História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS

Comissão do Comitê Central do PC(b) da URSS
Capítulo VII — O Partido Bolchevique Durante o Período de Preparação e Realização da Revolução Socialista de Outubro (Abril de 1917-1918)

6 — A insurreição de outubro de Petrogrado. Prisão do Governo Provisório. — O II Congresso dos Soviets e formação do Governo Soviético. — Decretos do II Congresso dos Soviets sobre a terra. — Triunfa a revolução socialista. — Causas do triunfo da Revolução Socialista.

Os bolcheviques começaram a se preparar energicamente para a insurreição. Lenin assinalou que, tendo como já tinham maioria nos Soviets de deputados operários e soldados das capitais, Moscou e Petrogrado, os bolcheviques podiam e deviam tomar em suas mãos o Poder. Fazendo o balanço do caminho percorrido, Lenin ressaltava:

"A maioria do povo está conosco".

Em seus artigos e cartas ao Comitê Central e às organizações bolcheviques, Lenin traçava um plano concreto para a insurreição: dizia como deviam utilizar-se as unidades militares, a armada e os guardas vermelhos, quais os pontos decisivos que eram necessários ocupar em Petrogrado para garantir o êxito da insurreição, etc.

A 7 de outubro, Lenin se transportou clandestinamente da Finlândia para Petrogrado. A 10 de outubro de 1917, celebrou-se a histórica sessão do Comitê Central do Partido bolchevique, na qual se resolveu dar começo à insurreição armada poucos dias depois. A histórica resolução aprovada pelo C. C. do Partido e redigida por Lenin, dizia:

"O C. C. reconhece que a situação internacional da revolução russa (insurreição da esquadra alemã, sinal agudo da marcha ascendente da revolução socialista mundial em toda a Europa, depois a ameaça de uma paz entre imperialistas com o fim de estrangular a revolução na Rússia), a situação militar (decisão indubitável da burguesia russa e de Kerenski e Cia. de entregar Petrogrado aos alemães) e a conquista pelo Partido proletário da maioria dentro dos Soviets — ao lado da insurreição camponesa c da confiança cada dia maior do povo para com nosso Partido (eleições de Moscou); e, finalmente, a preparação clara de uma segunda Korniloviada (evacuação de tropas de Petrogrado, concentração de cossacos nesta capital, cerco de Minsk pelos cossacos, etc), põem na ordem do dia a insurreição armada.
Reconhecendo, pois, que a insurreição armada é inevitável e se acha plenamente madura, o C. C. insta a todas as organizações do Partido para que se guiem por isto e examinem e resolvam deste ponto de vista todos os problemas práticos (Congresso dos Soviets da região Norte, saída de tropas de Petrogrado, ações em Moscou e Minski, etc.)" (Lenin, t. XXI, pág. 330, ed. russa).

Intervieram e votaram contra esta histórica resolução dois membros do C. C: Kamenev e Zinoviev. Também eles sonhavam, como os mencheviques, com uma República parlamentar burguesa e injuriavam a classe operária, afirmando que não era bastante forte para realizar a revolução socialista e que não estava ainda capacitada para tomar o Poder.

Trotsky, se bem que nesta sessão não votasse abertamente uma emenda a ela que, se fosse aceita, teria reduzido a nada e feito fracassar a insurreição, propôs que esta não começasse até a abertura do II Congresso dos Soviets, o que equivalia a denunciar a insurreição, fixar de antemão o dia em que havia de estalar, e pôr em guarda com isso o governo provisório.

O C. C. do Partido bolchevique enviou delegados com plenos poderes à bacia do Donetz, ao Ural, a Helsingfors, a Kronstadt, à frente sul-ocidental, etc., com o fim de organizar sobre o terreno a insurreição. Os camaradas Vorochilov, Molotov, Dzerzhinski, Ordzhonikidse, Kirov, Kaganovich, Kuibichev, Frunzi, Iaroslavski e outros receberam missões especiais do Partido para dirigir a insurreição em diferentes lugares. No Ural, em Shadrinsk, entre as tropas, atuou o camarada Zhdanov. Na frente Ocidental, na Bielo-Rússia, foi o camarada Ezhov quem preparou para a insurreição a massa dos soldados. Os delegados do C. C. levaram ao conhecimento dos dirigentes das organizações bolcheviques de base o plano da insurreição e os estimulavam a preparar e mobilizar suas forças para ajudar o movimento em Petrogrado.

Criou-se, por determinação do Comitê Central do Partido, o Comitê Militar Revolucionário adstrito ao Soviet de Petrogrado, que devia assumir as funções de Estado-Maior legal da insurreição.

Ao mesmo tempo que sucedia isto, a contra-revolução se apressava também a concentrar suas forças. A oficialidade do Exército se organizava na entidade contra-revolucionária intitulada "Liga dos Oficiais". Os contra-revolucionários criavam por toda a parte Estados-Maiores para a formação de batalhões de choque. Em fins de outubro, a contra-revolução dispunha de 43 batalhões desta espécie. Organizaram-se, além disso, batalhões formados exclusivamente pelos "Cavaleiros de São Jorge".

O governo de Kerenski apresentou o problema de sua transferência de Petrogrado para Moscou. Isto significava que estava preparando a entrega de Petrogrado aos alemães, para impedir a insurreição nessa capital. Mas o protesto aos operários e soldados de Petrogrado obrigou o governo provisório a permanecer ali.

A 16 de outubro, realizou-se uma sessão ampliada do C. C. do Partido bolchevique. Nela se elegeu um Centro do Partido encarregado de dirigir a insurreição. A frente dele achava-se o camarada Stalin. Este centro era o núcleo dirigente do Comitê Militar Revolucionário adstrito ao Soviet de Petrogrado e foi ele que praticamente dirigiu toda a insurreição.

Nesta sessão do C. C. os capituladores Zinoviev e Kamenev tornaram a se pronunciar contra a insurreição. E tendo obtido a merecida réplica, combateram abertamente pela Imprensa a insurreição e o Partido. A 18 de outubro um jornal menchevique intitulado "Novaia Jisn" ("Vida Nova") publicou uma declaração de Kamenev e Zinoviev, dizendo que os bolcheviques preparavam uma insurreição e que eles consideravam esta insurreição como uma aventura. Com isto, Kamenev e Zinoviev levavam ao conhecimento dos inimigos a decisão do C. C. sobre o movimento e sua organização para uma data imediata. Esta atitude era uma traição. A propósito disto, Lenin escreveu:

"Kamenev e Zinoviev delataram a Rodzianko e Kerenski a resolução do C. C. de seu Partido sobre a insurreição armada".

E pleiteou ao Comitê Central a expulsão de Zinoviev e Kamenev do Partido.

Os inimigos da revolução, prevenidos pelos traidores, começan a tomar sem perda de tempo as medidas necessárias para impedii insurreição e esmagar o Estado-Maior dirigente da revolução, o Partido bolchevique. O governo provisório reuniu um Conselho de ministros secreto, no qual se combinaram as medidas de luta contra os bolcheviques. A 19 de outubro, o governo trouxe apressadamente tropas da frente para Petrogrado. Começaram a pulular pelas ruas patrulhas reforçadas. Foi em Moscou que a contra-revolução consegui concentrar uma quantidade muito grande de forças. O governo provisório tinha traçado o plano de atacar e tomar o palácio de Smolni, sede do Comitê Central do Partido bolchevique, na véspera do dia em que deviam ser abertas as sessões do II Congresso dos Soviets e esmagar o Centro dirigente dos bolcheviques. Para isso foram transferidos para Petrogrado tropas de cuja lealdade o governo se julgava seguro.

Mas os dias e as horas de vida do governo provisório estavam contados. Já não havia força capaz de deter a marcha esmagadora da Revolução Socialista.

A 21 de outubro foram enviadas a todas as unidades revolucionárias de tropas comissários bolcheviques do Comitê Militar Revolucionário. Durante os dias que precederam à insurreição, se desenvolveu um enérgico trabalho preparatório da luta no seio das unidades militares e nas fábricas e empresas industriais. Designaram-se tombem missões concretas aos navios de guerra, aos cruzadores "Aurora" e "Sariá Svobodi" ("Amanhecer da liberdade").

Na sessão do Soviet de Petrogrado, Trotsky, fazendo bravatas, bateu com a língua nos dentes e delatou ao inimigo a datada insurreição, o dia assinalado pelos bolcheviques para desencadear o movimento. Para não dar ao governo de Kerenski a possibilidade de fazer fracassar a insurreição armada, o C. C. do Partido decidiu começar a insurreição antes da data marcada, na véspera do dia em que deviam ser abertas as sessões do II Congresso dos Soviets.

Kerenski começou a agir nas primeiras horas da manhã de 24 de outubro (6 de novembro), dando ordem de suspender o jornal intitulado "Rabochi Put" ("O Caminho Operário"), órgão central do Partido bolchevique, e enviando os carros de assalto ao local da redação do jornal e ao das oficinas dos bolcheviques. Mas, pelas 10 horas da manhã, seguindo instruções do camarada Stalin os guardas vermelhos e os soldados revolucionários expulsaram os carros de assalto e reforçaram a guarda das oficinas e da redação do jornal. Cerca de 11 horas, saiu "O Caminho Operário", com um apelo para derrubar o governo Provisório. Ao mesmo tempo, e seguindo instruções do Centro do Partido para a insurreição, foram concentrados urgentemente no Smolni os destacamentos de soldados revolucionários e guardas vermelhos.

A insurreição começara.

NXa noite de 24 de outubro, Lenin se transferiu para o Smolni, a fim de se incumbir pessoalmente da direção do movimento. Durante toda a noite, não cessaram de chegar a Smolni unidades revolucionárias de tropas e destacamentos de guardas vermelhos. Os bolcheviques mandavam-nos para o centro da cidade, a fim de cercarem o Palácio de Inverno, onde se entrincheirara o governo provisório.

A 25 de outubro (7 de novembro), a Guarda Vermelha e as tropas revolucionárias tomaram as estações de estradas de ferro, as centrais de Correios e Telégrafos, os Ministérios e o Banco do Estado.

O Pré-parlamento foi dissolvido.

O Palácio de Smolni, residência do Soviet de Petrogrado e do Comitê Central do Partido bolchevique, converteu-se em Quartel-General da Revolução; era daí que saíam as ordens de batalha.

Os operários de Petrogrado demonstraram nestas jornadas, que tinham passado, sob a direção do Partido bolchevique, por uma boa escola. As unidades militares revolucionárias, preparadas para a insurreição pelo trabalho dos bolcheviques, cumpriram exatamente as ordens de batalha que lhes eram dadas e se batiam em fraternal união com a Guarda Vermelha. A Marinha de Guerra não desmereceu do Exército. Kronstadt era uma fortaleza do Partido bolchevique, na qual já há muito tempo não se reconhecia o Poder do governo provisório. Com o estrondo de seus canhões, apontados para o Palácio de Inverno, o cruzador "Aurora" anunciou, a 25 de outubro, o começo da nova era, a era da Grande Revolução Socialista.

A 25 de outubro (7 de novembro), publicou-se um apelo do Partido bolchevique. "Aos cidadãos da Rússia". Nele se dizia que o governo provisório burguês tinha passado para as mãos dos Soviets.

O governo provisório se tinha refugiado no Palácio de Inverno, sob a proteção dos kadetes e dos batalhões de choque. Nas noites de 25 e 26 de outubro, os operários, soldados e marinheiros revolucionários tomaram de assalto o Palácio de Inverno e prenderam o governo provisório. A insurreição armada em Petrogrado vencera. O II Congresso dos Soviets de toda a Rússia abriu suas sessões no Smolni às 10h45min da noite do dia 25 de outubro (7 de novembro) de 1917, quando se achava em todo seu apogeu a insurreição triunfante em Petrogrado, e o Poder, na capital, tinha passado já de fato para as mãos do Soviet da cidade.

Os bolcheviques obtiveram neste Congresso uma esmagadora maioria. Os mencheviques, os delegados do "Bund" e os social-revolucionários de direita, vendo que já não tinham nada em que fazer ali se retiraram do Congresso, não sem antes declarar que renunciavam a tomar parte em seus trabalhos. Nesta declaração tornada pública no Congresso dos Soviets, qualificavam como uma "conspiração militar" a Revolução de Outubro, O Congresso ridicularizou os mencheviques e social-revolucionários, manifestando que, não só não lamentava sua retirada como ainda se congratulava com ela, já que, graças à retirada dos traidores o Congresso se convertia num verdadeiro Congresso revolucionário de deputados operários e soldados.

Em nome do Congresso foi proclamada a passagem de todo o Poder para as mãos dos Soviets.

No apelo do II Congresso dos Soviets, se dizia:

"Apoiando-se na vontade da imensa maioria dos operários, soldados e camponeses e na insurreição triunfante levada a cabo pelos operários e a guarnição de Petrogrado, o Congresso toma em suas mãos o Poder".

Na noite de 26 de outubro (8 de novembro) de 1917, o II Congresso dos Soviets aprovou o decreto sobre a paz. O Congresso propunha aos países beligerantes concertar imediatamente um armistício por um prazo mínimo de três meses, para entabolar negociações de paz. Ao mesmo tempo que se dirigia aos governos e aos povos de todos os países beligerantes, o Congresso fazia um apelo aos

"operários conscientes das três nações mais adiantadas da Humanidade e dos três Estados mais importantes que tomam parte na atual guerra: Inglaterra, França e Alemanha".

E convidava estes operários a que ajudassem a

"levar a termo rapidamente a causa da paz e, com ela, a causa da libertação das massas trabalhadoras e exploradas, de toda a escravidão e de toda a exploração".

Na noite do mesmo dia, o II Congresso dos Soviets aprovou também o decreto sobre a terra, no qual se declarava

"imediatamente abolida, sem nenhum gênero de indenização a propriedade dos latifundiários sobre a terra".

Esta lei foi aprovada, tomando-se como base um mandato camponês geral, redigido de acordo com os 242 mandatos locais formulados pelos camponeses. Nele se declarava abolido para sempre o direito da propriedade privada sobre a terra, que passava a ser substituída pela propriedade de todo o povo, do Estado. As terras dos latifundiários, da família imperial e da Igreja eram entregues em usufruto gratuito a todos os trabalhadores.

Por este decreto, a Revolução Socialista de Outubro entregava aos camponeses mais de 150 milhões de hectares de terras, que até então tinham estado em mãos dos latifundiários, da burguesia, da família real, dos mencheviques e da Igreja.

Os camponeses ficavam isentos do dever de pagar as rendas aos latifundiários, rendas que subiam a cerca de 500 milhões de rublos ouro por ano.

Todas as riquezas do subsolo (petróleo, carvão, minerais, etc), as matas e as águas passavam a ser propriedade do Povo.

Finalmente, do II Congresso dos Soviets de toda a Rússia saiu o primeiro governo Soviético, o Conselho de Comissários do Povo, formado em sua totalidade por bolcheviques. Para presidi-lo, foi designado Lenin.

Terminou, com isto, suas tarefas o histórico II Congresso dos Soviets.

Os delegados do Congresso se disseminaram pelo país, para difundir a nova do triunfo dos Soviets em Petrogrado e assegurar a vitória do Poder Soviético em toda a Rússia.

A passagem do Poder para os Soviets nem em toda a parte foi tão rápida. Já se achava instaurado em Petrogrado o Poder Soviético, e nas ruas de Moscou se travavam ainda nutridos e furiosos combates que duraram vários dias. Antes de consentir que o Poder passasse para as mãos do Soviet de Moscou, os partidos contra-revolucionários, mencheviques e social-revolucionários, unidos aos guardas brancos e aos kadetes, desencadearam a luta armada contra os operários e contra os soldados. Custou vários dias esmagar os facciosos e instaurar em Moscou o poder dos Soviets.

Na própria Petrogrado e em suas imediações, fizeram-se, durante os primeiros dias do triunfo da revolução, algumas tentativas contra-revolucionárias para derrubar o Poder Soviético. A 10 de novembro de 1917, Kerenski, que já em plena insurreição tinha fugido de Petrogrado para um setor da frente Norte, concentrou algumas unidades de cossacos e enviou-as sobre Petrogrado, com o general Krasnov à frente. A 11 de novembro de 1917, a organização contra-revolucionária intitulada "Comitê de Salvação da Pátria e da Revolução", dirigida por social-revolucionários, desencadeou em Petrogrado uma sublevação de kadetes. Mas esta sublevação foi esmagada sem grande esforço. Após um dia de luta, ao anoitecer do dia 11 de novembro, os marinheiros e os guardas vermelhos liquidaram a sublevação dos kadetes, e a 13 de novembro era derrotado o general Krasnov perto das montanhas de Pulkovo. Lenin dirigiu pessoalmente o esmagamento desta sublevação anti-soviética, da mesma sorte que dirigira a insurreição de outubro. Sua firmeza inquebrantável e sua serena segurança no triunfo animavam e fundiam em um só bloco as massas. O inimigo foi esmagado. Krasnov caiu prisioneiro e deu sua "palavra de honra" de que não tornaria a lutar contra o Poder Soviético. Foi posto em liberdade sob esta "palavra de honra", mas algum tempo depois, Krasnov traía sua palavra de general. Kerenski conseguiu fugir, disfarçado de mulher "em direção desconhecida".

Também o general Dukhonin tentou promover uma sublevação em Moguilev, no Quartel-General do Exército. Quando o governo Soviético ordenou a Dukhonin entabolar imediatamente negociações para fazer um armistício com o comando alemão, este general se negou a cumprir as ordens do governo. Em vista disso, o Poder Soviético decretou sua destituição. O Alto Comando contra-revolucionário foi esmagado, e Dukhonin morreu nas mãos das tropas sublevadas contra ele.

Assim mesmo tentaram uma saída contra o Poder Soviético os já citados oportunistas embuçados no Partido: Kamenev, Zinoviev, Rykov, Shliopnikov e outros. Estes elementos começaram a exigir a formação de um "governo socialista homogêneo", com a participação dos mencheviques e social-revolucionários, os quais, a Revolução de Outubro acabava de derrubar. A 15 de novembro de 1917, o C. C. do Partido bolchevique aprovou uma resolução, rechaçando qualquer compromisso com estes partidos contra-revolucionários e declarando Kamenev e Zinoviev fura-greves da Revolução. A 17 de novembro, Kamenev, Zinoviev, Rykov e Miliutin, em desacordo com a política do Partido, declararam que se demitiam de seus postos no Comitê Central. No mesmo dia, 17 de novembro, Noguim, em seu nome e em nome de Rykov, V. Miliutin, Teodorovich, A. Shliapnikov, D Riazanov, Iurenev e Larin, que tinham entrado para o Conselho de Comissários do Povo, formulou uma declaração de desacordo com a política do C. C. do Partido, anunciando que os mencionados indivíduos se demitiam de seus cargos no governo soviético. A fuga deste punhado de covardes produziu grande júbilo entre os inimigos da Revolução de Outubro. Toda a burguesia e seus lacaios esfregavam as mãos de prazer, antevendo com gritinhos a derrocada do bolchevismo e prognosticando o naufrágio do Partido bolchevique. Mas este punhado de desertores não conseguiu fazer com que o Partido vacilasse um minuto sequer. O Comitê Central cobriu-os com o seu desprezo, como a desertores da revolução e lacaios da burguesia, sem se deter um instante em seu caminho.

Quanto aos social-revolucionários de "esquerda", não querendo perder sua influência entre as massas camponesas, que simpatizavam claramente com os bolcheviques, decidiram não romper com estes e manter, no momento, a frente única com eles. O Congresso dos Soviets camponeses, celebrado em novembro de 1917, reconheceu todas as conquistas da Revolução Socialista de Outubro e os decretos do Poder Soviético. Foi feito um acordo com os social-revolucionários de "esquerda", alguns dos quais (Kolegaviev, Spiridonova, Proshián e Steimberg) foram incluídos no Conselho de Comissários do Povo. Mas este acordo só se manteve de pé até a assinatura da paz de Brest-Litovsk e a constituição dos Comitês de camponeses pobres; a profunda diferenciação de classes que se produziu então entre os camponeses, fez com que os social-revolucionários de "esquerda", cuja posição refletia cada vez mais acentuadamente os interesses dos kulaks, desencadeassem uma sublevação contra os bolcheviques, sendo esmagados pelo Poder Soviético.

Desde outubro de 1917 até janeiro-fevereiro de 1918, a Revolução soviética conseguiu estender-se por toda a Rússia. Tão rápido foi o ritmo com que o Poder dos Soviets se foi instaurando ao longo do território do imenso país, que Lenin falava da "marcha triunfal" do Poder Soviético.

A Grande Revolução Socialista de Outubro havia triunfado.

Entre as diversas causas que determinaram este triunfo tão relativamente fácil da Revolução Socialista na Rússia, convém destacar como fundamentais as seguintes:

1) A Revolução de Outubro defrontou-se com um inimigo relativamente tão débil, tão mal organizado e tão inexperiente politicamente, como a burguesia russa. A burguesia russa, ainda, economicamente débil e inteiramente dependente dos fornecimentos ao governo, não tinha nem a independência política nem a iniciativa necessárias para encontrar uma saída da situação. Não possuía esja experiência nas baixezas e nos manejos políticos em grande escala que, por exemplo, a burguesia francesa possui, nem tinha passado pela escola de cambalachos e patifarias de grande estilo em que é mestra, por exemplo, a burguesia inglesa. A burguesia russa que dias antes, se esforçava para chegar a um acordo com o czar, derrubado pela Revolução de fevereiro, não soube, ao subir ao Poder, fazer coisa melho do que continuar em suas linhas fundamentais a política do odiado autocrata. Pugnava, tal como o czar, pela "guerra até a vitória final", apesar de que a guerra arruinava e esgotava o país e deixava exaustas as energias do povo e do Exército. Pugnava, tal como o czar, pela conservação, em suas linhas fundamentais, da propriedade dos latifundiários sobre a terra, apesar dos camponeses morrerem por falta de terras e sucumbirem sob a opressão dos latifundiários. Quanto à política seguida a respeito da classe operária, a burguesia russa ia mais além ainda que o czar em seu ódio contra o proletariado, pois não só se esforçou por manter e robustecer a opressão dos patrões, mas também, tornava-a insuportável, mediante a aplicação de "lockouts" em massa.

Não era, pois, de estranhar que o povo não vise nenhuma diferença essencial entre a política do czar e a da burgusia, e transferisse para o governo provisório desta seu ódio contra o carismo.

Enquanto os partidos oportunistas social-evolucionários e mencheviques conservaram certa influência sobre o povo, a burguesia pôde entrincheirar-se por detrás deles e manter em nas mãos o Poder. Mas depois que os mencheviques e os social-revolcionários se desmascararam como agentes da burguesia imperialista, perdendo com isso sua influência sobre o povo, a burguesia e seu governo provisório ficaram no ar.

2) À frente da Revolução de Outubro se apresentava uma classe revolucionária como a classe operária da Rússia, temperada nas lutas, que havia em pouco tempo passado por duas revoluções e tinha sabido conquistar, nas vésperas da terceira revolução, a autoridade de dirigente do povo, em sua luta pela paz, a terra, a liberdade e o socialismo.

Se não tivesse existido este dirigente da revolução, credor da confiança do povo, que era a classe operária da Rússia, não se teria conseguido tampouco a aliança entre os operários e os camponeses, sem a qual não teria podido triunfar a Revolução de Outubro.

3) A classe operária da Riissia contava com um aliado tão importante na revolução como eram os camponeses pobres, que formavam a esmagadora maioria da população camponesa. A experiência de oito meses de revolução, que valia, indubitavelmente, pela de dezenas de anos de desenvolvimento "normal", não tinha passado em vão para as massas trabalhadoras do campo. Durante estes meses, tinham tido ocasião de tomar o pulso na realidade a todos os partidos da Rússia e de se convencer de que não eram os kadetes, nem os social-revolucionários, nem os mencheviques que lutariam contra os latifundiários nem derramariam seu sangue pelos camponeses; de que, na Rússia, só havia um partido que não se achava vinculado com os latifundiários e que estava disposto a esmagar estes para satisfazer às necessidades dos camponeses, e este partido era o Partido bolchevique. Foi esta circunstância que serviu de base real para a aliança do proletariado com os camponeses pobres. A existência desta aliança entre a classe operária e os pobres do campo determinou também a conduta dos camponeses médios, que vacilaram durante muito tempo e só nas vésperas da insurreição de outubro se orientaram devidamente para a revolução, unindo-se aos camponeses pobres.

Cumpre demonstrar que sem esta aliança a Revolução de Outubro não teria podido vencer.

4) A classe operária tinha ã sua frente um partido tão experimentado nas lutas políticas como o Partido bolchevique. Só um partido como o bolchevique, suficientennente intrépido para conduzir o povo
ao assalto decisivo, e suficientemente prudente para evitar todos os obstáculos que se erguiam no caminho para o objetivo; só um partido assim, podia fundir tão habilmente em uma grande torrente revolucionária movimentos revolucionárias tão diversos como o movimento democrático-camponês pela posse das terras dos latifundiários, o movimento de libertação nacional dos povos oprimidos, pela igualdade de direitos das nações e o movimento socialista da classe operária pela derrubada da burguesia e a instauração da ditadura do proletariado.

É indubitável que a fusão destas diversas correntes revolucionárias numa poderosa torrente revolucionária única foi o que decidiu da sorte do capitalismo na Rússia.

5) A Revolução de Outubro estalou num momento em que a guerra imperialista estava ainda em seu apogeu, em que os principais Estados burgueses se achavam divididos em dois campos inimigos, em que estes Estados, empenhados numa guerra de uns contra os outros e se debilitando mutuamente, não podiam imiscuir-se a fundo nos "assuntos da Rússia", intervindo ativamente contra a Revolução de Outubro.

É indubitável que esta circunstância facilitou consideravelmente o triunfo da Revolução Socialista de Outubro.


pcr
Inclusão 26/12/2010