mao Zedong, «Rapport au IX Congrès du PCC», em: La Grande Révolution Culturelle Prolétarienne, colectânea, Pequim, 1970, pp. 22-23. (retornar ao texto)

(77) Bill Bland, Stalin Society, Outubro de 1991: The Doctors’ Case and the Death of Stalin, policopiado, 80 páginas. (retornar ao texto)

(78) Thaddeus Wittlin, Béria, Ed. Elsevier Sequoia, Paris-Bruxelas, 1972, p. 281. (retornar ao texto)

(79) Ibidem, pp. 287-288. (retornar ao texto)

(80) Tokáev, op. cit., p. 7. (retornar ao texto)

(81) Ibidem, p. 101. (retornar ao texto)

(82) Khrouchtchev, Souvenirs, Ed. Robert Laffont, Paris, 1971, pp. 298, 295 e 240. (retornar ao texto)

(83) Félix Tchouchev, Cent quarante conversations avec Molotov, Ed. Terra, Moscovo, 1991 (em russo), p. 327. (retornar ao texto)

(84) Ibidem, p. 323. (retornar ao texto)

(85) Khrouchtchev, op. cit., pp. 295, 238. (retornar ao texto)

(86) Enver Hoxha, Avec Staline, Tirana, 1970, p. 32. (retornar ao texto)

(87) Malenkov, Rapport au XIX Congrès, op. cit., pp. 103-104. (retornar ao texto)

(88) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsK KPSS, N.° 3, Março de 1989, pág. 135 (NT). (retornar ao texto)

(89) Idem, pág. 132 (NT). (retornar ao texto)

(90) Malenkov, op. cit., pp. 108-110. (retornar ao texto)

(91) Ibidem, pp. 113-115. (retornar ao texto)

(92) Rapport d’activité du CC au XX Congrès (14 de Fevereiro de 1956), Ed. En langues étrangères, Moscovo, 1956, p. 137. (retornar ao texto)

(93) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsK KPSS, N.° 3, Março de 1989, págs. 132-33 (NT). (retornar ao texto)

(94) Malenkov, op. cit., pp. 71, 116-120. (retornar ao texto)

(95) Ibidem, pp. 121-122. (retornar ao texto)

(96) Khrouchtchev, Rapport au XX Congrès, p. 129. (retornar ao texto)

(97) Traduzido do original russo, «Relatório de Khruchov», publicado em Izvéstia TsK KPSS, N.° 3, Março de 1989, pág. 164 (NT). (retornar ao texto)

(98) Ibidem, p. 155 (NT). (retornar ao texto)

(99) Traduzido do original russo, «Problemas Económicos do Socialismo na URSS», in I.V. Stáline, Obras, Izdátelstvo «Pissátel», Moscovo, tomo 19, pág. 170 (NT). (retornar ao texto)

(100) Khrouchtchev, op. cit., p. 242 (retornar ao texto)

(101) Bland, op. cit., p. 4 (retornar ao texto)

(102) Bland, op. cit., p. 18, e Pravda, 13 de Janeiro de 1953, p. 4. (retornar ao texto)

(103) Bland, op. cit., pp. 11-13, citando J. Ducoli, The Georgian Purges (1951-1953), in Caucasian Review, vol. 6, 1958, p. 55. (retornar ao texto)

(104) Bland, op. cit., p. 12, citando Mgeladze, Report to Congress of Georgian Communist Party, Setembro de 1952. (retornar ao texto)

(105) Bland, op. cit., p. 24, citando Deriabin, Watchdogs of Terror: Russian Bodyguards from the Tsars to the Comissars, EUA, 1984, p. 321. (retornar ao texto)

(106) Bland, op. cit., p. 27, citando Deriabin, op. cit., p. 325. (retornar ao texto)

(107) Deriabin, op. cit., p. 300. (retornar ao texto)

(108) Lewis et Whitehead, Stáline, a time for judgement, Londres, 1990, p. 179. (retornar ao texto)

(109) Khrouchtchev, op. cit., p. 308, Ibidem, p. 315. (retornar ao texto)

(110) Ibidem, p. 315. (retornar ao texto)

(111) Wittlin, op. cit., p. 305. (retornar ao texto)

(112) Bland, op. cit., p. 46. (retornar ao texto)

(113) Khrouchtchev, op. cit., p. 320. (retornar ao texto)

(114) Bland, op. cit., pp. 55-57. (retornar ao texto)

(115) Ibidem, pp. 67-70. (retornar ao texto)

(116) Ibidem, p.73. (retornar ao texto)

(117) Serguei Khrouchtchev, Herinneringen aan mijn vader (Recordações do meu Pai), Ed. Bruna, 1990, p. 16. (retornar ao texto)

(118) Ibidem, pp. 19-20. (retornar ao texto)

(119) Soljénitsine, Le chêne et le veau, citado em Lazitch, op. cit., pp. 38-39 e 205. (retornar ao texto)

(120) Félix Tchouchev, op. cit., p.350. (retornar ao texto)

(121) Roy et Jaurés Medvédev, Khrouchtchev, les années de pouvoir, Ed. Maspero, Paris, 197, p.15. (retornar ao texto)

(122) Mikoian, Discours au XX Congrès, Ed. En langues étrangères, Moscovo, 1956, p. 6. (retornar ao texto)

(123) Kozlov, «Rapport au XXII Congrès», dans: Vers le Communisme, Recueil, Ed. En langues étrangères, Moscovo, 1061, pp. 412-413 (retornar ao texto)

(124) Khrouchtchev, Rapport au XX Congrès, op. cit., pp. 5, 36, 9, 47 (retornar ao texto)

(125) Khrouchtchev, Rapport au XX Congrès, op. cit., pp. 147 e 545 (retornar ao texto)

(126) L’histoire du Parti communiste (bolchevique) de L’URSS, Ed. Solidaire, p. 399. (retornar ao texto)

(127) MaoZedong, Oeuvres, tomo II, Ed. En langues étrangères, Pequim, 1967. (retornar ao texto)

Inclusão 18/02/2016