J.V.Stálin, o Perigo de uma Nova Guerra Mundial e a Possibilidade de se Evitá-la

I. A. Selezniev


Primeira Edição:
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 40 - Mai-Jun de 1952.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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A HISTÓRIA guerreira insuflada pelos imperialistas americanos, fomentadores de guerra, a psicose atômica e as aventuras militares abertas contra os povos amantes da paz da Ásia e de outras partes do mundo provocam entre os homens simples de toda parte ansiedade pelos destinos do mundo. O problema de se saber se um punhado de multimilionários poderá lançar a humanidade no abismo de uma carnificina ou se os povos poderão paralisar a mão sangrenta da guerra atômica que pesa sobre o mundo, é um problema que atualmente agita os corações de todos aqueles que prezam os interesses da paz, da liberdade e do progresso.

Duas tendências refletem a situação atual das relações internacionais. Por um lado, a franca aspiração, que os imperialistas americanos não escondem, de lançar os povos do mundo em uma nova guerra destruidora, depois de envolvê-los numa rede de mentiras e, por outro lado, a poderosa vontade de centenas de milhões de homens simples que se contrapõem a esses intentos e que lutam com firmeza contra os desígnios de agressão dos monopolistas e dos governos que a eles se subordinam. Qual é, porém, o conteúdo real dessas tendências? Existem condições objetivas e subjetivas para tornar impossível o desencadeamento de uma nova guerra mundial e para transformar em realidade a possibilidade do se evitá-la, a possibilidade de se defender a paz?

Em entrevista concedida ao correspondente do jornal «Pravda», em fevereiro de 1951, o camarada Stálin, após apresentar uma profunda análise marxista-leninista das relações internacionais na atualidade, demonstrou que se aguça cada vez mais a luta entre as forças da agressão e as forças da paz.

«Como terminará essa luta entre as forças da agressão e as forças da paz?

A paz será mantida e consolidada se os povos tomarem a causa da manutenção da paz em suas próprias mãos e a defenderem até o fim. A guerra pode se tornar inevitável se os incendiários de guerra conseguirem envolver as massas populares numa rede de mentiras enganá-las e arrastá-las a uma nova guerra mundial».(1)

VIVEMOS numa época de desmoronamento do velho mundo, o mundo capitalista, e da vitória do novo mundo, o mundo do comunismo.

Como se sabe, o velho não abandona voluntariamente a cena da história. Agarra-se à menor possibilidade a fim de retardar o dia de seu colapso o mundo capitalista, a cuja decomposição assistimos, recorre também a todas as tentativas possíveis de prolongar a sua existência. A guerra em que os imperialistas vêem a possibilidade de sair da crise em que atualmente se encontra todo o sistema do capitalismo (embora possam vir a lamentar as conseqüências de uma tal guerra), é uma dessas tentativas.

A guerra é, além disso, um negócio bastante lucrativo para uma camarilha de monopolistas ensandecidos. Durante os anos da primeira guerra mundial os monopólios americanos tiveram um lucro líquido de 38 bilhões de dólares e durante os anos da segunda guerra mundial um lucro líquido de 53 bilhões de dólares, e somente nos primeiros três meses da intervenção na Coréia os lucros dos monopólios americanos aumentaram de 54% em relação ao período correspondente de 1949.

E em holocausto aos fabulosos lucros de um insignificante punhado de monopolistas dezenas de milhões de homens simples são forçados a sacrificar o que têm de mais precioso — a própria vida. A guerra representa a morte para milhões de homens e a destruição de imensos valores materiais. A guerra provoca uma grande destruição das forças produtivas, a ruína de cidades e aldeias e o feroz aniquilamento da população civil. Todos conhecem os métodos desumanos empregados pelos invasores fascistas alemães na guerra contra a União Soviética. Atualmente os imperialistas americanos submetem a população da Coréia a métodos mais ferozes e a humilhações e escárnios mais vis, mais refinados e sutis.

Quando o final da segunda guerra mundial se aproximava e quando: já se percebia a derrota da Alemanha hitlerista e a vitória dos povos amantes da paz, o camarada Stálin, chefe do povo soviético, apresentou aos povos de todo o mundo a seguinte tarefa: tornar impossível o desencadeamento de uma nova agressão e de uma nova guerra.

«Ganhar a guerra contra a Alemanha — afirmou o camarada Stálin — significa realizar uma grande obra histórica. Ganhar a guerra ainda não significa, porém, garantir para os povos uma paz estável e uma firme segurança no futuro. A tarefa não está somente em se ganhar a guerra, mas também em se tornar impossível o desencadeamento de uma nova agressão e de uma nova guerra, senão para sempre, pelo menos por um prolongado período».(2)

Pareceria, à primeira vista, que a afirmação de que é possível evitar-se uma nova guerra mundial contradiz a conhecida tese marxista, de que as guerras são inevitáveis companheiros de viagem do imperialismo. Na realidade, porém, não há aí nenhuma contradição. O materialismo dialético nos ensina que, para se compreender bem o caráter contraditório dc processo social-histórico é necessário que se analise objetivamente toda a complexidade das relações sociais e que se considere bem as relações entre as classes. É necessário, além disso, que se leve em conta, na atual situação internacional, as relações entre os dois diferentes sistemas existentes no mundo, entre os dois campos que se apresentam na arena internacional. Se não se levar em consideração as transformações que se verificam nas condições do desenvolvimento da sociedade, atendo-se cegamente a estas ou aquelas teses do marxismo que se referem a determinada época histórica, é possível cometer os erros mais sérios.

O camarada Stálin nos ensina que não se pode considerar o marxismo como uma coleção de dogmas, como um catecismo, cujas conclusões fórmulas sejam úteis para todas as épocas e períodos:

«No processo de seu desenvolvimento o marxismo não pode deixar de se enriquecer com uma nova experiência e novos conhecimentos; por conseguinte, algumas de suas fórmulas e conclusões, consideradas isoladamente, não podem deixar de se modificar com o tempo, não podem deixar de ser substituídas por fórmulas e conclusões novas que correspondam às novas tarefas históricas».(3)

No decurso do desenvolvimento social do período de após-guerra e em conseqüência da vitória da democracia na segunda guerra mundial surgiram novas leis nas relações entre os diferentes países. Surgiu no mundo todo um sistema de países para os quais o desenvolvimento pacífico representa uma necessidade histórica e uma lei. Por força da luta entre essas duas leis se modifica essencialmente a manifestação da primeira lei. A isso ainda é necessário acrescentar o aumento do papel do fator subjetivo na história.

A história da sociedade é a história dos próprios homens que produzem os bens materiais. Em grande parte do desenvolvimento histórico da sociedade os homens criaram a sua história inconscientemente e, por isso, nessa época, como acontece na natureza, a necessidade, a lei, abriram caminho através de casualidades. Entretanto, à medida que a sociedade humana se desenvolvia, os homens penetravam nos segredos da natureza e começaram a também descobrir as leis do desenvolvimento da sociedade. Na história deste ou daquele país surgiram eminentes personalidades (Cesár, Cromwell, Pedro I etc.) que em determinados períodos expressaram as necessidades do desenvolvimento da sociedade e tiveram a possibilidade de orientar a ação de muitas centenas de milhares de pessoas em determinado sentido. Esses homens, porém, limitados pelas condições de sua época, não se achavam armados com a teoria científica do desenvolvimento da sociedade humana e, por isso, sua atividade nem sempre conduzia à resultados sociais e históricos que coincidissem com a marcha objetiva do desenvolvimento da sociedade.

Foi somente com o aparecimento do proletariado industrial que a história chamou necessariamente à vida novos grandes homens que descobriram as leis reais do desenvolvimento da sociedade humana Esses grandes homens foram Marx e Engels que formularam a concepção materialista da história e indicaram a missão mundial e histórica do proletariado. Esses grandes homens são Lênin e Stálin que indicaram os caminhos e os meios da conquista do domínio político pelo proletariado e que o conduziram à vitória do socialismo.

Somente daí em diante é que os homens têm a possibilidade de criar a sua própria história com plena consciência dos resultados de sua criação. E isso significa que começaram a manifestar uma atitude consciente em relação às leis históricas, à necessidade histórica, e a considerar esta ou aquela lei do desenvolvimento da sociedade do ponto de vista dos resultados que a sua manifestação pode produzir e a que forças de classe dão nascimento.

A guerra é um fenômeno social e histórico realizado pelos homens.

Não é todo o povo deste ou daquele país que prepara e desencadeia a guerra, mas um grupo de pessoas perfeitamente definidas, interessadas na guerra. Entretanto, a guerra é feita pelo povo que dela participa tanto diretamente no campo da batalha como no trabalho da produção material para a guerra. O povo, porém, não se interessa por uma guerra que tenha um caráter injusto, de rapina. Por isso nas guerras desse gênero, como em qualquer outro fenômeno social de uma sociedade de classe, observa-se a ação de forças contraditórias: por um lado, a tendência das classes exploradoras a desencadear e travar a guerra e, por outro lado, a resistência que as massas populares oferecem a essa tendência. No passado histórico essa reação se manifestava na maioria das vezes em revoltas e levantes espontâneos que surgiam ou no decurso da própria guerra ou depois de sua terminação.

Não é preciso dizer que as guerras não eram a causa principal e determinante dos levantes populares. Em sua base se achavam profundas causas de caráter econômico, social e político. As guerras injustas aceleravam, porém, a sua realização. A história conhece numerosos casos em que as guerras anti-populares aceleravam as revoluções pelo fato de provocarem profunda indignação das massas. Basta lembrar as guerras napoleônicas do começo do século XIX que provocaram enérgicas manifestações dos povos europeus contra a França de Napoleão; a guerra franco-prussiano de 1870, que acelerou as lutas revolucionárias do proletariado de Paris; a guerra russo-japonesa, que apressou a revolução russa de 1905-1907; a primeira guerra mundial imperialista, que apressou a vitória histórica do proletariado russo em 1917.

Pelo que foi dito, verifica-se que logo que as classes reacionárias procediam à mobilização de seus recursos para desencadear uma guerra antipopular, de agressão, começava a amadurecer no seio do povo a possibilidade de reagir à guerra. Entretanto, essa reação das massas populares à guerra se manifestava com maior freqüência e com força maior após a guerra.

Nas condições atuais a situação é inteiramente outra. A atividade consciente dos homens desempenha um papel cada vez mais acentuado na história da humanidade. Já uma terça parte da humanidade que se libertou das cadeias da escravidão capitalista constrói uma nova vida de maneira consciente, segundo um plano único estabelecido para cada pais. Nesses países não há classes interessadas na realização de guerras de rapina e que visam a subjugar povos alheios. Os povos dos países democráticos são às vezes forçados a pegar em armas a fim de defender a sua liberdade e independência contra os atentados dos imperialistas estrangeiros. No mundo capitalista, sob cujo domínio ainda se encontram cerca de dois terços da humanidade, também se verificaram profundas modificações na orientação da atividade prática e consciente dos homens. As amplas massas populares compreendem atualmente quem prepara e a quem aproveita a guerra de agressão e têm plena consciência das leis do desenvolvimento social.

Nas condições atuais é difícil às classes dominantes ocultar das massas populares a preparação da guerra. As amplas massas trabalhadoras dos países capitalistas, sob a direção da classe operária e de sua vanguarda — os Partidos Comunistas — intensificam dia a dia e cada vez mais a luta contra uma nova guerra mundial, preparada peles imperialistas dos Estados Unidos da América. Hoje, porém, o povo luta de maneira diferente do que outrora contra a guerra injusta, de agressão, porque sei acham maduras atualmente no mundo possibilidades dc se evitar uma nova guerra mundial.

Nas condições atuais não se pode falar simplesmente da infalibilidade, da inevitabilidade das guerras na época do imperialismo et parar aí. Se nos limitarmos apenas a essa tese, estaremos deformando o curso real e objetivo do desenvolvimento da história e causaremos um imenso dano a um poderoso movimento da atualidade — o movimento dos partidários da paz.

A PRIMEIRA guerra imperialista mundial foi preparada numa situação histórica em que existia um só e único sistema, o sistema capitalista. Ainda não existia o Estado socialista, que teria a possibilidade de exercer uma ação ativa sobre toda a situação internacional no sentido dc impedir o desencadeamento de uma guerra mundial.

A causa principal da primeira guerra imperialista mundial reside nas grandes contradições entre dois grupos de países capitalistas, que provocaram uma brusca violação do equilíbrio no sistema mundial do capitalismo.

O movimento operário internacional não tinha ainda a força suficiente para reagir ativamente à preparação da guerra, as amplas lassas trabalhadoras ainda não estavam incorporadas à vida política ativa e se mantinham afastadas da política.

A classe operária era prisioneira dos oportunistas da II Internacional. Traindo a causa do socialismo, a causa da solidariedade internacional dos trabalhadores, os social-democratas da II Internacional não só não se manifestaram contra a guerra mas também ajudaram ativamente a burguesia a enganar o povo e jogavam uns contra os outros os operários e camponeses dos países em luta sob a bandeira da defesa da pátria.

Somente o Partido Bolchevique lutou com firmeza, conseqüência e até o fim contra a guerra imperialista, lutou por uma paz democrática entre os povos. A luta dos bolcheviques pela paz e contra a guerra não se limitou à propaganda da paz.

«Os bolcheviques não eram simples pacifistas, que suspirassem pela paz e que se limitassem à propaganda da paz como o faziam a maioria dos social-democratas de esquerda. Os bolcheviques eram partidários da luta revolucionária ativa pela paz até à derrubada do poder da burguesia imperialista que desencadeara a guerra».(4)

É de se lamentar, porém, que os bolcheviques fossem o único Partido da época que lutava com firmeza contra a guerra imperialista.

Nessa época o movimento de libertação nacional ainda se achava em embrião. A retaguarda do imperialismo estava tranqüila. Os imperialistas podiam, assim, saquear impunemente e explorar os povos coloniais e exportar das colônias as matérias primas de valor militar e estratégico, pilhadas para a preparação e a realização da guerra.

Como vemos, as possibilidades de se resistir à primeira guerra mundial eram extremamente insignificantes para que pudessem deter os imperialistas. Entretanto, mesmo naquelas condições, a tática revolucionária dos partidos operários de todos os países poderia diminuir consideravelmente a força e o caráter destruidor da primeira guerra mundial. Em vista, porém, da política de traição dos partidos da II Internacional que haviam traído a causa da classe operária e haviam se passado para o campo da burguesia imperialista, até mesmo isso. não se conseguiu fazer.

«A guerra. — afirma o camarada Stálin — não teria tido um caráter tão destruidor e, talvez, até mesmo não teria assumido as proporções que teve se os partidos da II Internacional não tivessem traído a causa da classe operária, se não tivessem infringido as resoluçóes dos Congressos da II Internacional contra a guerra, se se tivessem decidido a se manifestar ativamente e a levantar a classe operária contra os seus próprios governos imperialistas, contra os fomentadores da guerra».(5)

O Partido Bolchevique, dirigido pelos gênios da humanidade e pelos maiores estrategistas da revolução, Lênin e Stálin, apresentou a política da derrota do próprio governo na guerra imperialista, a política da transformação da guerra imperialista em guerra, civil.

Já a segunda guerra mundial começou em outras condições históricas.

Agora não existia um só e único sistema capitalista. A União Soviética Socialista já existia ao lado dos países capitalistas. Essa circunstância é um elemento decisivo na determinação de toda a situação internacional e de toda a situação das forças mundiais econômicas e políticas após a primeira guerra mundial.

A Grande Revolução Socialista de Outubro inaugurou uma nova era na história da humanidade. A sua vitória representa

«uma reviravolta radical e profunda na história da humanidade, uma reviravolta radical e profunda nos destinos históricos do capitalismo mundial, uma reviravolta radical e profunda no movimento de libertação do proletariado mundial, uma reviravolta radical e profunda nos métodos de luta e nas formas de organização, nos costumes e nas tradições, na cultura e na ideologia das massas exploradas de todo o mundo».(6)

O movimento operário democrático internacional que se desenvolveu sob a influência direta da vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro assumiu uma grande amplitude. O domínio do imperialismo nos países coloniais e dependentes ficou minado porque a Revolução de Outubro inaugurou a era das revoluções coloniais. Os povos das colônias e dos países dependentes, inspirados pelo grande exemplo, da União Soviética, multinacional, deixaram de servir aos imperialistas como cômoda fonte de mão de obra barata e objeto de impiedosa exploração. Ergueram-se em luta de morte pela libertação do jugo do imperialismo, pela sua liberdade e independência. Terminou a época em que se podia explorar e oprimir tranqüilamente as colônias e países dependentes — afirmou o camarada Stálin

Começou a era das revoluções libertadoras nas colônias e nos países dependentes, a era do despertar do proletariado desses países, a era da sua hegemonia na revolução».(7)

Após a primeira guerra mundial surgiram em todos os países capitalistas Partidos Comunistas combativos — partidos de novo tipo, armados com as idéias invencíveis do marxismo-leninismo. Esse fato teve uma imensa significação histórica para todo o movimento operário internacional, porque o proletariado dos países capitalistas adquiriu pela primeira vez na história um partido autenticamente revolucionário e começou a se libertar gradualmente da influência do reformismo, do oportunismo e do social-democratismo.

Essas são as transformações básicas que se verificaram na situação internacional após a primeira guerra mundial. Essas modificações demonstram, em primeiro lugar, que as forças do imperialismo, fonte de guerras sangrentas de agressão, foram consideravelmente enfraquecidas em conseqüência da vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro e do ascenso do movimento internacional operário, democrático e de libertação nacional contra o imperialismo, por ela provocado. Essas transformações demonstram, em segundo lugar, que ao lado da possibilidade de se atiçar e se desencadear guerras surgiu uma nova possibilidade — a possibilidade de se contrapor e de se resistir a essas guerras.

Entretanto, como sabemos, não se poôde evitar a segunda guerra mundial. Por que assim aconteceu?

Sabe-se que a União Soviética foi o único país que durante os anos anteriores à segunda guerra mundial lutou com firmeza contra a nova guerra preparada pelos imperialistas e que combateu com intransigência e consequentemente a causa da paz em todo o mundo. Por sua própria natureza o Estado soviético é estranho a qualquer espécie de violência contra os povos e mantém uma atitude particularmente hostil à guerra como meio de se solucionar as disputas entre os diferentes países. Isso é perfeitamente compreensível, porque não há na União Soviética forças de classe interessadas em aproveitar a guerra como meio para solucionar problemas políticos. Lênin e Stálin, chefes e organizadores do primeiro Estado Socialista do mundo, ao elaborarem os princípios básicos da política exterior soviética, declararam repetidas vezes que o Estado soviético aspira à coexistência pacífica com o mundo capitalista.

A política de paz do Estado soviético e a sua aspiração à coexistência pacífica com o mundo capitalista decorrem das relações econômicas e políticas existentes, objetivas, que se formaram na arena internacional após a Revolução de Outubro. A Grande Revolução Socialista de Outubro rompeu a cadeia da frente, mundial do imperialismo, abriu a primeira brecha no sistema mundial da economia imperialista e dividiu o inundo em dois sistemas: o sistema do capitalismo e o sistema do socialismo. O problema das relações entre o sistema socialista e o sistema capitalista se tornou o problema central de todas as relações internacionais.

Desde os primeiros dias da vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro, porém, as forças do imperialismo mundial, chefiadas pelos Estados Unidos da América, tentaram organizar essas relações na base da luta armada contra o socialismo. Daí as tentativas de intervenção militar estrangeira, as ameaças e provocações, as chantagens e tentativas de atemorização, o bloqueio econômico e as tentativas de isolar diplomaticamente a URSS, etc. O Estado socialista teve de defender de armas na mão a sua independência, rechaçando os ferozes ataques dos imperialistas. É claro que sem fortalecer por todos os meios a capacidade de defesa de seu Estado e sem aperfeiçoar a capacidade de luta de seu exército, o povo soviético não poderá resistir e sair vitorioso na luta contra os numerosos inimigos da Pátria socialista. A experiência histórica demonstrou que todas as aventuras militares contra a União Soviética terminaram invariavelmente pelo vergonhoso fracasso dos organizadores dessas aventuras e vale lembrar aos atuais organizadores de uma nova guerra contra a União Soviética as palavras do grande Lênin, pronunciadas há quase 30 anos:

«As potências aliadas nos ameaçaram com a força das armas e elas têm quase todo o mundo em suas mãos. Não nos deixamos, porém» atemorizar por essas ameaças. Isso, evidentemente, os senhores diplomatas europeus não esquecerão».(8)

O Estado socialista soviético solucionou de maneira diferente o problema das relações com o mundo capitalista. Lênin e Stálin, definindo os princípios da política exterior do Estado soviético, indicaram a possibilidade da coexistência pacífica entre os dois sistemas.

«É admissível, porém — perguntava V. I. Lênin — um estado geral de coisas em que a república socialista possa existir dentro do cerco capitalista?». E respondeu: «Isso parecia inadmissível tanto no sentido político como no sentido militar. Que isso é possível no sentido político e no sentido militar está demonstrado e já é um fato».(9)

Guiando-se por essas indicações de V. I. Lênin, o Estado Soviético orientou e continua a orientar a sua atividade no sentido de fortalecer as relações com o mundo capitalista e de organizar a cooperação em princípios democráticos e a emulação pacífica entre os dois sistemas. Marchamos por esse caminho de maneira inteiramente consciente, convictos da superioridade do sistema socialista de economia, o único sistema realmente progressista e mais elevado em relação ao sistema capitalista. Estamos certos de que com a coexistência pacífica entre os dois sistemas e com a emulação pacífica entre ambos o nosso sistema socialista de economia deve inevitavelmente vencer, porque

«o que na vida nasce e cresce dia a dia é invencível e não se pode deter seu movimento para a frente...», e «o que envelhece e caminha para a sepultura deve ser inevitavelmente derrotado, embora hoje tenha uma força de gigante».(10)

Desde o primeiro dia de sua existência o Estado soviético proclamou com decisão a política de paz. Essa política foi consubstanciada no decreto leninista-stalinista sobre a paz, aprovado pelo II Congresso Pan-Russo dos Soviéts realizado em 8 de novembro de 1917. Durante os anos da intervenção militar estrangeira, quando os imperialistas internacionais tentavam sufocar a jovem república soviética pela força das armas, o nosso governo continuava a lutar pela paz com incansável energia. Por onze vezes o governo soviético se dirigiu aos países da Entente com propostas de paz.

Apreciando essa atividade do Estado soviético, V. I. Lênin escreveu:

«Travamos com extraordinária energia a guerra pela paz. Essa guerra nos apresenta magníficos resultados. Nesse setor da luta nós nos manifestamos com todo o nosso poder, em todo o caso não de maneira pior do que no campo de atividade do Exército Vermelho...»(11)

Após o êxito da derrota da intervenção militar estrangeira apresentou-se à política soviética exterior a tarefa mais importante para o Estado soviético: assegurar condições políticas exteriores favoráveis à construção do socialismo e não permitir que os imperialistas mundiais se unifiquem para organizar uma nova campanha militar contra a URSS. Como se sabe, a diplomacia soviética deu conta dessa tarefa.

Graças à feliz realização da industrialização do país e da coletivização da agricultura o nosso Estado se transformou num poderoso fator de paz entre os povos.

A crise econômica mundial de 1929-1933 complicou extraordináriamente a situação internacional, aprofundando e aguçando todas as contradições do imperialismo. Procurando sair dessas contradições, a burguesia recorreu, no setor da política interna, à fascistização e no setor da política exterior — à organização de uma nova guerra mundial dirigida em primeiro lugar contra a União Soviética.

Em 1932, intensificou-se no Extremo Oriente a ameaça da guerra por parte do Japão que se apoderou da Mandchúria, abandonou a Liga das Nações e começou a se armar intensamente. Foi assim que surgiu, o primeiro foco de guerra, no Extremo Oriente.

Em 1933, a burguesia alemã chamou ao poder o partido hitlerista, o mais revanchista. Os fascistas germânicos abandonaram a Liga das Nações e começaram a se preparar abertamente para a guerra, visando a modificar as fronteiras pela força. Foi assim que se formou o segundo foco de guerra, na Europa.

A partir de 1933, quando surgiu para a humanidade a ameaça do fascismo, quando já haviam aparecido dois focos de guerra, a União Soviética realiza uma política visando organizar uma resistência coletiva ao agressor, por parte de todos os países que se sentiam ameaçados pelo perigo de serem escravizados pelos fascistas. Com esse objetivo a União Soviética ingressa, em fins de 1934, na Liga das Nações e desmascara ali os agressores; em maio de 1935 celebra um acordo de assistência mútua contra um possível ataque dos agressores com a França e a Tchecoslováquia, em março de 1936 com a República Popular da Mongólia e em agosto de 1937 um tratado de não agressão com a República Chinesa.

Nessa época, porém, o povo soviético não foi apoiado em sua luta contra á agressão fascista pelos chamados países democráticos e ficou isolado. Os círculos governantes da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos da América, ao invés de organizarem uma firme resistência aos agressores fascistas associando-se aos esforços da União Soviética nesse sentido, realizaram uma política de apaziguamento dos agressores fascistas, uma política de inimizade e de ódio ao Estado soviético, esforçando-se por isolá-lo na arena internacional e encaminhar a agressão fascista contra a URSS os círculos governantes desses países, sufocando-se em acessos de histeria anti-soviética, ajudaram os agressores fascistas a se armarem e, em proveito de seus estreitos interesses de classe, sacrificaram os interesses nacionais de seus povos. Essa política míope, antipopular e criminosa dos círculos governamentais dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da França foi coroada com a vergonhosa e degradante capitulação de Munique diante dos desenfreados bandidos hitleristas sob cujos pés foi atirada primeiro a Tchecoslováquia e depois outros países da Europa — como pagamento pela promessa feita pelos hitleristas de iniciarem a guerra contra a União Soviética.

A União Soviética foi o único país a desmascarar até o fim tanto os agressores fascistas como os seus «pacificadores» anglo-franco-americanos. Em 1939, ano crítico para a Europa, a União Soviética fez imensos esforços no sentido de entrar em acordo com os governos da Inglaterra e da França para ações conjuntas com o objetivo de evitar a guerra iminente e organizar forças para resistir aos agressores fascistas. Entretanto, os governos reacionários da Inglaterra e da França continuavam a pôr em pratica um jogo duplo: para desviar a atenção da opinião pública e satisfazê-la mantinham conversações com a União Soviética, ao mesmo tempo conspiravam por detrás dos bastidores com os hitleristas na esperança de lançar a Alemanha contra a União Soviética. Tornava-se claro que não se podia organizar a resistência coletiva ao agressor e evitar a guerra por causa da política criminosa e anti-popular da Inglaterra e da França. A União Soviética tinha que escolher: ou aceitar, visando a sua própria defesa, o pacto de não agressão proposto pela Alemanha e assim prolongar por algum tempo o período de paz, ou recusar esse pacto e permitir assim que os provocadores de guerra arrastassem a União Soviética a um conflito com a Alemanha numa situação de completo isolamento desfavorável para o Estado soviético.

Nessas condições o governo soviético fez a única escolha justa, concordando com a conclusão do pacto de não agressão com a Alemanha. Foi um passo clarividente e sábio da política exterior soviética que predeterminou o resultado da segunda guerra mundial favorável à União Soviética e a todos os povos amantes da paz.

Do que foi dito se percebe que a agressão hitlerista que conduziu à segunda guerra mundial se tornou possível exclusivamente porque os Estados Unidos da América forneceram a base militar e econômica da agressão alemã e os círculos governantes da Inglaterra e da França, orientados pelos Estados Unidos da América, recusaram-se a resistir coletivamente ao agressor e, assim, dividiram as fileiras dos países pacíficos e desorganizaram a frente única desses países contra a agressão fascista. Foram justamente os círculos reacionários dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da França que limparam o caminho à agressão alemã e ajudaram a Alemanha hitlerista a desencadear a segunda guerra mundial. Nisso reside a causa básica do fato de não se ter podido evitar a segunda guerra mundial. Se os Estados Unidos da América não tivessem financiado a indústria bélica alemã e a Inglaterra e a França não tivessem se recusado a organizar a resistência coletiva ao agressor, teriam sido reduzidas ao mínimo as probabilidades dos hitleristas provocarem a segunda guerra mundial.

É lamentável que as massas populares dos países capitalistas não estivessem na ocasião suficientemente fortes e organizadas a fim de influenciar amplamente a política dos círculos governantes. Sabe-se que a classe operária dos países capitalistas deu exemplos de heroísmo e de firmeza numa série de embates revolucionários com o fascismo no período entre as duas guerras mundiais. Basta que citemos a revolução espanhola que derrubou o regime monárquico em 1931; a luta heróica da classe operária francesa em 1934, que não permitiu a instauração da ditadura fascista na França; a luta heróica da classe operária da China, etc. Essas manifestações foram, porém, isoladas e não gerais, o que se explicava pela fraqueza orgânica da classe operária, uma parte considerável da qual era prisioneira da social democracia. Os socialistas de direita com a sua política criminosa e desorganizadora cindiram a frente única da classe operária na luta contra o fascismo e a agressão c assim possibilitaram às forças da agressão desencadearem a segunda guerra mundial. Os socialistas de direita limparam o caminho ao fascismo na Alemanha. A sua fisionomia traiçoeira se manifestou de maneira particularmente evidente durante os anos da intervenção italo-alemã na Espanha, ocasião em que Blurn rfficiou a sua famigerada politica de não intervenção, ajudando assim os carrascos fascistas a sufocar a República Espanhola. Os círculos governantes dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da França não teriam podido pôr em prática a sua política de apaziguamento dos agressores se não fossem ajudados pelos seus valiosos cães de fila os social-democratas de direita.

Também o movimento democrático se achava fracamente desenvolvido na época nos países capitalistas. O movimento de libertação nacional nos países coloniais e dependentes, embora já tivesse começado a abalar o sistema colonial, ainda não apresentava um caráter de massas e, na maioria dos casos, era chefiado por partidos nacionalistas burgueses e socialistas de direita.

Já havia Partidos Comunistas na maioria dos países capitalistas chefiados por audazes chefes revolucionários, mas eram ainda pouco numerosos e uma parte dos comunistas ainda não se libertara das tradições do social-democratismo.

O número de membros de todos os Partidos Comunistas dos países capitalistas às vésperas da segunda guerra mundial mal passava da em milhão de pessoas. Ainda não conduziam a massa fundamental da classe operária a na maioria dos países capitalistas se achavam era profunda ilegalidade.

Vê-se pelo que afirmamos acima que ainda não se achavam presentes nessa época todas as condições objetivas e subjetivas necessárias a opôr uma barreira à guerra.

Aproveitando-se dessas circunstâncias e também da franca conivência dos círculos imperialistas dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da França, os países agressores (Alemanha, Itália e Japão) começaram muito cedo a se preparar para a guerra. Entretanto, uma vez que nas novas condições históricas e em vista da crescente atividade das amplas massas dos trabalhadores não seria tão fácil lançai os povos ao abismo de uma nova guerra, as classes dominantes dos países agressores decidiram primeiro aniquilar ou reduzir à zero os restos do parlamentarismo e da democracia burguesa, levar à ilegalidade os Partidos Comunistas e, de certa maneira, trabalhar também a opiniafl pública mundial. Com esse objetivo chamaram ao poder o destacamento militar abertamente terrorista do capital financeiro — o fascismo.

O camarada Stálin observou que a vitória do fascismo nos países agressores e particularmente na Alemanha

«deve-se considerar não só como um sintoma da fraqueza, da classe operária e um resultado das traições da social democracia à classe operária, que abriram caminho ao fascismo. É também, um sintoma da fraqueza da burguesia, um sintoma de que a burguesia já não está em condições de dominar pelos velhos métodos do parlamentarismo e da democracia burguesa, em vista do que é forçada a recorrer, na política interna, aos métodos terroristas de governo; como um sintoma de que já não tem condições de encontrar uma saida para a situação atual na política exterior pacífica, em vista do que é forçada a recorrer à política de guerra».(12)

Os atos iniciais de agressão no caminho da segunda guerra mundial foram: o ataque da Itália à Abissinia e a invasão desta em 1935, a intervenção militar italo-germânica na Espanha no verão de 1936, a invasão da China Setentrional e Central pelo Japão em 1937, a invasão da Áustria pela Alemanha em princípios de 1938 e da região dos sudetos, na Tchecoslováquia, no outono de 1938, a invasão de Cantão pelo Japão em fins de 1938 e da ilha de Kainang no começo de 1939.

«Assim — afirma o camarada Stálin — a guerra, que de maneira tão sorrateira se abateu sobre os povos, arrastou para a sua órbita mais de quinhentos milhões de homens, extendendo seu campo de ação sobre um imenso território, de Tientsin, Changai e Cantão, através da Abissinia, até Gibraltar».(13)

Com esses atos iniciais de agressão os países fascistas prepararam os seus exércitos para a guerra em grande escala, adquirindo à necessária experiência de guerra moderna. Em princípios da segunda guerra mundial já tinham preparados imensos exércitos de invasão que apenas aguardavam um sinal para se atirar contra povos pacíficos, enquanto que as nações amantes da paz não possuiam até mesmo um exército fatisfatótrio para cobrir a mobilização.

Em setembro de 1939 as hordas hitleristas se lançaram contra os povos europeus e inclusive contra os povos da Inglaterra e da França cujos círculos governantes realizaram por longo tempo um perigoso jogo político de «apaziguamento» do agressor. A experiência histórica confirmou as palavras do grande Stálin pronunciadas por ocasião do XVIII Congresso do P. C. (b) da URSS no sentido de que

«o grande e perigoso jogo político iniciado pelos partidários da política de não-intervenção pode terminar para eles num sério fracasso».(14)

A vida ridicularizou cruelmente os politiqueiros burgueses. A política de «apaziguamento» dos agressores, a política de repulsa à segurança coletiva, a política de isolamento da URSS foi derrotada completamente.

«Ao isolarem a URSS, a França e a Inglaterra destruíram a frente única dos países pacíficos, enfraqueceram-se e se isolaram por sua própria vontade».(15)

Assim, a segunda guerra mundial se tornou uma realidade. Não se conseguiu evitá-la. Isso não significa, porém, que a nova situação histórica não tivesse exercido nenhuma influência sobre o caráter
segunda guerra mundial.

Os países agressores que desencadearam a segunda guerra mundial tinham como objetivo conquistar o domínio mundial e estender o regime fascista a todos os países e escravizar todos os povos pacíficos+

«Em vista disso — observou o camarada Stálin — a segunda guerra mundial contra os países do eixo, diversamente da primeira guerra mundial, assumiu, desde o início, o caráter de uma guerra anti-fascista, de libertação; um de cujos objetivos era igualmente o estabelecimento das liberdades democráticas. A entrada da União Soviética na guerra contra os países do eixo só podia fortalecer — e realmente fortaleceu — o caráter anti-fascista e libertador da segunda guerra mundial».(16)

A SITUAÇÃO histórica internacional após a segunda guerra mundial se formou de maneira inteiramente diferente. A vitória sobre o fascismo alemão e o imperialismo nipónico provocou uma nova distribuição das forças mundiais econômicas e políticas.

O sistema capitalista, fonte fundamental das guerras de agressão, sofreu uma séria derrota como resultado da segunda guerra mundial. As principais brigadas de choque das forças internacionais da reação imperialista — Alemanha, Itália e Japão — foram destruídas e seua exércitos desarmados, a França foi grandemente enfraquecida pela guerra e as posições da Inglaterra como potência colonial mundial ficaram consideravelmente minadas. Apenas uma grande potência imperialista — os Estados Unidos da América — não só não sofreu nenhum prejuízo em conseqüência da segunda guerra mundial como também aumentou o seu poderio econômico à custa de outros países.

A União Soviética — baluarte da paz, da democracia e do socialismo — saiu da guerra ainda mais poderosa, coesa e forte, e no decurso dos anos de após-guerra, não só curou as feridas provocadas pela guerra como também progrediu consideravelmente, fortalecendo em todos os sentidos o seu poderio. O cumprimento com êxito do plano qüinqüenal de após-guerra de restauração e desenvolvimento da economia nacional representa um grande passo à frente na realização da passagem gradual do socialismo ao comunismo em nosso país. Os êxitos alcançados pela União Soviética e o aumento do seu poderio econômico representam uma condição decisiva para garantir a paz e frear os fomentadores de uma nova guerra.

Uma série de países da Europa Central e Sul-Oriental: Polônia, Tchecoslováquia, Hungria. Bulgária. Rumânia e Albânia, saíram do sistema imperialista como resultado da segunda guerra mundial, graças à histórica vitória da União Soviética que representou papel decisivo na conclusão vitoriosa da guerra de libertação. Mais de 70 milhões de homens se libertaram do capitalismo, construíram a democracia. popular e atualmente constróem o socialismo com êxito.

Analisando a situação-internacional de após-guerra o camarada Stálin afirma:

«A derrota e a liquidação dos focos principais do fascismo e da agressão mundial provocaram profundas modificações na vida política dos povos do mundo, entre as quais uma grande intensificação do movimento democrático. Armados da experiência da guerra, as massas populares compreenderam que não se pode confiar o destino dos Estados a dirigentes reacionários, que perseguem objetivos estreitos de casta, animados pela caça ao lucro e contrários aos interesses do povo. É justamente por que os povos, que não desejam mais viver à maneira antiga, tomam hoje o destino de seus países em suas próprias mãos, estabelecem o regime democrático e lutam ativamente contra as forças da reação e contra os provocadores de uma nova guerra. Os povos do mundo não querem que se repitam as calamidades da guerra. Lutam tenazmente pela consolidação da paz e pela segurança».(17)

A histórica vitória do povo chinês, constituído de 475 milhões dè pessoas, que derrotou a reação do Kuomintang e aboliu para sempre o domínio do imperialismo na China, foi o mais importante resultado da segunda guerra mundial. Em setembro(18) de 1949 a China foi proclamada república popular. A grande vitória do povo chinês infringiu uma nova e cruel derrota ao imperialismo internacional, exercendo uma influência particularmente favorável sobre o desenvolvimento do movimento de libertação nacional de massas nos países do Oriente colonial. Com a vitória da revolução chinesa aproxima-se a época da libertação nacional e política dos povos dos países coloniaiá è dependentes. O povo chinês ligou solidamente o seu destino aos povoa pacíficos da União Soviética e dos países de democracia popular.

A República Popular da Mongólia, a República Democrática Alemã, a República Democrática do Viet-Nam e a República Democrática Popular da Coréia, também participam do campo dos países democráticos e amantes da paz. Pelo número de habitantes o campo dos países democráticos à cuja frente se encontra a União Soviética contém 800 milhões de pessoas, isto é, mais de um terço da população do globo terrestre. Possuindo inexgotáveis recursos materiais e humanos e apoiando-se no desenvolvimento planificado da economia, os países do campo anti-imperialista constituem um grande bastião que se mantém solidamente em defesa da paz.

Depois da segunda guerra mundial a luta de libertação nacional dos povos dos países coloniais e dependentes atingiu a um novo nível, mais elevado. Atualmente essa luta não tem por objetivo a democracia burguesa mas a democracia popular e quem dirige a luta são os partidos da classe operária (comunistas) e não os partidos nacionalistas burgueses. O movimento de libertação nacional assumiu a forma de luta armada dos povos contra os imperialistas estrangeiros e contra os potentados feudais nativos.

Após a segunda guerra mundial as massas populares, em sua esmagadora maioria, se afastaram dos partidos burgueses p socialistas de direita e lançam as suas vistas para os Partidos Comunistas. No curso da grande guerra os Partidos Comunistas se apresentaram como os lutadores mais conseqüentes e abnegados pela organização da resistência aos invasores fascistas. Nos anos de após-guerra os comunistas são os míais fiéis defensores da soberania nacional de seus países, da liberdade e da independência de seus povos contra os atentados dos imperialistas americanos. Os Partidos Comunistas são os lutadores mais ativos por uma sólida paz democrática, contra os provocadores de guerra imperialistas. O aumento crescente das fileiras dos Partidos Comunistas representa um índice brilhante de sua crescente autori. dade. Basta dizer que durante os anos da segunda guerra mundial e durante os cinco anos de após-guerra o número de membros dos Partidos Comunistas de todos os países (sem a União Soviética) atingiu a quase 20 milhões de homens. Igualmente o fato de que já em 12 países os povos confiaram aos Partidos Comunistas a direção do poder público e em alguns países capitalistas os comunistas constituem poderosas fracções parlamentares representa um testemunho da crescente influência dos Partidos Comunistas.

A vitoria dos povos amantes da paz sobre o fascismo alemão e o imperialismo nipônico deu um poderoso impulso e um desenvolvimento sem precedentes ao movimento democrático de todo o mundo, que se transformou num movimento pela integral extirpação do fascismo, pela instauração das liberdades democráticas e por uma paz democrática.

Os povos do mundo se convenceram pela sua própria experiência de que o capital monopolista contemporâneo e seu partidos são traídores dos interesses nacionais de seus países. A classe operária, o campesinato, a pequena burguesia e a intelectualidade não confiam mais em «sua» grande burguesia e nos partidos burgueses e socialistas de direita. Os povos começam agora a compreender que o imperialismo americano alimentando o sonho delirante de dominar o mundo, se acha disposto a lançar a humanidade em nova guerra mundial para alcançar o seu objetivo. Em algumas partes do globo terrestre o imperialismo americano já criou novos focos de guerra. A agressiva aventura americana na Coréia representa atualmente uma ameaça direta à paz mundial.

É por isso que todos os homens de boa vontade, independentemente de suas convicções políticas e religiosas e independentemente de sua filiação partidária, decidiram unificar os seus esforços e tomar a causa da paz em suas próprias mãos. O movimento mundial dos partidários da paz, que se realiza pela primeira vez na história da humanidade, reúne centenas de milhões de homens. A classe operária representa um papel decisivo no movimento dos partidários da paz. Amplas camadas do campesinato e milhões de homens do trabalho intelectual e toda a fina flor da cultura mundial se erguem em defesa da paz.

Formou-se a poderosa frente organizada da paz cuja força aumenta e se amplia dia a dia.

Os provocadores de guerra, que procuram por todos os meios dividir o movimento dos partidários da paz, gritam que esse movimento não passa de maquinações dos comunistas. Os comunistas só podern se orgulhar pelo fato de que com a sua luta ativa, e abnegada pela paz provocam novos ataques de raiva nos incendiários de guerra. O papel que os comunistas representam no movimento dos partidários da paz constitui mais uma prova de que os comunistas não têm tarefa mais honrosa do que lutar pelos interesses vitais dos povos e a luta pela paz representa na etapa atual o interesse mais fundamental dos povos.,

A luta pelo comunismo e a luta pela paz se completam orgânicamente. As amplas massas trabalhadoras e todas as forças progressistas e democráticas vêem que o capitalismo contém em si o perigo de guerra e o socialismo é a paz, que todos os partidos burgueses se manifestam contra os partidários da paz, fazem uma propaganda desenfreada de uma nova guerra mundial e a preparam, enquanto que os Partidos Comunistas se apresentam como os mais ativos lutadores pela paz.

Em cada novo ano do período de desenvolvimento do após-guerra se verificam, a favor do campo da paz, novas modificações na correlação de forças entre o campo dos que lutam pela paz e o campo dos provocadores de guerra. É por isso que nas condições históricas atuais não se pode afirmar categoricamente ser inevitável o advento de uma nova guerra mundial. A tese marxista-leninista da inevitabilidade das guerras na época do imperialismo, justa para determinadas condições históricas, não pode ser transposta mecanicamente às novas condições históricas.

Na entrevista concedida ao correspondente do «Pravda» o camarada Stálin definiu as condições em que a possibilidade de se evitar uma nova guerra mundial pode se desenvolver e se transformar em realidade. Para isso os povos devem tomar, a causa da manutenção da paz em suas próprias mãos e defendê-la até o fim.

A possibilidade, ensina o camarada Stálin, nunca pode se transformar expontâneamente em realidade; é preciso levar em conta a existência de algumas possibilidades que autuam em sentido contrário; o papel decisivo na transformação da possibilidade de se evitar a guerra em realidade cabe ao partido da classe operária, que deve chefiar a luta das massas pela manutenção da paz.

O PRIMEIRO período da luta para se evitar uma nova guerra mundial se iniciou já no curso da segunda guerra mundial. Em seu informe sobre o 27.º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro, o camarada Stálin se referiu aos meios e medidas através dos quais poder-se-ia impedir a agressão.

«Para isso — afirmou o camarada Stálin — além do desarmamento total das nações agressoras «xiste apenas um meio: criar uma organização especial de defesa da paz e de garantia da segurança, composta de representantes das nações amantes da paz...»(19)

Os países agressores — Alemanha, Japão, Itália — foram desarmados ao terminar a segunda guerra mundial. É verdade que o bloco americano e inglês fez todo o possível para impedir o desarmamento total dos países agressores tanto no sentido da liquidação do seu potencial da indústria bélica como no sentido da dissolução das formações militares.

Os novos pretendentes ao domínio mundial — os imperialistas Estados Unidos da América — ocuparam, porém, o lugar da Alemanha e do Japão, derrotados na segunda guerra mundial. O centro da reação mundial se transferiu para os Estados Unidos da América. No decurso de todo o período de após-guerra os Estados Unidos da América vêm realizando uma política de repúdio à cooperação democrática internacional, criando uma situação internacional tensa e atiçando a psicose de guerra. Submetendo cada vez mais à sua influência os círculos governantes da Inglaterra e da França e também as forças revanchistas da Alemanha Ocidental e do Japão ocupado, os Estados Unidos da América tentam aglutinar nos limites do agressivo bloco do Atlântico e de outros blocos de agressão que se encontram sob o seu comando, poderosos exércitos com o objetivo de desencadear uma nova guerra contra o campo da paz, da democracia e do socialismo.

Uma organização especial — a Organização das Nações Unidas — foi criada para defender a paz e manter a segurança. Foram-lhe outorgados amplos poderes para evitar a agressão e, se esta surgir, para liquidá-la no embrião e castigar os culpados da agressão. O princípio da unanimidade entre as grandes potências que suportaram sobre os seus ombros o peso fundamental da guerra contra a Alemanha hitlerista tornou-se a condição básica para um justo funcionamento e a eficiência prática dessa organização.

A partir, porém, dos primeiros dias de atividade da Organização das Nações Unidas os círculos governantes americanos começaram a pôr em prática uma política que visava acabar com esse princípio básico. Sob o comando dos Estados Unidos da América formou-se na ONU um núcleo de agressão constituído de 10 países participantes de agressivo bloco do Atlântico (Estados Unidos da América, Inglaterra, França, Canadá. Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega e Islândia) e vinte países latino-americanos (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Salvador Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela).

«Os representantes desses países — observou o camarada Stálin — decidem atualmente, na ONU, dos destinos da guerra e da paz».(20)

A Organização das Nações Unidas não só deixou de tomar medidas decididas para pôr fim aos atos de agressão cometidos pelos Estados Unidos da América e por outras potências agressivas após o fim da segunda guerra mundial, como ainda ajudou os intervencionistas americanos e ingleses a dominar o povo grego amante da paz, ajudou a sufocar a República Indonésia e, em 1950, aprovou a resolução mais vergonhosa, sancionando a intervenção americana contra o povo coreano e declarando agressor a pacífica República Popular da China.

Tudo isso atesta que a

«Organização das Nações Unidas, criada para ser o baluarte da paz, se transforma em um instrumento do guerra, em um meio de desencadear uma nova guerra mundial».(21)

Somente a União Soviética e os países de democracia popular lutaram e continuam a lutar pela paz, desde o primeiro dia da criação das Nações Unidas, de modo abnegado e conseqüente.

No primeiro ano de após guerra, quando alguns países imperialistas cqntinuavam mantendo imensos exércitos em armas, quando começou a funcionar a «diplomacia atômica», com o objetivo de manter a paz e diminuir a carga sobre a população motivada pelas grandes despesas militares, a União Soviética propôs à primeira sessão da Assembléia Geral da ONU que se realizasse uma redução geral dos armamentos e se proibisse a produção e a utilização da energia atômica para fins militares.

Essas propostas da União Soviética depararam com a tenaz resistência do bloco de agressão chefiado pelos Estados Unidos da América. Estes não podiam, porém, rejeitar incondicionalmente as propostas de paz da União Soviética e a Assembléia Geral aprovou a resolução recomendando que se instituísse uma comissão para examinar os problemas surgidos em conseqüência da descoberta da energia atômica e também recomendou que o Conselho de Segurança procedesse à elaboração de medidas para a regulamentação e a redução geral dos armamentos. Essas resoluções ficaram, porém, apenas no papel. Em 1946-1947 os círculos reacionários dos Estados Unidos da América e outros paises começaram a propaganda de uma nova guerra mundial. Com o objetivo de impedir a propaganda de guerra, a URSS apresentou à segunda sessão da Assembléia Geral da ONU, em setembro de 1947, as seguintes propostas: condenar a propaganda de uma nova guerra que se realiza numa série de países, particularmente nos Estados Unidos da América, Grécia e Turquia; considerar a propaganda de guerra, incompatível com a qualidade de membro da ONU; considerar os propagandistas da guerra como criminosos de direito comum. Os EE. UU. da América e a maioria sob seu domínio se manifestaram contra as propostas da União Soviética de condenação dos provocadores de guerra. Entretanto, sob a pressão da opinião pública, a Assembléia Geral foi forçada a aceitar essas propostas, o que representou uma grande vitória política da União Soviética.

Contudo, mesmo depois da aprovação dessas propostas, os imperialistas dos Estados Unidos da América continuaram a preparar a guerra, começaram a aumentar as forças armadas e a orientar gradualmente a economia para a produção militar. Com o objetivo de afastar a ameaça de uma nova guerra, a União Soviética apresentou as seguintes propostas em setembro de 1948, por ocasião da terceira sessão da Assembléia Geral:

  1. Recomendar aos membros permanentes do Conselho de Segurança que reduzissem de um terço os armamentos e as forças armadas no prazo de um ano;
  2. proibir a arma atômica como arma de agressão;
  3. estabelecer, dentro dos limites do Conselho de Segurança, um órgão internacional de controle, para o cumprimento dessas propostas.

O bloco imperialista americano-inglês, apoiando-se na maioria que lhe é servil, rejeitou, porém, as propostas soviéticas.

Em 1949 os imperialistas americanos, sob a ameaça do advento de uma nova crise econômica, passaram da propaganda de guerra à preparação direta da terceira guerra mundial. Iniciou-se uma corrida acelerada aos armamentos nos Estados Unidos da América e ha Inglaterra. Com o objetivo de manter a paz e a segurança a União Sovíética apresentou em setembro de 1949, as seguintes propostas à quarta-sessão da Assembléia Geral:

  1. condenar a preparação de uma nova guerra que se realiza numa série de países e particularmente nos Estados Unidos da América e da Inglaterra;
  2. proibir a utilização da arma atômica e de outros meios do destruição em massa da população;
  3. recomendar às cinco grandes potências — os Estados Unidos da América, Inglaterra, França, URSS e China — que unificassem os seus esforços com o objetivo de afastar a ameaça de uma nova guerra e celebrassem entre si um Pacto de consolidação da paz.

Entretanto, também essas propostas de paz da União Soviética foram rejeitadas. Os povos do mundo se convenceram mais uma vez de que a ONU perdia a sua significação como organização internacional de manutenção da paz e da segurança e se transformava num instrumento de incitamento à guerra de agressão.

Em 1950 os imperialistas americanos passaram a atos abertos de agressão contra os povos da Asia Sul-Oriental e, em primeiro lugar, contra os povos da Coréia e da China. A União Soviética apresentou à quinta sessão da Assembléia Geral, para sua consideração, uma «Declaração para afastar a ameaça de uma nova guerra e fortalecer a paz e a segurança entre os povos», na qual se incluia a exigência da proibição da arma atômica, a redução dos armamentos e das forças armadas das cinco grandes potências de um terço, cessação da propaganda de uma nova guerra e a conclusão de um Pacto de consolidação da paz. Além disso, a URSS apresentou uma proposta definindo a agressão. Porém, apesar da necessidade evidente de que essas propostas da União Soviética fossem aprovadas, o mesmo núcleo agressor da ONU rejeitou-as. A maioria dos delegados presentes à sessão, e não realmente a maioria dos povos, aprovou na quinta sessão da Assembléia Geral uma resolução das mais vergonhosas, endossando a agressão americana à Coréia e declarando a República Popular da China como agressora.

Fazendo uma apreciação da atividade da Organização das Nações Unidas, o camarada Stálin observou que

«transformando-se em instrumento de uma guerra de agressão, a ONU deixa, ao mesmo tempo de ser uma organização mundial de nações iguais em direitos; na realidade a ONU é atualmente menos uma organização mundial do que uma organização para os norte-americanos que age segundo os caprichos dos agressores norte-americanos...

Desse modo, a Organização das Nações Unidas enveredou pelo caminho inglório da Liga das Nações. Com, isso, enterra sua autoridade moral e se condena à desagregação».(22)

Os povos do mundo compreenderam que não se pode esperar a paz da Organização das Nações Unidas. Decidiram-se a tomar os destinos da paz em suas próprias mãos. Iniciou-se uma nova etapa na grande luta dos povos contra o perigo de uma nova guerra mundial.

Atualmente, a luta pela paz. travada pelos países do campo democrático e anti-imperialista chefiados pela União Soviética é apoiada em todos os países por centenas de milhões de homens simples que unificam os seus esforços para não permitir que um punhado de multimilionários arraste a humanidade a uma nova e sangrenta carnificina.

O MOVIMENTO mundial pela paz surgiu como um resultado inevitável do desenvolvimento histórico da sociedade, como uma reação pas massas populares contra os intentos agressivos dos imperialistas oo bloco americano e inglês. Em essência, os próprios provocadores de uma nova guerra, pelas suas ações anti-populares, provocaram o advento desse movimento de centenas de milhões de homens, sem precendentes na história.

Em 1946 e 1947 teve início uma intensa propaganda de guerra por parte dos incendiários de guerra, comandados por Churchill e Truman. Os Estados Unidos da América passaram a uma política abertamente expansionista na política externa, cuja expressão mais evidente foi a «doutrina Truman» e o «plano Marshall», proclamados em 1947. A essência dessas medidas estava em, depois de ter amarrado os países europeus, através de compromissos econômicos com os Estados Unidos da América, obrigá-los a abrir mão de sua independência econômica e política e a formar um bloco de países para a conquista do domínio mundial. Isso criava uma ameaça à independência nacional dos povos europeus e os condenava ao papel de carne para canhão a ser utilizada pelos imperialistas americanos. A «doutrina Truman» e o «plano Marshall» provocaram uma tempestuosa onda de protestos das massas populares. Esses protestos se intensificaram particularmente em con-feqiiência da criação dos blocos de agressão Ocidental e do Atlântico norte.

Desde o início o movimento dos povos europeus contra os planos americanos de desencadeamento de uma guerra assumiu formas combativas, manifestações de protesto das massas, greves, coleta de assinaturas para apelos de defesa da paz, etc. O movimento pela paz e contra a guerra se intensificou, abrangendo as mais amplas massas trabalhadoras e já começava a ultrapassar os limites do continente europeu. Esse movimento, entretanto, teve o seu lado fraco: não possuía ainda formas orgânicas e bases programáticas perfeitamente definidas. Determinados destacamentos dos partidários da paz eram chefiados por poderosas organizações: A Federação Sindical Mundial, Federação Internacional Democrática das Mulheres, Federação Mundial da Juventude Democrática, etc, mas uma grande parte do campesinato, da intelectualidade e da pequena e média burguesia interessados na manutenção da paz e que lutavam contra uma nova guerra não possuíam uma organização dirigente.

Por iniciativa das organizações democráticas internacionais e, em primeiro lugar, da Federação Sindical Mundial, convocou-se para abril de 1949, em Paris, o Primeiro Congresso Mundial dos Partidários da Paz que se realizou sob a palavra de ordem: «A defesa da paz é uma causa de todos os povos do mundo!». O Congresso elegeu o Comitê Permanente do Congresso Mundial dos Partidários da Paz que representou um grande papel no fortalecimento do movimento pela paz. No decurso de 1949 e 1950 realizaram-se em todos os países do mundo os congressos nacionais dos partidários da paz e se fundaram comitê nacionais de luta pela paz. Com o objetivo de fortalecer oigânicamente o movimento dos partidários da paz criaram-se comitês de defesa da paz nas cidades, nas aldeias, nas empresas, nas instituições, etc.

O movimento dos partidários da paz reúne pessoas das mais diferentes opiniões e convicções e representantes de diferentes classes e grupos sociais vitalmente interessados na manutenção da paz e da segurança.

Em seu nível inicial tornava-se necessário que o movimento dos partidários da paz elaborasse uma plataforma de modo que a luta pela sua realização pudesse unir todos os povos, todas as camadas trabalhadoras sem distinção de origem racial ou nacional, sem distinção de concepções políticas e convicções religiosas. O Apelo lançado pela Comitê Permanente dos Partidários da Paz, por ocasião de sua reunião em Estocolmo, de proibição da arma atômica e declarando criminoso de guerra o governo que primeiro viesse a utilizar essa arma constituiu a platafoima geral da luta pela paz. Para se dar vida a essa resolução decidiu-se organizar uma consulta geral aos povos, o que comoveu a todas as camadas da população do globo terrestre. Em curto prazo mais de 500 milhões de pessoas assinaram o Apelo de Estocolmo. Ampliou-se a base do movimento dos partidários da paz como resultado da campanha de coleta de assinaturas ao Apelo de Estocolmo.

Por ocasião de sua reunião ordinária, realizada em agosto de 1950 em Praga, o Comitê Permanente dos Partidários da Paz aprovou uma nova resolução, mais desenvolvida, na luta pela paz: lutar pela redução geral dos armamentos, condenar a agressão e a intervenção armada nos negócios internos dos povos, cessar a guerra na Coréia e proibir todas as formas de propaganda de guerra. Essas resoluções constituíram a base da preparação do Segundo Congresso Mundial da Paz e testemunharam a crescente madureza do movimento dos partidários da paz. A reunião de Praga deu início a uma nova e mais elevada etapa do movimento dos partidários da paz.

O Segundo Congresso Mundial da Paz que se realizou na segunda metade de novembro de 1950 em Varsóvia se processou sob a palavra de ordem: «A paz não se espera — a paz se conquista!». Em nome de toda a humanidade, esse congresso ergueu sua voz em defesa da paz e aprovou uma série das mais importantes resoluções de caráter programático e orgânico.

O programa de luta pela paz se desenvolve atualmente no sentido da cessação da guerra na Coréia, da luta contra o rearmamento da Alemanha Ocidental e do Japão, da realização do desarmamento geral e da proibição da arma atômica. O Congresso conclamou os povos a exigirem de seus governos e parlamentos a aprovação de leis dc defesa da paz e a insistir no sentjdo de que os representantes das cinco grandes potências celebrem entre si um Pacto de fortalecimento da Paz.

Para que se cumpra com eficiência as resoluções aprovadas pelo Segundo Congresso Mundial da Paz criou-se o estado-maior de luta dos partidários da paz — o Conselho Mundial da Paz. Em sua primeira reunião, celebrada em fins de fevereiro de 1951, o Conselho Mundial da faz aprovou uma série de providências práticas para dar vida ao programa de manutenção da paz. Partindo da consideração de que a principal responsabilidade pela manutenção da paz e da segurança cabe às cinco grandes potências e de que os destinos do mundo dependem fundamentalmente do ajuste das divergências entre as cinco grandes potências, o Conselho Mundial da Paz aprovou um Apelo exigindo que as cinco grandes potências — os Estados Unidos da América, a União Soviética, a República Popular da China, a Inglaterra e a França — celebrem um Pacto de laz. A recusa do governo de qualquer das grandes potências a se reunir para concluir um Pacto de Paz será considerada como prova dos intentos agressivos desse governo. O Conselho Mundial da Paz conclamou todos os homens de boa vontade a apôr suas assinaturas a esse apelo.

Como se, sabe, amplas massas populares acolheram entusiàsticamente o Apelo do Conselho Mundial da Paz. Centenas de milhões de pessoas de boa vontade já o assinaram.

O Conselho Mundial da Paz decidiu convocar uma conferência dos povos dos países europeus para estudar o problema da luta contra a remilitarização da Alemanha e da solução pacífica do problema alemão, uma conferência dos países da Ásia e do Oceano Pacifico para o estudo do problema da luta contra o rearmamento do Japão, da solução pacífica dos conflitos que se verificam no Extremo Oriente e pela conclusão de um tratado de paz com o Japão no corrente ano e também a organização de uma série de conferências regionais. Além disso, o Conselho Mundial da Paz decidiu convocar uma Conferência Econômica Internacional a ser realizada na União Soviética para estudar os problemas ligados ao estabelecimento das relações econômicas entre os países e ao levantamento do nível de vida dos povos; uma conferência de médicos e também conferências internacionais de escritores, artistas, sábios, trabalhadores de cinema, pedagogos, jornalistas, esportistas, etc.

A conferência dos povos dos paises europeus para estudar o problema da luta contra a remilitarização da Alemanha, realizada recentemente, tem uma significação extraordinariamente importante. Os povos europeus, em sua esmagadora maioria, se manifestam com firmeza contra a restauração do potencial militar alemão, contra a ressurreição das forças armadas alemãs e a sua utilização para fins agressivos.

O camarada Stálin nos ensina que para se transformar a possibilidade em realidade é necessário que as amplas massas trabalhadoras compreendam a justeza de uma política e a apoiem ativamente. Sabe-se que as forças da agressão que preparam febrilmente uma nova guerra mundial, ao mesmo tempo, temem os seus povos, que não querem a guerra e são pela manutenção da paz. É por isso que os agressores, antes de lançarem os povos no abismo de uma guerra sangrenta, se esforçam por apresentar uma nova guerra como uma guerra defensiva, a política de paz dos países pacíficos como uma política agressiva. Elas procuram enganar seus povos para impor-lhes os seus planos de agressão e arrastá-los a uma nova guerra».(23)

É tarefa dos partidários da paz abrir os olhos dos homens simples sobre a ameaça de uma nova guerra e explicar-lhes o sentido e significação da luta que se trava atualmente em todo o mundo para evitar a guerra e manter a paz. A primeira sessão do Conselho Mundial da Paz aprovou uma série de resoluções que têm por objetivo fazer as massas populares compreenderem a essência e a significação das resoluções aprovadas pelo Segundo Congresso Mundial da Paz e apoia-las ativamente.

A unidade de ação, tanto dentro da organização dirigente, como entre as amplas massas populares, representa uma condição muito importante para se transformar a possibilidade em realidade. Nesse sentido, o Segundo Congresso Mundial alcançou grandes resultados. Se o Congresso de Paris ioi constituído principalmente por comunistas e personalidades da ciência, da arte e da literatura, o Congresso de Varsóvia, por sua vez, reuniu, ao lado de comunistas, liberais e conservadores, trabalhistas e católicos, social-democratas e radicais, agricultores e até mesmo industriais. Os povos dos países coloniais e dependentes estiveram amplamente representados no Congresso de Varsóvia.

A resolução do Segundo Congresso Mundial, de defesa dos povos que lutam pela sua libertação nacional, tem uma grande significação para ampliar a base do movimento pela paz. O Congresso observou que o movimento dos povos das colônias e países dependentes pela sua libertação se acha indissoluvelmente ligado ao movimento pela paz. É por isso que quaisquer tentativas dos. imperialistas no sentido de manter pela violência os povos na situação de dependência e opressão colonial representam uma ameaça à causa da paz.

Por resolução do Segundo Congresso Mundial da Paz estabeleceu-se contacto com numerosas associações e. organizações que não fazem parte da organização internacional dos partidários da paz mas que de certa forma são contra a guerra — algumas de maneira conseqüente e outras de maneira "não conseqüente. O Conselho Mundial da Paz aprovou resoluções que recomendam a realização de entendimentos e conferências com os participantes do movimento mundialista, quakers, organizações religiosas, com representantes de outras correntes, a fim de conseguir a sua neutralidade, e com outras organizações pacifistas com o objetivo de elaborar condições para ações conjuntas na luta pela manutenção da paz.

A unidade de ação da força dirigente do movimento pela paz — a classe operária — representa uma condição decisiva para a manutenção da paz.

Sabe-se que os imperialistas não podem realizar uma guerra sem a classe operária. É por isso que tomam todas as medidas para obrigar a classe operária a trabalhar para a guerra e servir de carne de canhão, a fim de que se realizem os intentos agressivos dos imperialistas americanos. Com esse objetivo, tentam envolvê-la numa rêde de mentiras, usam de chantagens, de provocações, da calúnia e atos abertamente terroristas contra a classe operária e os Partidos Comunistas. Os imperialistas lançam mão dos mais ferozes inimigos da classe operária — os socialistas de direita — em suas tentativas conquistar a classe operária para as suas posições. Nas condições atuais, os socialistas de direita servem não só (e até mesmo não tanto) a burguesia de seu país como são lacaios do imperialismo americano. Esses traídores, que tão bem representam o seu papel de Judas, têm como objetivo principal justificar a política expansionista dos multi-milionários americanos, utilizando para isso métodos desonestos e repugnantes. Entretanto não é tão fácil, nas condições atuais, justificar a política abertamente agressiva do imperialismo americano. Os povos se organizam para lutar contra essa política. Por isso os socialistas de direita se esforçam por todos os meios no sentido de dividir a frente única dos povos que lutam pela paz e em primeiro lugar de quebrar a unidade da classe operária. Semeiam a cisão nos sindicatos, entram em conchavo com os partidos reacionários na luta contra as forças democráticas e, novamente, como antes da segunda guerra mundial, limpam o caminho para o fascismo. Toda essa asquerosa e delirante campanha dos divisionistas socialistas de direita provoca protestos da classe operária e intensifica a sua ação pelo fortalecimento da unidade das suas fileiras, tornando-a mais coesa. Os partidários da paz devem levar bem em conta que sem a unidade das fileiras da classe operária não pode haver unidade de todos os trabalhadores que lutam pela paz e pela democracia e contra o perigo de uma nova guerra mundial.

Existia no movimento dos partidários da paz e particularmente por ocasião de seu nascimento dois pontos de vista errôneos quanto ao problema do perigo de uma nova guerra. Alguns consideravam absolutamente inevitável uma nova guerra, cujo advento ninguém pode impedir. Propunham que se cessasse qualquer resistência aos agressores, que se submetesse à vontade da sorte e assim se condenasse milhões de pessoas ao extermínio. Outros consideravam que a atual situação internacional se modificara tanto que não havia nenhuma base para uma nova guerra. Condenavam, assim, as massas populares à inatividade e criavam condições favoráveis às forças agressoras em sua criminosa atividade de preparação de uma nova guerra. Ambos esses pontos de vista não são científicos e por isso são nocivos.

A fim de se transformar a possibilidade de se evitar uma nova guerra em realidade e manter a paz é preciso que se fortaleça e se amplie o movimento dos partidários da paz.

No final das contas os destinos do mundo dependem das ações ativas das massas populares.

«... A vasta campanha a favor da manutenção da paz — ensina o camarada Stálin — como meio de denunciar as criminosas maquinações dos provocadores de guerra, se reveste hoje em dia de primordial importância».(24)

O fortalecimento do poderio da União Soviética que chefia a poderosa frente dos partidários da paz, a multiplicação de seus êxitos econômicos e o fortalecimento de sua capacidade de defesa constituem uma das condições mais importantes para se evitar uma nova guerra mundial e garantir a manutenção da paz entre os povos. Durante os da segunda guerra mundial o povo soviético que realizou milagres de heroísmo, valentia e firmeza na luta contra a Alemanha fascista e o Japão imperialista, derrotou com as suas forças armadas as tropas de choque do imperialismo mundial e da agressão e assim salvou a humanidade da escravização fascista. Nas condições atuais em que pesa sobre a humanidade o perigo de uma nova guerra mundial o perigo de agressão pelos imperialistas dos Estados Unidos da América, os olhares de todos os povos do mundo se acham voltados para a União Soviética — baluarte da paz e da segurança dos povos.

Os povos que lutam pela paz podem estar certos de que a Uniáo Soviética

«continuará como sempre a executar infalivelmente uma política visando a impedir a guerra e manter a paz».(25)


Notas de rodapé:

(1) Entrvista de J.Stálin à «Pravda», PROBLEMAS N. 34, pág. 50, Rio (retornar ao texto)

(2) J. V. Stálin — «La Gran Guerra Pátria de la Union Soviética», pag. 174 — E.L.E., 1946, Moscou. (retornar ao texto)

(3) J. V. STALIN - Resposta a Alguns Camaradas, PROBLEMAS N. 35, pág. 55 -1951, Rio. (retornar ao texto)

(4) J. V. Stálin - «História do P. C. (b) da URSS» pág. 68. Rio (retornar ao texto)

(5) Idem, pág. 73. (retornar ao texto)

(6) J. V. Stálin — «Questiones del Leninismo», págs. 212, 213, E.L.E., 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(7) J. V. Stálin — Idem, idem, pág. 216. (retornar ao texto)

(8) Lênin — Obras, tomo XXXIII, pág. 190, 4.ª edição russa, Moscou. (retornar ao texto)

(9) V. I. Lênin — Idem, pág. 126. (retornar ao texto)

(10) J. V. Stálin — Obras, tomo I, pág. 337, Ed. Vitória, 1952, Rio. (retornar ao texto)

(11) V. I. Lênin — Obras, tomo XXX, 423, ed. russa, Moscou (retornar ao texto)

(12) J. V. Stálin — Informe ao XVII Congresso do Partido «Cuestiones dei Leninismo». pág. 515, E.L.E., 1941, Moscou. (retornar ao texto)

(13) J. V. Stálin — Informe ao XVIII Congresso do P. C. (b) da URSS, Idem, pág. 672.(retornar ao texto)

(14) Idem, pág. 677. (retornar ao texto)

(15) Os Falsificadores da Hstória, PROBLEMAS Nº. 11, pgs. 24- 66, 1948, Rio (retornar ao texto)

(16) J. V. Stálin — Discurso aos Eleitores, de 9-2-1946, «Aprés la Victoire Pour une Paix Durable», pág. -14, Editions . Sociales, 1949, Paris.(retornar ao texto)

(17) J. V. Stálin — Ordem do Dia para o 1.» de Maio de 1946, idem, página 47-48 (retornar ao texto)

(18) N.R.: Outubro, de acordo com o calendário gregoriano. (retornar ao texto)

(19) J. V. Stálin — «La Gran Guerra Pátria de la Union Soviética», pág. 176. (retornar ao texto)

(20) J. V. Stálin — Entrevista ao jornal «Pravda», PROBLEMAS n.º 34, página 48, 1951, Rio. (retornar ao texto)

(21) Idem, idem. (retornar ao texto)

(22) Idem pág. 49 (retornar ao texto)

(23) Idem, idem. (retornar ao texto)

(24) Idem, página 50. (retornar ao texto)

(25) Idem, idem. (retornar ao texto)

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Inclusão 07/02/2011