O Imperialismo e a Revolução
Enver Hoxha

II - O Plano da China Para Tornar-se Superpotência


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Ao analisar a estratégia global do imperialismo norte-americano e do social-imperialismo soviético para dominar o mundo, ao analisar o surgimento e desenvolvimento das diferentes variantes do revisionismo contemporâneo, bem como o combate de todos esses inimigos ao marxismo-leninismo e à revolução, também falamos inicialmente sobre o lugar e a estratégia do revisionismo chinês.

A própria China qualifica de marxista-leninista a linha política que segue, mas a realidade mostra o contrário. É precisamente essa realidade que nós, marxista-leninistas, devemos desmascarar. Não devemos permitir que as teorias revisionistas chinesas passem por teorias marxistas, não devemos admitir que a China, no caminho que está trilhando, finja lutar pela revolução quando na realidade opõe-se a ela.

Com a política que a China segue, está se tornando ainda mais claro que ela busca reforçar as posições do capitalismo em seu interior e instaurar sua hegemonia no mundo, tornar-se uma grande potência imperialista, para que também ela ocupe, como se diz, "o lugar que lhe cabe".

A história mostra que qualquer grande país capitalista visa tornar-se uma grande potência mundial, conseguir adiantar-se às demais grandes potências, concorrer com elas pelo domínio mundial. Diversos têm sido os caminhos seguidos pelos grandes Estados burgueses para transformarem-se em potências imperialistas, caminhos condicionados por determinadas circunstâncias históricas e geográficas, pelo desenvolvimento das forças produtivas, etc. Os Estados Unidos seguiram uma trajetória distinta das velhas potências européias, como a Inglaterra, França e Alemanha. Estas últimas se formaram enquanto tal com base em ocupações coloniais.

Após a II Guerra Mundial os Estados Unidos permaneceram a maior potência capitalista. Com base no grande potencial econômico e militar de que dispunham e no desenvolvimento do neocolonialismo, transformaram-se numa superpotência imperialista. Mas não passou muito tempo e somou-se a eles outra superpotência, a União Soviética, que se transformou em superpotência imperialista após a morte de Stálin e depois que a direção kruschoviana traiu o marxismo-leninismo. A União Soviética aproveitou com esse fim o grande potencial econômico, técnico e militar erigido pelo socialismo.

Encontramo-nos agora diante dos esforços de outro grande Estado para tornar-se superpotência, da China hoje, pois também ela trilha rapidamente o caminho o capitalismo. Mas a China carece de colônias, carece de uma grande indústria desenvolvida, carece em geral de uma economia forte, de um grande potencial termo-nuclear no nível possuído pelas duas outras superpotências imperialistas.

Para tornar-se superpotência é absolutamente necessário ter uma economia desenvolvida, um exército armado com bombas atômicas, é necessário conquistar mercados e zonas de influência, investir capitais em outros países, etc. A China procura preencher o quanto antes esses requisitos. Isso foi dito no discurso de Chu Enlai à Assembléia Popular em 1975 e repetido no XI Congresso do Partido Comunista da China, onde se proclamou que antes do final deste século a China tornar-se-ia um país poderoso e moderno, visando alcançar os Estados Unidos e a União Soviética. Agora todo esse plano foi ampliado e precisado naquilo que se denominou política das "quatro modernizações".

Mas qual o caminho escolhido pela China para tornar-se também uma superpotência? Atualmente as colônias e mercados do mundo estão ocupados por outros. É impossível criar com as próprias forças, em 20 anos, como pretendem os chineses, um potencial econômico e militar equivalente ao dos norte-americanos e soviéticos.

Nessas condições, a China terá de passar por duas fases principais para tornar-se superpotência: primeiro solicitar créditos e investimentos do imperialismo norte americano e dos demais países capitalistas desenvolvidos, comprar tecnologia moderna para aproveitar seus recursos, grande parte dos quais passará aos credores a titulo de dividendos. E segundo, investir a mais-valia conseguida à custa do povo chinês em Estados de diferentes continentes, tal como os imperialistas norte-americanos e os social-imperialistas soviéticos fazem atualmente.

Os esforços da China para tornar-se superpotência concentram-se em primeiro lugar na escolha dos aliados e na criação de alianças. Existem hoje no mundo duas superpotências o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo soviético. Os dirigentes chineses julgaram que devem apoiar-se no imperialismo norte-americano, no qual depositam maiores esperanças de ajuda nos campos da economia, das finanças, da tecnologia, da organização, mas também sob o aspecto militar. O potencial econômico-militar dos Estados Unidos é realmente superior ao do social-imperialismo soviético. Os revisionistas chineses o compreendem muito bem, em que pese dizerem que a América está em decadência. No caminho que estão trilhando, eles não podem se apoiar num parceiro débil, do qual não possam se beneficiar grandemente. Escolheram os Estados Unidos como aliados precisamente porque estes são poderosos.

A aliança com os Estados Unidos, o entendimento da política chinesa com a do imperialismo norte-americano, tem também outros objetivos. Traz consigo uma ameaça para o social-imperialismo soviético, o que se constata na ensurdecedora propaganda e na febril atividade dos dirigentes chineses contra a União Soviética. Ao seguir essa política, a China dá a entender à União Soviética revisionista que sua ligação com os Estados Unidos constitui uma força colossal contra ela no caso de eclosão de uma guerra imperialista

A atual política chinesa visa igualmente estabelecer amizade e alianças com todos os países capitalistas desenvolvidos, dos quais ela procura aproveitar se política e economicamente. A China deseja e procura reforçar a aliança norte-americana com os países do "segundo mundo", como ela os chama. Estimula sua união, ou melhor, sua submissão ao imperialismo norte-americano, que considera como seu maior parceiro.

Isso explica todos os estreitos vínculos que o governo chinês procura estabelecer com todos os Estados capitalistas ricos, com o Japão, a Alemanha Ocidental, a Inglaterra, a França, etc.; isso explica as muitas visitas de delegações governamentais econômicas, culturais e científicas à China procedentes dos Estados Unidos e de todos os demais países capitalistas desenvolvidos, sejam eles repúblicas ou monarquias, assim como as visitas de delegações chinesas a esses países. Isso explica porque a China manifesta-se sistematicamente, em todas as ocasiões, em favor dos Estados Unidos e dos demais Estados capitalistas industrializados, procurando ressaltar qualquer escrito, pronunciamento ou ação desses Estados contra o social-imperialismo soviético.

Essa política dos dirigentes chineses não poderia deixar de chamar a atenção e angariar o devido apoio dos Estados Unidos. Sabe-se que durante a II Guerra Mundial existiam dois lobbies no Departamento de Estado norte-americano quanto à questão chinesa: um pra Chiang Kai-chek e o outro pró Mao Tsetung. Naturalmente, o lobby de Chiang Kai-chek triunfou então no Departamento de Estado e no Senado norte-americano, enquanto que o lobby de Mao Tsetung vencia no terreno no Continente, na China. Entre os inspiradores desse segundo lobby estavam Marshall e Vandemayer, Edgar Snow e outros, que tornaram-se amigos e conselheiros dos chineses, promotores e inspiradores de toda sorte de organismos na nova China. Atualmente esses velhos vínculos estão se renovando, se reforçando, se tornando mais sólidos e concretos. Qualquer um enxerga agora que a China e os Estados Unidos estão se aproximando cada vez mais. Pouco tempo atrás um dos jornais norte-americanos mais bem informados, o "Washington Post", afirmava: "Há agora um consenso norte-americano, apoiado inclusive pela direita, pelos que nutrem pouca simpatia por Pequim. Segundo este consenso, apesar do que tenha ocorrido no passado não há mais razão para se considerar a China como uma ameaça aos Estados Unidos. Além de Taiwan, há poucas coisas quanto às quais não há acordo entre os dois governos. Ambas as partes aceitaram, de fato, adiar a questão de Taiwan com o objetivo de beneficiar-se em outros campos".

O problema de Taiwan, levantado nas relações entre a China e os Estados Unidos, tornou-se algo formal. A China já não insiste no assunto. Absolutamente não se incomoda com Hong-Kong e nem se molesta por Macau permanecer ainda sob domínio dos portugueses. O governo chinês não aceitou a oferta do novo governo português de devolver à China esta colônia, tendo dito que "não se devolve presentes". A existência de tais colônias e algo anacrônico, mas a política pragmática dos dirigentes chineses não se importa com isso. E já que Hong-Kong e Macau permanecem como colônias, por que não ocorrer o mesmo com Taiwan? Ao que parece a China tem grande interesse em que Taiwan continue como está. Além das relações abertas, processada à luz do dia, interessa-lhe também desenvolver através dessas três portas um tráfico disfarçado com os imperialistas norte-americanos, com os imperialistas ingleses, japoneses, etc. Portanto as lorotas que Deng Xiaoping e Li Xiannian tentam impingir, de que as relações sino-americanas dependem da atitude dos Estados Unidos para com Taiwan, não passam de uma cortina de fumaça, a fim de ocultar o caminho de aproximação com os Estados Unidos trilhado pela China com vistas a transformar-se em superpotência.

Carter declarou que os Estados Unidos estabelecerão relações diplomáticas com a China. No que toca a Taiwan, adotarão a atitude do Japão, ou seja, romperão formalmente as relações diplomáticas com a ilha, sem interromper as relações econômicas e culturais e, por baixo destas, também as militares. Na realidade, as relações militares dos Estados Unidos com Taiwan interessam à China, que deseja que os Estados Unidos mantenham tropas em Taiwan, no Japão, na Coréia do Sul e no Oceano Índico, julgando que isso a beneficia, já que constitui um contrapeso para a União Soviética.

Todas essas atitudes vinculam-se ao caminho escolhido pela direção chinesa para tornar a China uma superpotência, procurando desenvolver a economia e elevar o potencial militar através de créditos e investimentos dos Estados Unidos e de outros grandes países capitalistas. Ela justifica esse caminho pretendendo aplicar uma política justa, a linha "marxista" de Mao Tsetung, segundo o qual "a China deve aproveitar os grandes êxitos do mundo, as patentes, as novas tecnologias, colocando o que é estrangeiro a serviço do desenvolvimento interno", etc. Os artigos do "Renmin Ribao" e os discursos dos dirigentes chineses estão repletos de slogans do gênero. Segundo a concepção chinesa, beneficiar-se das invenções e realizações industriais de outros Estados significa contrair créditos e aceitar investimentos dos Estados Unidos, Japão, Alemanha Ocidental, França, Inglaterra e demais países capitalistas que a China corteja.

Os dirigentes chineses fizeram suas as teorias revisionistas segundo as quais grandes países, como a China, que têm muitos recursos, podem contrair créditos junto ao imperialismo norte-americano ou a qualquer Estado, truste ou banco capitalista poderoso, já que teriam condições de saldar as dívidas. Os revisionistas iugoslavos saíram em defesa desse ponto de vista, fazendo publicidade de sua experiência de "construção do socialismo específico" com a ajuda da oligarquia financeira mundial e especialmente do capital norte-americano, dão o exemplo e encorajam a China a seguir essa trilha sem vacilações.

Os grandes países podem saldar os créditos que contraem, mas os investimentos imperialistas nesses grandes Estados, como na União Soviética revisionista, na China ou qualquer outro, não podem deixar de acarretar serias conseqüências neocolonialistas. As riquezas e o suor dos povos passam a ser explorados também em favor dos consórcios e monopólios capitalistas estrangeiros. Os Imperialistas norte-americanos assim como os Estados capitalistas desenvolvidos da Europa Ocidental ou o Japão, que fazem investimentos na China e países revisionistas, objetivam encravar-se ali, visam enlaçar seus consórcios numa estreita colaboração com os principais trustes e ramos industriais destes países.

O investimento de capitais dos Estados imperialistas na China não é um problema tão simples como os revisionistas procuram aparentar, ao considerar essa penetração de capitais como inofensiva, pois não se processaria através de acordos interestatais (embora ultimamente altos dirigentes chineses tenham declarado que aceitarão créditos externos governamentais) e sim através de bancos e companhias privadas, sem complicações e interesses políticos O endividamento de qualquer país, grande ou pequeno, junto a esse ou aquele imperialismo acarreta sempre perigos inevitáveis para sua liberdade, independência e soberania, mais ainda no caso de países economicamente pobres como a China. Um país verdadeiramente socialista não precisa endividar-se. As fontes do desenvolvimento econômico de um país encontram-se nele próprio, em seus recursos, em sua acumulação interna e na força criadora de seu povo. O exemplo da Albânia, um pequeno país, deixa muito claro de quantos meios, fontes e aptidões inesgotáveis dispõe um pais socialista para desenvolver-se. Os meios e fontes de um país grande são muito maiores, quando ele trilha consequentemente o caminho do marxismo-leninismo.

A abertura do mercado chinês para o imperialismo norte-americano e as grandes empresas estadunidenses e outras ocidentais foi acolhida com incontida alegria pelos imperialistas dos Estados Unidos e por toda a burguesia internacional. As multinacionais, os industriais norte-americanos conhecem bem a economia e as grandes riquezas da China; por isso fazem o que podem para edificar ali sua rede econômica, constituir empresas mistas e auferir grandes lucros. Não só as grandes empresas norte-americanas, mas também empresas japonesas, alemãs e de outros países capitalistas desenvolvidos estão atuando dessa forma na China.

A China concluiu agora um contrato com o Japão para fornecer-lhe até dez milhões de toneladas de petróleo por ano. Representantes da ENI italiana foram à China com uma grande equipe a fim de também conseguir licença para prospectar petróleo, mas já encontraram ali grandes grupos de companhias petrolíferas norte-americanas, que haviam se entendido com a China quanto à extração e exploração conjuntas do óleo. A China também vem fazendo o mesmo em outros setores da mineração, como o do ferro e de diferentes minérios que podem ser encontrados em grande quantidade no seu território. Os magnatas alemães do carvão encontram-se agora na China, onde concluíram um contrato de algumas dezenas de bilhões de marcos. Ministros chineses percorrem o Japão, a América do Norte e a Europa de ponta a ponta para conseguir créditos, adquirir novos equipamentos tecnológicos, comprar modernas armas, estabelecer relações técnico-científicas, etc. Todas as portas das instituições e empresas chinesas estão aberas para os empresários de Tóquio, da Wall Street e do Mercado Comum Europeu, que se afanam para ver quem chega primeiro a Pequim, para açambarcar os grandes projetos de "modernização" que o governo chinês oferece. Desta forma, a China também vai entrando círculo infernal da absorção imperialista, do insaciável apetite imperialista de recursos do subsolo e de matérias primas, de exploração da mão-de-obra chinesa.

Sabe-se que o capitalista não concede ajuda a ninguém sem ver, em primeiro lugar, seu próprio interesse econômico, político e ideológico. Não se trata apenas da taxa de lucro que ele recebe. O país capitalista que concede créditos introduz juntamente com eles seu modo de vida, sua maneira de pensar capitalista cria bases no país "ajudado" e espalha-se sub-repticiamente, como uma mancha de óleo, estende sua teia de aranha; e esta aranha permanece sempre ali para devorar todas as moscas que caiam em suas malhas, como ocorreu na Iugoslávia, como ocorre atualmente na União Soviética. A China terá a mesma sorte.

Em conseqüência a China também fará concessões em questões políticas e ideológicas, como já está fazendo, enquanto o mercado chinês tornar-se á um débouché (vertedouro - em francês no original) de grande importância para o imperialismo norte-americano e para as demais potências capitalistas industrializadas.

Os créditos e investimentos norte-americanos, alemães-ocidentais japoneses, etc. na China afetarão inevitavelmente, em maior ou menor escala, sua independência e soberania Tais créditos tornam dependente qualquer Estado que os contraia, pois o credor impõe-lhe sua política. Portanto, qualquer Estado, grande ou pequeno que se introduza nas engrenagens do imperialismo, mutila ou perde a liberdade política, a independência e a soberania. Essa situação de mutilação da soberania verificou-se inclusive na União Soviética que, quando enveredou pelo caminho da restauração do capitalismo, era econômica e militarmente muito mais poderosa do que a China de hoje, que ingressa no mesmo caminho.

Evidentemente, os países pequenos que se introduzem nas engrenagens do imperialismo perdem a liberdade e a independência mais depressa do que países grandes como a China e a União Soviética, nos quais esse processo pode ser mais lento, não só porque têm um potencial econômico e militar superior, mas também porque, apoiados nesse potencial, lutam para manter mercados e ocupar outros novos, para criar e ampliar zonas de influência de forma a pressionar-se mutuamente e mesmo a entrar em guerra, quando não encontram outra saída. Mas nem tudo isso os salva dos grilhões dos créditos e investimentos que acorrentam seus pés. Os créditos e seus juros devem ser pagos. Mas quando não se está em condições de saldá-los contraem-se novas dívidas. As dívidas levam a dívidas, o Capitalista exige proventos e, quando não há como pagá-los, ele encosta o devedor na parede. As empresas monopolistas norte-americanas, por exemplo, que ditam política de seu próprio governo, obrigam-no a defender a qualquer preço seus capitais, a declarar inclusive a guerra se for necessário para resguardá-los.

Todo o ensurdecedor alarido dos dirigentes chineses a respeito do enfraquecimento do imperialismo norte-americano cai por terra quando se observa o zelo que eles mostram em apoiar-se nesse imperialismo, nos capitalistas dos Estados Unidos, para desenvolver a economia de seu país. As declarações dos dirigentes chineses sobre o suposto debilitamento do imperialismo norte-americano são apenas um blefe, assim como é um blefe a declaração sobre o apoio nas próprias forças. Os revisionistas chineses pensam o contrário do que dizem, qualquer um pode constatá-lo em sua prática.

Os jornais oficiais da China expressam frequentemente inquietude com os créditos que a União Soviética social-imperialista contrai junto aos bancos norte-americanos, alemães-ocidentais, japoneses, etc.. Advertem os Estados Unidos e os demais países capitalistas desenvolvidos no sentido de que tenham em mente que a ajuda tecnológica e os créditos fornecidos à União Soviética são empregados no desenvolvimento e fortalecimento do potencial econômico e militar desta, de que a ajuda e os créditos aumentam o perigo ameaçador proveniente do social-imperialismo, o qual, segundo dizem os dirigentes chineses, ocupa hoje o lugar do, III Reich. Por isso, conclama-os a suspender esses créditos o quanto antes. A imprensa chinesa emprega a mesma linguagem de Strauss, o conhecido nazista e revanchista alemão-ocidental.

Não é difícil descobrir o verdadeiro sentido da "inquietude" dos dirigentes chineses com os créditos contraídos pela União Soviética. Naturalmente eles não se importam com a natureza capitalista dos créditos nem com o perigo que apresentam para a soberania do Estado soviético. Mas desejam dizer aos magnatas do capital norte-americano e ao governo dos Estados Unidos, aos capitalistas e governos dos demais países imperialistas que os créditos e a ajuda deveriam ser concedidos não à União Soviética, mas à China, que não lhes oferece qualquer perigo, apenas lucros.

Este é um lado do plano da China para tornar-se superpotência. O outro são os esforços para dominar os países menos desenvolvidos do mundo, para converter-se na liderança daquilo que a China chama "terceiro mundo".

O grupo que domina atualmente na China dá muita ênfase ao "terceiro mundo", incluindo-se intencional e premeditadamente nesse mundo. O "terceiro mundo" dos revisionistas chineses tem um objetivo político bastante preciso. É parte da estratégia que visa transformar o quanto antes a China numa superpotência. A China procura reunir em torno de si todos os países do "terceiro mundo" ou "não-alinhados" ou "em desenvolvimento" para criar uma grande força que não só aumentará o poderio chinês em geral, mas também a ajudará a contrapor-se às duas outras superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, a ter um peso maior na barganha pela divisão de mercados e zonas de influência, a conquistar o status de verdadeira superpotência imperialista. A China trata de realizar seu objetivo de agrupar o maior número de Estados em torno de si sob a falsa palavra-de-ordem de que defende a libertação dos povos do neocolonialismo e a passagem ao socialismo através da luta contra o imperialismo. Esse imperialismo é algo abstrato, mas ela acentua que o imperialismo mais perigoso é o soviético.

A China lançou tal palavra-de-ordem demagógica e despida de conteúdo teórico na esperança de valer-se dela em função de seus fins hegemonistas. Visa inicialmente instaurar o domínio chinês no chamado terceiro mundo e a seguir manipular esse "mundo" de acordo com seus interesses imperialistas. Por enquanto a China procura esconder tudo isso com o renome de país socialista que adquiriu. Especula, dizendo que um país socialista não pode ter concepções escravizantes, de conduzir os demais pelo cabresto, de praticar chantagem, de combatê-los, oprimi-los e explorá-los. Emprega essa palavra-de-ordem com base no fato de que o Partido Comunista da China, criado pelo "grande" Mao Tsetung, tem a reputação de partido marxista-leninista, fiel à teoria de Marx e Lênin, que combate todos os males do sistema capitalista, a espoliação colonial, etc.

Disfarçada sob essa condição fictícia, oculta por uma expressão - "terceiro mundo" - e incluindo-se nesse "mundo" sem nenhum critério ou definição de classe, a China pensa que pode atingir mais facilmente seu objetivo estratégico de instaurar sua hegemonia sobre ele. A União Soviética empregou esse mesmo engodo para com outros países. Todos os revisionistas kruschovianos proclamam dia e noite que são "comunistas" e que seus partidos são "verdadeiros partidos marxista-leninistas". Os revisionistas soviéticos procuram instaurar sua hegemonia no mundo sob essa mesma máscara. Consequentemente, podemos dizer, que não existe qualquer diferença essencial entre a atuação chinesa e a do social-imperialismo soviético.

Todo esse desenvolvimento da política e da atuação chinesa comprova cabalmente as características do imperialismo definidas pelo marxismo-leninismo, como o domínio da oligarquia financeira que busca mercados, que procura conquistar o mundo e instaurar sua hegemonia em toda parte. Assim, a China procura penetrar nos países do "terceiro mundo" e assegurar "um lugar ao sol". Mas esse "lugar" deve ser conquistado com grandes sacrifícios.

Para se introduzir no "terceiro mundo", para ocupar mercados, é preciso capital. As classes dominantes que se encontram no poder nos países do "terceiro mundo" exigem investimentos, exigem créditos e "ajuda". Mas a China não tem condições de "ajudá-las" em grande escala, pois não possui o potencial econômico exigido. É precisamente esse potencial que ela trata de criar agora com a ajuda do imperialismo norte-americano. Nessas condições, a burguesia que domina os países do "terceiro mundo" tem claro que por enquanto não pode beneficiar-se grandemente da China, nem nos aspectos econômico e tecnológico nem no militar. Pode beneficiar-se mais do imperialismo norte-americano e do social-imperialismo soviético, dotados de grande potencial econômico, técnico e militar.

Apesar disso, como todo país que tem intenções imperialistas, a China luta e lutará ainda mais por mercados, tenta e tentará ainda mais expandir sua influência e seu domínio. Esses planos transparecem desde gora. Ela está criando seus bancos não só em Hong-Kong, onde eles já existem de há muito, mas também na Europa e em outras áreas. Combaterá especialmente para criar bancos e exportar capitais para os países do "terceiro mundo". Por enquanto ela faz muito pouco nesse campo. A "ajuda" da China reduz-se à construção de alguma fábrica de cimento, ferrovia ou hospital, pois suas possibilidades só vão até aí. Somente quando os investimentos norte-americanos, japoneses etc. na China começarem a dar os frutos que esta deseja, quer dizer, quando a economia, o comércio e a técnica militar se desenvolverem, a China será capaz de empreender uma verdadeira expansão econômica e militar em ampla escala. Mas para consegui-lo é preciso tempo.

Até então a China manobrará, como já começou a manobrar, com a política de "ajuda" e créditos sem juros ou a juros extremamente baixos, quando os soviéticos e norte-americanos exigem muito mais. Enquanto os capitais chineses não tiverem condições de arrojar-se para o exterior, a direção revisionista da China concentrará a atenção no aspecto propagandístico da parca "ajuda" e dos poucos créditos que concede a países em desenvolvimento, assinalando seu "caráter internacionalista" e "desinteressado", acompanhando-os com a palavra-de-ordem do "apoio nas próprias forças" para libertar e construir o país.

Quanto mais a China desenvolver-se econômica e militarmente, mais procurará introduzir-se e dominar nos países pequenos e menos desenvolvidos, através da exportação de seus capitais, e então não pedirá mais juros de 1 ou 2% para seus créditos, mas atuará como todos os outros.

Porém nenhum desses planos e esforços pode realizar-se facilmente. Os países imperialistas e capitalistas desenvolvidos, que têm influência no chamado terceiro mundo, não permitem que a China ocupe, sem esforço, os mercados que eles conquistaram de há muito com guerras de rapina. Eles não só se aferram às velhas posições como procuram de todas as maneiras ocupar outras novas e impedem que a China ponha a mão nesses países.

Tanto quando se encontra em dificuldades como quando está em florescimento, o imperialismo é implacável para com qualquer parceiro. Para conseguir maiores lucros, ele pode às vezes ser constrangido a fazer alguma concessão, mas em geral trata de reforçar os grilhões, em relação não só aos países débeis mas também aos desenvolvidos, como é o caso dos Estados capitalistas industrializados. Os Estados Unidos, por exemplo, sempre seguiram essa política em relação a seus aliados capitalistas quando estes se depararam com dificuldades nas guerras imperialistas que eclodiram entre eles. Mesmo depois de tais guerras, quando esses países procuravam reerguer-se, o imperialismo norte-americano empenhou todas as forças para impedi-los de introduzirem-se nos demais países onde havia instaurado seu domínio. Dessa forma, ao "ajudar" no após-guerra a Inglaterra e a França, que saíram debilitadas do conflito, os Estados Unidos penetraram a fundo nos mercados da libra, do franco, etc. Os monopólios e cartéis americanos da metalurgia, da química, dos transportes e de muitos outros ramos vitais ao desenvolvimento do capitalismo penetraram avassaladoramente nos cartéis da Inglaterra, da França, etc., colocando tais países na dependência do imperialismo estadunidense. Esse imperialismo selvagem e insaciável, assim como qualquer outro, não pode atuar distintamente na China.

Levando em conta as dificuldades com que se defronta para penetrar econômica e militarmente nos países do "terceiro mundo", a China pensa poder assegurar a hegemonia implantando sua influência política e ideológica. Pensa alcançá-la trabalhando em três sentidos: não combater o imperialismo norte-americano nem as camarilhas dominantes nos países capitalistas, pelo contrário, aliar-se a este imperialismo e a estas camarilhas; combater o social-imperialismo soviético, que está em suas fronteiras, para debilitar e desbaratar suas bases na Ásia, na África e na América Latina; enganar o proletariado e os povos tão sofridos desses Continentes por meio da demagogia e de manobras pseudo-revolucionárias e pseudo-socialistas, solapando qualquer movimento libertador revolucionário.

O imperialismo norte-americano e as demais potências imperialistas compreendem perfeitamente esses intentos da China. Os países do "terceiro mundo" também o compreendem e por isso duvidam, vêem que a China está blefando com eles, que seu objetivo não é apoiá-los e ajudá-los, mas tornar-se ela própria uma superpotência. A maioria dos dirigentes no poder nos países do Chamado terceiro mundo possuem antigas e estreitas ligações com o imperialismo norte-americano ou com potências capitalistas desenvolvidas Inglaterra, a França, a Alemanha, a Bélgica, o Japão, etc.. Por isso o flerte da China com o "terceiro mundo" não causa dores de cabeça aos Estados imperialistas e capitalistas desenvolvidos.

Os esforços da China para insinuar-se no "terceiro mundo" por meio de sua política e ideologia do chamado pensamento Mao Tsetung também não podem ter êxito porque sua ideologia e sua linha política são caóticas. A linha política da China é confusa, é uma linha pragmática que vacila e muda segundo as conjunturas e interesses do momento. As classes dominantes dos Estados do "terceiro mundo" não temem essa ideologia, pois compreendem que ela não postula a revolução e a verdadeira libertação nacional dos povos. Para exercer mais facilmente sua opressão e exploração sobre o povo, a burguesia desses países criou seus próprios partidos, rotulados das mais diversas formas. Estreitamente ligados aos capitais estrangeiros investidos nos Estados do chamado terceiro mundo, esses partidos não têm dificuldades em combater e desmascarar a linha chinesa. Por isso os dirigentes revisionistas chineses optaram pela via dos sorrisos aos partidos desses países e procuram a todo custo e a qualquer momento tratá-los de forma "doce como mel".

Com o plano de dominar o "terceiro mundo", a China trata de canalizar na medida do possível o movimento das massas trabalhadoras desse "mundo" em proveito próprio. Mas atualmente os povos oprimidos, com o proletariado à frente, já não se encontram mais mesma situação do fim do século XIX ou do início do século XX. Resistem a qualquer política hegemonista e à submissão às grandes potências imperialistas sejam elas de velho ou de novo tipo, a norte-americana a soviética ou a chinesa. Hoje as amplas massas dos povos do mundo em geral despertaram e de uma ou de forma conseguiram conquistar através de sua luta certa consciência para defender seus direitos econômicos e políticos. Os Povos do chamado terceiro mundo não podem deixar de ver que a China não trabalha para levar as idéias da revolução e da emancipação nacional aos seus países, mas para sufocar a revolução que impede a penetração da influência chinesa. A orientação chinesa de aliança com os Estados Unidos e outros países neocolonialistas desmascara igualmente o social-imperialismo chinês aos olhos dos povos.

A China não pode fazer uma propaganda positiva e revolucionária nos países do "terceiro mundo" inclusive porque entraria em conflito com a superpotência da qual procura beneficiar-se com os capitais que esta possa investir na China e com sua tecnologia avançada. A China não pode fazer tal propaganda igualmente porque a revolução derrubaria precisamente as camarilhas reacionárias dominantes em alguns países do chamado terceiro mundo que ela apóia e ajuda a sustentar no poder.

O grande afã dos dirigentes chineses em transformar o quanto antes seu país numa superpotência e instaurar sua hegemonia em toda parte, sobretudo no chamado terceiro mundo, impulsionou-os a basear sua estratégia e política externa na instigação da guerra imperialista. Os dirigentes chineses desejam veementemente um choque frontal entre os Estados Unidos e a União Soviética na Europa, em que a China, a distância, aqueceria as mãos com o incêndio atômico que destruiria seus dois principais rivais e do qual sairia como única e todo-poderosa dominadora do mundo.

Até que se sinta bastante forte para concorrer com as outras superpotências, até conquistar o "merecido posto" de superpotência, a China buscará paz para si própria e guerra para os outros. As indisfarçadas manobras diplomáticas dos revisionistas chineses para incitar a guerra entre os Estados Unidos e a União Soviética, de forma que eles próprios fiquem de lado, ocupando-se das "modernizações", vinculam-se à sua atual necessidade de paz. Não foi fortuita a declaração de Deng Xiaoping de que não haverá guerra durante vinte anos. Com isso ele queria dizer às superpotências e aos demais países imperialistas que não tivessem medo da China durante esses vinte anos. Ao mesmo tempo, os dirigentes chineses estimulam uma guerra entre as superpotências na Europa, longe da China, que ficaria a distância de seus riscos e implicações. Se isso será possível é outra coisa, mas os dirigentes chineses trabalham nesse sentido, pois julgam indispensável ter tranqüilidade durante o período que consideram necessário para alcançar o objetivo de transformar a China em superpotência.

A China propugna em altos brados o fortalecimento da "unidade européia", da "unidade dos países capitalistas desenvolvidos da Europa". Apóia tal unidade em relação a todas as questões, ufanando-se diante de velhos lobos e raposas, "ensinando-os" a reforçar sua unidade militar e econômica, a unidade organizativa estatal, etc., face ao grande perigo do social-imperialismo soviético. Mas eles não precisam das lições da China, pois têm condições de saber e sabem muito bem de onde provém o perigo.

Os países desenvolvidos do Ocidente não são ingênuos a ponto de aplicar à la lettre (ao pé da letra - em francês no original) os conselhos e satisfazer os desejos chineses. Fortalecem-se para enfrentar um eventual perigo proveniente da União Soviética, mas ao mesmo tempo fazem grandes esforços para não se indispor com ela, para não ir muito longe, nem enfurecer o "urso russo". Naturalmente isso contraria o desejo da China.

Agrada aos Estados capitalistas da Europa e aos Estados Unidos ver a China ativar suas contradições com os soviéticos, pois dizem a estes por vias transversas: "Vosso inimigo principal é a China, enquanto que nós, juntamente convosco, buscamos criar uma détente, uma coexistência pacifica, independente do que ela diga". Por outro lado, esses Estados, enquanto fingem desejarem a paz, armam-se para reforçar sua hegemonia e sua unidade militar contra a revolução, seu inimigo principal. É este o objetivo de todas as reuniões do gênero das de Helsinque e Belgrado, que se prolongam a mais não poder e assemelham-se ao Congresso de Viena após a queda de Napoleão, conhecido como o congresso dos bailes e soirées.

Os dirigentes chineses, conforme afirmou oficialmente Deng Xiaoping numa entrevista concedida ao diretor da AFP, chamam à criação de "uma ampla frente que incluirá o terceiro mundo, o segundo mundo e os Estados Unidos" para combater o social-imperialismo soviético.

A estratégia da direção revisionista da China, de incitar o Imperialismo norte-americano, a Europa Ocidental, etc., a uma guerra contra o social-imperialismo soviético, cria maiores riscos de uma guerra entre a própria China e a União Soviética do que de uma guerra entre a União Soviética e os Estados Unidos com seus aliados da OTAN.

Aquilo que a China faz ao incitar os demais à guerra, o imperialismo norte-americano, os países capitalistas desenvolvidos e todos os países dominados por camarilhas burguesas capitalistas fazem também ao açular a China e a União Soviética uma contra a outra. Portanto, há maior probabilidade de que a política dos Estados Unidos e a própria estratégia errônea da China estimulem a União Soviética a fortalecer-se ainda mais militarmente e, como potência imperialista que é, golpear primeiro a China.

Por seu lado, a China tem uma acentuada propensão para golpear a União Soviética quando sentir-se poderosa, pois possui grandes ambições territoriais quanto à Sibéria e outros territórios do Extremo Oriente. Ela levantou há tempos essas reivindicações, porém pretenderá mais ainda quando estiver preparada, quando houver posto de pé um exército equipado com toda sorte de armas. É este o sentido das palavras de Hua Guofeng ao ex-primeiro-ministro conservador inglês Eduard Heath, quando declarou: "Esperamos ver uma Europa unida e poderosa, confiamos que a Europa por sua vez espera ver uma China poderosa". Numa palavra Hua Guofeng disse à grande burguesia européia. "Vocês se fortalecem e atacam do Ocidente, enquanto nós, chineses, nos fortaleceremos e atacaremos a União Soviética, do Oriente".

A política chinesa descortinou para os Estados Unidos um caminho amplo e muito frutífero, desbravado inicialmente por Mao Tsetung, Chu Enlai e Nixon. Lançaram-se muitas pontes entre os Estados Unidos e a China, pontes camufladas, pontes que geraram efeitos e resultados. Nixon dizia: "Devemos construir uma ponte tão grande que ligue São Francisco a Pequim". O convite de Mao Tsetung e Chu Enlai a Nixon, após o escândalo de Watergate, e sua recepção por Mao tinham uma razão de ser e um objetivo determinado. Queriam dizer que a amizade com os Estados Unidos, longe de ser uma amizade conjuntural entre pessoas, é uma amizade entre países, entre a China e os Estados Unidos, em que pese o presidente que abriu esse caminho ter sido derrubado de seu posto por suas patifarias.

Agora que Carter chegou ao poder, as relações de amizade entre a China e os Estados Unidos estão encorpando. A atual atitude da China interessa grandemente aos Estados Unidos e Carter acarinha de muitas formas a estratégia chinesa.

Os Estados Unidos têm interesse em ajudar a China política, militar e economicamente, em todos os domínios, para atiçá-la contra a União Soviética. Deram à China o segredo atômico. Agora isso está claro. Deram-lhe igualmente os mais modernos computadores para servir à guerra nuclear. A China adquiriu informação completa para construir submarinos nucleares. Agora se fala aberta e oficialmente em Washington no fornecimento de modernas armas à China. Todos esses "benefícios" que os Estados Unidos oferecem à China não têm, evidentemente, o objetivo de fazer dela uma potência terrestre e naval tão grande que chegue a pôr em risco os próprios Estados Unidos, como fez o Japão na II Guerra Mundial. Não, o imperialismo norte-americano mede com cuidado a chamada ajuda que fornece a todo mundo e especialmente a que concede à China.

Dessa forma, a intenção e os febris esforços da China para tornar-se superpotência, para contrabalançar tanto os Estados Unidos como a União Soviética, não podem deixar de levar a novos atritos, a conflagrações, a guerras, que podem ter caráter local, mas também o caráter de uma guerra geral.

Toda a "teoria dos três mundos", toda a sua estratégia, as alianças e "frentes" que propõe, os objetivos que busca alcançar incitam a guerra imperialista mundial.

Nikita Kruschov e os revisionistas contemporâneos desenvolveram a famigerada teoria da "coexistência pacífica" kruschovista, que pregava a "paz social", a "competição pacífica", o "caminho pacífico" da revolução, o "mundo sem armas e sem guerras". Essa teoria visava enfraquecer a luta de classes, encobrindo e aplainando as contradições fundamentais de nossa época. Kruschov pregava a extinção das contradições entre a União Soviética e o imperialismo norte-americano em particular e das contradições entre os sistemas socialista e capitalista em geral. Sustentava a tese de que atualmente, com as transformações ocorridas no mundo, a contradição histórica entre o socialismo e o capitalismo seria superada através da competição pacífica entre ambos, uma competição econômica, político-ideológica, cultural, etc..

"Deixemos o tempo demonstrar e dizer-nos quem tem razão", afirmava Kruschov, e nessa competição os povos escolheriam livremente, "na santa paz", o regime mais conveniente. Nikita Kruschov aconselhava os povos a entregar seus recursos às superpotências e a esperar que essa famosa "competição pacífica" redundasse na garantia da liberdade, da independência, do bem-estar. Naturalmente essa política antimarxista foi desmascarada e nosso Partido foi o primeiro a abrir fogo contra ela.

O Partido Comunista da China seguiu, uma política como a de Kruschov, desde o tempo em que Mao Tsetung estava vivo. Também ele conclama ambas as partes, tanto o proletariado como a burguesia, tanto os povos como seus opressores, a cessar a luta de classes, a unir-se apenas contra o social-imperialismo soviético e a esquecer o imperialismo norte-americano.

A teoria dos "três mundos" é reacionária tal como a teoria da "coexistência pacífica" de Kruschov. Mas enquanto Kruschov e seus seguidores, porta-vozes do revisionismo contemporâneo posavam de pacifistas, Mao Tsetung, Deng Xiaoping, Hua Guofeng e companhia apresentam-se abertamente como belicistas. Querem dar à coalizão imperialista-capitalista, que inclui a própria China, as cores de uma guerra revolucionária, a configuração de uma luta pela vitória do proletariado e da libertação dos povos. Mas na realidade a "teoria" de Mao Tsetung e do Partido Comunista da China sobre os "três mundos" não conclama à revolução e sim à guerra imperialista.

O acirramento das contradições e da rivalidade entre as potências e agrupamentos imperialistas está prenhe de perigos de deflagração de conflitos armados, de guerras rapaces e escravizantes. Esta é uma conhecida tese do marxismo-leninismo, cabalmente comprovada pela história. O desenvolvimento da situação internacional em nossos dias volta a mostrar claramente sua correção.

O Partido do Trabalho da Albânia levantou muitas vezes a voz para desmascarar a ensurdecedora propaganda pacifista difundida pelas superpotências para adormecer a vigilância dos povos e países amantes da paz, para entorpecê-los com ilusões e deixá-los desprecavidos. Mais de uma vez chamou atenção para o fato de que o imperialismo norte-americano e o social-imperialismo russo estão conduzindo o mundo a uma nova guerra mundial e de que a explosão dessa guerra constitui um perigo real e não imaginário. Tal perigo não pode deixar de preocupar constantemente os povos, as amplas massas trabalhadoras, as forças e países amantes da paz, os marxistas-leninistas e homens progressistas em todo o mundo, os quais tampouco podem permanecer passivos, de mãos amarradas diante dele. Mas o que se deve fazer para deter a mão dos fautores imperialistas da guerra?

A solução não pode ser o caminho da capitulação e da submissão a eles nem o do amainamento da luta contra esses belicistas. Os fatos comprovaram que os compromissos e concessões sem princípios dos revisionistas kruschovianos não tomaram o imperialismo norte-americano mais brando, mais bem comportado e pacífico, ao contrário, tornaram-no mais arrogante e aumentaram seu apetite. Mas os marxistas-leninistas não se prestam tampouco a incitar um Estado ou grupo imperialista contra outro, não apelam às guerras imperialistas, pois quem sofre com elas são os povos. O grande Lênin acentuava que nossa política não visa atiçar a guerra e sim impedir que os imperialistas se unam contra o país socialista.

"... Caso nós realmente precipitássemos os operários e camponeses na guerra - dizia ele - seria um crime. Mas toda nossa política e propaganda absolutamente não objetivam levar os povos à guerra e sim pôr-lhe fim. E a experiência foi suficiente para demonstrar que só a revolução socialista é uma saída para as eternas guerras". (V. I. Lênin, Obras, ed. albanesa, vol. XXXI, pg. 540).

Portanto, levantar a classe operária, as amplas camadas de trabalhadores e os povos em ações revolucionárias para deter a mão dos imperialistas fautores da guerra em seus países é a única via correta. Os marxistas-leninistas sempre foram e são os mais firmes adversários das guerras injustas.

Lênin ensinou aos revolucionários comunistas que sua tarefa consiste em desbaratar os planos belicosos do imperialismo e em impedir a eclosão da guerra. Caso isso não seja alcançado, precisam mobilizar a classe operária, as massas do povo e transformar a guerra imperialista em guerra revolucionária e emancipadora.

Os imperialistas e social-imperialistas têm a guerra agressiva no sangue. Sua intenção de escravizar o mundo leva-os à guerra. Mas embora a guerra mundial imperialista seja deflagrada pelos imperialistas, é o proletariado, são os povos, os revolucionários e todas as pessoas progressistas que pagam por ela com seu sangue. É por esse motivo que os marxistas-leninistas, o proletariado e os povos do mundo são contra a guerra mundial imperialista e combatem sem tréguas para frustrar os planos dos imperialistas, para impedi-los de conduzir o mundo a uma nova carnificina.

Deriva daí que não se deve pregar a guerra imperialista, como fazem os revisionistas chineses, mas lutar contra ela. O dever dos marxistas-leninistas é erguer o proletariado e os povos do mundo na luta contra seus opressores para arrebatar-lhes o poder, os privilégios, e instaurar a ditadura do proletariado. A China não faz isso, o Partido Comunista da China não trabalha para isso. Com sua teoria revisionista, esse Partido debilita e afasta a revolução, divide as forças de vanguarda do proletariado, os partidos marxistas-leninistas que organizarão e dirigirão a revolução.

O Caminho recomendado pela direção chinesa é um engodo, é um caminho que não corresponde à nossa doutrina, o marxismo-leninismo. Pelo contrário, a linha revisionista chinesa debilita, abate o proletariado e os povos, submete-os ao risco de suportar sobre seus ombros uma guerra sanguinária, a guerra imperialista, a guerra criminosa tão odiada pelo proletariado e os povos.

Pelo mesmo motivo, a teoria de Mao Tsetung sobre os "três mundos", a atividade política do Partido Comunista da China e do Estado chinês não podem de forma alguma ser qualificadas como marxista-leninistas e revolucionárias.

Quando Kruschov preconizava a competição econômica, ideológica e política entre o socialismo e o imperialismo, os dirigentes chineses diziam-se contrários a essa tese e afirmavam que para se realizar a verdadeira coexistência pacífica era preciso combater o imperialismo, já que a "coexistência" não pode destruí-lo, não pode levar à vitória da revolução e da libertação dos povos.

Mas tais declarações ficaram no papel. Na realidade, a direção do Partido Comunista da China também era e é favorável à coexistência pacífica do tipo kruschovista. O documento que mencionamos, "Proposição Acerca da Linha Geral do Movimento Comunista Internacional", afirma: "A política de princípios é a única política justa... O que significa política de princípios? Significa que ao apresentar e elaborar qualquer política devemos permanecer nas posições proletárias, partir dos interesses fundamentais do proletariado e guiarmo-nos pela teoria e pelas teses fundamentais do marxismo leninismo". Assim declarou o Partido Comunista da China, mas o que fez e o que está fazendo agora? Fez e faz exatamente o oposto.

No documento citado e em outras ocasiões, o Partido Comunista da China declarou que "deve-se desmascarar o imperialismo norte-americano como o maior inimigo da revolução, do socialismo e dos povos de todo o mundo". Agregou entre outras coisas que "não é correto apoiar-se nem no imperialismo norte-americano nem em qualquer outro imperialismo, não é correto apoiar-se nos reacionários". Mas o Partido Comunista da China não aplicou estas teses. O Partido do Trabalho da Albânia, que se apóia fortemente nos princípios fundamentais do marxismo-leninismo, atém-se com decisão à luta contra o imperialismo e o social-imperialismo. Precisamente por esta razão a Albânia socialista opõe-se à China e o Partido do Trabalho da Albânia opõe-se ao Partido Comunista da China. Os dirigentes chineses acusam a nós, albaneses, de não fazermos "uma análise marxista-leninista da situação internacional e das contradições" e, consequentemente, não seguirmos o caminho dos chineses, de conclamar a "Europa Unida", o Mercado Comum Europeu e os proletários do mundo a se unirem aos norte-americanos contra os soviéticos. Sua conclusão é que, já que não apoiamos o imperialismo norte-americano e a "Europa Unida", etc., favoreceríamos o social-imperialismo soviético.

Essa atitude é não só revisionista, sob o manto do "anti-revisionismo", como também hostil e caluniosa com a Albânia socialista. O imperialismo norte-americano é agressivo, belicoso e belicista. Os Estados Unidos da América não querem apenas o status quo, como pretendem os chineses, mas também a expansão, do contrário não haveria motivos para terem contradições com a União Soviética. A citação de Mao mencionada por eles, de que "a América transformou-se num rato, que todo mundo persegue na rua gritando: matem-no, matem-no!", busca demonstrar que somente a União Soviética desejaria a guerra, enquanto os Estados Unidos não. Em sua condescendência para com os Estados Unidos, eles apelam a que não se golpeie o Estado que "reduziu-se à condição de um rato", mas que deve tornar-se aliado da China. Eis a estratégia antimarxista do "marxista" Mao!

Com base na análise apoiada na teoria dos "três mundos", a "estratégia" chinesa concluiu "definitivamente" que "a rivalidade entre as duas superpotências situa-se na Europa". Assombroso! Porém por que não se situa em algum outro ponto do mundo onde a União Soviética procura a expansão, como na Ásia, na África, na Austrália ou na América Latina, mas precisamente na Europa?

Os "teóricos" chineses não o explicam. Seu "argumento" é este: o rival principal dos Estados Unidos é a União Soviética. Essas duas superpotências, das quais uma quer o status quo e a outra a expansão, desencadearão a guerra, tal como ocorreu no tempo de Hitler, na Europa. Também Hitler desejava a expansão, o domínio do mundo, mas para consegui-lo tinha primeiro de vencer a França, a Inglaterra e a União Soviética. Por isso Hitler iniciou a guerra na Europa e não em outra parte. Mais adiante os revisionistas chineses argumentam que Stálin apoiou-se na Inglaterra e nos Estados Unidos. Então - concluem os chineses - por que não nos apoiaríamos nos Estados Unidos? Mas eles esquecem, conforme explicamos anteriormente, que a União Soviética ligou-se à Inglaterra e aos Estados Unidos depois e não antes de ser atacada pela Alemanha.

Quando a Alemanha de Guilherme II atacou a França e a Inglaterra, os chefes da II Internacional preconizaram a "defesa da pátria burguesa". Tanto os socialistas alemães como os franceses caíram nessa posição. Sabe-se como Lênin condenou essa atitude e o que disse contra as guerras imperialistas. Agora, ao aconselhar a união dos povos europeus com o imperialismo em nome da defesa da independência nacional, os revisionistas chineses atuam tal qual os partidários da II Internacional. Contrariando as teses de Lênin, eles instigam uma futura guerra nuclear que as duas superpotências buscam desencadear e fazem apelos "patrióticos" aos povos e ao proletariado da Europa Ocidental para que deixem de lado as "miudezas" com a burguesia (a opressão, a fome, os assassinatos, o desemprego), não ameacem seu poder, unam-se à OTAN, à "Europa Unida", ao Mercado Comum da grande burguesia e dos consórcios europeus e combatam apenas a União Soviética, para que se tornem disciplinados soldados da burguesia. Nem a II Internacional poderia fazer melhor.

Mas o que a direção chinesa aconselha aos povos da União Soviética e dos demais países revisionistas do Tratado de Varsóvia, do Comecon? Nada! Em geral ela silencia e nem faz caso desses povos. De vez em quando concita as camarilhas revisionistas que dominam esses paises a escapar da União Soviética para unir-se à América do Norte. Na realidade, diz a esses povos: silenciem, submetam-se e tornem-se carne de canhão para a camarilha sanguinária do Kremlin! Essa linha da direção revisionista da China é antiproletária, belicista.

Tudo isso mostra que os dirigentes chineses confundem intencionalmente a situação interna Encaram-na segundo seu interesse de tornar a China superpotência e não segundo o interesse da revolução, consideram-na no interesse de seu Estado imperialista e não no interesse da libertação dos povos, enxergam-na sob o prisma da extinção da revolução em seu país e das revoluções nos demais países e não sob o prisma da organização e intensificação da luta do proletariado e dos povos contra as duas superpotências bem como contra os opressores burgueses capitalistas dos demais países, vêem-na sob a ótica do estímulo e não da resistência à guerra imperialista mundial.

A caminhada da China para tornar-se superpotência terá graves conseqüências, em primeiro lugar para a própria China e o povo chinês.

A análise marxista-leninista de sua política leva à conclusão de que a direção chinesa está conduzindo seu país para um beco sem saída. Ela pensa que ao servir o imperialismo norte-americano e o capitalismo mundial conseguirá algumas vantagens para si própria, mas tais vantagens são duvidosas e custarão caro à China. Trarão a catástrofe para o país e naturalmente também terão sensíveis repercussões em outros países.

A política da China para tornar-se superpotência, inspirada numa ideologia antimarxista, está se desmascarando e desmascarar-se-á ainda mais aos olhos de todos os povos, mas sobretudo dos povos do chamado terceiro mundo. Os povos compreendem as metas da política de cada Estado, seja ele o que for, socialista, revisionista, capitalista ou imperialista. Vêem e compreendem que, apesar de posar de participante do "terceiro mundo", a China não tem as mesmas aspirações e objetivos que os animam. Observam que ela segue uma política social-imperialista. É compreensível que essa política impopular, uma política que ajuda a opressão social e nacional, seja inaceitável para os povos. Ela só interessa às camarilhas reacionárias, aos que dominam e oprimem os povos.

A China apóia e fornece armas à Somália, que está em guerra com a Etiópia empurrada pelos Estados Unidos. Enquanto isso, a União Soviética ajuda a Etiópia a engalfinhar-se com a Somália. Também ocorre o mesmo na Eritréia. Assim, a China toma um partido, a União Soviética o outro. Se a China é vista com bons olhos na Somália, é pelos que estão no poder, não pelo povo somali que está sendo morto. Ela também não é vista com bons olhos pela direção da Etiópia, apoiada pelos soviéticos, nem tampouco pelo povo etíope, que foi insuflado contra os somalis, os quais supostamente procuraram ocupar a Etiópia. Dessa forma, a China não tem qualquer influência nem na Etiópia nem na Somália.

Mas ela também não é vista com bons olhos na Argélia. Esta apóia a frente "Polisário", enquanto a China toma o partido da Mauritânia e do Marrocos, ou seja, do imperialismo norte-americano.

A política externa da China segue uma orientação pretensamente pró-povos árabes. Mas essa política consiste unicamente em fazer os povos árabes se unirem contra o social-imperialismo Soviético. Compreende-se por si só que a China auxilia qualquer aproximação dos árabes, em primeiro lugar com os Estados Unidos.

No que diz respeito a Israel, a direção chinesa fala muito contra ele. Mas na prática, por sua estratégia, é pró-Israel. É o que os povos árabes e sobretudo o palestino vêm constatando.

Nos países da Ásia pode-se dizer que a China não tem uma influência visível e estável.

A China não possui uma amizade sincera e estreita com os países vizinhos, para não falar dos outros que estão mais distantes. A política chinesa não é nem pode ser justa, uma vez que não é marxista-leninista. Com base em tal política, ela não pode estabelecer uma amizade sincera com o Vietnã, a Coréia, o Camboja, o Laos, a Tailândia, etc. A China finge desejar a amizade desses países, mas na prática existem entre ela e estes últimos contradições quanto a questões políticas, territoriais e econômicas.

Com a política que segue, a China já entrou em conflito aberto com o Vietnã. Vêm ocorrendo graves incidentes na fronteira entre os dois países. Os social-imperialistas chineses interferiram profundamente nos assuntos internos daquele país, inflaram o conflito entre o Camboja e o Vietnã em função de seus próprios fins expansionistas. Quando a direção chinesa comporta-se dessa forma com o Vietnã, que até ontem considerava como país irmão e amigo íntimo, o que podem pensar os países da Ásia sobre a política chinesa? Podem confiar nela?

Falar da influência da China nos países da América Latina seria perda de tempo. Ali ela não tem influência, nem política, nem ideológica, nem econômica. Toda a influência da China reside na amizade com um certo Pinochet, um fascista sanguinário e furioso. Essa atitude da China indignou não só os povos da América Latina, mas também a opinião pública mundial. Todos vêem que a direção chinesa é favorável aos governantes opressores, aos ditadores e generais que dominam os povos, é favorável ao imperialismo norte-americano que cravou suas garras no dorso dos povos desse Continente. Assim, pode-se dizer que a influência da China na América Latina é insignificante, fraca e inconsistente.

Além de não contar com a simpatia e o apoio dos povos, a política dos dirigentes chineses fará com que a China se isole cada vez mais dos Estados progressistas, do proletariado mundial. Não pode haver povo, não se consegue encontrar proletariado e revolucionários que apóiem a política da China, quando vêem ao lado dos dirigentes chineses ex-generais nazistas alemães, ex-generais e almirantes militaristas japoneses, generais fascistas portugueses, etc., etc., tal como ocorreu na tribuna da praça Tien An-men no dia da festa nacional de 10 de outubro de 1977.

A China não pode avançar no caminho de sua transformação numa superpotência sem intensificar a exploração das amplas massas trabalhadoras internamente. Os Estados Unidos e os demais Estados capitalistas Procurarão auferir superlucros com o capital que investirão ali, pressionarão inclusive em favor de transformações rápidas e radicais da base e da superestrutura da sociedade chinesa no sentido capitalista. O incremento da exploração das massas de muitos milhões para manter a burguesia chinesa e seu gigantesco aparelho burocrático, para fazer frente ao resgate dos créditos e juros dos capitalistas estrangeiros levará inevitavelmente ao surgimento de profundas contradições entre o proletariado e o campesinato chinês, de um lado, e os opressores burguês-revisionistas de outro. Isso colocará estes últimos perante as massas trabalhadoras de seu próprio país, o que não pode deixar de conduzir a agudos conflitos e explosões revolucionárias na China.


Inclusão 03/11/2005
Última alteração 14/04/2014