Nossa Política:
O Proletariado e a Defesa de Prestes

Altamiro Gonçalves

Fevereiro de 1951


Primeira Edição: Fevereiro de 1951.
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 32 - Jan-Fev de 1951.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, Novembro 2008.
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Defender Prestes, seus companheiros do Comitê Nacional do P.C.B. e todas as pessoas ameaçadas pelo monstruoso processo fascista que lhes movem a reação e o imperialismo, é uma tarefa da mais alta importância política e da maior urgência. Contra esses lideres da luta de libertação nacional de nosso povo existe uma ordem de prisão preventiva e para "caçá-los" (é a expressão usada pela reação) movimenta-se toda a polícia-política com a estreita colaboração dos serviços secretos das forças armadas e dos espiões nazi-integralistas, todos eles assessorados e supervisionados pelos técnicos do F.B.I., as feras de Truman. Nestas circunstâncias, não há um minuto a perder: ou se organiza desde já e com a devida rapidez um vasto e potente movimento de massas em defesa de Prestes e para derrotar a reação, ou muito graves poderão ser as conseqüências futuras de qualquer negligência nossa que importe em atraso na realização dessa importante tarefa.

É certo que Prestes vive no coração de seu povo. Não há homem ou mulher, jovem ou menino que seja democrata, patriota, amigo da paz e do progresso, que não estremeça à simples idéia da prisão de Prestes ou de qualquer de seus companheiros da direção; com eles todos estão solidários e por eles dispostos a fazer sacrifícios; com eles e por eles todos querem lutar. É esta a posição da imensa maioria do povo brasileiro e com muito mais razão da maioria esmagadora do proletariado, que não vacilará na defesa de Prestes e seus companheiros, por cima de todas as dificuldades e apesar de todos os sacrifícios.

Tudo isso, sem dúvida, vale muito mas ainda é pouco. Para defender Prestes e seus companheiros não basta estar solidário com eles, — é necessário converter essa solidariedade em um amplo movimento de massas organizado e em ações concretas para derrotar a reação; não basta fazer sacrifícios, — é necessário que cada sacrifício e que todos os esforços se convertam em realizações positivas; não basta, também, lutar, — é necessário saber vencer, isto é, saber tirar partido de nossas forças, que são imensas, para acuar a reação, batê-la decisivamente, triturar-lhe as mandíbulas sangrentas.

Em geral falamos muito em defender Prestes e não há dúvida que estamos dispostos a fazê-lo, mas também é certo que agimos pouco conseqüentemente, que nos falta senso prático e espírito de iniciativa. Não temos Uma idéia muito clara do que é preciso fazer e, sobretudo, raramente sabemos como ligar essa tarefa ao nosso trabalho cotidiano e às reivindicações das massas. É imperioso que discussões sejam feitas nesse sentido e que contribuições sejam oferecidas para ajudar a melhorar o trabalho em defesa de Prestes, não somente por parte de seus amigos mas principalmente daqueles que ocupam posição de vanguarda nas lutas da classe operária.

Para maior clareza, estabeleçamos alguns pontos essenciais do movimento em defesa de Prestes:

  1. a amplitude do movimento de massas;
  2. formas de luta;
  3. organização da solidariedade a Prestes e seus companheiros.

Cada um destes pontos deve ser estudado e debatido por nós, com o objetivo de encontrar sua forma prática, isto e, convertê-lo em medidas práticas para a ação em defesa de Prestes.

A QUESTÃO da amplitude do movimento de massas é da máxima importância. Não somente os operários comunistas e simpatizantes ou nacional-libertadores estão interessados na defesa de Prestes e demais dirigentes comunistas. Centenas de milhares de operários sem-partido ou adeptos dos diversos partidos existentes admiram e respeitam Prestes, o estimam, muitos o reconhecem como guia e chefe do proletariado, nele confiam e voltam seus olhos para sua grande figura, na qual vêem uma esperança de realização das suas aspirações. O mesmo sucede com outros dirigentes comunistas, muitos dos quais estão envolvidos nesse processo monstruoso, cujos nomes ultrapassam as fileiras dos militantes revolucionários e se projetam no seio das grandes massas operárias.

Se compreendermos bem isso e soubermos trabalhar sem sectarismo, ganharemos essas massas para a luta contra a reação e em defesa de Prestes e seus companheiros. Para tanto, precisamos falar-lhes, explicando-lhes pacientemente e com clareza porque Prestes está perseguido e quem o persegue; que a luta em defesa de Prestes está intimamente ligada à luta por suas reivindicações e por seus direitos; que tomar posição em defesa de Prestes não significa tomar posição pelo comunismo; que se a reação conseguisse pôr a mão em Prestes, todo o movimento operário seria violentamente reprimido, até mesmo o que gira em torno de pequenas reivindicações; que a liberdade é una e indivisível, o que quer dizer que lutar pela liberdade de Prestes é lutar pelo direito de greve e de livre associação para a classe operária, etc.

Com esse fim podemos e devemos promover palestras com os companheiros nas próprias fábricas e oficinas, em grupos, aproveitando as horas de almoço, café e todos os momentos de interrupção do trabalho. No mesmo sentido deve-se promover reuniões nas moradias, que podem ser festivas (aniversários, batizados, casamentos), com operários de uma ou diversas fábricas e oficinas onde se lhes explique essas coisas em linguagem simples e accessível. Será conveniente preparar os companheiros que vão falar, munindo-os de argumentos convincentes e, sobretudo, nunca esquecer que cada palestra deve ser encerrada com propostas concretas, tanto no sentido de organização da massa, como no de pronunciar-se imediatamente contra o processo fascista e a monstruosa ordem de prisão preventiva decretada pela justiça de classe.

Há uma variedade imensa de formas de luta e nenhuma delas deve ser desprezada. Mesmo as mais simples são úteis e necessárias, não só porque constituem um pronunciamento contra a reação, como porque preparam o caminho para as ações de grau superior.

Entre as mais simples formas de luta contam-se os telegramas, abaixo-assinados e mensagens enviadas ao ministro da Justiça, ao Congresso e ao poder judiciário, mas seria errôneo supor que, por serem demasiado simples, não surtem efeito. A verdade é que milhares e milhares de cartas e telegramas constituem uma forma de pressão de massas sobre as autoridades. E, além disso, se nos dirigimos a milhares de pessoas para coletar essas assinaturas, temos oportunidade de esclarecê-las, mostrar-lhes que é necessário ir além, realizar outras formas de protesto, passar a manifestações mais eficientes. Sobretudo, se formos bastante práticos, organizaremos essas pessoas de qualquer forma, para que seus protestos não se percam por falta de continuidade.

Assim será possível passar a outras formas de luta: comissões de operários, que vão com suas famílias ao Congresso e à imprensa protestar; comandos nas fábricas e nas ruas de cada bairro e, partindo daí organizar comícios e passeatas em defesa de Prestes e seus companheiros, dirigindo-se dessa forma às autoridades locais (Câmara Municipal, Prefeito, etc.) para exigir o arquivamento imediato do monstruoso processo.

Estas já são formas mais enérgicas de luta e se formos conseqüentes na sua utilização poderemos então chegar até às greves organizadas em torno das reivindicações mais sentidas e imediatas das massas em cada local, combinando-as com a defesa de Prestes e de seus companheiros. Isto não será difícil se tivermos realizado um trabalho persistente de esclarecimento e organização da massa, antes e durante as greves. A dificuldade consiste unicamente no fato de que, por temor ou incompreensão, deixamos de levantar no seio da massa as reivindicações políticas (autonomia e liberdades sindicais, defesa das vítimas da reação, direito de greve, paz, etc.) em ligação com as reivindicações econômicas. Se não fizermos essa preparação prévia, será difícil, depois, no momento das greves, levantar esses problemas de golpe, arriscando-nos ao insucesso, como se dá tantas vezes.

E isso não é tudo: um bom trabalho contra a reação pode levar-nos até a uma forma ainda mais vigorosa de luta, como seja a greve política, isto é, a paralisação do trabalho por tempo limitado (quinze minutos, meia hora ou mais) que pode ser geral, paralisando toda a fábrica, ou parcial, atingindo uma ou mais seções, especificamente em defesa de Prestes e de todos ou qualquer de seus companheiros.

Sem cair no esquerdismo, devemos trabalhar com essa perspectiva e não perder nenhuma oportunidade que se apresente para levá-la à prática, como por exemplo, nos momentos em que se verifiquem prisões de operários em determinada fábrica, ocasiões em que devemos saber ligar a luta pela sua libertação à luta em defesa de Prestes e seus companheiros.

Todas essas formas de luta devem ser acompanhadas de uma intensa agitação. Milhões de manifestos e volantes, milhares de inscrições murais, centenas e centenas de faixas e bandeirolas, cartazes, etc. devem ser utilizados na preparação das manifestações em defesa de Prestes e seus companheiros, para que esse movimento se converta rapidamente num clamor público de proporções jamais vistas.

Por último resta-nos examinar a questão da organização da solidariedade a Prestes e seus companheiros.

Em primeiro lugar, trata-se de uma organização especifica: Comitês de Amigos de Prestes, Comitês de Amigos de Amazonas, etc.. Comitês de Ajuda às Vitimas da Reação. Pergunta-se: se há centenas de milhares de operários que são amigos de Prestes e de outros dirigentes nacionais, porque não organizamos milhares de Comitês de Amigos nas fábricas e nas oficinas?

Comitês dessa natureza se incumbiriam das tarefas de luta contra a reação; de promover atos em defesa de Prestes e de seus companheiros, coletar fundos, dar assistência moral e material às famílias dos presos e perseguidos políticos, levar recursos e visitar os presos, enfim, se constituiriam em centros de mobilização de todos os recursos para a luta contra a reação.

Mas além dessas organizações especificas, o trabalho de luta contra a reação deve estender-se a outras formas de organização: comissões de salário, Comitês de Defesa da Paz, clubes esportivos, de cultura ou recreação. Todas as organizações da classe operária, qualquer que seja o seu caráter, podem e devem ser mobilizadas para a luta em defesa de Prestes e das vítimas da reação em geral, combinando-as com as suas atividades específicas. E não se trata apenas de utilizar as organizações já existentes, como também de aproveitar o trabalho de esclarecimento e as reuniões que se promovam em defesa de Prestes para ajudar a organizar a classe operária, inclusive sindicalmente, e para ajudá-la a organizar as lutas por suas reivindicações.

No trabalho de organização dos Comitês de Amigos devemos utilizar tudo que possa contribuir para facilitá-lo, desde o prestígio nacional de Prestes e demais dirigentes, até às influências profissionais e regionais. Neste último caso, utilizar a influência de João Amazonas no Pará e no Distrito Federal, de Agostinho Oliveira em Pernambuco, de Maurício Grabois na Bahia e no Distrito Federal, de Francisco Gomes no Distrito Federal e no Estado do Rio, de Claudino José da Silva no Estado do Rio, etc., decorrentes de haverem nascido nesses Estados ou de neles se haverem destacado como militantes revolucionários.

Nesse particular, já que o ridículo e desprezível lacaio do imperialismo Edmundo Macedo Soares, entendeu que também deveria mandar decretar uma ordem de prisão preventiva fascista contra Prestes e seus companheiros, tem o proletariado do Estado do Rio uma imensa divida para com o Cavaleiro da Esperança que entre outras coisas tanto lhes ensinou a lutar por seus direitos. Os valentes metalúrgicos do Hime, de Campos e de Barra Mansa, os bravos têxteis de Friburgo, Petrópolis, Magé, Niterói, Campos e Valença; os combativos operários e operárias da Nestlé e Moinho de Barra Mansa; os ferroviários da Leopoldina e da Central e a imensa massa de trabalhadores de Volta Redonda, — todos os que já provaram em greves memoráveis suas disposições de luta têm o dever de mostrar a esse pigmeu e a seu substituto quem é que deve ser preso, quem deve ser processado, se os patriotas que lutam pela libertação nacional, com Prestes à frente, ou quem entregou o salgema de Cabo Frio e Angra dos Reis à Duperial, quem entregou a Fábrica de Motores ao Consórcio Ansaldo, quem está entregando a Companhia Siderúrgica Nacional aos americanos, quem já absorveu mais de duzentos milhões nas obras de Macabú, as quais não acabam porque a Light e a Companhia Brasileira de Energia Elétrica (Bond and Share) não querem.

Eis uma grande e honrosa tarefa para o proletariado do Estado do Rio, como dele próprio e de todo o proletariado brasileiro é a grande e urgente tarefa de honra de fortalecer a vigilância revolucionária em defesa de Prestes e preservá-lo, efetivamente, assim como aos seus companheiros, das iras da reação interna e do imperialismo que arma o braço de mercenário e lança matilhas policiais contra os líderes da grande luta pela paz e a libertação nacional dos povos nos diferentes países.

* * *

A 3 de janeiro Prestes completou 53 anos. Foi um dia de festa em nossos lares. Sentimo-nos felizes, porque hoje como ontem ele está ao nosso lado, comandando as forças da democracia e da libertação nacional numa hora de graves perigos para a humanidade e para nossa Pátria. Sob o comando de Prestes e de seus companheiros de direção comunista, ocuparemos com honra o posto que nos cabe ao lado dos países do campo democrático e anti-imperialista, liderados pela gloriosa União Soviética. No histórico Manifesto de agosto, Prestes nos apontou o caminho revolucionário, o caminho da luta pelo poder popular, o único que interessa à classe operária e ao povo brasileiro e que nos levará a deslocar o Brasil do campo antidemocrático e imperialista e alinhá-lo ombro a ombro com os países que lutam vitoriosamente pela paz mundial.

Nossa alegria, entretanto, não está isenta de apreensões, porque Prestes e seus companheiros estão em perigo. Mas apreensão não quer dizer temor ou pânico. Pelo contrário, esse sentimento dá-nos a noção da responsabilidade que têm todos os democratas e patriotas, com os comunistas à frente de formar uma barreira irresistível em torno de Prestes e preservá-lo das ameaças e das investidas da reação através da nossa vigilância revolucionária.

Em honra de Prestes, pelo muito que devemos ao nosso guia e mestre genial, forjemos no seio do proletariado brasileiro, em todas as fábricas e oficinas, nas fazendas e nas vilas, onde quer que estejamos, um poderoso movimento organizado em defesa do Cavaleiro da Esperança e de seus companheiros. E assim poderemos bradar:

"Para traz, vis agentes do imperialismo! Ai de quem tocar em Prestes ou em qualquer de seus companheiros!"


“Nosso povo enfrenta assim um dilema que se torna cada dia mais agudo e evidente. A paz ou a guerra, a independência ou a colonização total, a liberdade ou o terror fascista, o progresso ou a miséria e a fome para as grandes massas trabalhadoras. Ou o povo toma os destinos da nação em suas próprias mãos para resolver de maneira prática e decisiva seus problemas fundamentais, ou submete-se à reação fascista, à crescente dominação do imperialismo ianque, à ignomínia da pior escravidão, que o levará à mais infame de todas as guerras”.
Luiz Carlos Prestes

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Inclusão 08/11/2008
Última alteração 10/09/2011