O Materialismo Dialético, Concepção do Mundo do Partido Marxista Leninista

V. P. Tchertkov


Primeira Edição: ...
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 7-46. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, Instituto de Filosofia, 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Segundo a definição do camarada Stálin, o marxismo é

"a ciência das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, a ciência da revolução das massas oprimidas e exploradas, a ciência da vitória do socialismo em todos os países, a ciência da construção da sociedade comunista.”(1)

Orientando-se por essa grande ciência revolucionária, o Partido de Lênin e Stálin definiu com clareza os caminhos a percorrer na luta dos trabalhadores pela libertação do jugo dos latifundiários e dos capitalistas, levou os operários e os camponeses à vitória sobre os exploradores, conduziu o povo soviético pela estrada ampla e clara do comunismo, tornou o país soviético poderoso e invencível, transformando-o no baluarte mundial da paz, da democracia e do socialismo.

O materialismo dialético é a única concepção científica do mundo e constitui o alicerce teórico do comunismo.

No trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin dá a segunda definição do materialismo dialético:

"O materialismo dialético é a concepção do mundo do Partido marxista-leninista. Chama-se materialismo dialético porque seu modo de abordar os fenômenos da natureza, seu método de estudar esses fenômenos e de conhecê-los é dialético, e sua interpretação, sua compreensão dos fenômenos da natureza, sua teoria é materialista."(2)

A criação, por Marx e Engels, do materialismo dialético foi um grande feito científico. Marx e Engels generalizaram e reelaboraram criticamente as conquistas do pensamento filosófico, generalizaram e reinterpretaram criadoramente as conquistas das ciências naturais e sociais, bem como toda a experiência da luta das massas trabalhadoras contra a exploração e a opressão.

Utilizando tudo aquilo que de melhor havia sido acumulado pela humanidade durante os milênios anteriores, Marx e Engels realizaram uma reviravolta revolucionária na filosofia, criaram uma filosofia qualitativamente nova.

A essência da reviravolta revolucionária realizada na filosofia pelos fundadores do marxismo reside em que a filosofia se tornou, pela primeira vez na história da humanidade, uma ciência que arma os homens com o conhecimento das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade e que serve de instrumento de luta pela vitória do comunismo. Os sistemas filosóficos do passado se caracterizavam pelo fato de que seus criadores, incapazes de elaborar um quadro único e harmonioso do mundo, amontoavam indistintamente os mais variados fatos, conclusões, hipóteses e simples fantasias, pretendiam conhecer em última instância a verdade absoluta e limitavam assim, na sua essência, o vivo processo de conhecimento, pelo homem, das leis da natureza e da sociedade.

A descoberta feita por Marx e Engels assinalou o fim da velha filosofia, que ainda não se podia chamar de científica, e o começo do período novo, científico, da história da filosofia. A filosofia marxista não é uma ciência acima das outras ciências.

O materialismo dialético é um instrumento de pesquisa, um método que penetra todas as ciências da natureza e da sociedade e, por sua vez, constantemente se enriquece com as novas conquistas das ciências e da atividade prática de construção do socialismo e do comunismo.

O marxismo marca também uma etapa qualitativamente nova na evolução do pensamento filosófico, no sentido de que somente com o marxismo a filosofia se tornou uma bandeira das massas.

J. V. Stálin ensina que o marxismo

"não representa simplesmente uma doutrina filosófica. É a doutrina das massas proletárias, sua bandeira; os proletários de todo o mundo a veneram e se 'inclinam' diante dela. Por conseguinte, Marx e Engels não são simplesmente fundadores de uma ‘escola' filosófica qualquer: são os chefes vivos do movimento proletário vivo, que cresce e se fortalece dia a dia”.(3)

Foi por isso que A. A. Jdânov, criticando, no debate sobre filosofia, a errônea interpretação da história da filosofia como simples substituição de uma escola filosófica por outra, observou que

"com o aparecimento do marxismo como concepção científica do mundo, própria do proletariado, termina o velho período da história da filosofia, o período em que a filosofia era uma ocupação de indivíduos isolados, um patrimônio de escolas filosóficas compostas de pequeno número de filósofos e seus discípulos, encerrados em si mesmos, desligados da vida e do povo, estranhos ao povo.

O marxismo não é uma escola filosófica desse tipo. Ao contrário, é a superação da velha filosofia, que era patrimônio de uns poucos eleitos — da aristocracia do espírito — e o começo de um período inteiramente novo na história da filosofia, em que essa se torna uma arma científica nas mãos das massas proletárias que lutam pela sua libertação do capitalismo?(4)

Ao ganhar as massas, as ideias da filosofia marxista se tornam uma força material. As doutrinas filosóficas anteriores ao marxismo não tinham e não podiam ter essa força.

A profunda diferença dos princípios entre o materialismo dialético como filosofia marxista e os sistemas filosóficos anteriores reside em que o materialismo dialético serve de poderoso instrumento de influência prática sobre o mundo, instrumento de conhecimento e de transformação do mundo.

Marx afirmou, já no começo de sua atividade revolucionária, que se nos velhos tempos tomavam os filósofos por tarefa apenas explicar o mundo desta ou daquela maneira, deve a filosofia nova, revolucionária, transformá-lo. Sob a bandeira do marxismo-leninismo, o Partido Comunista da União Soviética e o povo soviético modificaram radicalmente a fisionomia da velha Rússia. O materialismo dialético, criado por Marx e Engels e desenvolvido por Lênin e Stálin, é uma poderosa arma teórica nas mãos da classe operária que luta contra o capitalismo, pelo socialismo e pelo comunismo.

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Uma concepção do mundo é um sistema de ideias sobre o mundo em seu todo, são os princípios básicos segundo os quais os homens abordam e explicam a realidade que os cerca e pelos quais se orientam em sua atividade prática.

Por maiores que sejam as descobertas feitas nos diferentes setores da natureza, elas ainda não fornecem nem podem fornecer uma compreensão única da natureza, uma interpretação desta como um todo. Poderão, por exemplo, determinadas descobertas no domínio dos fenômenos químicos, determinadas leis químicas constituir uma concepção do mundo, fornecer uma compreensão da natureza em seu todo? Evidentemente não, porque, por mais importantes que sejam, só são válidas dentro de limites bastante restritos — o setor dos fenômenos químicos — e não revelam a essência de uma grande quantidade de outros fenômenos.

O mesmo se pode dizer de todas as demais ciências. Nenhuma das chamadas ciências concretas pode dar uma ideia total do mundo, pode dispensar a necessidade da elaboração de uma concepção total do mundo.

Houve na História muitas tentativas de criar um quadro completo do mundo por meio da extensão das leis de uma das ciências concretas a todos os fenômenos da natureza e da sociedade. Assim, no século XVIII, os filósofos não só estendiam as leis da mecânica a todos os fenômenos da natureza, como tentavam interpretar, por meio delas, os fenômenos sociais. Na segunda metade do século XIX, teve ampla divulgação na filosofia e sociologia burguesas a transplantação para a sociedade das leis do darwinismo, criando-se assim a base teórica para que a sociologia enveredasse por uma orientação tão reacionária como o darwinismo social.

Por vezes, verificava-se também o oposto, isto é, tentativas de estender as leis sociais aos fenômenos da natureza. A vida dos insetos, por exemplo, era comparada à atividade do Estado; afirmava-se que "também os animais trabalham”, etc.

As tentativas de aplicação das leis peculiares a certos fenômenos a outros são anticientíficas e reacionárias. Este gênero de teorias profundamente reacionárias encontra grande campo de desenvolvimento na época do imperialismo, quando os defensores do capitalismo em decomposição deturpam conscientemente a ciência, esforçando-se por justificar, custe o que custar, o capitalismo e as guerras de agressão e de rapina.

Para elaborar uma concepção do mundo completa e total, é necessário generalizar as leis da natureza e da sociedade, descobrir leis gerais inerentes a todos os fenômenos, objetos e processos da realidade — leis que possam servir de princípios diretores e de ponto de partida para abordar-se os mais diversos fenômenos da realidade. A descoberta de leis desse tipo, a elaboração do método de abordar a realidade e de interpretá-la é tarefa de uma ciência especial — a filosofia.

Intervindo no debate sobre filosofia, em 1947, A. A. Jdânov afirmou:

"A história cientifica da filosofia é, por conseguinte, a história do nascimento, origem e desenvolvimento da concepção materialista e científica do mundo e de suas leis."(5)

A história da origem e desenvolvimento da concepção científica do mundo não é um processo autônomo qualquer de desenvolvimento de ideias puras, que saiam umas das outras. Na realidade, as diversas descobertas no domínio da filosofia representam sempre a generalização — consciente ou inconsciente — dos conhecimentos reais sobre a natureza, o reflexo — consciente ou inconsciente — de determinadas necessidades do desenvolvimento da vida social.

Engels afirma que:

"não foi, de forma alguma, a força da ideia pura que impulsionou os filósofos, como eles imaginavam. Ao contrário, o que na realidade os impulsionou foi, principalmente, o progresso formidável e cada vez mais impetuoso das ciências naturais e da indústria."(6)

O processo de desenvolvimento do pensamento filosófico foi influenciado não só pela produção, não só pelo desenvolvimento das forças produtivas, como também pelas relações de produção, pelas relações sociais entre os homens. As ideias filosóficas, como superestrutura erguida sobre a infraestrutura real de tal ou qual sociedade, representam sempre e em toda parte o reflexo deturpado, na cabeça dos homens, das transformações ocorridas na esfera da produção e das conquistas das ciências naturais.

Essa deturpação, nas formações sociais em que existem classes antagônicas, é condicionada pelo caráter das relações sociais, pela posição de classe dos autores dos sistemas e doutrinas. A luta entre as classes, a luta entre as forças sociais progressistas e reacionárias encontra expressão na filosofia como luta entre correntes ideológicas opostas. Assim, posto que a sociedade se dividia em classes hostis e era impulsionada pela luta entre as mesmas, a história do pensamento filosófico se apresentava como história da luta entre ideias, luta que refletia a história da luta de classes.

O materialismo surgiu e se desenvolveu em áspera luta contra o idealismo e contra as diferentes correntes idealistas. Toda a história da filosofia é a história da luta entre os principais campos e partidos da filosofia, a qual reflete o conflito entre as classes sociais e os partidos que representam seus interesses.

Lênin afirmou:

"A filosofia moderna está tão impregnada do espírito de partido como a de dois mil anos atrás.”(7)

Assim, a história da filosofia é a história da luta entre dois campos opostos — o materialismo e o idealismo. Os materialistas visam a uma interpretação correta da realidade, partindo das próprias leis da realidade, da natureza. Ao contrário, os idealistas tentam explicar o mundo, a natureza, não a partir dela mesma, mas com a ajuda de forças ideais fictícias que, em última instância, são forças divinas.

O concepção idealista do mundo é tão anticientífica e reacionária como a religião, que tem raízes comuns com o idealismo. O idealismo considera o mundo como encarnação da "ideia absoluta”, da "razão universal”, da "consciência”. Do ponto de vista do idealismo, os fenômenos e objetos da natureza que nos cercam — todo o mundo em seu conjunto —não existem por si mesmos, mas são produto de forças do outro mundo pretensamente acima da natureza.

Os idealistas, particularmente os idealistas do tipo do filósofo alemão Hegel, falam muito na unidade do mundo e em que conseguiram elaborar uma interpretação única e completa da realidade. Mas isso são meras palavras. Na realidade, os idealistas não estão em condições de encontrar uma unidade real entre todos os fenômenos do mundo e falam de uma unidade fictícia, inteiramente fantástica.

Todo idealismo, quer forneça um quadro do mundo à base de forças do outro mundo, sobrenaturais, ou considere a consciência humana como o primário, leva inevitavelmente à religião, ao clericalismo. Não é casual, portanto, que o próprio idealista Hegel tenha falado da "razão universal” como ideia do "portador do mundo”, isto é, de Deus, e os machistas tenham, de fato, representado o papel de lacaios do obscurantismo clerical. Todos os idealistas apelam, de uma maneira ou de outra, para a religião. O idealismo se confunde intimamente com a religião. Nisto reside a essência reacionária, hostil à ciência, da concepção idealista do mundo.

As concepções abertamente religiosas, que pretendem igualmente assumir o papel de concepção do mundo, são também, por certo, idealistas. A concepção religiosa do mundo, que deturpa o quadro real do mundo, é totalmente reacionária. Tanto a religião como o idealismo servem à burguesia como instrumento de escravização espiritual dos trabalhadores.

A religião afirma que os diversos fenômenos da natureza e da sociedade são únicos porque todos eles são "criados por Deus” e devem a Deus toda a sua existência. Entretanto, essa "unidade” interpretada pelos teólogos é fictícia, fantástica. Como demonstra a ciência e a atividade prática diária dos homens, os objetos e fenômenos da realidade existem independentemente de forças do outro mundo, quaisquer que sejam. Ao afirmar que o mundo foi criado por uma força superior, a concepção religiosa do mundo não vê a ligação que realmente existe entre os diferentes fenômenos da natureza, que se condicionam mutuamente e dão origem um ao outro.

A concepção única do mundo deve ser buscada não na imposição artificial das leis inerentes a certos fenômenos, a fenômenos inteiramente diferentes, nem numa "unidade” imaginária, fantástica, divina ou em qualquer outra "unidade” sobrenatural, mas na unidade real entre as próprias coisas e fenômenos da natureza viva e inanimada.

A concepção materialista do mundo em sua forma moderna, superior — o materialismo dialético — é a única concepção científica do mundo. Lênin escreveu que a doutrina de Marx:

"é completa e harmoniosa, fornecendo aos homens uma concepção total do mundo, incompatível com qualquer superstição, com qualquer reação e com qualquer defesa da opressão burguesa.''(8)

Todavia, antes que se tornar-se possível a criação da concepção dialética e materialista do mundo, teve a ciência que percorrer um longo e tortuoso caminho de desenvolvimento e criar as premissas necessárias para essa grande descoberta.

O camarada Stálin afirma que:

"o materialismo dialético é um produto do desenvolvimento das ciências, inclusive da filosofia, durante o período precedente."(9)

Na base do desenvolvimento da vida social e, sobretudo, dos êxitos alcançados no processo de produção dos bens materiais, verificaram-se novas e novas conquistas das ciências naturais, descobertas no domínio da interpretação dialética e materialista da natureza e tentativas de sua generalização filosófica.

Todos os êxitos alcançados pelas ciências naturais e pela filosofia foram, em última análise, provocados pelas necessidades da produção. Engels afirma que a origem e o desenvolvimento das ciências foram condicionados desde o início pela produção, pelas necessidades práticas da sociedade. Foi justamente o desenvolvimento da produção social no período do regime escravista que deu nascimento, nos primeiros tempos, a uma ciência ainda rudimentar e não diversificada, da qual faziam parte também as ideias filosóficas.

As primeiras tentativas no sentido de elaborar uma concepção única do mundo tiveram lugar ainda na remota antiguidade — na China e Índia antigas e, posteriormente, na Grécia antiga. Os filósofos da Grécia antiga, materialistas e dialéticos, consideravam que o mundo não fora criado por nenhum Deus e que existe independentemente da consciência dos homens. O mais eminente deles, Heráclito, ensinava que o mundo é um todo único e que todos os fenômenos têm origem no fogo e voltam ao fogo.

Os pensadores da antiguidade tinham uma ideia tão geral da natureza que não viam as profundas diferenças existentes entre seus diversos fenômenos. Sua concepção da natureza ainda era ingênua. Entretanto, a ideia de que a natureza existe por si mesma e está em constante transformação era extremamente produtiva e progressista, não surgiu em vão e deixou profunda marca na história da ciência.

Os filósofos materialistas franceses do século XVIII — Diderot, Helvetius, Holbach, etc. — fizeram uma ousada tentativa de descrever um quadro único do mundo.

Sendo ideólogos da burguesia do período ascensional — em que ela era uma classe progressista que impulsionava o desenvolvimento das forças produtivas da sociedade — os materialistas franceses defendiam as ideias filosóficas avançadas, isto é, manifestavam-se firmemente contra a interpretação religiosa do mundo e tentavam explicar, em bases científicas, todos os fenômenos da natureza. O nível de desenvolvimento da ciência ainda não possibilitava, contudo, naquela época, descobrir a verdadeira interdependência entre os fenômenos da natureza, não possibilitava observar as complexas transições dialéticas de uns fenômenos a outros, o processo de transformação de uns fenômenos em outros. Por isso, os filósofos materialistas franceses do século XVIII, sendo em geral metafísicos, faziam apenas conjeturas isoladas a respeito do desenvolvimento. Além disso, os pensadores franceses, falseando suas próprias intenções de mostrar o mundo como um todo único, caíam, ao examinar os fenômenos sociais, em posições idealistas porque não sabiam descobrir as bases materiais da vida social. É claro que a concepção do mundo própria do materialismo francês não era e não podia ser consequente, estritamente científica e completa.

O desenvolvimento posterior das ciências naturais e da prática social deu novo impulso ao desenvolvimento do pensamento filosófico.

Como afirma Engels, em fins do século XVIII e começo do século XIX:

"a geologia, a embriologia, a fisiologia animal e vegetal e a química orgânica, se desenvolviam, e (...), na base dessas novas ciências, já por toda parte surgiam conjeturas geniais, que anunciavam uma avançada teoria da evolução (...)".(10)

Dessa forma, o desenvolvimento das ciências naturais, refletindo os êxitos no desenvolvimento da produção, apresentava sempre e em escala cada vez mais ampla o problema da interpretação dialética da natureza.

No primeiro terço do século XIX, Hegel tentou ligar todos os fenômenos do mundo à ideia da comunidade de seu desenvolvimento. Essa tentativa não foi coroada de êxito, porém. A filosofia idealista de Hegel foi uma reação contra o materialismo francês. Ideólogo da burguesia alemã atemorizada pelo movimento das classes não privilegiadas e exploradas da sociedade, Hegel foi um pensador conservador. E embora Hegel tivesse conhecimento das mais importantes conquistas das ciências de sua época e tivesse tirado da realidade objetiva a própria ideia do desenvolvimento universal, apresentava tudo isso, em virtude do caráter reacionário de suas ideias políticas, de forma deturpada.

Hegel afirmou que a unidade do mundo não está em sua materialidade, mas no fato de tudo ser produto do espírito. Declarou que todos os fenômenos da natureza são graus do desenvolvimento da "ideia absoluta”, por ele inventada. Assim, segundo seu sistema, o mundo tem princípio e fim, seu desenvolvimento "começa” a partir do momento em que o "espírito universal” inicia o processo de seu "autoconhecimento” e "termina” quando o mesmo "espírito universal”, representado pela filosofia do próprio Hegel, conclui seu "autoconhecimento”.

Por esse motivo, a dialética idealista de Hegel não era nem podia ser um método científico de conhecimento. A dialética de Hegel achava-se voltada para o passado e não para o futuro. Hegel negava o desenvolvimento da natureza e esforçava-se por acabar com o desenvolvimento da sociedade, eternizando na Alemanha o Estado dos junkers prussianos chefiado por Frederico Guilherme III.

Entretanto, a ideia do desenvolvimento, embora limitada pelo sistema metafísico e compreendida por Hegel de maneira deturpada, idealista, foi a "medula racional” de sua filosofia, sendo aproveitada pela filosofia em seu desenvolvimento posterior.

Feuerbach — outro filósofo alemão que representou grande papel na história do pensamento filosófico — tampouco criou filosofia que fosse uma concepção científica e completa do mundo. Assim como todos os materialistas anteriores a Marx, Feuerbach continuava a considerar de maneira idealista os fenômenos e leis da sociedade, para não se falar no caráter metafísico do seu materialismo.

Os filósofos russos Hertzen, Bielinski, Tchernitchévski e Dobrolíubov foram, entre os filósofos do passado, os que mais se aproximaram da concepção científica, dialética materialista do mundo. Os pensadores russos foram democratas revolucionários que conclamavam as massas populares à luta contra a ordem feudal. Ao mesmo tempo, os pensadores russos submetiam a uma severa crítica o capitalismo, com sua falsa democracia e sua falsa igualdade. Todos eles consideravam a filosofia como instrumento de luta contra a desigualdade social e nacional.

É justamente pelo seu democratismo revolucionário que se explica o fato de que houvessem submetido a uma aguda crítica o idealismo hegeliano com seu temor a tudo que é avançado e revolucionário. Como materialistas e dialéticos tinham uma ideia mais completa do movimento da própria natureza "desde a pedra ao homem”, ressaltavam o papel decisivo das massas populares no progresso social e expressavam pensamentos geniais sobre as causas internas do desenvolvimento da sociedade.

Aproximando-se mais que outros da concepção científica do mundo, os filósofos russos, no entanto, tal como todos os demais materialistas anteriores a Marx, não souberam interpretar de maneira materialista os fenômenos da sociedade — não podendo, assim, elaborar uma concepção científica do mundo acabada e completa.

Somente os fundadores do comunismo, Marx e Engels, criaram uma concepção do mundo realmente científica, que abrange todos os fenômenos da natureza e da sociedade. Essa concepção do mundo é o materialismo dialético, que só pôde ser criado num determinado nível do desenvolvimento das ciências naturais e das ciências da sociedade e, sobretudo, num determinado grau de maturidade da luta de classes do proletariado contra a burguesia.

Os êxitos alcançados pelas ciências naturais foram uma das premissas mais importantes para a criação do materialismo dialético.

A primeira metade do século XIX foi assinalada por grandes descobertas no domínio das ciências naturais. Entre essas descobertas é necessário mencionar, antes de mais nada, a lei da conservação e da transformação da energia.

A tese da unidade da natureza, da eternidade da matéria e do movimento, foi fundamentada ainda no século XVIII pelo fundador da ciência russa, M. V. Lomonóssov, que formulou então a lei da conservação da matéria e do movimento. Em 1748, em carta a Eiler, Lomonóssov escreveu que:

"todas as transformações se verificam na natureza de tal maneira que aquilo que é acrescentado a alguma coisa é retirado de outra, na mesma proporção. Assim, a quantidade de substância adicionada a um corpo é retirada de outro, a quantidade de horas que durmo é retirada da quantidade de horas em que permaneço acordado, etc. Essa lei da natureza é tão geral que se estende também às regras do movimento: um corpo, que impulsiona outro corpo e o põe em movimento, perde seu movimento na mesma proporção em que o transmite ao outro corpo.”(11)

Aprofundando as teses de Lomonóssov sobre a conservação da matéria e do movimento, o sábio russo G. G. Guess estabeleceu em 1840 a lei fundamental que liga os fenômenos térmicos aos químicos, dando assim a primeira formulação da lei da conservação e da transformação da energia em relação a esses processos concretos. No começo da década de 40, R. Mayer Joule, o sábio russo E. K. Lents e outros formularam a lei geral da conservação e da transformação da energia, consolidando a compreensão da unidade entre as diferentes formas do movimento da matéria.

O sábio russo P. F. Gorianínov, em 1827-1834, e a seguir o sábio tcheco Purkínie, em 1837, lançaram as bases da teoria celular da estrutura dos organismos vivos. Em 1838-1839, os sábios alemães Schleiden e Schwann desenvolveram a teoria celular, confirmando assim a unidade entre todos os fenômenos da natureza orgânica.

Em 1859, Darwin apresentou a teoria da evolução do mundo orgânico e, em 1869, o grande sábio russo D. I. Mendelêiev criou o sistema periódico dos elementos químicos. Engels considerava a metade do século XIX como um período do desenvolvimento das ciências naturais

"em que o caráter dialético dos processos da natureza impunha-se irresistivelmente, em que, por conseguinte, somente a dialética podia ajudar as ciências naturais a superarem as dificuldades da teoria.”(12)

Engels diz ainda:

"Liberta do misticismo, a dialética torna-se uma necessidade absoluta para as ciências naturais, que deixavam domínio em que bastavam as categorias fixas (...)(13)

Em suma, as ciências naturais exigem insistentemente a passagem da metafísica à dialética, do idealismo ao materialismo, que considera a natureza em seu desenvolvimento dialético.

O estudo dialético e materialista dos fenômenos da natureza e da sociedade significa analisá-los tais quais são, objetivamente.

Marx escreveu que o método dialético que criou

"não só é radicalmente diferente do hegeliano, como é mesmo seu oposto direto. Para Hegel, o processo do pensamento, que ele chega a transformar, sob o nome de Ideia, em sujeito independente, é o demiurgo (criador, edificador) do real, e este apenas a forma fenomenal da Ideia. Para mim, ao contrário, o ideal não é nada mais do que o reflexo do mundo material transplantado para a cabeça do homem e nela transformado."(14)

Hegel considerava a dialética como a ciência das leis do espírito absoluto, das leis da consciência. Para Marx, ela é antes de tudo a ciência das leis da própria natureza e da sociedade. A dialética não foi inventada por Marx ou criada do nada. Marx a descobriu nos próprios objetos e fenômenos da natureza e da sociedade.

Para a criação de uma concepção científica e completa do mundo não bastavam, porém, as ciências naturais. Era para isso necessária certa madureza das relações sociais, a fim de que os homens pudessem ver e compreender os móveis internos do desenvolvimento da sociedade.

Ao contrário de todas as formações sociais anteriores, as forças produtivas desenvolvem-se no capitalismo de maneira extremamente impetuosa e, pela primeira vez, torna-se possível observar que é justamente a produção que constitui a base do desenvolvimento social e que as mudanças ocorridas na produção acarretam transformações em todos os outros setores da vida social. Ao mesmo tempo, o capitalismo simplifica e põe a nu as contradições de classe. Marx e Engels afirmaram no Manifesto do Partido Comunista que a época burguesa substituiu a exploração velada por ilusões religiosas e políticas

"pela exploração aberta, direta, brutal e cínica."

Essa circunstância permitiu estabelecer teoricamente o fato de que

"as classes sociais que lutam entre si são, em cada momento, o produto das relações de produção e de troca; em uma palavra: das relações econômicas de sua época (. ..)”.(15)

A condição decisiva para a criação do materialismo dialético foi o aparecimento de uma nova classe, o proletariado, e sua atuação na arena histórica como força política independente.

As maiores manifestações revolucionárias do proletariado nesse período foram os levantes de Lyon em 1831 e 1834, na França; o movimento de massas dos operários na Inglaterra, que recebeu a denominação de movimento cartista e que alcançou seu ponto culminante em 1838-1842, e o levante dos tecelões da Silésia em 1844, na Alemanha. Esses acontecimentos históricos, afirma Engels, "provocaram uma reviravolta decisiva na compreensão da História." Assim, sem o aparecimento, na arena da História, da classe operária revolucionária, era impossível compreender cientificamente a história da sociedade e, sem essa compreensão, era impossível elaborar uma concepção científica do mundo.

Na sociedade capitalista, a classe operária é a única que, por força de sua posição social, está interessada na criação de uma concepção científica do mundo, de uma filosofia científica. À classe operária cabe o papel histórico de derrubar o capitalismo e acabar para sempre com todas as formas de escravidão econômica, política e espiritual, estabelecendo sua ditadura e utilizando-a como alavanca para a construção da sociedade comunista sem classes. A classe operária acha-se, por isso, vitalmente interessada na criação de uma filosofia que forneça um quadro real do mundo e que possibilite não só conhecer a história da natureza e da sociedade e as leis de seu desenvolvimento no presente, como também prever a marcha dos acontecimentos no futuro, dominar as leis da natureza e da sociedade e obrigá-las a servir aos interesses de toda a humanidade. Isto explica o fato de que as grandes conquistas das ciências na primeira metade do século XIX serviram justamente aos ideólogos do proletariado, como material para a elaboração de uma concepção científica do mundo. Por outro lado, em virtude de sua situação de classe, os ideólogos da burguesia não chegaram, nem podiam chegar, às conclusões necessárias que decorriam das descobertas científicas daquele período.

Somente na transformação total e radical das bases do regime capitalista e no movimento da sociedade para um regime social novo, mais elevado, é que o proletariado encontra o caminho para livrar-se da escravidão capitalista. É por isso que a doutrina dialética do desenvolvimento e da transformação, da vitória do novo sobre o velho, é organicamente assimilada pelo proletariado, como confirmação e esclarecimento de suas aspirações de classe. O proletariado revolucionário e sua vanguarda, o Partido Comunista, não veem nem podem ver outros meios de luta pelos seus objetivos fora da luta de classes contra as forças reacionárias, contra os exploradores. Para a classe operária a dialética materialista apresenta-se como a ciência que ilumina a luta revolucionária das massas; é na doutrina dialética de que o desenvolvimento é o resultado de contradições, da luta entre opostos, que o proletariado encontra, sua arma teórica natural na luta contra o capitalismo e pelo socialismo.

Marx afirma:

"Assim como a filosofia encontra no proletariado sua arma material, também o proletariado encontra na filosofia sua arma espiritual (.. .)(16)

Depois de terem reelaborado, de maneira crítica, tudo o que de avançado e progressista já havia sido alcançado na história do pensamento humano, Marx e Engels criaram, assim, uma completa concepção científica do mundo, colocando-a a serviço dos interesses do proletariado.

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O materialismo dialético, como concepção do mundo completa e científica, caracteriza-se pela unidade entre o método dialético e a teoria materialista, pela unidade entre o método e a teoria. O método dialético, criado por Marx e Engels e enriquecido e desenvolvido por Lênin e Stálin, é uma das mais grandiosas conquistas da ciência. V. I. Lênin e J. V. Stálin ensinam que a dialética é a alma do marxismo. O proletariado revolucionário e sua vanguarda — o Partido marxista — utilizam conscientemente as leis da dialética e veem nela a arma para lutar pela aceleração do progresso social.

O método do conhecimento não é algo artificialmente criado e desligado da realidade objetiva; é constituído por determinadas leis objetivas existentes na realidade, descobertas pelos homens nas próprias coisas e fenômenos, e que servem de meio para seu conhecimento.

Os idealistas assumem posição oposta. Os representantes de uma das escolas da moderna filosofia burguesa dos Estados Unidos, que se dizem instrumentalistas, interpretam o método e a teoria do conhecimento de maneira subjetiva, como muitos outros idealistas e reacionários. Segundo esses inimigos da ciência, não existem leis objetivas na natureza e na sociedade. Afirmam que o método do conhecimento é artificialmente criado pelos homens, que é um instrumento "conveniente" por meio do qual o homem dá forma aos fenômenos e ordena a natureza a seu modo.

Na realidade, porém, o método de conhecimento não pode ser criado artificialmente. Como já afirmamos, o método é constituído pelas próprias leis do desenvolvimento da natureza, descobertas, fielmente compreendidas e conscientemente empregadas pelos homens no processo do conhecimento.

Mas dentre as leis da natureza quais são as que constituem o método de seu conhecimento?

Conhecemos leis matemáticas, físicas, químicas, biológicas, fisiológicas e outras leis concretas, que atuam com relação a determinados fenômenos naturais. Podem algumas dessas leis constituir um método de conhecimento de todos os outros fenômenos? Não, não podem, porque cada uma delas atua apenas em seu setor de conhecimento. Do que se trata é de leis da natureza que, descobertas e fielmente compreendidas, tornem-se um método geral de conhecimento de todos os fenômenos da natureza.

A história da filosofia e das ciências em geral conhece uma grande quantidade de tentativas frustradas de criação de um método universal de conhecimento. As tentativas mais frequentes foram feitas no sentido de considerar as leis da matemática como método de pesquisa de todos os fenômenos da natureza. E até hoje muitos sábios da burguesia mantêm esse ponto de vista. A inconsistência de tais tentativas é, no entanto, evidente: nenhum dos setores especiais do conhecimento, por mais importante e pormenorizadamente desenvolvido que seja, pode, do ponto de vista dos princípios, pretender o papel de método universal.

Somente o marxismo-leninismo descobriu o único método científico e universal de conhecimento da natureza e da sociedade. Este método é constituído pelas leis gerais que atuam com relação a todos os objetos e fenômenos, sem exceção. São justamente essas leis que o marxismo-leninismo considera como método universal de conhecimento.

Na Dialética da Natureza, Engels afirma que

"a dialética é concebida como a ciência das leis mais gerais de todo movimento. Isso significa que suas leis devem ser válidas tanto para o movimento na natureza e na história humana como para o movimento do pensamento."(17)

Engels afirma ainda:

"É, portanto, da história da natureza e da sociedade humana que são abstraídas as leis da dialética. Elas nada mais são, precisamente, que as leis mais gerais dessas duas fases do desenvolvimento histórico, bem como do próprio pensamento.”(18)

Assim, as leis da dialética, como as mais gerais e universais, encontradas sempre e em toda parte, constituem o método de conhecimento dos fenômenos da natureza e da sociedade. A ciência afirma, assim, que entre todos os fenômenos da natureza viva e inanimada existe certa interdependência, que eles não estão isolados uns dos outros. Daí se conclui, portanto, que os fenômenos da natureza animada e inanimada não devem ser estudados isoladamente uns dos outros, mas em sua real ligação mútua.

A ciência afirma que em todos os fenômenos da natureza animada e inanimada têm lugar processos de transformação, renovação e desenvolvimento. O desenvolvimento é uma lei de todos os objetos e fenômenos da natureza animada e inanimada. Trata-se, por conseguinte, de lei geral, universal, que se manifesta sempre em toda parte. Bastou descobrir-se uma vez essa lei geral das próprias coisas e fenômenos, e compreendê-la corretamente — coisa que Marx e Engels foram os primeiros a fazer na ciência — para que se tornasse possível empregar essa lei objetiva da natureza como método de pesquisa e orientar-se conscientemente por ela no estudo de todos os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento.

O mesmo se deve dizer da lei dialética da unidade e luta entre os contrários. O marxismo demonstrou, sob todos os ângulos, que a luta de contrários é a origem interna do desenvolvimento de todos os fenômenos da natureza animada e inanimada. Essa lei da dialética também é geral e universal. É por isso que o conhecimento dessa lei possibilita caminhar com segurança na pesquisa de fenômenos novos, ainda desconhecidos para nós, ensinando-nos a procurar a origem do desenvolvimento dos mesmos não em forças externas, de um outro mundo, mas no caráter internamente contraditório dos próprios fenômenos.

Conclui-se, assim, que graças ao conhecimento de leis gerais já descobertas e corretamente compreendidas — as leis da dialética — a pesquisa das leis concretas tornou-se consideravelmente mais fácil; os homens as procuram com segurança e as encontram. Nisto consiste a significação orientadora e metodológica do método dialético, o seu papel como poderoso e fiel instrumento para o conhecimento da verdade.

Na dialética materialista, tem o Partido marxista não só um método para a explicação dos fenômenos da vida social, como também os princípios que o orientam na procura dos caminhos e meios para a transformação desses fenômenos.

O método dialético é um método de ação revolucionária. Orientando-se pelo método dialético marxista, o Partido bolchevique baseia sua política, sua estratégia e sua tática numa acertada análise científica do desenvolvimento econômico da sociedade, na consideração das condições históricas concretas, e parte da correlação das forças de classe e das tarefas reais que se apresentam à classe operária numa determinada situação.

Um dos mais importantes princípios do materialismo dialético é a tese de que todos os fenômenos da natureza e da sociedade se desenvolvem de tal maneira que, em determinada etapa de seu desenvolvimento — quando o período do desenvolvimento gradual e evolutivo é substituído pelo período do desenvolvimento sob a forma de saltos, revolucionário — passam de um estado qualitativo a outro.

Referindo-se ao desenvolvimento da sociedade, o camarada Stálin escreveu em seu trabalho Anarquismo ou Socialismo?:

"(...) o método dialético afirma que o movimento tem dupla forma: uma evolutiva e outra revolucionária.

O movimento é evolutivo, quando os elementos progressistas continuam espontaneamente seu trabalho diário e introduzem, na velha ordem de coisas, transformações pequenas, quantitativas.

O movimento é revolucionário, quando os mesmos elementos se unem, se compenetram de uma só ideia e se lançam contra o campo inimigo, para extirpar a velha ordem de coisas e introduzir na vida transformações qualitativas, instaurar uma nova ordem de coisas.

A evolução prepara a revolução e cria o terreno para ela; e a revolução coroa a evolução e contribui para prosseguir a obra dessa."(19)

Essas teses da dialética materialista dão uma ideia científica das leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, armam a classe operária e todos os trabalhadores com um método acertado de conhecimento e de transformação revolucionária do mundo.

A dialética materialista fundamenta teoricamente a necessidade da luta pela transformação revolucionária da sociedade exploradora.

Se a passagem das transformações quantitativas, graduais e lentas, às bruscas mudanças qualitativas é uma lei do desenvolvimento, torna-se então claro — afirma o camarada Stálin — que as reviravoltas revolucionárias empreendidas pelas classes oprimidas, são fenômeno perfeitamente natural e inevitável. Não é a transformação gradual e lenta das condições de vida da sociedade capitalista por meio de reformas, mas a transformação qualitativa do regime capitalista por meio da revolução e a criação de novos fundamentos para a vida social, que decorre como conclusão prática dos princípios da dialética materialista.

Essa conclusão desmascara os social-democratas de direita, que pregam ideias reacionárias, segundo as quais o capitalismo se transforma em socialismo de maneira espontânea, sem saltos e comoções. Inimigos jurados dos trabalhadores, servis em face do imperialismo norte-americano, os socialistas de direita tudo fazem para demonstrar a "inconsistência" da dialética marxista.

A vida demonstra o contrário, porém. As crises econômicas que periodicamente abalam os países capitalistas, as guerras, as revoluções que amadurecem cada vez mais completamente nos diferentes países e que já golpearam mortalmente o capitalismo em vários países da Europa e da Ásia — atestam a irrefutável verdade da dialética marxista e a derrota, completa e inevitável, dos seus inimigos.

No trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, J. V. Stálin afirma a inevitabilidade da explosão das velhas ordens sociais nas sociedades divididas em classes hostis. Essa tese de J. V. Stálin explica as revoluções sociais realizadas pelos oprimidos durante séculos e vibra novo golpe contra toda espécie de deturpadores da ciência, que defendem o capitalismo em decomposição.

A dialética marxista ensina que numa sociedade antagônica o novo nasce em consequência da explosão do velho. Nas condições do socialismo, o desenvolvimento se processa de maneira diferente.

Em seu genial trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin, desenvolvendo a filosofia marxista, criticou profundamente aqueles que não compreendem a especificidade com que se manifesta, na realidade soviética, a lei da passagem de uma qualidade a outra. O camarada Stálin critica os talmudistas que se deixam empolgar pelas "explosões” e afirma que, na sociedade socialista, a passagem de uma velha qualidade a uma qualidade nova se realiza sem explosões, de forma gradual, porque nessa sociedade não há classes antagônicas. No socialismo, a substituição do velho pelo novo se realiza gradualmente porque o desenvolvimento da sociedade se verifica na base dos princípios do socialismo, através do ulterior desenvolvimento dos mesmos.

Essas indicações do camarada Stálin têm imensa significação teórica e prática. Vibram golpe esmagador nos deturpadores do marxismo-leninismo, concretizam e desenvolvem importantíssimas teses do materialismo dialético aplicado às condições da sociedade socialista e servem de guia para a atividade prática de construção do comunismo.

O marxismo considera o desenvolvimento da natureza e da sociedade como processo de autodesenvolvimento, porque a natureza e a sociedade se transformam segundo leis internas, que lhes são inerentes. As causas fundamentais de todo desenvolvimento estão no caráter contraditório de todos os fenômenos da natureza e da sociedade; a todos eles é peculiar a luta do novo contra o velho, do que nasce contra o que morre.

Do ponto de vista da dialética marxista, as contradições que existem no mundo material são infinitamente variadas. V. I. Lênin pôs em destaque esta tese, extremamente importante. V. I. Lênin afirmou, em carta a Máximo Gorki:

"(...) a vida se processa através de contradições e as contradições da vida são muito mais ricas, diversificadas e profundas do que parece, à primeira vista, à inteligência humana."(20)

Na sociedade dividida em classes antagônicas, o caráter contraditório do desenvolvimento se expressa na luta entre as classes. A história da sociedade exploradora é, por isso, a história da luta de classes.

Se a luta entre as forças opostas, a luta entre classes antagônicas faz avançar o desenvolvimento da sociedade exploradora, daí decorre a seguinte conclusão: não devemos dissimular as contradições da sociedade capitalista, mas pô-las a nu, não devemos refrear a luta de classes, mas levá-la até o fim.

Foi sempre em completo acordo com essa lei da dialética materialista que o Partido bolchevique elaborou sua tática e procurou os caminhos e métodos de luta por um novo regime social. O Partido bolchevique mobilizou os trabalhadores da Rússia para a luta decisiva contra os capitalistas e os latifundiários, pela vitoriosa realização da Grande Revolução Socialista de Outubro, pela liquidação dos elementos capitalistas da cidade e do campo e pela construção da sociedade socialista e, hoje, conduz com firmeza nosso povo para o comunismo. Essas históricas vitórias, conquistadas sob a bandeira de Lênin e Stálin, comprovam a grande força organizadora, mobilizadora e transformadora da ciência marxista-leninista.

Em nossa época, milhões de trabalhadores dos países de democracia popular, dirigidos pelos Partidos Comunistas e Operários, criam com êxito as bases do socialismo. O materialismo dialético e histórico — a teoria marxista-leninista — qual poderoso projetor, ilumina-lhes o caminho do progresso.

As contradições são a origem de todo desenvolvimento. Também no socialismo existem contradições. O esclarecimento de suas particularidades nas condições do socialismo adquire significação extraordinariamente grande para a atividade prática do Partido Comunista e do povo soviético.

Na sociedade socialista, onde não há classes hostis, as contradições não têm caráter antagônico. Todavia, em nosso país também existem o novo e o velho, existem contrários e há luta entre os mesmos. As contradições e a luta entre o novo e o velho existem em novas condições, porém. O desenvolvimento da sociedade se realiza, no socialismo, à base de novas forças motrizes: a unidade moral e política da sociedade soviética, a amizade entre os povos e o patriotismo soviético. A luta entre o novo e o velho na vida econômica, política e espiritual da sociedade soviética não exige a ruptura das bases da sociedade, mas se realiza no quadro de um maior fortalecimento dos princípios do socialismo, no quadro de uma maior coesão dos operários, dos camponeses e da intelectualidade soviética em torno das tarefas da construção do comunismo, em torno do Partido Comunista. A particularidade da luta entre o novo e o velho e dos conflitos entre os mesmos, na sociedade socialista, reside em que a maioria absoluta do povo — chefiada pelo Partido Comunista — se coloca a favor do novo.

As contradições entre o novo e o velho no desenvolvimento do socialismo são reveladas e resolvidas através do desenvolvimento da crítica e da autocrítica. A crítica e a autocrítica são arma inseparável e de ação permanente do bolchevismo. A crítica e a autocrítica são a chave por meio da qual os homens soviéticos descobrem e extirpam as deficiências e fazem a sociedade avançar.

Tudo isso comprova que a dialética marxista é não só o único método científico de conhecimento, mas também um método de ação revolucionária. O materialismo dialético não só possibilita compreender-se cientificamente o passado e o presente, como representa também inabalável base teórica de previsão e compreensão científicas dos caminhos e métodos de luta pelo futuro.

A grande força transformadora da concepção dialético-materialista do mundo reside em que, sendo a única científica, fornece os princípios para a compreensão do mundo em seu todo e, ao mesmo tempo, indica os caminhos e meios para transformá-lo. J. V. Stálin afirma que o marxismo é uma concepção completa do mundo, um sistema filosófico

"do qual decorre, logicamente, o socialismo proletário de Marx.”(21)

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O materialismo dialético é a única interpretação científica dos fenômenos da natureza e da sociedade, instrumento de conhecimento e de transformação do mundo.

A teoria materialista, do mesmo modo que o método dialético, não é criada, inventada, artificialmente. Interpretar materialisticamente os fenômenos da natureza animada e inanimada significa concebê-los tal qual são, sem quaisquer acréscimos estranhos.

A teoria materialista marxista, o materialismo filosófico marxista, parte da consideração de que o mundo é material, de que os vários fenômenos no mundo são diferentes aspectos da matéria em movimento, de que o mundo se desenvolve segundo as leis da matéria e não necessita de nenhum Deus, de nenhum espírito, nem de quaisquer outras ficções idealistas.

A teoria materialista parte, além disso, da consideração de que os fenômenos da natureza e as condições da vida material da sociedade são o primário, enquanto a consciência dos homens, toda a esfera da vida espiritual da sociedade, é secundária, derivada.

Considerando a consciência como secundária, como reflexo das leis da natureza e da sociedade, a teoria materialista interpreta da única maneira justa a origem das ideias, concepções e instituições sociais. Assim, a teoria materialista revela o verdadeiro papel das ideias e concepções dos homens, na vida social.

Compreendendo as ideias e as concepções dos homens como reflexo de leis da natureza e da sociedade, — leis que existem objetivamente — a teoria marxista afirma a cognoscibilidade do mundo e de suas leis.

Essas teses da teoria materialista constituem os mais importantes princípios da concepção do mundo. Têm imensa significação para a compreensão de todos os fenômenos da natureza animada e inanimada.

A teoria materialista não só permite interpretar-se cientificamente todos os fenômenos da natureza e da sociedade, como serve também de poderoso instrumento para a transformação da realidade.

Estendendo as teses do materialismo dialético à sociedade, o marxismo foi o primeiro a ver que a sociedade não é um amontoado de casualidades, mas a realização de leis determinadas, peculiares ao desenvolvimento social. Isso permitiu que as forças sociais avançadas e o Partido Comunista baseassem sua atividade não nas exigências da "razão”, da "moral universal” e de outros princípios elaborados por idealistas de diferentes tipos, mas, como afirma o camarada J. V. Stálin:

"(...) nas leis do desenvolvimento da sociedade, no estudo dessas leis.”(22)

Obrigando a estudar atentamente as leis objetivas do desenvolvimento social, o marxismo-leninismo atribui, ao mesmo tempo, imenso papel à atividade revolucionária e transformadora dos homens, à atividade das classes e dos partidos avançados.

O marxismo-leninismo ensina que são os homens que sempre criam a História; que na história da sociedade o desenvolvimento não se realiza por si mesmo, automaticamente, mas como resultado da atividade dos homens, através da luta e do trabalho de milhões. Lênin e Stálin ensinam que a queda do capitalismo não sobrevêm automaticamente, mas como resultado de uma luta tenaz contra ele, luta empreendida por todos os trabalhadores sob a direção da classe operária e de seu partido revolucionário.

J. V. Stálin afirma:

"Alguns camaradas pensam que logo que houver uma crise revolucionária a burguesia se verá inevitavelmente num impasse; que seu fim, por conseguinte, já está predeterminado; que a vitória da revolução já se acha, assim, assegurada, e que só lhes resta aguardar a queda da burguesia e redigir resoluções vitoriosas. £ um profundo erro. A vitória da revolução nunca virá por si mesma. E preciso prepará-la e conquistá-la.”(23)

Pondo em relevo o papel decisivo da produção material no desenvolvimento da sociedade, o materialismo histórico de forma alguma nega a significação das ideias. Pelo contrário, o materialismo dialético, em oposição ao materialismo vulgar, frisa o papel ativo das ideias na vida da sociedade. Em seu genial trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o camarada Stálin aponta o imenso papel das ideias progressistas e sua significação mobilizadora, organizadora e transformadora. No trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, o camarada Stálin demonstra o grande papel ativo que tem no desenvolvimento da sociedade a superestrutura social, que se ergue sobre a infraestrutura econômica, isto é, as ideias e instituições sociais.

No socialismo, é particularmente grande o papel da atividade dinâmica dos homens, o papel das ideias e das instituições sociais avançadas.

A atividade sempre crescente dos homens soviéticos e o trabalho organizador do Partido bolchevique e do Estado soviético comprovam a grande significação das ideias e instituições avançadas nas condições da realidade soviética. A função econômica, organizadora, cultural e educativa do Estado soviético, por exemplo, totalmente desconhecida no Estado burguês, tem grande significação para acelerar o movimento da sociedade soviética no sentido do comunismo. O Estado soviético planifica o desenvolvimento de todos os setores da economia e da cultura e mobiliza os homens soviéticos para a luta por novos êxitos no movimento contínuo para o comunismo.

A tese do materialismo histórico, segundo a qual aumenta de maneira extraordinária, no socialismo, o papel da ação consciente dos homens, é cabalmente confirmada pela atividade dirigente e orientadora do Partido de Lênin e Stálin. O Partido bolchevique, armado com a teoria mais avançada — o marxismo-leninismo — determina, na base do conhecimento das leis objetivas do desenvolvimento histórico, a direção do avanço da sociedade soviética. Estudando as leis do desenvolvimento da sociedade, generalizando a experiência do trabalho e da luta das massas, o Partido fixa tarefas concretas para o povo soviético, em cada etapa da construção do comunismo. Ao Partido de Lênin e Stálin pertence o papel decisivo na organização e mobilização das massas de nossa Pátria, na luta por maiores êxitos na construção comunista.

Sendo a única concepção científica do mundo, o materialismo dialético serve e não pode deixar de servir à classe progressista e consequentemente revolucionária da sociedade moderna — o proletariado e seu Partido marxista.

Nisto reside a essência do caráter de classe e de partido do materialismo dialético. O caráter de classe e de partido do materialismo dialético consiste justamente em que o portador dessa ciência, em nossa época, é a classe operária, seu Partido marxista.

As leis da dialética são tão objetivas e exatas como o são as leis da química, da física e de outras ciências. Todavia, se as leis da química, da física e de outras ciências podem ser utilizadas de maneira idêntica por todas as classes, se podem servir de maneira idêntica a todas as classes, já as leis da dialética não podem ser utilizadas por todas as classes, mas apenas por uma classe revolucionária — o proletariado e seu Partido. Por sua própria natureza, o materialismo dialético é a concepção do mundo do proletariado, por ser esta a única classe consequentemente revolucionária.

O espírito de partido do materialismo dialético consiste também em que é um método de conhecimento e de transformação revolucionária da sociedade, baseado nos princípios do socialismo e do comunismo. Por força das leis objetivas do desenvolvimento social, o socialismo substitui o capitalismo. Todavia, de todas as classes da sociedade moderna, somente uma, a classe operária, utiliza conscientemente essas leis, transformando a sociedade na base dos princípios do socialismo e do comunismo.

A essência do princípio de espírito marxista de partido reside, por conseguinte, em que é impossível, na sociedade moderna, ter uma concepção do mundo realmente científica sem partilhar a concepção do mundo própria ao proletariado e a seu Partido marxista.

V. I. Lênin ensina que

"o materialismo inclui, por assim dizer, o espírito de partido, obrigando-nos, em qualquer análise dos acontecimentos, a nos colocarmos, direta e francamente, no ponto de vista de um determinado grupo social"(24), no ponto de vista da classe operária.

Na filosofia, o espírito de partido reside em não oscilar entre as correntes do idealismo e do materialismo, da metafísica e da dialética, mas manter, de maneira franca e aberta, o ponto de vista de determinada corrente. O proletariado revolucionário e o Partido marxista assumem, de maneira franca e aberta, as posições do materialismo dialético, defendendo-o e desenvolvendo-o com firmeza.

Lênin escreveu:

"A genialidade de Marx e de Engels reside justamente em que, durante um período muito prolongado (quase meio século), se empenharam em desenvolver o materialismo, em fazer avançar uma tendência fundamental da filosofia, em realizar essa obra consequentemente, sem marcar passo nem repisar as questões gnosiológicas já resolvidas, e em demonstrar como aplicar esse materialismo às ciências sociais, varrendo implacavelmente, como lixo, os absurdos, o galimatias pretensioso e enfática, as inúmeras tentativas de ‘descobrir’ uma 'nova' tendência na filosofia (...)"(25)

A filosofia marxista é irreconciliavelmente hostil à contemplação, ao objetivismo burguês e ao apoliticismo. O espírito de partido da filosofia marxista exige uma luta firme e apaixonada contra todos os inimigos do materialismo, qualquer que seja a bandeira sob a qual se coloquem.

Em nossa época, o espírito de partido da filosofia marxista nos obriga a lutar diariamente contra todo gênero de novas correntes e tendências em moda, que se multiplicam com particular rapidez nos Estados Unidos da América e na Inglaterra e que semeiam o idealismo extremado, a metafísica e o obscurantismo; obriga-nos a desmascarar o caráter servil da atividade dos filósofos da burguesia, que deturpam a ciência em proveito dos imperialistas, justificam o jugo social e nacional e as guerras de rapina.

O traço característico do espírito de partido do materialismo dialético reside também em que coincide com a objetividade científica, porquanto os interesses de classe do proletariado não diferem da linha geral de desenvolvimento da História, mas, ao contrário, concordam organicamente com ela.

Todo o desenvolvimento da sociedade capitalista, apesar dos interesses e da vontade de suas classes dominantes, prepara as condições para o socialismo, torna sua vitória inevitável, e a atividade do proletariado, sua luta pelo socialismo, concorda exatamente com essa lei objetiva do desenvolvimento social.

A revolução socialista, cuja realização é a missão histórica do proletariado, acaba para sempre com a exploração, abre amplo caminho ao comunismo e corresponde, assim, aos interesses fundamentais de toda a humanidade trabalhadora.

É por isso que o ponto de vista de classe do proletariado, seu espírito de partido, expressando com acerto os interesses do proletariado e as necessidades do desenvolvimento de toda a sociedade humana, concorda plenamente com a verdade objetiva. O princípio do espírito marxista de partido exige uma luta decidida pela verdade objetiva na ciência, a qual não só não contradiz os interesses do proletariado, do partido marxista, como também é condição da luta vitoriosa contra aquilo que se tornou obsoleto na ciência e na vida social.

Em suma, o espírito de partido da filosofia marxista é estranho à estreiteza de classe e ao subjetivismo que são inerentes ao espírito de partido da burguesia. E isso se compreende. Mesmo na época em que a burguesia era uma classe progressista, seus interesses, como classe exploradora, limitavam o campo de visão de seus ideólogos, levavam-nos a entrar em contradição com a realidade, levavam-nos ao subjetivismo. Na época do imperialismo — que é a última etapa na vida do capitalismo, a etapa de seu colapso histórico — os interesses de classe da burguesia estão em contradição com o progresso da humanidade, são irreconciliavelmente hostis a tudo que é avançado e progressista na vida dos povos. É por isso que o ponto de vista de classe da burguesia, na filosofia e na ciência, não coincide com a verdade objetiva, a deturpa e a nega. É justamente no interesse do espírito de partido da burguesia que os diversos lacaios do imperialismo — sábios, filósofos e jornalistas burgueses — deturpam a verdade e mentem, procurando demonstrar a eternidade do capitalismo. Nessa hostilidade da sociedade burguesa à verdade objetiva, científica, manifesta-se apenas a condenação do capitalismo e seu inevitável colapso.

★ ★ ★

A grande e todo-poderosa força do materialismo dialético reside em que nos fornece o único quadro realmente justo do desenvolvimento da natureza e da sociedade.

Uma das condições mais importantes e decisivas da fidelidade das conclusões e das teses do materialismo dialético é seu aperfeiçoamento incessante, com a assimilação das novas conquistas das ciências naturais e sociais e a generalização dos resultados da luta dos trabalhadores contra o capitalismo, pelo socialismo e pelo comunismo.

O materialismo dialético não é uma coletânea de regras e de teses eternas e imutáveis. O materialismo dialético desenvolve-se e enriquece-se constantemente. E inimigo da falta de espírito crítico, do dogmatismo e do talmudismo.

A própria natureza do materialismo dialético exige essa atitude criadora em relação à ciência marxista.

Se a dialética compreende as leis mais gerais do desenvolvimento da natureza e da sociedade, daí se conclui que as leis da dialética nunca e em parte alguma se manifestam de maneira idêntica. Sendo as mais gerais e eternas, as leis da dialética manifestam-se sempre neste ou naquele setor concreto e se manifestam sempre sob forma concreta e histórica.

Assim, a tese da dialética de que tudo na natureza se encontra em estado de transformação e desenvolvimento é universal e eterna porque eterna é a transformação e o desenvolvimento da natureza, da matéria. Entretanto, esse desenvolvimento e transformação sempre foi diferente quanto a seu conteúdo: num passado longínquo, tinham lugar em nosso planeta determinadas transformações e processos de desenvolvimento; com os primeiros organismos vivos, surgiram novos processos de transformação e desenvolvimento, e o advento da sociedade humana significou o aparecimento de outros processos de transformação e desenvolvimento, desconhecidos até então. E em cada momento dado da vida da natureza, as leis eternas da dialética se realizam de maneira diferente: o processo de movimento e de transformação manifesta-se simultaneamente como movimento dos planetas em torno do Sol, como oxidação dos metais, formação de novas espécies biológicas, criação pelos homens de um novo regime social, etc., etc.

Isso comprova que não se pode considerar metafisicamente a universalidade e a eternidade das leis da dialética: as leis da dialética são universais, mas se manifestam sempre de maneira nova. As leis da dialética são eternas em sua universalidade e históricas em sua manifestação concreta.

O marxismo-leninismo não só descobriu leis gerais nas próprias coisas, não só soube destacá-las das leis concretas e particulares, como também demonstrou como se manifestam na natureza essas leis gerais.

O marxismo afirma que as leis da dialética, como leis universais, não se manifestam nas coisas ao lado das leis concretas, nem tampouco acima delas, mas através das próprias leis concretas. V. I. Lênin afirmou:

"O geral só existe no particular, através do particular."(26)

No domínio da natureza estudado pela física, por exemplo, as leis da dialética não se manifestam acima e ao lado das leis físicas, mas nelas próprias. O mesmo acontece com todos os demais fenômenos da natureza e da sociedade, nos quais as leis universais — as leis da dialética — só se manifestam através das leis concretas, peculiares aos fenômenos em causa. É por isso absurdo procurar a transformação e o desenvolvimento como tais, deixando de lado os processos concretos de transformação e desenvolvimento.

Numa palavra, por sua própria natureza, a dialética exige uma atitude criadora. Não se trata de "adaptar” os fatos a tal ou qual tese da dialética, mas, pelo contrário, de encontrar a dialética nos próprios fatos, nos quais ela se manifesta sempre de maneira peculiar.

Em seu notável trabalho O Capital, K. Marx demonstrou como se manifestam as leis da dialética materialista num período historicamente concreto do desenvolvimento social — nas condições da sociedade capitalista. Ao mesmo tempo que os sociólogos metafísicos da burguesia procuravam os princípios eternos da moral e do direito, as leis eternas do desenvolvimento da sociedade, Marx estudava dialeticamente, de maneira concreta, uma determinada sociedade a sociedade capitalista — e assim indicou, pela primeira vez e da única maneira justa, as leis reais do desenvolvimento social.

Em seu trabalho Dialética da Natureza, Engels demonstra a maneira peculiar pela qual se manifestam as leis da dialética nos fenômenos da natureza orgânica e inorgânica.

É precisamente essa particularidade da dialética, o de se manifestar sempre de maneira historicamente concreta, que condiciona o fato de que os princípios do marxismo também nunca e em parte alguma podem ser aplicados segundo um padrão, mas, ao contrário, só são e só podem ser aplicados tendo-se em conta as particularidades do desenvolvimento econômico, político e cultural de determinado país, tendo-se em conta as particularidades do momento, na vida interna e internacional.

Lênin afirma que a teoria de Marx

"(...) fornece apenas as teses orientadoras gerais que se realizam de maneira particular na Inglaterra, diferentemente do que na França, na França de maneira diferente do que na Alemanha, na Alemanha de maneira diferente do que na Rússia."(27)

A realidade, a vida social em particular, está em constante modificação e desenvolvimento. Em consequência precisamente desse enriquecimento constante das próprias leis, as conclusões e teses da ciência não podem ser invariáveis, mas, ao contrário, sempre se aperfeiçoam e se modificam.

J. V. Stálin afirma:

"Os dogmáticos e os talmudistas consideram o marxismo, as diferentes conclusões e fórmulas do marxismo, como uma coletânea de dogmas que 'nunca’ se modificam, apesar de se modificarem as condições do desenvolvimento da sociedade. Pensam que, se aprenderem de cor essas conclusões e fórmulas e começarem a citá-las a torto e a direito, estarão em condições de resolver qualquer problema, convictos de que as conclusões e fórmulas decoradas lhes servirão para todas as épocas e países, para todas as circunstâncias da vida. Entretanto, só podem pensar assim aqueles que veem a letra do marxismo, mas não veem sua essência, que decoram os textos das conclusões e fórmulas do marxismo, mas não compreendem seu conteúdo (...). O marxismo, como ciência — continua J. V. Stálinnão pode ficar parado no mesmo lugar: desenvolve-se e se aperfeiçoa. Em seu desenvolvimento, o marxismo não pode deixar de enriquecer-se com a nova experiência e com os novos conhecimentos; por conseguinte, algumas de suas fórmulas e conclusões não podem deixar de se modificar com o tempo, não podem deixar de ser substituídas por novas fórmulas e conclusões, que correspondem às novas tarefas históricas. O marxismo não admite conclusões e fórmulas imutáveis, obrigatórias para todas as épocas e períodos. O marxismo é inimigo de todo dogmatismo.”(28)

No período de desenvolvimento da sociedade em que havia, por toda parte, a exploração do homem pelo homem, a ciência conhecia a luta do novo contra o velho apenas sob a forma da luta de classes; quando, porém, surgiu a sociedade socialista, que não possui classes antagônicas, a doutrina dialética sobre a luta entre os contrários se enriqueceu: a ciência sabe hoje que, além dos choques entre as classes, a luta do novo contra o velho pode expressar-se também na forma da crítica e autocrítica.

Generalizando a experiência da vida da sociedade soviética, J. V. Stálin revelou a imensa significação da crítica e autocrítica como nova lei dialética, como forma particular de luta do novo contra o velho nas condições do regime socialista. O materialismo dialético foi, assim, enriquecido e desenvolvido em sua aplicação aos novos fenômenos da vida social.

Não só esse exemplo, mas também todos os fenômenos mais importantes da época do imperialismo, da época da construção do socialismo e do comunismo na URSS comprovam que a própria vida exige um constante enriquecimento das teses do materialismo dialético.

Os continuadores da doutrina e de toda a obra de Marx e Engels, Lênin e Stálin, desenvolveram o materialismo dialético, aplicando-o a novas condições históricas — às condições da época do imperialismo e da revolução proletária, da época da construção do socialismo na URSS Os fundadores e chefes do Partido bolchevique e criadores do primeiro Estado soviético do mundo enriqueceram o materialismo dialético com a nova experiência da luta revolucionária do proletariado, com novas teses e conclusões teóricas, elevando a filosofia marxista a um grau novo e superior.

Lênin e Stálin elevaram o materialismo dialético a um grau superior, generalizando não só a experiência da vida social, como também as conquistas das ciências naturais.

Em seu notável trabalho Materialismo e Empirocriticismo, V. I. Lênin analisou as mais importantes descobertas das ciências naturais durante o período decorrido após a morte de Engels.

O livro de Lênin, escreve J. V. Stálin, é

"(...) a generalização materialista de tudo que de importante e essencial foi adquirido pela ciência, pelas ciências naturais em particular, durante todo o período histórico transcorrido desde a morte de Engels até o aparecimento do livro de Lênin Materialismo e Empiriocriticismo."(29)

Os trabalhos Anarquismo ou Socialismo?, Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, O Marxismo e os Problemas de Linguística e todas as demais obras de J. V. Stálin são notáveis modelos de marxismo criador.

As leis e categorias da dialética materialista — como a dependência mútua entre os objetos e fenômenos, a invencibilidade do novo, a possibilidade e a realidade, as formas de transição de um estado qualitativo a outro, a lei da luta entre os contrários, etc. — são enriquecidas e desenvolvidas por J. V. Stálin em sua aplicação às últimas conquistas de todos os setores do conhecimento.

Em seu trabalho Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, J. V. Stálin, pela primeira vez na literatura marxista, fez uma exposição harmoniosa e completa dos traços fundamentais do método dialético marxista e do materialismo filosófico marxista. J. V. Stálin se refere aos quatro traços fundamentais do método dialético:

  1. a conexão universal e interdependência dos fenômenos;
  2. o movimento, a transformação e o desenvolvimento;
  3. a passagem de um estado qualitativo a outro;
  4. a luta dos contrários como fonte interna do desenvolvimento.

Antes do aparecimento desse genial trabalho do camarada Stálin, era de praxe considerar três leis como leis básicas da dialética:

  1. a lei da unidade e da luta entre os contrários;
  2. a lei da transformação da quantidade em qualidade;
  3. a lei da "negação da negação”.

J. V. Stálin introduziu modificações essenciais na estrutura da exposição do método dialético; introduziu duas novas características do método: exame de todos os fenômenos da natureza e da sociedade em sua ligação e interdependência; seu exame no processo de movimento e transformação, e não incluiu a "negação da negação” entre as características básicas do método dialético marxista. Além disso, J. V. Stálin modificou a sequência da exposição das características básicas do método: distribuiu-as completamente de acordo com o movimento do conhecimento, a partir de uma essência menos profunda a uma essência mais profunda.

Assim, a lei da luta entre os contrários, que revela a essência mais profunda das coisas — a fonte de seu desenvolvimento — deve ser a característica que coroa o método, e assim é encontrada no trabalho de J. V. Stálin Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico.

J. V. Stálin demonstrou, ao mesmo tempo, a interdependência orgânica entre as características do método dialético marxista. Particularmente a lei da luta entre os contrários — que constitui a essência da última característica, a quarta, do método dialético — é considerada por J. V. Stálin como conteúdo interno das transformações quantitativas em qualitativas, isto é, liga indissoluvelmente a quarta característica do método dialético marxista à sua característica anterior, a terceira.

Quanto à lei da "negação da negação”, formulada por Hegel e interpretada de maneira materialista por Marx e Engels, J. V. Stálin abandonou essa terminologia e expressou, de maneira mais completa e fiel, a essência da dialética nessa questão, apresentando a tese do desenvolvimento "do simples ao complexo, do inferior ao superior.”

No trabalho de Stálin Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, o materialismo filosófico marxista acha-se exposto de maneira igualmente harmoniosa e completa.

J. V. Stálin formula as características básicas da teoria materialista marxista:

  1. a materialidade do mundo e as leis de seu desenvolvimento;
  2. o caráter primário da matéria e secundário da consciência;
  3. a cognoscitividade do mundo e de suas leis.

J. V. Stálin ressalta a ligação orgânica entre o método dialético e a teoria materialista e mostra a imensa importância da extensão das teses do materialismo filosófico ao estudo da vida social, da aplicação dessas teses à história da sociedade e a atividade prática do Partido do proletariado.

Em sua obra Sobre o Materialismo Dialético e o Materialismo Histórico, J. V. Stálin desenvolveu o materialismo histórico, formulando teses básicas que demonstram a aplicação concreta do materialismo dialético à interpretação das leis do desenvolvimento social.

No genial trabalho O Marxismo e os Problemas de Linguística, J. V. Stálin enriquece e desenvolve a dialética marxista, o materialismo filosófico e histórico.

Esse trabalho de J. V. Stálin vibra golpe esmagador nos deturpadores do marxismo-leninismo, enriquece e desenvolve importantes teses do materialismo dialético em sua aplicação às condições da sociedade socialista e serve de guia para a atividade prática de construção do comunismo.

O camarada Stálin critica agudamente aqueles que compreendem o marxismo de maneira dogmática, sem espírito crítico, e aqueles que estabelecem o regime de Araktchêiev na ciência. A luta de opiniões e a liberdade de crítica — ensina o camarada Stálin — é a condição decisiva para o desenvolvimento da ciência.

Com o desenvolvimento criador dos mais importantes princípios do marxismo, com a luta contra o dogmatismo e o talmudismo, o camarada Stálin presta uma inestimável contribuição ao tesouro da ciência marxista-leninista.

A doutrina de Marx, Engels, Lênin e Stálin é todo-poderosa e invencível porque é exata. Durante mais de um século de existência da concepção marxista do mundo, os ideólogos da burguesia por mais de uma vez tentaram "refutá-la” e sempre se esfacelaram de encontro às teses e conclusões do marxismo-leninismo, teses e conclusões inabaláveis, cientificamente fundamentadas e confirmadas pela prática social e histórica.

Em nossos dias, os desprezíveis lacaios do imperialismo anglo-americano, ferozes fomentadores de uma nova guerra mundial, empreendem campanha idêntica contra o marxismo-leninismo.

Aguarda-os a mesma sorte inglória, porém. A concepção do mundo do Partido marxista-leninista — o materialismo dialético — ilumina com luz cada dia mais brilhante, para todos os Partidos Comunistas e Operários e para todos os trabalhadores, o caminho do comunismo.


Notas de rodapé:

(1) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, E.P.E., 1952, pág. 54-55; ver revista Problemas, nº 85, pág. 55. (retornar ao texto)

(2) J. V. Stálin — Questões do Leninismo, 11ª ed. russa, pág. 536; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 44. (retornar ao texto)

(3) J. V. StálinOBRAS, ed. russa, t. I, pág. 350; ver ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, págs. 314-315. (retornar ao texto)

(4) A. A. Jdânov— Intervenção no Debate Sobre o Livro do G. F. Alexandrov — História da Filosofia da Europa Ocidental, ed. russa, E.P.E.. 1952. pág. 12. (retornar ao texto)

(5) A. A. Jdânov — Intervenção no Debate Sobre o Livro de G. F. Alexandrov — História da Filosofia da Europa Ocidental, ed. russa, E.P.E. 1952, pág. 7. (retornar ao texto)

(6) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. ed. russa, E.P.E.. 1952, pág. 18. (retornar ao texto)

(7) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XIV, pág. 343. (retornar ao texto)

(8) V. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa. t. XIX. pág. 3. (retornar ao texto)

(9) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, E.P.E., 1952, pág. 34; ver revista Problemas, nº 35, pág. 53. (retornar ao texto)

(10) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã. ed. russa, E.P.E.. 1952, pág. 21. (retornar ao texto)

(11) M. V. Lomonóssov — Obras Filosóficas Escolhidas. ed. Russa. E.P.E., 1350, pág. 160. (retornar ao texto)

(12) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 28. (retornar ao texto)

(13) Ibid., pág. 160. (retornar ao texto)

(14) K. MarxO Capital, ed. russa, 1951, t. I, pág. 19. (retornar ao texto)

(15) F. Engels — Anti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 26. (retornar ao texto)

(16) K. Marx e F. Engels — OBRAS, ed. russa, 1938, t. I, pág. 398. (retornar ao texto)

(17) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 214. (retornar ao texto)

(18) Ibid., pág. 38. (retornar ao texto)

(19) J. V. Stálin – Obras, ed. Russa, t. I, págs. 300-301; ver ed. Bras. Ed. Vitória, Rio, págs. 272-273. (retornar ao texto)

(20) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. XXXIV pág. 353. (retornar ao texto)

(21) J. V. Stálin – Obras, ed. Russa, t. I, pág. 297; ver ed. Bras. Ed. Vitória, Rio, 195, pág. 270. (retornar ao texto)

(22) J. V. Stálin — Questões do Leninismo, 11ª ed. russa, págr. 544. (retornar ao texto)

(23) J. V. Stálin – Obras, ed. Russa, t. XIII, pág. 298. (retornar ao texto)

(24) V. I. LêninOBRAS, 4ª ed. russa, t. I, págs. 380-381. (retornar ao texto)

(25) Id., t. XIV, pág. 321. (retornar ao texto)

(26) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 329. (retornar ao texto)

(27) V. I. Lênin — OBRAS, 4ª ed. russa, t. IV, pág. 192. (retornar ao texto)

(28) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, E.P.E., 1952, págs. 54-55; ver revista Problemas, nº 35, pág. 55. (retornar ao texto)

(29) J. V. Stálin — História do PC(b) da URSS, ed. russa, pág. 98; ver História do PC(b) da URSS, 2.ª ed. bras. Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 43. (retornar ao texto)

Inclusão 09/02/2015